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Guias e Dicas
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Análise das Peças 'O Amor' de Fernando Pessoa: Tema do Amor no Teatro Estático, Slides de Teatro

Uma análise comparativa das peças 'o amor' de fernando pessoa, que abordam o tema do amor. O texto oferece informações sobre as influências literárias em torno do teatro estático de pessoa, as caracterizações de personagens femininas e a linguagem utilizada em cada peça.

O que você vai aprender

  • Como as personagens femininas são caracterizadas em 'O Amor' de Fernando Pessoa?
  • Qual é a linguagem utilizada em 'O Amor' de Fernando Pessoa e como difere entre as peças?
  • Quais materiais físicos estão relacionados à peça 'O Amor' de Fernando Pessoa?
  • Quais influências literárias são citadas em relação ao Teatro Estático de Fernando Pessoa?
  • Quais outras peças de Fernando Pessoa abordam o tema do amor?

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Vasco_da_Gama
Vasco_da_Gama 🇧🇷

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Baixe Análise das Peças 'O Amor' de Fernando Pessoa: Tema do Amor no Teatro Estático e outras Slides em PDF para Teatro, somente na Docsity!

“O Amor”:

uma peça inédita de Fernando Pessoa

Filipa de Freitas*

Palavras-­‐‑chave

Fernando Pessoa, Teatro Estático , O Amor, Diálogo no Jardim do Palácio, Intervenção Cirúrgica.

Resumo

O teatro de Fernando Pessoa continua, em grande parte, inédito. O seu núcleo mais conhecido, que se reúne sob a designação Teatro Estático , não corresponde ao universo completo das peças (fragmentadas) de Pessoa. “O Amor”, peça inédita que antecede no tempo o Teatro Estático , será aqui apresentada pela primeira vez, com a respectiva transcrição e imagens. O tema da peça – o amor infeliz – também se encontra no “Diálogo no Jardim do Palácio” e na “Intervenção Cirúrgica”, peças pertencentes ao Teatro Estático. Deste modo, apresentamos uma breve comparação entre os textos, procurando evidenciar abordagens diferentes do mesmo tema.

Keywords

Fernando Pessoa, Static Theatre , O Amor, Diálogo no Jardim do Palácio, Intervenção Cirúrgica.

Abstract

The plays written by Fernando Pessoa are still mostly unpublished. The better-­‐‑known nucleus, compiled under the name Static Theatre , does not exhaust the entirety of Pessoa’s (fragmented) dramas. “O Amor”, an unpublished play written before the Static Theatre , will be presented in the following pages, including its transcription and corresponding images. The play’s subject—unhappy love—can also be found in “Diálogo no Jardim do Palácio” and “Intervenção Cirúrgica,” both belonging to the Static Theatre. As such, we intend to briefly compare the three plays, in order to reveal the different ways through which Pessoa addresses the subject.

  • Instituto de Estudos Filosóficos – Universidade de Coimbra / Centro de Estudos de Teatro – Universidade de Lisboa.

O teatro de Fernando Pessoa é, ainda, pouco conhecido. Devemos a Teresa Rita

Lopes o primeiro estudo mais profundo da faceta dramatúrgica de Pessoa na sua

tese Fernando Pessoa et le drame simbolyste , em 1977. Nas últimas décadas, surgiu

algum interesse pelo teatro pessoano, mas o que tem sido estudado é parcial,

focando-­‐‑se essencialmente no denominado Teatro Estático , que Pessoa desenvolveu

em duas fases, uma entre finais de 1913 e 1918, e outra entre 1932 e 1934 (ver

P ESSOA , 2017). O Teatro Estático contém 14 peças, mas a produção dramatúrgica de

Pessoa vai mais além, englobando cerca de 30 peças (mais ou menos fragmentadas)

que não pertencem ao género estático. Lopes, na sua investigação, deu a conhecer

uma grande parte destes títulos e pontuais fragmentos, mas o cerne do seu

trabalho centrou-­‐‑se no Teatro Estático , fortemente influenciado pelo teatro

simbolista francês do século XIX.

De entre os textos dramáticos que não fazem parte do Teatro Estático ,

destaca-­‐‑se “O Amor”, peça inédita de que se conhecia o título (LOPES , 1977: 130),

mas nenhum dos seus fragmentos, que agora apresentamos. Trata-­‐‑se de uma das

primeiras peças de Fernando Pessoa (que antecede o Teatro Estático ), constituída

por dez folhas manuscritas. De entre os suportes materiais da peça, incluem-­‐‑se

folhas com o carimbo da empresa Íbis, uma editora que Fernando Pessoa manteve

entre 1909 e 1910 (ver F REITAS , 2008: 343).

O interesse de Pessoa pelo teatro continua a ser um caminho por desbravar.

Se, no Teatro Estático , diversas influências têm sido assinaladas, com especial

enfoque nos dramaturgos simbolistas, como Maeterlinck, e nos autores prévios que

de algum modo contribuíram para o desenvolvimento da corrente (como Oscar

Wilde, Edgar Allan Poe, etc.), ainda pouco se sabe sobre os interesses prévios de

Pessoa. Lopes indica, sobre a peça “O Amor”, a possível influência de Herik Ibsen,

um dos autores que adoptou traços simbolistas. Na Biblioteca particular de

Fernando Pessoa, não se encontra nenhum exemplar da obra de Ibsen, mas Pessoa

conhecia o dramaturgo norueguês, embora não o admirasse, como se verifica por

ocasionais referências ao último (PESSOA , 2013a).^1

“O Amor” é, como o próprio título anuncia, uma peça centrada no tema do

amor, mas este não é caso único na obra de Pessoa: no Teatro Estático , Pessoa

aborda o mesmo tema em duas peças: “Diálogo no Jardim do Palácio”, de 1914, e

“Intervenção Cirúrgica”, de 1934. A problemática do amor parece ter

acompanhado o autor ao longo da sua criação literária, tomando formas diferentes:

não são apenas os textos de teatro que recorrem a esta temática, mas também os

seus semi-­‐‑heterónimos, Bernardo Soares e Barão de Teive. A certeza de que o amor

é um caminho que não se pode percorrer é muito explícito nestes dois autores

(^1) Pessoa revela opiniões depreciativas sobre Ibsen, indicando que o dramaturgo é “a third-­‐‑rate

artist” e que “tanto que Ibsen que quiz fazer drama psychiatrico, não conseguiu, nem sequer de longe, crear personagens tão inteiramente verdadeiras, perante a propria psychiatria, como Shakespeare” (P ESSOA , 2013a: 259 e 63).

A — Se, apesar de tudo, nós nos amassemos! B — Não, agora já não pode ser. Descobrimos n’um momento o que os felizes atravessam a vida sem descobrir, e os menos infelizes levam muito tempo a achar. Descobrimos que somos dois e que por isso não nos podemos amar, amor. Descobrimos que não se pode amar, mas só suppôr que se ama. A — Ah mas eu amo-­‐‑te tanto, tanto! Tu se dizes isso é porque não imaginas quanto eu te amo… B — Não, é porque sei quanto tu me não podes amar… Escuta-­‐‑me. O nosso erro foi pensar no amôr. Deviamos ter pensado apenas um no outro. Assim, descobrimo-­‐‑nos. Despimo-­‐‑nos da illusão para vermos bem como eramos e vimos que eramos apenas como a illusão nos fizera. No fundo não somos nada senão Dois. No fundo somos uma opposição eterna – o Homem e a Mulher… Tu-­‐‑propria deves estar já convencida d’isto tudo… A — Nada me pode convencer de que te não amo. Se Deus m’o dissesse eu deixava de crêr em Deus… Oh, meu amôr, não pensemos mais, não pensemos mais. Amemos sem pensar… Maldito seja o pensamento! Se não pensassemos seriamos sempre felizes… Que tem quem ama com o saber que ama, ou porque ama, ou o que é o amôr?… B — Não podemos deixar de querer comprehender. No fundo, talvez, toda a nossa discordia esteja dentro de nós e seja entre o que em nós quer amar e sentir, e o que em nós quer comprehender e explicar. Vês? Porque me fallaste n’isto? Quanto mais penso em tudo, mais tudo se me resolve em opposições, em divisões, em conflitos! Mataste de todo a minha felicidade! Agora, mesmo que eu quizesse sonhar, nem isso poderia fazer. O mundo é absurdo como um quarto sem porta nenhuma… Que baixeza se não pensassemos, e que horror o havermos pensado! A — Agora podemos sonhar-­‐‑nos… E não pensar mais, não olhar mais para o amôr. Elle acaba-­‐‑se por vêr que olha… e olha, talvez apenas se disfarce sob o olhar, fingindo que não é amor, para voltar a ser amor quando não olharmos já para elle. Sinto que isto deve ser assim… B — Não… Agora é impossivel. Podemos não pensar, mas não esquecer que pensámos. ( continuando ) Sejamos fortes e separemo-­‐‑nos, agora para sempre. Ouxalá nos possamos esquecer e esquecer que descobrimos o amor e vimos que elle era uma estatua ôca… Olha, tolda-­‐‑se o ceu… Levanta-­‐‑se vento… Vae chover… A — Já não ouso dizer-­‐‑te que te amo, mas amar-­‐‑te-­‐‑hei sempre. Tu não me devias ter amado… Tu… B — Nada devia ser como é… Fomos infelizes, mais nada. A curva d’esta estrada foi tal que d’ella vimos o amôr e não pudémos amar mais. A — Tu não me amaste nunca. Se me tivesses amado, tu não podias dizer isso. Se tu me tivesses amado tu não pensavas no amor, pensarias em mim. Sim, agora está tudo acabado, mas é porque entre nós nunca houve senão o meu amôr. Amaste-­‐‑me, talvez, porque percebeste que eu te amava ou que te devia amar. Não sei porque me amaste, mas não foi por me teres amôr… Porque me olhas assim tão differente e alheado? B — Porque reparo agora em quão pouco sabemos o que somos, no que pensamos, ou o que nos leva. Subiu -­‐‑me agora á comprehensão o que tudo isto é de complexo e absurdo. O que concluimos nós d’isto tudo? Nada. Dissemos muitas verdades e ellas contradizem-­‐‑se todas, umas ás outras. Não nos podemos comprehender. Entre alma e alma ha um abysmo enorme. O que nós descobrimos afinal foi isso: eu vejo-­‐‑o e tu não o queres vêr. Mas eu descobri mais, ao reparar que não sei o que deva fazer – é que entre nós e a nossa propria alma é um abysmo tambem… Andamos como sonambulos n’uma terra de abysmos, dentro e fóra de mim. Se despertamos, ou cahimos ou não avançamos mais. A nossa unica differença n’este assunto é que tu estacaste e eu cahi dentro de mim-­‐‑proprio, n’um abysmo

entre a consciencia, d’aquelle abysmo mysterioso que era entre mim e a minha alma… Tudo isto é um grande erro… Seja como fôr, ficamos separados… Chove já… Adeus… A — Adeus, sê feliz e esquece -­‐‑me. Não te demores, que chove mais… Na curva da estrada ha uma arvore grande onde te abrigues. *Pobrezinha de mim por ser viuva sem ter sido mais que viuva e mulher sem ter sido bem uma… Vae depressa, vae depressa… Adeus… adeus. (P ESSOA , 2017: 79-­‐‑81)

A ausência de certezas quanto ao significado do amor conduz as

personagens à separação, de tal modo o amor infeliz resulta da necessidade de

compreender a emoção. Mas o amor infeliz nem sempre leva à ruptura entre as

personagens. Pessoa explora, nas suas peças, várias formas de destruir a ilusão do

amor. É esta linha de orientação que também encontramos em “Intervenção

Cirúrgica”, uma peça muito mais tardia do que o “Diálogo no Jardim do Palácio”.

Com uma linguagem e um enredo ligeiramente menos simbolista do que na

primeira peça, Pessoa salienta, em “Intervenção Cirúrgica”, a infelicidade que subjaz

ao amor correspondido. Nesta peça, trata-­‐‑se de um reencontro entre uma mulher e

um antigo amante, que a convence a abandonar o marido. Embora aparentemente

a peça aborde um tema muito mais recorrente, os seus traços inserem-­‐‑se dentro do

Teatro Estático , através da desconstrução de crenças e de ideias pré-­‐‑concebidas.

Apesar de ser uma peça fragmentada, composta por apenas três textos, o seu tema

não é, por isso, menos claro. Citamos um dos seus fragmentos, em que a presença

da infelicidade é evidente:

C — Vens? A — Sim, vou. Mas estou certa que hei de ser infeliz para sempre. Vou, porque tenho que ir. Sei lá porquê! A gente nunca sabe o que faz. Por isso por pena é sempre o coração que manda. E manda sempre para nosso mal. C — O coração… A — Não, não digas nada. Vou. Já te disse que vou. Não me falles mais. ( Compondo o casaco no pescoço ) Por que terei ainda que passar, meu Deus? C — Que tristeza é essa, meu amôr! A ( estendendo a mão de *repente ) — Ai, não. Não me chames “amor” ainda… Ainda é cedo. Deixa passar estes momentos. Que desgraça a minha. C — Eu não te quero raptar… Pensa… Pensa bem… Se quizeres, fica. A — Tu dizes isso porque sabes que eu já não posso ficar. Já estou convencida. ( acaba de compôr o casaco no pescoço ) Vamos? C — Mas vens assim tão triste?!… A — Sim, isto tem que ser… isto tenho que ser… mas é uma cobardia enorme. E os cobardes podem estar salvos, mas nunca podem estar alegres. O que os salvou não se pode dizer – ninguem… C — Queres que esperemos por elle e lhe digamos tudo? Esperemos. A — Isso não, isso não. Quem é cobarde, ao menos, é cobarde.

Neste fragmento, o diálogo entre as personagens mostra como a infelicidade

do amor pode derivar da própria cedência ao afecto, quando está em causa a noção

Estas são apenas algumas características que se podem indicar na

comparação entre as três peças de Fernando Pessoa. A edição de toda a obra

dramatúrgica do poeta é uma condição fundamental para um estudo comparativo

mais profundo, o que permitirá analisar em que medida certos temas são

recorrentes na sua obra e o modo como foram tratados. A apresentação da peça

inédita “O Amor”, que se segue, com as respectivas transcrições e imagens,

pretende ser mais um contributo para clarificar o universo dramatúrgico de

Pessoa.

A transcrição desta peça segue os critérios estabelecidos pela edição crítica

da obra de Fernando Pessoa. Cada fragmento é apresentado separadamente,

excepto nos casos em que o autor deixou alguma indicação explícita que permite

reunir núcleos. O aparato de cada texto pode ser encontrado em nota de rodapé. A

organização da peça teve em conta alguns elementos textuais dos próprios

fragmentos, nomeadamente as indicações “Fim d’O Amor” e “Last Scene”, que

justificam a sua apresentação como fragmentos finais. Pessoa não deixou nenhum

esquema de ordenação da peça (ao contrário do que sucede com algumas odes de

Campos) e, desse modo, a apresentação aqui em causa pretendeu estabelecer uma

leitura viável do texto, reunindo os diálogos das personagens em dois grupos,

tendo em conta a existência de duas histórias (a de Francisco e Micaela, e a de José

e Maria), a par de fragmentos que reúnem trechos de fases diferentes da peça. Por

fim, transcreveu-­‐‑se uma anotação de Pessoa sobre uma cena da peça. Como no

Teatro Estático , todas as didascálias foram assinaladas a itálico.

Fac-­‐‑símiles e transcrições | “O Amor”

Fig. 1. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑5 r^.

Francisco^2 : És tão bonita... És linda Michaëla : Está quieto.

(^2) Fº ] abreviado; como outros nomes, que serão editados sem abreviatura e em itálico.

Michaëla : Olha como tu me bei-­‐‑ jas – como se eu fôsse uma tia ou □ com que embirrasses e te visses obrigado a beijar... Assim antes quero que me não beijes... Ó meu Deus, meu Deus...

Fig. 2. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑3 r^.

Michaëla : Mas tu não me amas, tu não me amas. Beijo-­‐‑te com toda a minha 3 alma e tu deixas-­‐‑me beijar e mais nada. Francisco : Não percebo... Michaëla : Percebes, sim, percebes. Ha cousas que a gente percebe por mal-­‐‑ditas que sejam. Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus ( soluça ). Francisco : Mas eu amo-­‐‑te, Michaëla. Michaëla : Não, não mintas. Não me amas. Nem me olhas, nem me fallas, como se me a-­‐‑ masses. Nem sequer me beijas como beijarias uma mulher qualquer... Causo-­‐‑ te repugnancia por ser doente... como se eu o não percebe[sse]... Isto de estar doente parece que ás vezes aguça. 4

Fig. 3. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑10 r^.

(^3) m/ ] abreviado; como outras palavras afins, que serão editadas sem abreviatura. (^4) Isto de estar doente parece que ás vezes aguça ] com hesitação do autor e sem ponto final.

Maria : Não te rales por minha causa. Ó menino, até se tiver de me ir embora á força – eu parece-­‐‑me que tenho mais força do que elle... Francisco : Ora esta... mas para que diabo... Maria : Mas é que nada d’isso aconteceu... Deixa, que eu sei o que faço...

Fig. 6. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑2 r^.

O Amôr. Jose : E o que será de mim, Maria, o que será de mim?

Maria : Ora, tu serás como se estivesses solteiro. Se houvesse cá o divorcio, a gente divor-­‐‑ ciava-­‐‑se, e ficava tudo arranjado. Agora assim, não ha outro remedio senão este... Tu não és homem para espalhafatos nem grandes paixões, nem coisas d’essas... de maneira que não é cousa que como se acostuma 8 dizer te pique. Jose ; Ah como^9 eu precisava ter a minha mãe ao pé de mim agora! Maria : Pra quê? Ora não sejas creança. Franca-­‐‑ mente, a chamar pela mãe. Olha que isto não é a mal. Cada um nasce para o que ha de ser, tu bem vês; e o melhor é isto. Depois, tu tens o teu escriptorio, os teus amigos. D’aqui a um mez, já vaes melhor, d’aqui a dois mezes se calhar já nem te lembras. É como se tivessemos tido um na-­‐‑ moro e elle 10 acabasse. Olha quanta gente tem namoros e acaba e d’ahi a pouco já tem outro e ás vezes mais do que um.

Fig. 7. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑6 r^.

(^8) /a/costuma ] com hesitação do autor. (^9) como (^10) e [↑ elle]

2/ Maria : Deixa-­‐‑te de espalhafatos. Olha que isso não serve de nada; e a gente é me-­‐‑ lhor □ a bem do que a mal. A gritar ninguem me leva, tu já deves saber, e não hei-­‐‑ de começar agora...

Fig. 8. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑6 v^.

O Amor Last Scene

Jose : eu julguei que tu eras feliz... Eu jul-­‐‑ gava... Eu... enfim eu pensava que vivendo assim na nossa casinha, 11 que □ que a gente enfim viveria fe-­‐‑ liz. E vivia... Porque é que tu... 12 Maria : Ora adeus, adeus, adeus. Como é que se pode ser feliz com isto? Encafuada aqui desde a manhã á noite, a pensar 13 no almoco, e no*jantar e no chá, e em limpar o pó e em coser a roupa e... e... e tudo isso... P’ra divertimento a prima Brites e fallar ás visinhas e ir para a geral no Colyseu uma vez por semana e ir ós touros uma vez por mez... no verão... e o grande divertimento de passear pela Rua do Ouro abaixo e pela Rua Augusta acima e depois dar a volta no Rossio e depois voltar para casa... É uma vida divertida como não ha outra, já se deixa vêr... Jose : Ás vezes a gente podia ir á outra Banda e ao Dafundo...

Fig. 9. BNP/E3, 11 1 AM-­‐‑8 r^.

(^11) Segue-­‐‑se este apontamento: [remark the lack of psychologic knowledge of her] (^12) Porque é que tu... ] com hesitação do autor. (^13) a pensar

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