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Resumo: A poesia portuguesa dos séculos XV e XVI passou a ser denominada “poesia palaciana” devido ao fato de que era no palácio que os nobres e cortesãos ...
Tipologia: Provas
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Geraldo Augusto FERNANDES^1 Resumo : A poesia portuguesa dos séculos XV e XVI passou a ser denominada “poesia palaciana” devido ao fato de que era no palácio que os nobres e cortesãos se reuniam para deleitamento e trocas culturais – não só de Portugal, mas de seu vizinho, Castela. Depois do advento da poesia trovadoresca, a poesia do Quatrocentos e do Quinhentos portugueses vão retratar a cultura e a sociabilidade de um país em que as Descobertas marítimas marcarão a riqueza e ostentação, fruto de uma economia em expansão. O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, reunião de 880 poemas de 1459 a 1516, é tido como um documento histórico em versos, pois registra o início da grandeza de Portugal. Abstract : The Portuguese poetry of the XVth and XVIth centuries is denominated courtly poetry due to the fact that it was in the palace that nobles and courtesans got together for rejoice and cultural changes – not only that of Portugal but also of its neighbor, Castile. After the poetry composed by troubadours in the previous centuries, the poetry of the Fourteenth and the Fifteenth will portrait the culture and sociability of a country where the maritime Discoveries will point out the richness and ostentation, because of an economy in expansion. Garcia de Resende’s Cancioneiro Geral , a compilation of 880 poems from 1459 to 1516, is considered a historical document in verses which registers the beginning of the greatness of Portugal. Keywords : Cancioneiro Geral – Garcia de Resende – Poesia palaciana – Sociabilidade – Exaltação do indivíduo – Sala e palácio. Palavras-chave : Garcia de Resende’s songbook – Courtly poetry – Sociability – Exaltation of the self – Room and palace. (^1) Professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Ceará. E-mail : geraldoaugust@uol.com.br.
Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Península Ibérica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Península Ibérica Medieval e Moderna (séculos XIII-XVII) Jun-Dez 201 5 /ISSN 1676- 5818 ENVIADO: 20 .0 8. ACEPTADO: 11.09.
Da mesma maneira que vários poetas dos velhos cancioneiros tinham conseguido instilar uma certa dose de verdadeira emoção no árido convencionalismo da cantiga de amor, também os do Cancioneiro Geral se erguem de vez em quando a autêntica poesia. Stephen Reckert A ânsia de ser diferente e superior aos restantes cortesãos no seu vestir parece que levava à criação de novidades e à frequente quebra dos padrões estabelecidos, daí a sinonímia que se vem estabelecer nos textos da colectânea entre trajo e envençam. Maria Isabel Morán Cabanas
(^2) Segundo Fidelino de Figueiredo: “Os momos eram simples efeitos cenográficos com artifícios mágicos, mas como elementos literários só continham as letras ou cimeiras ou breves , isto é, pequenas explicações que os atores e certos lugares do cenário ostentavam: eram dizeres da galanteria ou aclarações indispensáveis à boa inteligência da representação” (Figueiredo, 1966, 107). (^3) Também conforme Fidelino de Figueiredo: o “ entremez teria um sentido mais compreensivo, designaria todo o conjunto de representações cênicas de determinado momento e determinada solenidade, equivaleria ao nosso moderno espetáculo ; o momo significaria o episódio particular e a ação cômica”. ( Idem , ibidem , 108). (^4) Em Festa, teatralidade e escrita. Esboços teatrais no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. (2003), Maria Isabel Morán Cabanas desenvolve um extenso estudo sobre o nascimento do teatro português, cujo embrião se encontra na coleção de poemas de Garcia de Resende. Quanto à teatralidade na poética da Idade Média, escreve Paul Zumthor: “A ritualidade – a ‘teatralidade’ – poética termina, certamente, em longa duração, por atenuar-se, mas não em suas manifestações concretas, porque, até o século XV e, principalmente, até o XVII, o corpo ficou aí totalmente comprometido. Foi seu objeto que se deslocou pouco a pouco (na medida da difusão da escritura), ao ponto que, passado
Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Península Ibérica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Península Ibérica Medieval e Moderna (séculos XIII-XVII) Jun-Dez 201 5 /ISSN 1676- 5818
Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Península Ibérica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Península Ibérica Medieval e Moderna (séculos XIII-XVII) Jun-Dez 201 5 /ISSN 1676- 5818
(^7) “Nas cortes de amor, o habitual era a imitação mais aproximada possível dos julgamentos verdadeiros, com demonstrações por analogia, o recurso a precedentes, etc. Muitos dos gêneros que se encontram na poesia dos trovadores se relacionam estreitamente com as queixas de amor, como por exemplo o castimen (reprimenda), a tenzone (disputa), o partimen (canção antifonal), o joc partit (jogo de perguntas e respostas). O fundamento último de todos estes gêneros não é o julgamento propriamente dito, nem um impulso poético espontâneo, nem sequer a pura e simples diversão social, mas sim a luta imemorial pela honra em questões de amor” (Huizinga, 1993, 140). Se aqui Huizinga se refere diretamente ao amor, o trecho serve bem para expandir o entendimento de que o “eu” medieval se mostra através desses gêneros, num espaço físico propício à teatralidade, como se procurou demonstrar. (^8) Oficial da casa real que cuidava “da criação dos cavalos castiços e de marca. Também provia e determinava as dúvidas sobre os acontecimentos e lançamentos dos cavalos aos que tinham contia ou fazenda a que fossem obrigados a manter cavalo, para com ele servirem na guerra” (Dias, 2003, 208).
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La nobiltà che gradatamente era stata immobilizzata, si avvicinò al re facendosi palaciana , tutta si rivolse alle galanterie cortesi, ed ebbe la sua letteratura, che naturalmente fu letteratura di corte, in cui si continuava il libero canto cavalleresco dei secoli antichi, in qualche misura però modificato dalla tradizione castigliana e dallo spirito nuovo della prima Rinascenza (Ruggieri, 1931, 7).
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...constitui [o Cancioneiro Geral ] um alargamento das possibilidades expressivas da língua, utilizando sábia e subtilmente uma retórica já elaborada, instaurando os modelos de uma versificação que vai dominar (se não predominar) o lirismo português do século XVI (nomeadamente nas ‘Rimas’ de Luís de Camões) e do século XVII (pense-se em Rodrigues Lobo e numa parte significativa dos cancioneiros barrocos) ( idem, ibidem, 183 - 184).
Senhora, partem tam tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tam tristes vistes outros nenhũs por ninguem. Tam tristes, tam saudosos, tam doentes da partida, tam cansados, tam chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tam tristes os tristes, tam fora d'esperar bem que nunca tam tristes vistes
Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Península Ibérica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Península Ibérica Medieval e Moderna (séculos XIII-XVII) Jun-Dez 201 5 /ISSN 1676- 5818 D e vós, senhora, e de mim
Já mostramos como é legítima a noção de fazer poético como um jogo, só não podendo entendê-la os que se aferram à ideia da poesia como registro da contemplação transcendente das coisas (...) a poesia é a linguagem que organiza o mundo (...) essa organização é uma organização de linguagem (...) passa primeiro pela palavra (...) Não há temas ‘inferiores’ ou ‘superiores’, não cabendo assim a ideia de que a produção reunida no Cancioneiro Geral perde exatamente pela mesquinhez dos assuntos poéticos (Gomes, 1985, 309).
(^11) As letras em destaque são grifos meus.
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Os Portugueses, segurando bem firmes na mão o estandarte real e as espadas, haviam feito surgir a matéria indispensável ao aparecimento da epopeia. (...) Desde a segunda década do século XVI até 1572, surgem tentativas de fixar em metro as glórias pátrias, e o apelo de alguns espíritos mais lúcidos, que procuravam despertar a inspiração dos poetas, oferecendo-lhes, digamos assim, a matéria para as suas obras, acompanha tais tentativas ou é-lhes em alguns casos anterior (Dias, 1982, 269, passim ).
(^12) Vejam-se exemplos e comentários sobre esses fatos em Carvalho, 1995, 76 passim. (^13) Massaud Moisés anota sobre a questão música versus poesia: “é fácil compreender que a libertação desejada acabou provocando uma verdadeira crise poética: que fazer com as palavras, subitamente postas em liberdade, independentes da música? Alguns procuraram ou encontraram o ritmo que lhes
Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Península Ibérica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Península Ibérica Medieval e Moderna (séculos XIII-XVII) Jun-Dez 201 5 /ISSN 1676- 5818 FERNANDES, Geraldo Augusto. Fernão da Silveira: paradigma da criação poética de vanguarda no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. In: A nais V Encontro Internacional de Estudos Medievais , 5, 2003, Salvador: Quarteto, 2005. p. 341-346. __________. A poesia de Fernão da Silveira, no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende: mote para a convivência social. In: A nais I Ciclo Internacional e V Ciclo de Estudos Antigos e Medievais , 2005, Assis, SP: UNESP, 2005. [s.p.]. CD-ROM. Faculdade de Ciências e Letras, Núcleo de Estudos Antigos e Medievais do Departamento de História. FIGUEIREDO, Fidelino de. Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. In: História Literária de Portugal – Séculos XII-XX. 3 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966, p. 102-108. GOMES, João Carlos Teixeira. Gregório de Matos, O boca de brasa. Um estudo de plágio e criação intertextual. Petrópolis: Editora Vozes, 1985. GOMES, Rita Costa. Os Indivíduos e os grupos (excerto). Os tempos da Corte (excerto). In: História e Antologia da Literatura Portuguesa, Século XV , Lisboa, p. 17-35, 1998. HUIZINGA, Johan. Homo ludens. Trad. João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 1993. MELO E CASTRO, E. M. O Próprio Poético. (Ensaio de revisão da Poesia Portuguesa atual). São Paulo: Edições Quíron, 1973. (Série Crítica e História Literária). MOISÉS, Massaud. Humanismo (1418-1527). In: A Literatura Portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1981, ...12- 109... MORÁN CABANAS, Maria Isabel. Um curioso manual de etiqueta no Cancioneiro Geral: as trovas do coudel-mor Fernão da Silveira. IBERIA Cantat: Estudios sobre poesia hispánica medieval. Santiago de Compostela, Servicio de Publicacións e Intercambio Científico, p. 459-472, 2002. __________. Festa, teatralidade e escrita. Esboços teatrais no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. A Coruña: Biblioteca-Arquivo Teatral Francisco Pillado Mayor, 2003. __________. Traje, Gentileza e Poesia. Moda e Vestimenta no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Lisboa: Ed. Estampa, 2001. Colecção Leituras, 9. RECKERT, Stephen. From the Resende songbook. Londres: Queen Mary and Westfield College, 1998. RÉGNIER-BOHLER, Danielle. Ficções. In: História da Vida Privada. Da Europa feudal à Renascença. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, volume 2. ROCHA, Andrée Crabbé. Garcia de Resende e o Cancioneiro Geral. 2 ed. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987. Volume 31. (Biblioteca Breve). RUGGIERI, Jole. Il canzoniere di Resende. Genève: Leo S. Olschki, S.A., 1931. SARAIVA, A. J. e LOPES, Óscar. História da Literatura Portuguesa. 16 ed. Porto: Porto Editora, Ltda., [s.d.). SIMÕES, João Gaspar. Lirismo Medieval. In: História da Poesia Portuguesa (Das origens aos nossos dias, acompanhada de uma antologia). Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1955. Volume I, p. 109-125. ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. A literatura medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. __________. Essai de poétique médiévale. Paris: Seuil, 1972. (Collection Poétique).