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O CÓDIGO SECRETO DOS HOMENS, Resumos de Sinais e Sistemas

PARA QUEM DESEJA TER MASCULINIDADE

Tipologia: Resumos

2014

Compartilhado em 29/06/2022

phelipe-pinheiro-1
phelipe-pinheiro-1 🇧🇷

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TÍTULO NO BRASIL
O código
dos Homens
AUTOR
Jack Donovan
TRADUTOR
Luiz Otávio Talu
ANO DE LANÇAMENTO
2015
DIREITOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Editora Simonsen
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— TÍTULO NO BRASIL —

O código

dos Homens

— AUTOR —

Jack Donovan

— TRADUTOR —

Luiz Otávio Talu

— ANO DE LANÇAMENTO —

— DIREITOS DE LÍNGUA PORTUGUESA —

Editora Simonsen

— TÍTULO ORIGINAL —

The way of men

— © DIREITOS AUTORAIS E DE CÓPIA —

Jack Donovan

— LOCAL E PAÍS DE ORIGEM —

Milwaukie, Estados Unidos

— ANO DE PUBLICAÇÃO —

— IDIOMA ORIGINAL —

Inglês

Prefácio

É desprovido de ego que apresento este livro a vocês. Não se trata de uma propaganda de minha própria masculinidade, nem de uma oportunidade de encher a bola dos membros de minha própria tribo. Este livro é uma resposta à pergunta: “O que é masculinidade?” Se ser homem é adotar certo comportamento e se há um comportamento a se adotar para ser um homem, qual é o código que o rege? “Qual é o Código dos Homens?” Há décadas que as pessoas têm falado de uma “crise” da masculinidade. Nossos líderes criaram um mundo apesar dos homens, um mundo que se recusa a aceitá-los como eles são e que não está nem aí para o que querem. Nosso mundo pede aos homens que mudem “para melhor”, mas o que oferece em troca é menos valioso para eles que o que tinham seus pais e avôs. Os porta-vozes do mundo futuro exortam os homens a abandonarem os antigos hábitos e tomarem um novo rumo. Mas que rumo é esse e aonde ele conduz? Quando enfim entendi o Código dos Homens, maior foi meu interesse em saber onde os homens estão hoje e para onde vão. Tinha curiosidade sobre se haveria um jeito deles seguirem seu próprio rumo em direção a um futuro que lhes pertence. Eis a linha deste livro. Minhas respostas podem não ser do tipo que se deseja ouvir, mas são as únicas que satisfizeram minha investigação. Que vocês encontrem a verdade adiante.

— CAPÍTULO 1 —

O código dos homens é o código da gangue

Quando se diz a um homem que seja homem, isso significa que há um modo de ser homem. Homem não é só uma coisa em que a gente se torna; é também um modo de ser, um percurso a seguir, um modo de agir. Alguns tentam atribuir ao conceito de masculinidade todos os sentidos possíveis, enquanto outros não vêem nele nenhum sentido em especial. Ser bom em ser homem não é uma coisa que encerre todos os sentidos, mas ela nunca deixou de fazer sentido. A maioria das tradições encara a masculinidade e a feminilidade como opostos complementares. Não seria incorreto dizer que masculinidade é aquilo que a gente acha menos feminino e feminilidade o que a gente acha menos masculino — mas essa afirmação não nos diz muito sobre o Código dos Homens. Moças e rapazes não formam pares assim que nascem e saem correndo para viver juntinhos numa caverna úmida. Os seres humanos sempre foram animais sociais, vivemos em grupos cooperativos. Nossos corpos nos classificam no grupo dos machos ou das fêmeas. Interagimos socialmente no papel de membros de um grupo ou de outro. Esses grupos não são arbitrários ou culturais, mas básicos e biológicos. É como machos que os machos têm de negociar com o grupo dos machos e das fêmeas. O que distingue um macho não é apenas sua reação às fêmeas, também a outros machos reagimos como machos. Sermos quem somos tem tudo a ver com a forma como nos vemos em relação a outros machos, na qualidade de membros do grupo dos machos. Um homem não é meramente um homem, mas um homem entre homens num mundo de homens. Ser bom em ser homem tem a ver com a capacidade de obter sucesso com outros homens, no contexto de grupos de homens, mais que com a relação que se mantém com uma mulher ou grupo de mulheres. Quando se diz a um homem que seja homem, o que se está pedindo é que ele seja mais parecido com outros homens, mais parecido com a maioria dos homens, e, de preferência, mais parecido com aqueles homens que outros homens tenham em grande estima. As mulheres se julgam capazes de melhorar os homens ao relacionar a masculinidade àquilo que esperam dos homens. Os homens desejam que as mulheres os desejem, mas a aprovação feminina não é a única coisa que interessa a eles. Ao disputarem prestígio uns com os outros, o que os homens estão disputando é a aprovação uns dos outros. Historicamente, as mulheres que os homens julgam mais desejáveis sentem atração por — ou são alvo das pretensões de — homens temidos ou reverenciados por outros homens. Quase sempre, a aprovação feminina é uma conseqüência da aprovação masculina. A masculinidade diz respeito a ser homem no contexto de um grupo de homens. Acima de tudo, a masculinidade diz respeito ao que os homens esperam uns dos outros. Se o Código dos Homens parece confuso, é porque há muitos grupos diferentes de homens que esperam dos outros homens muitas coisas diferentes. Aqueles homens a quem o

— CAPÍTULO 2 —

O perímetro

Vocês fazem parte de um pequeno grupo de seres humanos, em luta pela sobrevivência. Não importa qual seja o motivo. Conquista, guerra, morte, fome ou peste — pode ser qualquer um dos Cavaleiros bíblicos. Quer vocês sejam nossos primitivos ancestrais; quer sejam desbravadores; quer sejam náufragos, perdidos num lugar remoto; quer sejam sobreviventes de um holocausto nuclear ou de um apocalipse zumbi. Repito: o motivo não importa. Para quaisquer seres humanos sem acesso à tecnologia avançada, no fim das contas o quadro é mais ou menos o mesmo. É preciso definir seu grupo. E preciso definir quem faz parte dele e quem não faz, e identificar as ameaças latentes. E preciso demarcar e preservar uma espécie de zona de segurança ao redor do perímetro de seu grupo. Todo o mundo terá de se virar e contribuir para a sobrevivência, a não ser que o grupo concorde em proteger e alimentar alguém que não possa contribuir, por causa da idade ou de doença. E quanto àqueles que puderem trabalhar, será preciso decidir quem fará o quê, em vista a competência de cada um, a afinidade entre eles e o sentido prático da coisa.

CAÇA E COMBATE

Das tarefas necessárias à sobrevivência, caçar e combater são duas das mais perigosas. Para se desenvolverem, os seres humanos precisam de proteína e gordura. Não que seja impossível extraí-las em quantidade suficiente dos vegetais, mas, sem uma plantação regular, vocês serão forçados a colher uma quantidade suficiente para atender às suas necessidades nutricionais. A proteína e a gordura fornecidas por um animal de grande porte podem durar dias — até mais, quando se sabe como preservar a carne. O problema com os animais de grande porte, ricos em proteínas, é que eles não têm a mínima vontade de morrer. Carne é músculo, e os músculos dão robustez a essas criaturas — em geral, uma robustez maior que a dos homens. As feras selvagens são providas de presas, chifres, cascos, garras e dentes afiados, e elas lutarão por suas vidas. Abater um desses animais de grande porte, ricos em proteínas, é tarefa arriscada, que exige força, coragem, técnica e trabalho em equipe. Fora que, para encontrar comida, é preciso alguma atividade exploratória, aventurar- se no desconhecido — e sabe-se lá o que espreita mais adiante? Para conseguir sobreviver, é preciso que seu grupo se proteja dos predadores, sejam eles bichos, seres humanos, alienígenas ou mortos-vivos. Se houver alguém ou algo mais adiante interessado em alguma coisa da qual vocês estejam de posse, a ponto de se dispor a lutar por ela, vocês terão de descobrir qual membro de seu grupo estará disposto ao confronto.

Para ficar de guarda, defender tudo aquilo que lhes seja mais caro ou sair a campo para eliminar uma ameaça latente, vocês darão preferência àqueles que se mostrarem mais hábeis no combate. Se alguém ou algo estiver de posse de alguma coisa de que vocês precisem, pode ser que a melhor forma de a conseguir seja tomando-a à força. Qual membro de seu grupo estará disposto e apto a fazer isso? Pode ser que uma parte de seu grupo seja composta de fêmeas, pode ser que não. Na hipótese de haver fêmeas entre vocês, elas não terão acesso a métodos confiáveis de controle de natalidade. Os machos e as fêmeas não deixarão de fazer sexo, e estas acabarão prenhas. Os seres humanos são mamíferos, e, como ocorre com a maioria dos mamíferos, parte considerável do ônus da reprodução sobra para as mulheres. Não que seja justo, mas a natureza não é justa. Até mulheres fortes e agressivas ficam mais vulneráveis e têm mais dificuldade de se deslocar durante a gestação. Até mulheres violentas dão de mamar a sua prole. Elas criam um vínculo com os filhotes e, em pouco tempo, estão se dedicando aos cuidados com eles. Os bebês são indefesos, e as crianças permanecem vulneráveis durante anos. Mesmo que não houvesse outras diferenças físicas ou mentais entre mulheres e homens, num ambiente hostil a realidade biológica da reprodução humana ainda determinaria, com o tempo, o aumento no número de homens encarregados das atividades de exploração, caça, combate, construção e defesa. Os homens disporiam de mais tempo para se especializar e desenvolver as habilidades necessárias para se sobressair nessas tarefas; não teriam uma desculpa convincente para não fazer isso. Os homens jamais ficarão prenhes ou darão de mamar, e os filhos representarão um ônus menor para eles. Pode ser que os homens nem saibam quais são os filhos deles. Mas as mulheres sabem quais são os filhos delas. As crianças não dependem do pai da mesma forma que dependem da mãe. Os homens têm mais liberdade de assumir riscos pelo bem do grupo, na convicção de que seus rebentos continuarão vivos. As coisas do jeito que são, algumas diferenças biológicas entre homens e mulheres pouco têm a ver com a gravidez ou a amamentação. O normal é os homens serem maiores e mais fortes que as mulheres; eles são mais audaciosos, são provavelmente mais inclinados a tarefas que envolvam mecânica e, em geral, têm um senso de orientação mais apurado. Os homens têm uma propensão inata às atividades agressivas; quando seus níveis de testosterona são altos, eles assumem mais riscos e buscam mais emoções. Os homens têm mais interesse em competir por prestígio, e, quando obtêm sucesso, seu corpo proporciona um “barato” de dopamina e uma quantidade ainda maior de testosterona.^1

(^1) Alguns estudos indicam um sensível decréscimo na testosterona dos homens, ao longo dos últimos vinte anos. (Veja abaixo.) Essa queda pode estar sendo causada por alguma substância presente na água, mas é provável que seja resultado da epidemia de obesidade. Aposto como ela também tem a ver com a perda relativa do prestígio social e com a proliferação de estilos de vida seguros e sedentários. Se é fato que a testosterona sofreu uma queda em poucas décadas, isso prova que os homens e as mulheres eram mais diferentes no passado e que, no futuro,

retaguarda, ninguém que vele por seu sono. Estando juntos, os homens têm mais chance de sobreviver que separados. Eles sempre caçaram e combateram em pequenos grupos. O estado de natureza da guerra é o conflito permanente entre reduzidas gangues de homens. A organização dos chimpanzés é do tipo fissão-fusão, o que significa dizer que o tamanho dos grupos varia segundo as circunstâncias. Eles se juntam em grupos numerosos e firmam acordos por razões estratégicas, para cruzar e para compartilhar recursos. Mudando as circunstâncias, os chimpanzés se dividem em grupos menores e equipes de caça. E nesses subgrupos que as relações são mais estreitas e estáveis. Os machos são leais e raras vezes pulam de subgrupo em subgrupo. As fêmeas às vezes acompanham os machos nas atividades de caça, mas são mais suscetíveis a migrar de um subgrupo para outro, com o tempo. Os homens se organizam da mesma forma. Vejam, por exemplo, as unidades militares. Exército: 60.000-100.000 homens Corpo de exército: 30.000-80.000 homens Divisão: 10.000-20.000 homens Brigada: 2.000-5.000 homens Regimento: 2.000-3.000 homens Batalhão ou grupo: 300-1.000 homens Companhia, bateria ou esquadrão: 70-250 homens Pelotão: 25-60 homens Esquadra ou seção: 8-16 homens Equipe: 2-5 homens Todos os homens alistados num determinado exército fazem parte da mesma tropa, a diferença é que a solidez dos laços entre eles aumenta à medida que o tamanho da unidade diminui. Nos grupos menores, os homens são mais leais uns aos outros. Quando o escritor Sebastian Junger perguntou a soldas dos americanos no Afeganistão sobre seus laços de fidelidade estes disseram que “não hesitariam em arriscar a própria vida por alguém de seu pelotão ou de sua companhia, mas depois desse limite o sentimento diminuía rapidamente. Chegando à brigada, com 2-5 mil homens, todo senso comum de identidade ou objetivo se mostrava basicamente teórico.”^2 A rivalidade entre grupos não é infreqüente. Cada um tem suas insígnias, suas tradições, seu simbolismo e uma história em comum. Alguns pesquisadores acham que o cérebro humano só consegue processar uma quantidade de informação suficiente para manter relacionamentos significativos com mais ou menos 150 pessoas por vez.^3 Esse é o tamanho médio de uma companhia militar, mas

(^2) Junger, Sebastian. War. Hachette Book Group, 2010. 242. Impresso. [Publicado no Brasil com o título de Guerra .]

(^3) W.-X. Zhou, D. Sornette, R. A. Hill e R. I. M. Dunbar. “Discrete hierarchical organization of social group sizes” [“Discreta organização hierárquica no tamanho de grupos sociais”]. Proceedings: Biological Sciences, v.

também o tamanho aproximado de uma típica tribo humana primitiva e mais ou menos o número de “amigos” com os quais a maioria das pessoas têm contato regular em sites de relacionamento social. E, nessa tribo de 150 membros, são formados grupos ainda menores. A quantas dessas pessoas vocês emprestariam uma grande soma em dinheiro? Com quantas vocês poderiam contar numa emergência? Quantas poderiam contar com vocês? Se vocês forem iguais à maioria, esse número cai para o tamanho de um pelotão, de uma esquadra, até de uma equipe. O tamanho da maioria dos times nos esportes coletivos varia entre o de uma equipe militar e o de um pelotão. Os times de futebol americano escalam mais ou menos 50 jogadores, mas só 11 de cada vez entram em campo. No beisebol, a escalação é de 25 jogadores, mas só 9 entram em campo. Os times de futebol jogam com 7- 11 integrantes; os de basquete, com 5; os de pólo aquático colocam 7 atletas na piscina. Os homens revertem a esse tamanho arquetípico de gangue até em passatempos e narrativas. Quantos são os personagens principais dos filmes, livros ou programas de TV de sua preferência? E o número vale também para a religião e a mitologia. Jesus teve 12 apóstolos. Quantos deuses do panteão grego você é capaz de citar? E do nórdico? Grupos de 2-15 homens são uma zona de conforto. E o tamanho de equipe mais apropriado para executar manobras táticas, mas é também administrável no que respeita à socialização. Dá para conhecer a fundo mais ou menos esse tanto de gente por vez. E possível manter uma boa relação de trabalho e uma relação social significativa com quase 100 pessoas. Acima disso, as relações se tornam extremamente superficiais; a confiança se desfaz; um número maior de regras e normas, sempre aplicadas sob a ameaça de violência, se tornam necessárias para manter os homens “juntos”. Em épocas de grande tensão — quando os recursos escasseiam, o sistema de regras e normas se desfaz, a aplicação das sanções é negligenciada ou quando os homens têm pouco a perder e mais a ganhar transgredindo lei — é costume os homens desfazerem os grupos numerosos e se juntarem em pequenas gangues mais despachadas. A gangue cujo número de homens varia entre o de uma equipe e o de um pelotão é a menor unidade do grupo de nós. Mais além estão eles, e a linha que separa uns dos outros é o círculo de confiança.

O PERÍMETRO

Em períodos extremos, a tarefa primordial dos homens sempre foi estabelecer e proteger o perímetro. Imaginem-se de volta a nosso quadro de sobrevivência. Não dá para as pessoas passarem uma vida inteira combatendo, e caçando, e matando diuturnamente. Os seres

272, n. 1.561 (22 fev. 2005), pp. 439-444. Procure também por “número de Dunbar” ou resenhas sobre o cientista Robin Dunbar.

nós com base naquilo de que gostavam em si próprios ou em como se dispunham a imaginar a si próprios. Além disso, cada grupo bolou caricaturas negativas do outro. Os grupos desenvolveram uma hostilidade mútua. Contudo, quando os pesquisadores deram aos meninos razão suficiente para cooperarem uns com os outros, as gangues rivais foram capazes de deixar de lado as diferenças e se juntar num grupo maior. Sempre foi tarefa dos homens delimitar o perímetro, estabelecer um ambiente seguro, separar nós e eles , e criar um círculo de confiança. Com o descobrimento de novas terras no continente americano, os homens puderam voltar a fazer isso na história recente da humanidade. Grupos restritos de homens se aventuraram em território desconhecido, porque acreditavam que tinham mais a ganhar sujeitando-se a riscos que o que esperavam conseguir pelos meios tradicionais do Velho Mundo. Eles desbravaram o deserto, montaram acampamentos e reinventaram a civilização, sob os olhares do resto do mundo. Ocultos mais adiante, havia índios, ursos, cobras e outras gangues de homens dispostos a usar de violência para tomar para si o que quisessem. Tanto colonizadores quanto nativos eram homens sitiados, que tiveram de se deixar embrutecer contra forças externas. Tiveram de decidir em quem podiam confiar, em quem não podiam e do que precisavam dos homens a sua volta. A história do Oeste americano é apenas uma das histórias. Quantas gangues, famílias, tribos e nações não foram fundados por um pequeno grupo de homens que, a partir do zero, reivindicou uma terra, defendeu-a, tornou-a segura e nela lançou raízes? Se os homens jamais tivessem feito isso, hoje não haveria pessoas vivendo em todos os continentes.

UM EMPECILHO À CIVILIZAÇÃO

Vocês decidiram quem está dentro e quem não está. Vocês decidiram em quem vão confiar e em quem não vão. Vocês vigiam seu perímetro, protegendo o que estiver nos limites do círculo formado pelo tremeluzir da fogueira, defendendo qualquer coisa que tenha alguma importância para vocês e para os homens que estão de seu lado. Tudo se resume a vocês, guardiões, que sabem que, se fracassarem no cumprimento de sua tarefa, não haverá felicidade humana, nem vida em família nem narrativas, nem arte, nem música. O papel que vocês têm a desempenhar nos cruentos limites da divisa entre nós e eles suplanta qualquer atribuição que lhes caiba dentro do espaço sob sua proteção. Vocês têm uma função à parte, e o que determinará sua importância para os outros homens que partilham com vocês essa responsabilidade será sua aptidão e sua disposição em cumprir com seu papel. Os outros homens precisam saber que podem contar com vocês, pois tudo têm importância, e sua fraqueza, covardia ou incompetência podem causar a morte de algum deles ou ameaçar o grupo inteiro. Os homens que forem bons nessa tarefa — os que forem bons na tarefa de serem homens — merecerão o respeito e a confiança do grupo. Serão reverenciados e receberão melhor tratamento que o dispensado aos que forem desleais ou com os quais não se puder contar. Os homens que cumprirem a promessa de vitória nas horas de

maior perigo ocuparão as posições mais elevadas entre os demais. Serão tratados como heróis, e outros homens — em especial os mais jovens — tenderão a imitá-los. Numa sociedade complexa, quase todos nós vivemos bem lá para dentro do perímetro. Formamos nossos próprios círculos e claques, que defendemos metaforicamente. Incluímos e excluímos pessoas por razões as mais diversas. Afastadas da divisa entre ameaça e segurança, as pessoas louvam qualidades que quase nada têm a ver com a sobrevivência. O rebanho se assanha com cantores, estilistas, aduladores — até com gente cujo único talento é ser espirituosa ou gostosa. E os pastores só fazem tangê-lo para receber mais do mesmo. Quando os homens avaliam uns aos outros no papel de homens, ainda buscam as mesmas virtudes de que precisariam para guardar o perímetro. Eles são suscetíveis e sentem admiração por aquelas qualidades que tornam os homens úteis e confiáveis numa emergência. Eles sempre desempenharam um papel à parte, e ainda julgam uns aos outros de acordo com as exigências daquele papel de guardião numa gangue em luta para sobreviver ao avanço do destino. E todas as coisas especificamente relacionadas a ser um homem — não meramente uma pessoa — têm a ver com esse papel. Quando vocês estiverem dando cobertura uns aos outros, para escapar do desaparecimento iminente, o que será preciso que os homens de seu grupo façam? Quando estiverem estreitando o cerco à volta de uma caça perigosa, mas capaz de alimentar a todos por uma semana, que tipo de homens vocês esperam que estejam guardando seu flanco?

Se procurar comida significa enfrentar juntos o perigo, quem vocês gostariam que os acompanhasse? Quais virtudes vocês precisariam cultivar em si mesmos e nos homens a sua volta para obter sucesso nas atividades de caça e combate? Quando sua vida e a das pessoas que são importantes para vocês dependem disso, os homens a sua volta têm de ser tão fortes quanto possível. Para viver sem a ajuda de uma tecnologia avançada, são necessários ombros amigos e mãos solícitas. São necessários homens fortes para dar combate a outros homens fortes. Vocês não vão querer que os homens de sua gangue sejam temerários, mas que demonstrem coragem em momentos de necessidade. O homem que foge quando o grupo precisa que ele lute pode colocar em risco a vida de todos vocês. Vocês vão querer homens que sejam competentes, que dêem conta da tarefa. E quem quer se ver cercado de idiotas e de fracassados? Os caçadores e os combatentes têm de demonstrar destreza nas habilidades empregadas pelo grupo na caça e no combate. E um tantinho de inventividade também não ia mal. Vocês também precisarão do comprometimento de seus homens. Será importante saber que os homens a seu lado tão entre nós, não entre eles. Será necessário que vocês possam contar com esses homens nas horas de crise. Vocês vão querer rapazes que garantam sua proteção. Não dá para contar com homens que não se importam com a opinião dos outros, nem dá para confiar neles. Se vocês forem espertos, vão querer que os outros homens provem que estão comprometidos com a equipe. Vão querer que eles demonstrem o quanto se importam com a reputação de que desfrutam na gangue e demonstrem o quanto se importam com a reputação de sua gangue perante outras gangues.

FORÇA, CORAGEM, DESTREZA E HONRA

Essas são as virtudes práticas de homens obrigados a confiar uns nos outros, num cenário da pior espécie. Força, Coragem, Destreza e Honra são virtudes simples, funcionais. São virtudes de homens que têm de responder aos irmãos primeiro, sejam esta gente boa ou inescrupulosa. Essas virtudes táticas conduzem ao triunfo. São amorais, mas não imorais. Sua moralidade é primitiva e vive isolada num círculo fechado. As virtudes táticas em nada se relacionam com questões morais abstratas sobre conceitos universais de certo e errado. Certo é o que vence e errado é o que perde, pois, perder representa a morte e o fim de tudo aquilo que tem importância. Força, Coragem, Destreza e Honra são as virtudes que protegem o perímetro; são elas que salvam a nós. E dessas virtudes que os homens precisam para proteger seus interesses, mas também são as virtudes que eles têm de desenvolver para disputar aquilo que desejam. São virtudes do defensor e do atacante. Força, Coragem, Destreza e Honra não são propriedade de nenhum deus em particular, ainda que muitos deuses as vindiquem, seja qual

for o motivo dos homens lutarem, Força, Coragem, Destreza e Honra são o que devem exigir uns dos outros se quiserem vencer. No mundo inteiro, Força, Coragem, Destreza e Honra são as virtudes “alfa” dos homens. São consideradas as virtudes masculinas fundamentais, pois sem elas não se pode nutrir nenhuma das virtudes “superiores”. É preciso estar vivo para filosofar. Vocês podem acrescentar outras virtudes a elas ou criar regras e códigos morais que as restrinjam; mas se as excluírem por completo da equação, não só estarão deixando para trás as virtudes específicas dos homens, mas abandonando virtudes que tornaram possível a própria civilização. Os homens que forem fortes, corajosos, competentes e leais serão respeitados e venerados como membros valorosos da equipe de “nós”. Não dá para contar com homens excepcionalmente fracos ou medrosos. Aqueles que revelarem alguma grave inabilidade terão de achar um jeito de compensar sua deficiência — e é o que tentarão fazer se forem leais e honrados, se quiserem ajudar nas atividades de caça e combate — ou assumir outras tarefas na tribo. O homem cuja lealdade for questionável, que não parecer se importar com o que os outros homens pensem a seu respeito ou em como sua tribo seja vista, não merecerá a confiança da gangue de caça e combate, os homens que não estiverem à altura da incumbência de desempenhar o principal papel dos homens, seja por causa de um desses motivos ou de todos será posto para fora do grupo de caça e combate e incumbido de trabalhar com as mulheres, crianças, doentes e velhos. Os homens são dotados de diferentes impulsos, aptidões e temperamentos. A maioria deles é capaz de se adaptar às atividades de caça e combate, à vida nas fronteiras do perímetro, mas há quem não seja talhado para isso. Estes serão considerados menos viris e julgados menos homens. Alguns se sentirão feridos em seus sentimentos. Não que seja justo, mas a justiça é um luxo ao qual os homens dificilmente podem se permitir, em períodos extremos. Os homens que quiserem evitar a rejeição da gangue trabalharão arduamente e disputarão entre si para ganhar o respeito dos outros homens. Aqueles que, por natureza, forem mais fortes, mais corajosos e mais competentes, disputarão entre si para desfrutar de mais prestígio no contexto do grupo. E enquanto houver alguma vantagem em se conquistar uma posição mais elevada na gangue — seja um maior controle, maior acesso a recursos ou apenas a estima de seus pares e o conforto de se estar acima daqueles situados na base da hierarquia — os homens disputarão entre si pelo direito a uma posição mais elevada. Contudo, em razão dos seres humanos serem caçadores cooperativos, aquele mesmo princípio do grupo-subgrupo se aplica aos indivíduos. Assim como subgrupos de homens disputarão uns contra os outros, mas se juntarão se acharem que têm mais a ganhar com a cooperação, também os homens disputarão individualmente com os outros homens do grupo enquanto não houver ameaça externa mais grave, mas deixarão de lado suas diferenças pelo bem do grupo. Os homens não são propensos a combater ou cooperar; eles são propensos a combater e cooperar.

diferença entre ser um bom homem, de um lado, e ser bom em ser homem, de outro — e por que não são a mesma coisa.

— CAPÍTULO 4 —

Força

Quando se desmonta ou se modifica uma coisa, há certos aspectos que devem continuar intactos ou ser substituídos para que ela preserve sua identidade. Destituída de certas partes, ela vira outra coisa. Sem força, a masculinidade vira outra coisa — um conceito diferente. Força não é um valor arbitrário conferido aos homens pelas culturas humanas. A diferença de forças entre machos e fêmeas é uma característica biológica fundamental. Descontados os canais reprodutivos elementares, os machos serem mais fortes que as fêmeas é uma de suas diferenças físicas mais evidentes, historicamente importantes e solidamente mensuráveis. Hoje em dia é moda empregar a palavra “frágil” entre aspas, para evitar ofender as mulheres ao identificá-las como sexo “frágil”. Mas as aspas não alteram a realidade humana elementar de que os homens ainda são, em média, dotados de uma força física significativamente maior que a das mulheres. Era de se esperar que pessoas sérias fossem capazes de admitir que uma coisa é geralmente considerada verdadeira quando se de um fato verificável. Não há razão para se ter reservas a esse respeito. Ser forte não é a única qualidade que importa; às vezes, nem tem importância. E raro que a força seja uma desvantagem; contudo, com os recursos mecânicos de nosso mundo moderno, a força física é geralmente menos importante do que costumava ser. Mas importante ou não, ela é o que é. Não que as mulheres não sejam capazes de demonstrar força, mas trata-se de uma qualidade que define a masculinidade. A diferença de forças diferencia os homens das mulheres. Homens fracos são considerados menos masculinos, mas ninguém dá a mínima ou nem se dá conta se a mulher for fisicamente mais fraca que seus pares. De certa forma, isso nunca foi tão verdadeiro quanto hoje em dia — ou tão verdadeiro entre diferentes classes sociais. Mulheres que viviam no campo (ou em primitivas sociedades caçadoras-coletoras) eram incumbidas de trabalhos físicos muito mais severos que qualquer atividade que se exija da mulher comum de hoje. Admiramos a força exibida por atletas femininas, mas uma bela mulher que sequer consiga suspender uma sacola de supermercado ainda contará com muitos admiradores e uma penca de homens que se oferecerão para carregar suas compras. Muitas das celebridades femininas consideradas belíssimas tanto por homens quanto por mulheres são tão magras que parece que estão passando fome ou vão se quebrar. No conjunto, estamos nem aí se a mulher é forte ou não. Não se considera uma mulher menos feminina por causa de uma eventual fraqueza física. Muitos homens consideram a mulher menos feminina quando muito forte. Mais especificamente, quando a mulher apresenta uma quantidade visivelmente alta de massa muscular e singularmente baixa de gordura corporal, tende a ficar mais parecida com um