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Guias e Dicas
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Nutricao o poder da nutrição na saúde, Manuais, Projetos, Pesquisas de Saúde Pública

Livro de nutricao e saúde na área de bioquimica

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2021

Compartilhado em 10/10/2021

glacielen-marasco
glacielen-marasco 🇧🇷

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Não perca as partes importantes!

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Saúde e Nutrição
na Primeira Infância
Uma conversa com famílias e profissionais sobre
atenção à saúde e nutrição da criança de 0 a 6 anos
Volume 3
Coleção
Cofinanciador Coordenação Realização
ParceiroColaboração
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Saúde e Nutrição

na Primeira Infância

Uma conversa com famílias e profissionais sobre

atenção à saúde e nutrição da criança de 0 a 6 anos

Volume 3

Coleção

Cofinanciador Coordenação Realização

Colaboração Parceiro

Texto Diana Mores e Jamile Drubi Coordenação Centro Nordestino de Medicina Popular – CNMP Diana Mores Edição Daniela Resende Florio, Elza Maria de Souza Ferraz e Raissa Jordão Alves (Estagiária) Leitura crítica Denise Maria Cesario Colaboração Gislaine Cristina de Carvalho, João Sérgio Fedschenko e Victor Alcântara da Graça Revisão ortográfica e gramatical Mônica de Aguiar Rocha Projeto gráfico e diagramação Priscila Hlodan Ilustração Vanessa Alexandre Impressão NGE - Nacional Gráfica & Editora Tiragem

Esta publicação é cofinanciada pela União Europeia. As opiniões expressas nesta publicação não refletem as opiniões da Comissão Europeia.

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Presidente Synésio Batista da Costa

Vice-Presidente Carlos Antonio Tilkian

Secretário Bento José Gonçalves Alcoforado

Secretaria Executiva

Administradora Executiva Heloisa Helena Silva de Oliveira

Gerente de Desenvolvimento de Programas e Projetos Denise Maria Cesario

Gerente de Desenvolvimento Institucional Victor Alcântara da Graça

Programa Criança com Todos os Seus Direitos Daniela Resende Florio, Douglas Souza, Elza Ferraz Luiz Mendonça, Luyla Karina, Miguel Minguilo e Péricles Barbosa

expediente ficha tÉcnica

Sumário

Introdução

Apresentação

  1. Desenvolvimento infantil sadio
  2. Cuidados que se devem ter com doenças mais comuns nas crianças
  3. A importância da alimentação
  4. Como fazer o cardápio
  5. Como aproveitar totalmente os alimentos
  6. Receitas
  7. Referências bibliográficas

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O Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP) é uma organização não governamental, institucionalizada em 1988, e tem como missão promover a melhoria da qualidade de vida da população, com ênfase no direito humano à saúde. Sua visão é colaborar com a promoção da saúde integral da população, dentro do novo conceito de cidade e campo saudáveis, nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O Centro Nordestino de Medicina Popular é parceiro da Fundação Abrinq – Save the Children e de outras organizações na execução do Programa Crianças com Todos os Seus Direitos. O Programa visa melhorar o desenvolvimento e a sobrevivência de crianças de 0 a 5 anos de idade de populações excluídas no nordeste brasileiro.

Este volume é destinado a pais, mães, familiares, profissionais da Assistência, Saúde, Educação e demais pessoas que trabalham e são responsáveis por crianças. Compõe a coleção Criança com Todos os Seus Direitos e, assim como os demais volumes (Família Esperta É Família Que Protege e Entendendo a Educação Infantil), visa contribuir para o desenvolvimento integral das crianças na primeira infância.

No contexto do Programa Crianças com Todos os Seus Direitos , o tema da saúde e nutrição é tratado na perspectiva da conquista dos direitos sociais e na constatação de que a dimensão pedagógica não pode estar dissociada da dimensão política.

Assim, as ações educativas e de mobilizações que promovem saberes, diálogos, liberdade e valorização das pessoas também contribuem para o desenvolvimento da autoestima, autonomia e a formação de novos sujeitos políticos. Estes vão incidir, de forma significativa, nos espaços de formulação e controle social das políticas públicas, contribuindo na garantia dos direitos humanos de pessoas que, historicamente, são excluídas de várias políticas sociais.

Este volume foi elaborado com a intenção de reforçar e incentivar a implementação de mudanças de hábitos alimentares mais saudáveis, para melhorar a saúde e a qualidade de vida das crianças de 0 a 5 anos, bem como de suas famílias. Tem como objetivo favorecer a compreensão e facilitar a aplicação dos conteúdos trabalhados nos cursos e nas oficinas de educação nutricional e o aproveitamento integral dos alimentos, realizados com as/os participantes das atividades desenvolvidas pela organização no contexto do Programa. Este material se destina ainda a pais, mães, profissionais da Assistência, Saúde, Educação e demais pessoas que trabalham e são responsáveis por crianças.

É sobre isso que vamos conversar com você.

Apresentação

Desenvolvimento infantil sadio

A saúde das crianças:

atenção e cuidados

Uma grávida bem alimentada, bem tratada e bem orientada será uma mulher sadia, bem como seu filho, por isso, iniciar a consulta pré-natal o mais cedo possível é fundamental. É importante que tenha ao menos sete consultas antes do parto para saber se tudo está correndo bem com ela e o bebê. É também o momento onde pode esclarecer dúvidas, obter ajuda para se preparar para o parto e descobrir e tratar o mais cedo possível a ocorrência de qualquer problema que surja. Toda gestante deve ser orientada a realizar exames que possam prevenir doenças nos bebês, entre elas sífilis e HIV/Aids, sob o seu consentimento e direito ao sigilo do resultado.

Quais os cuidados importantes

com as crianças

Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento de uma vida saudável. Um bom crescimento, desenvolvimento e aprendizado dependem tanto da genética (a herança que recebe dos pais) como dos cuidados e atenção que a criança receberá da mãe, da família e da comunidade em geral.

Para ter certeza de que o filho está se desenvolvendo dentro da normalidade, este deve receber os cuidados necessários o mais cedo possível e uma boa nutrição. A família deve realizar algumas atividades que vão colaborar para que a criança tenha uma boa saúde e um bom começo na vida.

Logo depois do nascimento, é importante realizar o teste do pezinho , para descartar doenças congênitas ou infecciosas. Esse teste deve ser feito na primeira semana de vida, e a mãe ou o responsável deve ter a precaução de buscar o resultado para se certificar deque não existem problemas com a saúde da criança, ou, caso exista, inicie o tratamento o mais cedo possível para evitar problemas no seu desenvolvimento.

É muito importante iniciar o aleitamento exclusivo logo após o parto e depois de sair da maternidade, seguir as orientações

Cuidados com a higiene

A higiene além de colaborar com a manutenção da saúde é um meio de a criança conhecer e valorizar seu corpo. Podem ser momentos em que a família proporcione carinho, brincadeiras, colaborando para o desenvolvimento de laços afetivos e segurança.

A saúde bucal é outro ponto que a mãe deve levar em consideração porque influi no bem-estar geral da criança. Durante a gravidez, deve manter uma dieta saudável e realizar tratamentos dentários, pois tudo isso influi na saúde bucal do bebê.

Deve-se evitar introduzir cedo o açúcar na alimentação (chás e sucos com açúcar, refrigerantes, balas). O ideal é incluir na dieta papas de frutas in natura e sucos sem adição de açúcar, pois as crianças ficam mais propensas a desenvolver cáries. Hoje sabemos que a dentição de leite é muito importante para a dentição permanente. É bom iniciar a higiene bucal cedo e ensinar as crianças a escovar os dentes, que, além de uma alimentação com pouco açúcar e massa (carboidratos), vai ajudar no desenvolvimento de dentes fortes e livres de cáries e doenças da boca.

Para saber mais

A mortalidade infantil no país vem diminuindo nos últimos anos, porém ainda no Nordeste, em especial em Pernambuco, continua elevada de acordo com os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), principalmente nos municípios do interior, refletindo as condições socioeconômicas em que a maioria da população dessas áreas vive.

O desenvolvimento de qualquer bebê está condicionado por fatores internos e externos. Os internos são genéticos, malformações entre outros. Os externos têm a ver com as condições socioeconômicas e culturais das famílias, como nutrição, saúde, moradia, saneamento básico e principalmente a qualidade dos cuidados, em especial os laços afetivos estabelecidos entre o bebê e outras pessoas, para que se forme como sujeito com identidade própria. Esses fatores têm sua influência a partir da fase intrauterina e continuam por toda a vida.

Todas as crianças nascem com um potencial genético que, dependendo das condições em que se desenvolvem, poderão atingir ou não seu potencial.

Todas as crianças menores de 5 anos de diversos países crescem a um ritmo semelhante, desde que submetidas a boas condições de vida. Os fatores genéticos têm um peso maior nas crianças maiores, adolescentes e em adultos jovens.

Nas crianças menores de 5 anos os fatores externos/ambientais são muito mais importantes para um bom desenvolvimento que o potencial genético. Assim crianças

que se desenvolvem em um ambiente físico saudável (higiene, moradia, alimentação) e com atenção, carinho e cuidados gerais que a mãe/família /sociedade lhe dediquem, têm maior possibilidade de obter um desenvolvimento mais harmônico e de acordo com seu potencial genético. Porém existem fatores de risco associados ao desenvolvimento das crianças. Um deles é o peso ao nascer, que, se menor de 2.500 g, está mais associado às mortes perinatais, sendo também um dos principais riscos para o crescimento pós-natal. Essas crianças precisam de um acompanhamento atento e contínuo em especial na parte nutricional. No entanto, deve-se enfatizar a importância do cuidado e aconselhamento no pré-natal e da captação precoce das grávidas, principalmente aquelas potencialmente de risco, como o caso das adolescentes e da mulher com gravidez múltipla.

A visita domiciliar deve ter entre outros os seguintes objetivos, em especial se tratando de famílias com recém-nascido: t Facilitar acesso ao serviço de saúde.

t Estimular o desenvolvimento da parentalidade.

t Orientar sobre os cuidados com o recém-nascido.

t Identificar sinais de depressão puerperal.

t Promover o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida.

t Prevenir lesões não intencionais.

t Avaliar e orientar aos pais os sinais de perigo na criança menor de 2 meses e a necessidade de procurar atendimento de emergência.

t Avaliar a presença de situações de risco à saúde do recém-nascido.

t Orientar calendário de imunizações.

Como conversar sobre isso

com outras pessoas

Árvore dos problemas Em grupos, deve-se discutir quais as doenças principais ou mais recorrentes nos municípios, região, e quais as raízes dessas doenças (biológicas, psicológicas, culturais, sociais e econômicas). Por fim, deve-se estabelecer uma interligação das causas em apresentações com cartaz, desenhos ou dramatização.

Sobre cuidados com as crianças:

  1. Que cuidados deve-se ter com o recém-nascido (alimentação, medidas de saúde etc.)?
  2. Como detectar, na comunidade, crianças com/ou em risco de desnutrição?
  3. Como incentivar o aleitamento até os 6 meses de vida? Quais os obstáculos para o aleitamento?
  4. Que problemas as mulheres enfrentam para levar as crianças ao Posto para vacinação e controle de peso?
  5. Existe diferença no trato de meninas e meninos?
  6. De que morrem as crianças menores de 1 ano na sua região?
  7. O teste do pezinho ou triagem neonatal é realizado nas maternidades do município?
  8. Qual é o procedimento em caso de alteração no resultado?

Cuidados que se devem ter com

doenças mais comuns nas crianças

Mesmo crianças bem cuidadas apresentam chance de adoecer, em especial aquelas menores, porque seu sistema de defesa ainda está imaturo e o meio ambiente nem sempre é o mais adequado ao desenvolvimento saudável.

As diarreias e as doenças respiratórias são os problemas mais comuns e as que causam mais hospitalizações e morte nas crianças, daí a importância de cuidar delas cedo e de forma correta para evitar complicações. Como regra geral, é bom lembrar que, quando a criança adoece, fica sem desejo de comer. Nessa situação não se deve forçar, mas oferecer alimentos macios e de sua preferência, dar bastante líquido e continuar com o aleitamento caso ainda esteja sendo amamentada.

Diarreias

A criança tem diarreia ao eliminar fezes líquidas e com frequência maior de três vezes por dia. Quando a diarreia vem com sangue ou muco pode ser causada por micróbios, nesse caso, é importante levar ao Posto de Saúde. A diarreia aguda é produzida por água contaminada, alimentos e mamadeiras mal lavadas e pouca higiene no lar. No Brasil é uma das maiores causas de doença e morte de crianças em especial menores de 6 meses que não são amamentadas.

Alimentação nas diarreias

É importante continuar com o aleitamento e, no caso da criança estar recebendo alimentos, seguir com a dieta normal – inclusive seguir usando as fontes de gordura como óleo vegetal, manteiga, pois eles não pioram a diarreia. Pelo fato de a criança estar perdendo muitos nutrientes, deve-se aumentar o número de refeições ao dia. Lembrar que o soro da hidratação oral não substitui a alimentação. Para evitar a desidratação, é fundamental aumentar a ingestão de líquidos preparados com ingredientes disponíveis nos domicílios: soro caseiro, chás, cozimento de cereais (arroz, milho), sopas e sucos, iogurte natural sem açúcar. O preparado deve ser oferecido depois de cada evacuação: t Crianças de até 12 meses – 50 a 100 ml (¼ a meio copo). t Crianças acima de 12 meses – 100 a 200 ml (½ a 1 copo).

Cuidados durante a diarreia:

t Não oferecer sucos ou chás adoçados e refrigerantes. O açúcar em demasia aumenta ainda mais a perda de líquidos e nutrientes. t Não oferecer medicamentos para diarreia aguda. Além de desnecessários, podem causar mais problemas. t Para evitar a desidratação, oferecer o soro cada vez que criança fizer coco ou vomitar. No caso de desidratação, aumentar a frequência usando copos e colher. Se a criança vomitar, diminuir a quantidade de soro e aumentar a frequência. Não precisa dar remédio para vômitos, pois o próprio soro vai ajudar a diminuí-los. t Aumentar a oferta de líquidos que “prendem”, como, suco de caju, goiaba ou maçã. t Usar arroz, batata inglesa (cozida ou purê), cenoura cozida, banana, torradas, frango, água de coco verde, mamada de frango (ver preparo no Capítulo 6, Receitas, deste volume). t Evitar alimentar a criança com produtos de leite pelo menos 2 semanas depois da diarreia, frituras e alimentos gordurosos, verduras cruas em geral e muito doce e açúcar.

É importante que se observem

os sinais de perigo na diarreia

A criança mostra-se sonolenta, irritada ou inquieta, com olhos fundos. Deve-se verificar o sinal da prega: quando pinçada uma dobra da pele na barriga, essa demora a voltar ao estado normal. A criança faz pouco xixi, fica com a boca seca e muita sede. Nessa situação, além de iniciar a administração de soro caseiro, deve-se procurar o serviço de saúde imediatamente.

Para saber mais

Diarreia é o aumento do número de evacuações, fezes amolecidas ou aquosas. Disenteria é quando vem acompanhada por mucos ou sangue (bactéria Shigella). A diarreia pode ser aguda, com duração de até 14 dias; prolongada/ persistente, igual ou maior que 14 dias; e crônica, maior que 30 dias. Na maior parte dos casos, é autolimitada, isto é, não exige tratamento para sua causa. Diarreia aguda é causada por bactérias, vírus e parasitas contraídos por via oral. Os meios de contaminação mais comuns são água não tratada, alimentos mal lavados, mamadeiras mal higienizadas, leite mal fervido, mãos não lavadas entre outros. A diarreia aguda é uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil no Brasil, especialmente de crianças menores de 6 meses que não estão em aleitamento materno exclusivo. Algumas estratégias de prevenção demandam iniciativas políticas e ambientais como o saneamento básico e fossas sépticas, que são efetivas na redução de morbimortalidade infantil por doenças infecciosas, especialmente a diarreia.

Desnutrição

A desnutrição acontece quando a criança passa fome ou tem uma dieta inadequada para satisfazer suas necessidades nutricionais. A falta do leite materno entre crianças de 0 a 2 anos de idade, o desmame precoce, a alimentação errada iniciada antes dos 6 meses de vida, más condições sanitárias e de higiene que favorecem a ocorrência de verminoses, infecções e diarreia são as causas mais comuns de desnutrição porque o apetite da criança diminui e o alimento que consome não é utilizado eficazmente. Nesses casos, a criança pode sofrer emagrecimento acentuado ou desenvolver inchaço. A família deve evitar a desnutrição das crianças, pois ela provoca graves consequências para a saúde e para o desenvolvimento. Além da perda de peso, caso a desnutrição dure muito tempo, vai atingir também o crescimento e o desenvolvimento, criando consequências para a vida futura da criança, como, por exemplo, dificuldade na aprendizagem. Para evitar a desnutrição, é muito importante que a mãe faça o aleitamento exclusivo nos primeiros 6 meses de vida da criança e siga o esquema de alimentação para as diferentes idades apresentado neste volume.

Para saber mais

A desnutrição se deve a diversas causas, em geral acontece quando a criança não recebe os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. Na maioria dos casos, é o resultado da falta ou insuficiência de alimentos, ou devido a determinada doença. A desnutrição infantil vem caindo e, de acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), está presente em 7,9% dos meninos e de 6,9% das meninas (anteriormente eram 24,5% dos meninos e 23,6% das meninas que tinham déficit de altura). A maior prevalência de déficit de altura causado por desnutrição crônica foi encontrada na Região Norte (8,5%) e a menor, na Região Sul (3,9%); na Região Nordeste foi de 5,9%, Sudeste, 6,1%, e Centro-Oeste, 6,1%. Em nenhuma das regiões houve diferenças importantes de prevalência entre domicílios urbanos e domicílios rurais.

Existem dois tipos de desnutrição:

Desnutrição proteico-calórica: desenvolve-se quando a criança não obtém de seus alimentos suficiente energia ou proteínas para satisfazer suas necessidades nutricionais. Uma criança que tenha tido doenças agudas com frequência também pode desenvolver desnutrição proteico-energética. O apetite da criança diminui e o alimento que consome não é utilizado eficazmente. Neste tipo de desnutrição, a criança pode t sofrer emagrecimento acentuado (marasmo). t desenvolver edema (kwashiorkor). t associar o edema com o emagrecimento acentuado (kwashiorkor-marasmo).

Anemia: a segunda importante modalidade de desnutrição é a anemia ferropriva, que atinge preferencialmente gestantes e crianças de diferentes idades. Na infância, mesmo anemias leves podem levar ao baixo ganho ponderal e a perdas no desempenho escolar. Frequentemente, quadros de deficiência de ferro estão associados a infecções e infestações parasitárias, como também a carências de outros nutrientes como, por exemplo, a vitamina B12. Entre os fatores determinantes da diminuição de ferro no organismo estão as práticas alimentares das famílias, com oferta insuficiente de alimentos ricos em ferro ou oferta de alimentos com ferro de baixo aproveitamento pelo corpo (biodisponibilidade). Por outro lado, as combinações alimentares também são um fator predisponente à falta de ferro no organismo das crianças, a exemplo do consumo de leite ou derivados, que são fontes de cálcio, junto com carnes ou leguminosas que são fontes de ferro. O cálcio consumido junto com fontes de ferro impede sua absorção (deve-se deixar um mínimo de três horas para dar leite depois de uma refeição rica em ferro).

Outras causas são: t Infecções. t Infestações por parasitas como ancilóstomos ou tricocéfalos, que podem produzir perda de sangue nos intestinos e acarretar anemia. t Malária, que pode gerar destruição rápida dos glóbulos vermelhos.

As seguintes medidas colaboram na recuperação do peso da criança: t Incentivar o aleitamento materno, inclusive trabalhar o estímulo à relactação. t Continuar amamentando e introduzir alimentação suplementar para crianças maiores de 6 meses.

t Utilizar alimentos de alto valor nutritivo, ricos em nutrientes e caloria. t Aumentar a densidade energética com a adição de óleo vegetal a cada refeição salgada. Acrescentar a cada refeição salgada, para menores de 1 ano, 1 colher de sobremesa de óleo e, para maiores de 1 ano, 1 colher de sopa de óleo. t Estimular o uso de outras fontes de gordura como manteiga e pastas de sementes/ amendoim/castanhas, no preparo dos alimentos.

Como conversar sobre isso

com outras pessoas

Deve-se realizar um trabalho com pequenos grupos abordando tipos de desnutrição que conhecem, quais são os mais frequentes na comunidade e que respondam às seguintes perguntas:

  • Como reconhecer os sinais de desnutrição?
  • Em qual período do ano é mais comum o aparecimento da desnutrição?
  • Onde estão localizadas as famílias com maior número de crianças desnutridas?
  • Qual alimentos da região podem ser recomendados às famílias?
  • Como incentivar o aleitamento exclusivo em menores de 6 meses?
  • Quais são os procedimentos definidos na unidade de saúde para acompanhar estas famílias?

t Abrir um debate sobre o conceito de diarreia e suas condicionantes. t Abordar o preparo de uma refeição salgada utilizando alimentos de fácil acesso à população, mas que sejam ricos em nutrientes.

Obesidade

A obesidade é o resultado do consumo inadequado de alimentos quanto à sua variedade, quantidade e qualidade nutricional, e também pode ser considerada um tipo de desnutrição. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, apresentou dados importantes sobre o aumento do número de crianças acima do peso no país, principalmente na faixa etária entre 5 e 9 anos de idade (disponível em www.ibge.gov.br). O padrão alimentar brasileiro também tem apresentado mudanças, com maior consumo de alimentos industrializados, refrigerantes, gorduras e açúcares, e menos consumos de verduras, frutas e cereais. Infelizmente, essa dieta alimentar também passou a fazer parte do cardápio das crianças e dos adolescentes, levando ao desenvolvimento de maus hábitos alimentares e, como consequência, o aumento de peso e a obesidade. Outro fator importante na obesidade é o hábito alimentar da família. Estudos demonstram que filhos de pessoas obesas têm mais possibilidades de se tornarem obesos, do que as crianças e/ou adolescentes cujos pais apresentam o peso normal. O excesso de peso e obesidade na infância podem ter sérias consequências na vida adulta, como o aumento do colesterol e triglicerídeos, hipertensão arterial, problemas articulares, diabetes, problemas no fígado, dentre outros.

Medidas para prevenir o sobrepeso e a

obesidade em crianças

É importante que a criança seja amamentada pelo menos até os 6 meses de vida e, em geral, seguir o esquema de alimentação para as diferentes etapas do desenvolvimento infantil conforme apresentado neste volume: t Evitar o consumo de carnes gordas, frituras, carnes processadas como linguiça, salsicha, mortadela, salame, toucinho, biscoitos recheados, salgadinhos, cremes, entre outros. t Incentivar o uso de verduras e frutas introduzindo-os na dieta da criança no início da alimentação suplementar. t Evitar o uso de refrigerantes. t Dar preferência aos alimentos cozidos, refogados e grelhados, em vez de frituras ou à milanesa. t Ensinar a criança a fazer escolhas adequadas para a criação de hábitos alimentares saudáveis. t Estimular atividades físicas nas quais a criança esteja brincando como: pular corda, andar de bicicleta, nadar, jogar capoeira etc. t Não utilizar doces, refrigerantes – e outras guloseimas – como recompensa. t Oferecer frutas, sucos, iogurtes e sanduíches como lanche, em vez de salgadinhos, pipocas e biscoitos recheados, dentre tantos outros alimentos prejudiciais à saúde.

De todas as dicas, segue uma das mais importantes: atenção às propagandas de produtos alimentícios ultraprocessados (refrigerantes, achocolatados, salgadinhos, suplementos, condimentos etc.), principalmente, os que são veiculados em televisão. Geralmente, essas propagandas se utilizam de estratégias de marketing que estimulam o desejo e o comer compulsivo. E, quando são direcionados às crianças, esses alimentos são associados a muita diversão (brincadeiras, jogos, brindes, desenhos animados, músicas infantis, dentre tantos outros estímulos).

Anemia falciforme

A doença falciforme é uma alteração genética, caracterizada por um tipo de hemoglobina mutante designada por hemoglobina S (ou Hb S) que provoca a alteração dos glóbulos vermelhos, fazendo-os tomar a forma de “foice” ou “meia-lua”. Teve origem no continente africano, e sua introdução no Brasil ocorreu durante o período da escravidão. Dados da Triagem Nacional sinalizam 3.500 nascidos por ano com a doença falciforme e 200 mil com o traço. As crises dolorosas são as complicações mais frequentes da doença e constituem sua primeira manifestação. São causadas pelo dano do tecido, devido ao fechamento dos pequenos vasos sanguíneos pelos glóbulos vermelhos causando diminuição do fluxo sanguíneo. Essa redução causa diminuição do oxigênio (hipóxia) regional e acidose, que podem exacerbar o processo de falcização aumentando o dano aos tecidos. A crise de dor se manifesta atacando, inicialmente, a região óssea, como articulações, o abdome e parte inferior das costas. Essas crises de dor duram normalmente de quatro a seis dias, podendo, às vezes, persistir por semanas.

t Fatores desencadeantes da dor: infecções, a desidratação e a hipóxia parecem ser a principal, bem como a acidose. Outras condições também citadas com muita frequência são a exposição a temperaturas frias, febre, gravidez e o estresse físico e psicológico.

t Fatores de risco: febre maior que 38º C, desidratação, palidez, vômitos recorrentes, aumento de volume das articulações, dor abdominal, sintomas pulmonares agudos, sintomas neurológicos, priapismo, dores que não se resolvem com analgésicos comuns.

Cuidados

A hidratação, por via oral ou endovenosa, constitui-se na principal indicação. Os líquidos facilitam a diluição do sangue (hemodiluição) e revertem a aglutinação de células falciformes dentro dos pequenos vasos sanguíneos, fator que causa as crises de dor. Deve-se estimular a ingestão de líquidos como água, sucos de frutas, sopas e gelatinas.

A quantidade de líquido recomendada é de aproximadamente 2 a 3 litros em 24 horas. As gestantes devem ser orientadas, ao final da gestação, sobre a importância do Teste do Pezinho e a época do procedimento.

O/A portador(a) de traço falciforme é a pessoa que apresenta a hemoglobina AS (HbAS). Ele/ela não é doente, não tem anemia e terá uma vida normal. Para cada 1.000 crianças triadas, espera-se encontrar um caso de doença e 30 casos de portadores.