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Este texto explora o conceito de narcisismo na psicanálise, distingue-se entre dois tipos: positivo e negativo. O autor aborda a origem do termo complexo e sua importância na teoria psicanalítica. Além disso, discute os efeitos desse desinvestimento na infância e a importância da identificação na constituição do sujeito. O texto também enfatiza a importância da maternidade suficiente na formação do eu.
Tipologia: Notas de estudo
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Centro Universitário de Brasília FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE – FACESCURSO: PSICOLOGIA
Dedico este trabalho à minha mãe (Maria) e aos meus netos (Letícia e Guido): os afetos que unem os dois extremos da minha vida.
iii
A Deus, pela vida, pelo presente. A todas as pessoas que compreenderam, apoiaram, incentivaram essa minha (tardia) escolha:
vi
Estasintomatologia monografia aproxima-se tem como dasobjetivo características apresentar atribuídas um fragmento ao Complexo de caso da clínicomãe morta, cuja elaboração teórico-clínica do psicanalista André Green, exposta em seu ensaio “A mãe morta”. Essa expressão constitui uma metáfora, para referir uma mãe que, embora presente fisicamente, encontra-se distante afetivamente, ela mesma enlutada por uma perda significativa. A ocorrência desse luto acarreta uma brusca mudança em sua maternagem: eladesinveste bruscamente seu filho, e esse desinvestimento é sentido pelo bebê como uma catástrofe que acarreta uma perda no nível de seu narcisismo. Os sintomas revelam uma depressão primária, fruto da identificação com a mãe psiquicamente morta, ela própria em depressão. Essa hipótese vincula-se à denominada clínica do vazio, marcada pela presença de uma ferida narcísica e incluída nos nominados casos-limites, que se distinguem das descriçõesdas estruturas clássicas. A ampliação do conceito de narcisismo, tal como Freud o formulou, elaborada pelo autor, distingue dois tipos de narcisismo: um de vida, ou positivo, em que se destaca o trabalho da pulsão de vida, de Eros ; outro, negativo, ou de morte, marcado pelo predomínio da pulsão de morte, de Thánatos. O Complexo da mãe morta traz as marcas do segundo, em virtude de sua função desobjetalizante, a partir do fracasso do apagamento doobjeto-mãe, primordial para a constituição do psiquismo e para possibilitar o sucesso das futuras escolhas objetais. O referencial teórico de André Green fundamenta-se nas ideias de Freud, Lacan e Winnicott. As especificidades e singularidades desse quadro clínico acarretam alterações no manejo técnico da psicanálise, afastando-se do clássico modelo freudiano. Inclina-se na direção dos conceitos winnicottianos, que têm na relação mãe-bebê o protótipodo enquadre clínico. As reflexões efetuadas no fragmento de caso incluem as dificuldades decorrentes dessas alterações.
Palavras-chave: mãe morta, narcisismo, clínica do vazio.
adverte o autor, as especificidades e as particularidades desses casos conduzem a significativas alterações na técnica utilizada. Demonstrar as dificuldades, os desafios, os impasses daí advindos constitui outro objetivo a ser atingido. Para a consecução desses objetivos, apresentou-se como essencial a realização de uma revisão bibliográfica dos conceitos correlatos ao tema abordado – narcisismo, constituição do eu, relações de objeto, dualismo pulsional. E muita leitura se fez necessária. Pode parecer uma afirmação óbvia; mas o desafio tornou-se maior pelo afastamento dessa hipótese teórico- clínica dos sintomas característicos das estruturas clássicas, e o conjunto de informações novas daí decorrentes. Ficou claro, desde o início do processo analítico, que a fundamentação teórica estava na base da superação dos percalços, no enfrentamento das dificuldades, na compreensão e no desvelamento do enigma do sofrimento psíquico. Também para a consecução de tais objetivos, a organização deste trabalho comporta três capítulos. O primeiro apresenta as linhas mestras da hipótese teórico-clínica formulada pelo autor, sua sintomatologia, sua caracterização, suas sequelas na vida das pessoas afetadas. Tal hipótese é inserida no contexto das relações objetais, conforme o autor as compreende – associadas ao conceito de pulsão. De igual modo, inclui-se essa formulação na denominada clínica do vazio, marcada pela presença de uma ferida narcísica, o que situa tal quadro clínico no âmbito dos estados-limites. O segundo capítulo estabelece a relação entre a formulação dessa hipótese e a construção do pensamento do autor – segundo ele próprio fundamentado sobre três pilares teóricos: as ideias de Freud, Lacan e Winnicott. Assim, é apresentado o conceito de narcisismo, tal como Freud o formulou em 1914. A seguir, a função do espelho e do olhar da mãe como constitutivos do narcisismo primário são apresentados sob a ótica de Lacan e a de Winnicott. Tais articulações fundamentam a ampliação do conceito de narcisismo elaborado por Green (1988): reconhecimento do trabalho da pulsão de vida, como seu caráter de ligação,
e com sua função objetalizante, presentes no denominado narcisismo de vida, ou narcisismo positivo; reconhecimento também do trabalho da pulsão de morte, com seu caráter de desligamento, de divisão, e com sua função desobjetalizante, presentes no alcunhado narcisismo de morte, ou narcisismo negativo. Este último é predominante no Complexo da mãe morta. O terceiro capítulo começa com uma breve e pessoal reflexão acerca do estatuto do relato de caso clínico, tal como por mim apreendido a partir do cotejamento entre as leituras efetuadas e o aprendizado adquirido no decorrer desse trabalho de escrever. A narrativa do fragmento da experiência clínica procura evidenciar os desafios, as dificuldades, as perplexidades, os impasses enfrentados. É também a narrativa do gratificante aguçamento do desejo de saber, de desvendar os meandros do sofrimento psíquico. O respaldo teórico foi encontrado predominantemente nos textos de André Green, em suas considerações metapsicológicas e técnicas, visando tudo ao adequado acolhimento e à pertinente escuta que tais casos requerem. O caminho foi aberto, desde o início do processo, pela lucidez da supervisão da professora Cláudia Feres: a firmeza na decifração do enigma, a segura indicação da direção a seguir, seja no campo teórico, seja na orientação do manejo técnico. Já as considerações finais contêm um breve depoimento do impacto da contratransferência em meus próprios afetos. Mezan (1998) nos faz uma advertência: escrever um caso clínico é expor-se. Ou seja, quem escreve expõe-se a quem lê. Expõe-se a seu julgamento, a sua aprovação, a sua repulsa, a suas críticas, a seu repúdio, até. Entendo essa provocação, sobretudo, como um risco de natureza narcísica. É esse desafio que me proponho enfrentar com as reflexões aqui apresentadas.
lhe dedica. O aspecto enfatizado por Green (1988) refere-se à ocorrência de descontinuidade dessa qualidade dos cuidados maternos: a relação inicial do bebê com a mãe, caracterizada por esse autor como “rica e feliz” (p. 248), indica que a criança sentia-se amada, inclusive com os imprevistos considerados normais e saudáveis nesse tipo de relação. Fica patente a presença do investimento libidinal e afetivo da mãe relativamente ao filho, condição essencial para a constituição da subjetividade do infante. No entanto, por alguma razão, a mãe deprimiu, e essa depressão interfere brutalmente, aos olhos da criança, em sua relação com o filho. Essa inesperada reviravolta ocorrida na atitude materna é interpretada pela criança como a perda do seu amor. O desinvestimento da mãe com relação à criança acontece por estar ela ocupada em seu próprio trabalho de luto. A ocorrência dessa depressão materna pode ser motivada por um variado leque de acontecimentos: perda de um ente querido, grave problema familiar, decepção frente a um importante investimento: “em todos os casos, a tristeza da mãe e a diminuição do interesse pela criança estão em primeiro plano”. O mais grave e significativo de todos os possíveis fatores, ensina-os Green (1988), diz respeito à morte de um filho pequeno: este representa, na verdade, o “objeto mais fortemente investido pela mãe”, aquele que mais intensamente lhe “inflige uma ferida narcísica” (p. 247). O ponto a ser enfatizado é expresso por Green (1988): “o que aconteceu naquele momento foi uma mudança brutal, verdadeiramente mutativa da imago materna” (p. 274). Assim, uma grave depressão materna transforma “brutalmente o objeto vivo, fonte de vitalidade da criança, em figura distante, átona, quase inanimada” (p. 239). A ilustração dessa inusitada mudança Green (1988) vai buscar na comparação das fotos da criança: o bebê “alegre, acordado, interessado, cheio de potencialidades” (p. 249), aparece, em fotos posteriores à modificação radical da maternagem, com “as marcas da perda dessa primeira felicidade” (p. 249). Os prejuízos causados ao imaturo psiquismo infantil por
essa perda do objeto de amor serão tanto mais catastróficos quanto mais precocemente ocorre a brusca mudança. E Green (1988) nos informa: “Deve-se então pensar que a experiência traumática à qual aludi foi mais discreta, ou mais tardia, sobrevindo num momento em que a criança estava mais apta a suportar suas consequências e só teve que recorrer a uma depressão mais parcial, mais moderada e mais facilmente superável” (p. 268). O reconhecimento dos nefastos efeitos causados na constituição do psiquismo pela ocorrência do Complexo da mãe morta Green (1988) vai encontrar na transferência. A queixa principal desses pacientes situa-se, predominantemente, no fracasso, na insatisfação, na insegurança da vida amorosa ─ na incapacidade para amar. Os sintomas neuróticos, quando existentes, não constituem o ponto nodal do tratamento: “o analista tem a sensação de que a análise de sua gênese não fornecerá a chave do conflito” (p. 246). O quadro que se delineia aponta para a colocação em primeiro plano de uma “problemática narcísica”, “sendo as exigências do Ideal do Eu consideráveis, em sinergia ou em oposição com o Supereu” (Green, 1988, p. 246). Evidencia-se uma sensação de impotência, de incapacidade de sair do conflito, de posicionar-se diante da vida, de manter e sustentar os relacionamentos, de obter a realização pessoal e profissional. E mais: quando tal acontece, sobrevém uma “insatisfação profunda frente ao resultado” (p. 246). Os sintomas depressivos não eclodem, inicialmente. Depois de algum tempo de tratamento – mais depressa em uns, mais tardiamente em outros –, manifesta-se uma depressão caracterizada por Green (1988) como “singular”: mostra-se na transferência, embora não se evidencie claramente na vida cotidiana. Tudo levar a pressupor a repetição de uma depressão infantil, de uma depressão primária, que impregna o psiquismo continuamente, expondo as marcas do trauma. O autor forja a expressão “depressão de transferência”, em contrapartida à “neurose de transferência”, para elucidar esse achado clínico (p. 247). Tais pacientes revelam uma tendência a apresentar quadros de características depressivas,
Já a identificação constitui “a outra face do desinvestimento” (Green, 1988, p. 249), e assume, aqui, a relevância que a teoria psicanalítica lhe confere: mais do que uma defesa do eu, mais do que um mecanismo psicológico, a identificação é “a operação pela qual o sujeito humano se constitui”, como nos ensinam Laplanche e Pontalis (2001, p. 227). De fato, Freud, no Capítulo VII da obra “Psicologia de Grupo e Análise do Ego”, de 1921, afirma que “a identificação é conhecida pela psicanálise como a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa” (Freud, 1921/2006, p.115), acrescentando que “podemos ver que a identificação esforça-se por moldar o próprio ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo” (p. 116). De igual modo, Winnicott (2005) entende que “a identificação é aquilo com que a criança começa” (p. 25), num momento em que o eu existe tão somente como um potencial, em um estado de não integração, de não constituição do vínculo entre o corpo e a psique. Ainda no texto de 1921, Freud refere e enfatiza o caráter ambivalente do processo de identificação, englobando afetos contraditórios, que podem ir da ternura ao desejo de afastamento. A seguir, acrescenta outro aspecto essencial: “comporta-se (a identificação) como um derivado da primeira fase da organização da libido, da fase oral, em que o objeto que prezamos e pelo qual ansiamos é assimilado pela ingestão, sendo dessa maneira aniquilado como tal” (Freud, 1921/2006, p. 115). Esse é o processo denominado incorporação, “pelo qual o sujeito, de um modo mais ou menos fantasístico, faz penetrar e conserva um objeto no interior de seu corpo” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 238). Esses autores reconhecem, no processo de incorporação, três significações: a obtenção de prazer por meio da “penetração de um objeto em si” (p 239); a destruição do objeto; a assimilação desse “objeto, conservando-o dentro de si” (p. 239). Ou seja, a incorporação apresenta-se como uma matriz da identificação, o que significa que o objeto incorporado é o objeto perdido. A identificação, desse modo, constitui um recurso para
retê-lo, para recuperá-lo – e a finalidade dessa operação é que o eu mantenha sua unidade. Assim, mais do que o caráter ambivalente do objeto, ressalta o trabalho marcado pela dialética
esse momento como de completo estado de desamparo: motor (biológico) e psíquico. A psicanálise reconhece também, e enfatiza, a natureza, o tipo e a qualidade desse cuidado como fundantes do psiquismo humano. Essa correlação assinala, no âmbito da teoria psicanalítica, a onipotência materna. Ou seja, a mãe “influencia assim de forma decisiva a estruturação do psiquismo, destinado a constituir-se inteiramente na relação com outrem” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 112). A obra de Winnicott é significativa nesse aspecto. A importância do outro, do exterior, do mundo externo, impõe-se desde o nascimento ao ser humano. Sua vasta experiência clínica o levou ao reconhecimento dos estádios mais primitivos do desenvolvimento emocional do bebê humano – antes mesmo de a criança se conhecer a si própria e aos outros. Ele entende o desenvolvimento humano como “uma função da herança de um processo de maturação e da acumulação de experiências de vida; mas esse desenvolvimento só pode ocorrer num ambiente propiciador ” (Winnicott, 2005, p. 27, grifos do autor), no qual a mãe assume papel preponderante: “quando o par mãe-bebê funciona bem, o ego da criança é de fato muito forte, pois é apoiado em todos os aspectos” (p. 24). A boa maternagem, sintetizada no conceito de mãe suficientemente boa, por ele cunhado, abrange três funções: o holding , ou seja, a capacidade da mãe de se identificar com a criança, protegendo-a, sustentando-a física e psiquicamente, de forma equilibrada e constante; o manipular, que “facilita a formação de uma parceria psicossomática na criança” (Winnicott, 2005, p. 27), contribuindo para a formação do sentido do real (por oposição a irreal); o apresentar objetos, ou realização, que proporciona à criança o início de seu relacionar-se com o mundo exterior. Em seu livro, “O brincar e a realidade”, Winnicott (1975) é ainda mais enfático, ao afirmar a imprescindível presença da mãe suficientemente boa, para que o funcionamento psíquico do bebê progrida do princípio do prazer para o princípio da realidade, e deste para a
identificação primária. E explica: “A mãe suficientemente boa (não necessariamente a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente, segundo a crescente capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação e em tolerar os resultados da frustração” (p. 25). A mãe suficientemente boa funciona como um objeto transicional e, como tal, é colocado “em uma posição intermediária entre o subjetivo e aquilo que é objetivamente percebido”, estando o bebê em “um estado intermediário entre a inabilidade e sua crescente habilidade em reconhecer e aceitar a realidade”; “constitui uma área intermediária de experimentação , para a qual contribuem tanto a realidade interna quanto a externa” (Winnicott, 1975. p. 15, grifo do autor). Mas Winnicott (1975) nos exorta: o objeto não é, em si mesmo, transicional: ele representa uma transição de um estado em que a criança e a mãe estão fundidas para outro estado em que o bebê percebe a mãe como algo externo a ele, ou seja, “o ponto em que a criança, pelo crescimento, se liberta de um tipo narcísico de relação com o objeto” (p. 30). Esse objeto comporta características específicas: é alternadamente amado e odiado – e precisa suportar a agressividade do bebê; só pode ser mudado pelo bebê; oriundo do exterior, é percebido pelo bebê como “de dentro”. Mas existe aí o que Winnicott (1975) denomina de “paradoxo”: “seu destino (do objeto) é permitir que seja gradativamente descartado, de maneira que, com o curso dos anos, se torne não tanto esquecido, mas relegado ao limbo” (p. 18). “Não é esquecido e não é pranteado” (p. 19). Esse autor vincula, então, a saúde – o “tudo correr bem” – à “adaptação exata (que) se assemelha à magia, e o objeto que se comporta perfeitamente não se torna melhor do que uma alucinação” (p. 25). Isso significa dizer que, se o ambiente suficientemente bom leva à integração do eu, sua contrapartida − as falhas desse primitivo cuidado − conduz à desintegração, que origina uma angústia inimaginável: de despedaçamento.