Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Nos bastidores do Reino: a vida secreta na Igreja Universal do Reino de Deus, Manuais, Projetos, Pesquisas de Ciência da religião

A Vida Secreta na Igreja Universal do Reino

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2011

Compartilhado em 28/07/2011

leonardo-ribeiro-51
leonardo-ribeiro-51 🇧🇷

1 documento

1 / 68

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Nos Bastidores do Reino
A Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus
PREFACIO
Os originais de Nos Bastidores do Reino chegaram as minhas mãos ha mais de um ano. O
intrigante e que eu morava no meio do nada, perto das montanhas de São Francisco, na
Califórnia, e o remetente era um desconhecido brasileiro que vivia em Nova York. Abri o
envelope na varanda da minha casa, me perguntando como ele me achou e por que eu.
Estava ocupado, tinha compromissos marcados, mas li a primeira linha e só sai da varanda
ao anoitecer, depois de ter lido o livro em uma tacada. A primeira coisa que me veio a
cabeça: ainda bem que ele me achou e me escolheu.
Prepare-se: ler Nos Bastidores do Reino e um evento de transformação. Ninguém será o
mesmo depois de conhecer os detalhes da vida de Mário Justino, mas vale a pena correr o
risco. Ainda não se criou uma designação para este estilo literário. Seria o que, literatura
emocional, visceral? Pensando bem, pouco importa o estilo. e um livro, como todos os
livros buscam ser: um acontecimento na vida do leitor. A começar, a historia nebulosa da
formação de um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, que cresceu com a crise
espiritual do homem moderno, dando respostas objetivas a carência moral de milhares de
fieis abandonados por outras seitas. Os métodos da Igreja são questionados. Aproveita-se
da fé para extorquir milhões? Poderíamos concluir que a religião vira um negocio, e uma
técnica e desenvolvida para confundir a "vitima", relendo a Bíblia e deturpando o
pensamento cristão. Nos bastidores, premiam-se os pastores que conseguem arrecadar mais
dinheiro. As fofocas giram em torno do sucesso ou fracasso financeiro de tal filial. O poder
sobe a cabeça, e um estilo de vida nada religioso passa a ser a norma entre os lideres da
Igreja. De festa em festa, nosso personagem e contaminado pelo vírus da AIDS. e expulso
da Igreja, e desce aos poucos os degraus do inferno. Em pouco tempo, o garoto da
Universal perde tudo e vive seu calvário pessoal, nas sombras de uma estação de metrô de
Nova York, aquecendo-se numa fogueira com outros mendigos (os de possuídos),pensando
em roubar para comprar drogas e planejando o assassinato do bispo Edir Macedo, líder da
seita. Não e apenas um livro denúncia. A própria teologia esta em debate. De repente,
estamos, agora sim, em frente à pobreza e à verdade do ideal cristão. Chegamos a acreditar
que Mário Justino e mais Jesus que toda a pompa papal e a conta bancaria da Universal.
São escritores como ele que podem nos salvar e iluminar alguns caminhos. Faça bom prato
das palavras de um homem que viu de tudo, que viveu os extremos, e pode ser considerado,
em teoria, um herói.
MARCELO RUBENS PA1VA
São Paulo, primavera de 1995
Introdução
Não considero este livro uma autobiografia. Essas são escritas por aqueles que já viveram
tudo. Ele também não pretende ser uma busca de remissão, nem uma tentativa de me
justificar a quem quer que seja. Acima de tudo, este livro não tem a pobreza de ser uma
forma de vingança.
Talvez eu não tivesse o direito de escrever uma historia que envolve tantas pessoas. Mas,
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Nos bastidores do Reino: a vida secreta na Igreja Universal do Reino de Deus e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Ciência da religião, somente na Docsity!

Nos Bastidores do Reino

A Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus

PREFACIO

Os originais de Nos Bastidores do Reino chegaram as minhas mãos ha mais de um ano. O intrigante e que eu morava no meio do nada, perto das montanhas de São Francisco, na Califórnia, e o remetente era um desconhecido brasileiro que vivia em Nova York. Abri o envelope na varanda da minha casa, me perguntando como ele me achou e por que eu. Estava ocupado, tinha compromissos marcados, mas li a primeira linha e só sai da varanda ao anoitecer, depois de ter lido o livro em uma tacada. A primeira coisa que me veio a cabeça: ainda bem que ele me achou e me escolheu.

Prepare-se: ler Nos Bastidores do Reino e um evento de transformação. Ninguém será o mesmo depois de conhecer os detalhes da vida de Mário Justino, mas vale a pena correr o risco. Ainda não se criou uma designação para este estilo literário. Seria o que, literatura emocional, visceral? Pensando bem, pouco importa o estilo. e um livro, como todos os livros buscam ser: um acontecimento na vida do leitor. A começar, a historia nebulosa da formação de um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, que cresceu com a crise espiritual do homem moderno, dando respostas objetivas a carência moral de milhares de fieis abandonados por outras seitas. Os métodos da Igreja são questionados. Aproveita-se da fé para extorquir milhões? Poderíamos concluir que a religião vira um negocio, e uma técnica e desenvolvida para confundir a "vitima", relendo a Bíblia e deturpando o pensamento cristão. Nos bastidores, premiam-se os pastores que conseguem arrecadar mais dinheiro. As fofocas giram em torno do sucesso ou fracasso financeiro de tal filial. O poder sobe a cabeça, e um estilo de vida nada religioso passa a ser a norma entre os lideres da Igreja. De festa em festa, nosso personagem e contaminado pelo vírus da AIDS. e expulso da Igreja, e desce aos poucos os degraus do inferno. Em pouco tempo, o garoto da Universal perde tudo e vive seu calvário pessoal, nas sombras de uma estação de metrô de Nova York, aquecendo-se numa fogueira com outros mendigos (os de possuídos),pensando em roubar para comprar drogas e planejando o assassinato do bispo Edir Macedo, líder da seita. Não e apenas um livro denúncia. A própria teologia esta em debate. De repente, estamos, agora sim, em frente à pobreza e à verdade do ideal cristão. Chegamos a acreditar que Mário Justino e mais Jesus que toda a pompa papal e a conta bancaria da Universal. São escritores como ele que podem nos salvar e iluminar alguns caminhos. Faça bom prato das palavras de um homem que viu de tudo, que viveu os extremos, e pode ser considerado, em teoria, um herói. MARCELO RUBENS PA1VA São Paulo, primavera de 1995

Introdução Não considero este livro uma autobiografia. Essas são escritas por aqueles que já viveram tudo. Ele também não pretende ser uma busca de remissão, nem uma tentativa de me justificar a quem quer que seja. Acima de tudo, este livro não tem a pobreza de ser uma forma de vingança. Talvez eu não tivesse o direito de escrever uma historia que envolve tantas pessoas. Mas,

no decorrer dos últimos anos, eu vinha sentindo uma irresistível vontade de contar a minha verdade. Entretanto, seria impossível contar essa historia sem que se revelasse, no andamento natural da narrativa, a historia dos porões da Igreja Universal. Infelizmente, as duas historias estão fundidas em uma só. Sexo, dinheiro e drogas se confundem, no mesmo púlpito, com orações e salmos de Davi. Lamento pelas pessoas que se sentirão traídas por esta obra. Mas espero que ela contribua para que se forme uma discussão de âmbito nacional sobre a influencia nociva que pseudopastores vem exercendo sobre as massas, fazendo com que menores abandonem famílias, e estudos, desgraçando assim seu futuro e sua vida. Isso, se não é, deveria ser caso de policia. As poucas pessoas que conseguem se liberar desse crack religioso se vêem no meio de um profundo vazio. Como se o tapete mágico tivesse sido puxado repentinamente de sob seus pés. Em muitas vezes as seqüelas são irreparáveis. Nos Estados Unidos existem varias organizações, algumas governamentais, que dão apoio psicológico e legal a essas pessoas vitimadas por grupos como a "igreja" de Edir Macedo. Eu acredito que no Brasil essas vitimas sejam em grande numero ex-pastores, missionários, evangelistas, obreiros, membros. Pessoas de boa fé que deram seus lombos para que sobre eles fosse construído o império de Macedo. Somente denunciando elas serão ouvidas. Recuso-me a acreditar que a Constituição, quando protege a liberdade de culto, também proteja a lavagem cerebral e a exploração financeira da credulidade publica. A principio, este livro pretendia ser uma denuncia, um clamor por justiça, mas, na medida em que foi sendo concebido, foi assumindo a forma daquilo que realmente e: a trajetória de alguém que, buscando o desconhecido, encontrou a si mesmo. MÁRIO JUSTINO Nova York, verão de 1995

PRELÚDIO

Ora, não se faca de imbecil! Você sabe por que tem de ir. Mas vou refrescar sua mente. Você não pode mais ficar com a gente porque tem AIDS! Quando Edir Macedo, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, me chamou em seu escritório, no fundo eu sabia que era isso que ele me diria. Dois meses antes eu enviara uma carta ao pastor Honorilton Gonçalves, na qual contava o meu problema. Gonçalves fora um grande amigo, desde os meus dezesseis anos, quando fui transferido do Rio para ser pastor na Bahia, estado em que ele era o vice-líder. Gonçalves agora era líder nacional, e, em nome da nossa antiga amizade, pensei nele como alguém que podia me ajudar a sair daquele estado de torpeza e confusão. Na carta, contei a ele tudo o que estava acontecendo comigo. Disse, inclusive, que achava estar com "aquela doença incurável" Por varias semanas esperei pela resposta do pastor Gonçalves. Nunca chegou. Em compensação, fui chamado ao escritório do bispo Edir Macedo, que na época encontrava-se em Nova York fugindo das acusações de charlatanismo feitas pela policia de São Paulo. Com o conhecido olhar que aterrorizava seus subalternos, o bispo ordenou que eu juntasse minhas coisas e fosse embora. Eu não interessava mais a Igreja Universal do Reino de Deus. Pior, podia "comprometê-la". Ao insistir em saber por que estava sendo varrido da Igreja depois de onze anos de serviços prestados, recebi do bispo aquela resposta áspera, bem no estilo dele. Disse que não tinha

senso da loucura quando eu comecei a considerar a idéia de matar. Eu não tinha mais nada a perder. Tudo o que tivera havia escorrido por entre os meus dedos: mulher, filhos, meus pais, meus sonhos, minha fé, meu Deus. Tudo tinha ido. A única coisa que me restara era o ódio mortal pelo bispo Macedo e sua Igreja Universal. A idéia de mata-lo pareceu-me uma forma deliciosa de fazer justiça. Ainda fraco, levantei a cabeça e fiquei de pe. O pensamento me revigorou e me fez sentir melhor A saliva se fez doce. Havia, enfim, encontrado uma razão para continuar vivendo.

CAPITULO UM 1980: BEM-VINDO AO REINO Era uma típica noite de sábado, em que os barzinhos estavam repletos de gente jovem, entretidos por animadas conversas em suas mesinhas ao longo da calcada. Em meio a esse burburinho de casais e amigos que ocupavam as ruas, eu caminhava sem rumo e com o semblante caído. Minha figura contrastava com aquelas pessoas que, indo e vindo, passavam por mim exibindo uma invejável alegria. Tinha medo de estar dando o passo errado. Por alguns instantes pensei que talvez fosse melhor voltar para casa e fazer de conta que aquela idéia nunca me ocorrera. Mas sabia que algo me faltava e, por uma estranha razão, tinha certeza de que naquela noite encontraria o que vinha buscando, mas não sabia exatamente o que era. Duas semanas antes, eu havia sintonizado um programa na Radio Metropolitana do Rio de Janeiro. O programa prendeu minha atenção e a partir dali me manteve cativo todas as noites. Esperava com ansiedade ouvir o tema de abertura e, quando isso acontecia, eu já tinha colocado sobre o radinho de pilha um copo cheio da água que beberia depois da "prece poderosa". Ainda hoje não estou bem certo do que me atraia naquela programação. Afinal de contas, tinha apenas quinze anos, uma fase em que a maioria dos jovens não ocupa a mente com determinados problemas que afligem os adultos. Porem, eu era diferente. Estava sempre preocupado com as dificuldades dos meus pais. Alem disso, eu era uma criança profundamente triste. Desde muito pequeno, escondia-me pelos cantos do quintal. Era um obstinado que buscava indiscriminadamente a solidão. Em certas ocasiões, sem nenhuma razão aparente, passava horas calado e triste. Esse vazio acabou por impulsionar-me ao meu destino Foi ele, o vazio, que me levou a sair de casa naquela noite rumo ao centro de São Gonçalo procurando o lugar onde, de acordo com o programa de radio, "um milagre espera por você". O milagre esperava por mim no velho prédio do Cine Santa Maria, que durante a semana exibia filmes pornográficos. Aos sábados e domingos, entretanto, tinha o seu cenário radicalmente mudado. A bilheteria fechava, a catraca era removida e os cartazes da Aldine Müller eram levados para o outro lado da tela. O profano emprestava seus assentos ao sagrado. O sagrado era materializado por um cálice de azeite bento colocado no centro de uma mesa forrada com uma toalha de renda branca, sobre a qual jazia uma Bíblia aberta em um salmo qualquer. As pernas tremulas e vacilantes conduziram-me aquele santuário improvisado, quase vazio. As poucas senhoras sentadas contrastavam com o grande publico que, durante a semana, se deleitava ali com As taras sexuais de um cavalo. Enquanto procurava um lugar para me sentar, o silencio que do- minava a sala fez com que, por alguns momentos, eu tivesse a impressão de ouvir hinos de louvar; hinos entoados por um exercito de anjos invisíveis. Não demorou muito para que um jovem pastor começasse a palestra. Nervoso e ainda tremulo, não conseguia acompanhar a fala acelerada do pastor. Por fim, ele ordenou que fechássemos os olhos para

que fizesse uma oração. Eu não era religioso. Meus pais se diziam católicos, porem nunca iam a missa. Nós rezávamos somente quando alguém caia doente em casa. Na rua das Mangueiras, onde eu morava, havia uma benzedeira pronta para curar todo tipo de moléstia: de sarampo a caxumba; de espinhela caída a erisipela, tudo ela curava. Era para ela que corríamos sempre que necessitávamos de ajuda espiritual. Durante a oração, o jovem pastor pediu a Deus que aliviasse a carga que trazíamos. Suplicava-lhe que perdoasse nossos pecados e nos desse a oportunidade de nascer de novo. Isso era tudo o que eu queria. A idéia de um renascimento abalou-me ate os ossos. Queria ser uma outra pessoa. Se essa dadiva existia, estava determinado a alcança-la, custasse o que custasse. Enquanto prosseguia em sua oração, o pastor colocou as mãos sobre a minha cabeça, e eu comecei a chorar. A principio eram lagrimas de angustia. Depois, tornaram-se lagrimas de alivio e alegria. Sentia-me leve enquanto deixava extravasarem os sentimentos sem me importar se estava sendo observado pelas pessoas ao meu redor. Ao mesmo tempo que chorava, sentia meu ser encher-se de um prazer imensurável. Um prazer que preenchia todo o vazio. Um prazer que me era introjetado ate que explodia numa espécie de orgasmo espiritual, fazendo minha alma transbordar em gozo. O encontro com a religião fazia-me sorrir e chorar de uma só vez. E com a mesma intensidade. Conheci, naquele momento, o fenômeno da conversão. Alguém me abraçou. E eu chorava mais e mais. Nesse momento o pastor colocou a mão na minha cabeça e, enquanto as pessoas cantavam alto e batiam palmas, falou, quase sussurrando em meu ouvido, que meu nome era Exú Caveira e que eu tinha câncer. Depois me fez ir ajoelhado ate a frente da tela que ocultava os posters da atriz Aldine Mulher. Uma vez na frente, fui sabatinado pelo homem de Deus: QUAL e O TEU NOME, SAFADO? - vociferou no meu ouvido. Um silencio profundo invadiu o cinema. Todos esperavam uma resposta. Eu não sabia se o pastor perguntava meu nome verdadeiro ou aquele que ele havia sussurrado no meu ouvido. Mário - respondi. MENTIROSO! - berrou o pastor. SATANÁS! O silencio voltou a predominar na sala: FALA TEU VERDADEIRO NOME. Exú Caveira? - respondi, como a perguntar se era esse o nome que deveria falar. TA AMARRADO, CAPETA! EM NOME DE JESUS! - gritou o pastor, enquanto pisava na minha cabeça, forcando-a para o chão. TA AMARRADO! QUEIMA! QUEIMA! - responderam, em coro, as excitadas velhinhas, ao testemunhar a autoridade de seu pastor sobre mim, o espirito imundo. Ao final do culto, o jovem me deu um Novo Testamento e me falou que Deus me amava. Depois de conversarmos por alguns minutos, despedi-me, prometendo voltar. Prometi e cumpri. No dia seguinte, fui um dos primeiros a chegar. Ao contrario da noite anterior, o cinema estava cheio naquela manha. Durante um culto acompanhado com música e distribuição de rosas brancas, fizeram um convite para os que quisessem ser membros da Igreja. Não pensei duas vezes. Afinal, pela primeira vez na vida experimentava paz. Estava no meio de pessoas que, apesar de não me conhecerem, me aceitavam como um membro de sua própria família. Eu queria ser um deles. Queria pertencer aquele grupo que era tão poro, tão unido, tão desligado das coisas deste mundo e tão cheio de amor. Algumas coisas eu não entendia ainda, como a questão das altas ofertas e os dízimos, por exemplo, mas não me importava com isso. Dinheiro não era importante Ensinaram-me que "o dinheiro e a raiz de todos os males". Não demorou muito para que minha família se desse conta da mudança de meu comportamento. Em vez de andar triste pelos cantos, como fazia usualmente, agora eu cantava hinos e lia a Bíblia. Meus pais, que a principio gostaram da mudança, logo mudaram de opinião, quando perceberam que eu estava indo longe demais: já não me interessava pelos estudos e faltava as aulas para ir a

acenei para minha mãe, que se debruçava na cerca. Não sei explicar por que ela me deixava ir. Eu era praticamente uma criança. Ela poderia ter me forcado a ficar. Poderia ter impedido, pois talvez acontecesse comigo o mesmo que acontecera a ela quando tinha quase a mesma idade. A rapidez da "baratinha" ainda me permitiu vê-la respondendo com outro aceno. E, por alguns instantes, ficamos acenando um para o outro ate que ela desapareceu em meio a poeira vermelha. Anos mais tarde, eu me daria conta de que a havia perdido naquele dia. Perdido para sempre. Hoje em dia e inconcebível a idéia de uma mulher que faz o próprio parto dentro de um barraco de pau-a-pique, tendo como única ajudante uma filha de dez anos que, a cada momento do agonizante processo, traz a beira da cama canecas com água quente e pedaços de pano, enquanto a mulher, tentando ignorar a fumaça do fogão de lenha, galinhas e patos que correm em algazarra - e a própria dor- traz, literalmente, o filho ao mundo. Foi assim que eu nasci. Nesse estado de pobreza passei toda a minha infância. Minha mãe era de Curvelo, cidadezinha do interior de Minas Gerais. Não se cansava de contar historias da infância vivida entre arvores e riachos, mas nunca se aprofundava nos detalhes. Como, por exemplo: quem teriam sido seus pais? Tudo o que sabíamos era que, ainda adolescente, tinha sido vendida para trabalhar na casa de uma madame no Rio de Janeiro e que desde então nunca mais vira a mãe e os Irmãos. As madames para as quais ela havia trabalhado diziam que era a melhor lavadeira que conheciam. Ela recebia o comentário como elogio. De fato, o jeito como minha mãe tratava as roupas era algo próximo a um ritual: depois de lavadas com sabão de coco, elas eram fervidas com anil e ficavam quarando ao sol durante um dia. Em seguida, engomava e passava peça por peça, enquanto soprava as brasas do ferro. Algumas patroas levavam a roupa em minha casa. Outras, como dona Jurema, minha mãe atendia em domicilio. Dona Jurema viria a ser a única amiga de minha mãe. Feliz era o dia que íamos a casa dela. Enquanto minha mãe lavava a roupa e conversava com a amiga, eu ficava brincando com os seus netos no quintal, subindo nos pés de goiaba ou assistindo ao National Kid, no programa do Capitão Asa. No final da tarde, ela me oferecia café com bolo e sempre antes de irmos embora me dava uma mão cheia de balas e bombons. Dona Jurema era uma senhora bondosa. Posso estar correndo o risco de cair na pieguice, mas eu adorava mamãe. Ela era, para mim, uma espécie de santa. Uma Maria mãe de Deus ou coisa semelhante. Ela era tão pura aos meus olhos e eu sabia que era tudo que eu tinha. Ficava com medo só de pensar que um dia ela pudesse morrer, deixando-me só. Não me imaginava vivendo sem ela. Chegávamos ao extremo de comer no mesmo prato. Cresci prometendo a mim mesmo que ganharia muito dinheiro e tiraria minha mãe daquela miséria. Compraria para ela uma casa com laje e água encanada, uma televisão para que pudesse acompanhar as novelas e, vingança das vinganças, pagaria alguém para lavar-lhe as roupas. Essa era, basicamente, a minha maior ambição. Não sei como meus pais se conheceram e passaram a viver juntos. Eles nunca tocaram no assunto, e nos, os filhos, nunca nos interessamos em saber. Mas, qualquer que tenha sido o motivo, certamente não foi amor. Eles eram completamente distantes um do outro. Dormiam separados, e minha mãe sempre se referia a meu pai com um "seu" antes do nome. Não me lembro tê-los visto brigar, mas também nunca testemunhei um mínimo gesto de carinho ou afeição entre eles. E pensar que essas duas pessoas viveram juntas por mais de quarenta anos. Meus pais faziam todo o sacrifício do mundo para nos dar uma vida, no conceito deles, decente. Eu sabia que eles nos davam muito mais do que aquilo que haviam recebido de seus pais. Mas odiava aquela vida. Odiava aquele bairro. Era como se o meu mundo não fosse aquele. Como se o fato de ter

nascido ali tivesse sido um grande erro, sei lá de quem. e difícil imaginar que possa existir um outro lugar como Boa Vista. As ruas de barro vertiam poeira quando passava um cavalo ou a "baratinha" - era assim que chamávamos o ônibus. A poeira ia se depositando por sobre a comida na mesa, os lençóis na cama e as roupas no varal. Nos dias de chuva, as estradas se transformavam em um pântano. As pessoas que trabalhavam na cidade tinham de cobrir os sapatos com sacos plásticos e levar consigo uma garrafa d’água, para que, uma vez no ônibus, pudessem lavar os pés. A água salobra que usávamos para beber e cozinhar vinha de um poço infestado de sapos, cavado no fundo do quintal. Foram muitas promessas e muitos prefeitos ate chegar luz elétrica. Para que nos transformássemos de vez em trogloditas, só nos faltavam as vestimentas de pele, um osso no cabelo e ter os Flintstones como vizinhos. Eu sabia que estudar e me formar era o único meio de sair daquele lugar. A única forma de poder ajudar meus pais. Enquanto alguns garotos da rua eram bons de bola, eu devorava livros e nunca era reprovado na escola. Sempre na metade do segundo semestre já tinha nota suficiente para passar. Mas também sabia que precisava mudar de escola se quisesse chegar a algum lugar. O grupo escolar Padre Manuel da Nóbrega era um colégio de bairro que não me daria nenhuma base para chegar a faculdade, o meu objetivo. Em um certo 7 de setembro, fui a Niterói assistir a parada cívica escolar. O meu colégio, que pertencia a outra jurisdição, não participava desses eventos. De qualquer forma, quem ali estaria interessado em ver o Padre Manuel desfilar? As escolas de Niterói eram, se não totalmente burguesas, muito finas. Com um nível de educação satisfatório, essas escolas eram frequentadas pelos filhos da classe media da cidade. Nenhum de nos, filhos da Boa Vista, sonhava ingressar numa daquelas instituições privadas. No desfile, a segunda escola que ocupou a avenida Marechal Floriano Peixoto chamou minha atenção, pela correção e beleza de sua apresentação. A banda e os integrantes de todas as alas usavam um elegante uniforme branco e verde, com certeza as cores da escola. Fiquei encantado com o que vi e acompanhei o desfile ate que ele se dissolvesse na frente do Colégio Plínio Leite, um dos mais caros da cidade. Funcionava num imponente prédio localizado bem no centro de Niterói, foi a primeira coisa que notei. Aproximei-me da portaria e pedi ao segurança para dar uma olhadinha no lado de dentro. o que vi me causou surpresa. O colégio tinha quadra de futebol de salão, um enorme ginásio, laboratórios modernos e um excelente nível de ensino. Ali haviam estudado intelectuais, jornalistas e políticos. Era ali que eu queria estudar. Queria fazer parte daquele mundo, daquela realidade diferente da minha. Voltei para casa e passei aquela tarde pensando numa maneira de ingressar naquele mundo. Por diversas vezes reli a brochura de matricula e cada vez estava mais convencido de que aquele era meu lugar. O meu dilema era não saber de onde tiraria dinheiro para pagar a matricula e as mensalidades. Eram caras demais para as condições da minha família. Não tive nem mesmo a coragem de tocar no assunto com meus pais. Cheguei a conclusão de que a única saída era uma bolsa de estudos. Com informações adquiridas na brochura de matricula, enviei uma carta ao diretor do colégio. Pedi uma bolsa de estudos e prometi ser um dos melhores alunos se aquela oportunidade me fosse concedida. Quatro meses se passaram depois do envio da carta. Aquela altura já não acreditava mais que receberia uma resposta. Aliviava-me o fato de não ter falado com ninguém sobre o assunto. Não suportaria as chacotas. Numa tarde, eu tinha ido ao boteco comprar cerveja para meu pai. Ao voltar para casa, com passos lentos e cansados devido ao calor insuportável e a poeira da rua, avistei o carteiro que se aproximava. O homem com uniforme amarelo feito de um material semelhante a lona de circo também caminhava com passos lentos e cansados e,

ela viria a se tornar emocionalmente presa. Os que quebravam essa corrente imediatamente passavam a ter visões e ouvir vozes. Como Hollywood, nos sabíamos explorar o medo infantil que as pessoas tem da figura do diabo. Informado do sucesso na Bahia, o bispo Macedo resolveu marcar uma concentração no maior estádio de Salvador. Ele havia acabado de lotar o Maracanã. E estava disposto a lotar todos os estádios das grandes capitais. Dois meses antes começamos a trabalhar na promoção do que seria o maior de todos os nossos desafios: lotar o Fonte Nova. Queríamos mostrar aos padres, pastores, pais e mães-de-santo da Bahia que o reinado deles havia acabado. éramos nós quem dávamos as cartas agora. Também queríamos mostrar aos pastores da própria Universal em outros estados que nos, da Bahia, éramos os melhores. Todos os pastores do interior ficaram incumbidos de alugar um ônibus e levar o maior numero de pessoas possível. Vinhetas nas rádios e nas televisões, outdoors espalhados pelo estado prometiam curas e soluções. Durante as reuniões na igreja, distribuíamos envelopes e fazíamos com que os fieis colocassem ali o que chamávamos de "oferta de sacrifício" (algo como o salário do mês) e um pedido de oração, que o bispo levaria para Israel, a Terra Santa. No dia da tão propalada concentração, uma multidão já se aglomerava ao redor do estádio muito antes de os portões serem abertos, as nove da manha. Quando, enfim, o Woodstock religioso começou, milhares de pessoas, pisoteando velhinhas e crianças, travaram uma disputa agressiva para obter um bom lugar para ouvir o bispo e receber dele os milagres, que era o que interessava aquela gente. Naquela época em que o termo yupie estava em voga, o bispo Macedo, portando Rolex, Ray-ban, Mont Blanc e a sempre presente Hermes, subiu no palanque que fora especialmente armado para ele no centro do gramado. Não conseguia esconder sua alegria. O estádio da Fonte Nova estava completamente lotado. Repetia-se em Salvador o fenômeno do Maracanã, no Rio. Naquela tarde, depois de recolher os envelopes com o "sacrifício" e com os pedidos de oração, que seriam levados para o monte das Oliveiras, em Jerusalém, o bispo pediu aos seus seguidores baianos uma oferta especial para comprar uma emissora de radio em Salvador, assim como seus fiéis cariocas o haviam contemplado com a radio Copacabana. Será que os cariocas tem mais fé que os baianos; - perguntou o bispo a multidão. NÃO! - a resposta retumbou como um trovão. As ofertas vieram em forma de dinheiro e jóias. Passamos três dias trancados em uma sala contando os sacos de dinheiro levantados no Fonte Nova. No final, o dinheiro foi depositado na conta da Igreja, no Bradesco, em Salvador. O ouro seria levado para o Rio de Janeiro e transformado em barras. Quanto aos pedidos de oração que seriam levados para Israel - bem, eles foram queimados na praia da Boca do Rio. Quando eu era um simples fiel, não imaginava o que se passava nos bastidores, depois que a cortina cai. Os atos de alguns pastores logo me levaram a descobrir que a Igreja Universal nada mais era do que uma empresa com fins lucrativos como qualquer outra na ciranda financeira A única diferença era o produto vendido: sal que tira vicio, lencinhos molhados no "vinho curativo"

  • o conhecido Ki-Suco -, água da Embasa , que dizíamos ter vindo do Rio Jordão, azeite Galo , que dávamos ao povo como legitimo óleo ungido proveniente de Jerusalém, e uma longa lista de outros produtos tão falsos quanto as gotas de leite extraídos dos seios da Virgem Maria, que eram vendidas na Europa, nos primeiros

séculos, aos otários em busca de milagres. Como ser pastor era antes de tudo uma "vocação" e jamais uma profissão, não tínhamos vinculo empregatício com a Igreja Universal. Nossos salários eram pagos em cash , isentos de qualquer taxa ou imposto. O valor desses salários variavam: cada caso era um caso não leis do Reino. Apesar de sermos estritamente proibidos de comentar nossos ganhos uns com os outros, sabíamos da injustiça salarial. Pois enquanto dirigentes de igrejinhas de periferia ganhavam salários minguados e insuficientes para sustentar a família, os pastores notáveis trocavam de carro a cada ano e passavam fins de semana em resorts acompanhados de suas belas mulheres trajando Chanel e portando bolsas Louis Vuitton. IV A Liberdade era o maior bairro de Salvador. Lugar cheio de gente, vielas e ladeiras com coloridas favelas encrostadas em sua pedra. Berço do internacional Ile-Aye. Ali já existia um templo da Universal que funcionava ha quase um ano, mas que não havia ainda alcançado as metas desejadas. Quando ganhei a liderança isolada da Igreja naquele bairro sabia que na verdade estava ganhando um abacaxi para descascar. Durante o pouco tempo de existência a Igreja, ela tinha sido sacudida por dois grandes escândalos. O primeiro ficou por conta do pastor que a inaugurou, Rodrigues da Encarnação. Achando que seria melhor negócio abrir sua própria Igreja, o pastor Encarnação saiu, arrastando consigo metade dos membros da Liberdade. O pastor Santos, que lhe sucedeu, alem de sofrer de um sério problema de alcoolismo, se envolveu com algumas das mulheres que frequentavam a igreja e teve de ser transferido, numa tentativa de abalar os comentários que surgiram entre os obreiros e já estavam chegando ao povo. Ao colocar-me na Liberdade para arrumar a casa, o pastor Paulo estava me dando um voto de confiança. E eu aceitei o desafio. No inicio surgiram protestos, no interior da Igreja, contra minha posição. Alguns membros achavam que, por eu ter somente dezessete anos, era muito inexperiente para o cargo. A meu favor, eu tinha a opinião do líder e das pessoas que já conheciam meu trabalho. Apresentando um programa diário com duração de duas horas na radio Bahia, emissora recém-comprada pela Igreja Universal, em pouco tempo elevei a Liberdade à condição de terceira igreja do estado. Atras apenas da sede e do templo de Feira de Santana, do pastor Teixeira. Passei então a ser o centro das atenções dos outros pastores, que me pediam uma ponta no programa e disputavam espaço na minha agenda para uma visita a suas igrejas. O simples anuncio de que eu estaria visitando a igreja tal já era suficiente para arrastar uma grande multidão aquele lugar. Talvez o que me destacasse fosse que, ao contrario da maioria dos pastores, eu ainda me mantinha fiel aos princípios religiosos, que me acompanhavam desde que tinha tomado a decisão de ser um pregador do Evangelho. Esse meu sucesso me garantiu um lugar no fechado circulo dos notáveis, o primeiro escalão da Igreja. Como eles, passei a ter ganhos extraordinários. Alem de um inacreditável salário, recebia também 10% da arrecadação mensal da Liberdade, o que, para um menino de dezessete anos, era muito dinheiro. Ganhando muito mais do que precisava, eu me dava ao luxo de todo fim de semana entrar num taxi aéreo com destino as praias de Ilhéus e Porto Seguro. Nunca tive problemas de consciência por isso. Afinal, aquilo não era dinheiro roubado. Era o meu salário. Eu não tinha culpa se a maioria dos outros pastores não eram tão bem sucedidos como eu. A única coisa que me causava um certo mal-estar era o fato de que

sua pessoa e família prefiro ocultar seu nome) uma pessoa sorridente e falante, logo ganhou minha amizade e confiança. O fato de ele ser quinze anos mais velho que eu tornava-o mais experiente. Isso fez com que eu confiasse a ele o meu segredo. Ele então me liberou daquelas neuras. Aprendi que amanhecer molhado era comum em um jovem sem vida sexual. Ele certamente me ensinou muitas coisas.

Continuamos amigos mesmo depois que seu treinamento terminou. Ele foi transferido para uma igreja no subúrbio de Salvador, mas pelo menos duas vezes por semana nos encontrávamos para ler a Bíblia juntos ou sair para um sorvete. Nossa amizade era uma coisa inédita entre os pastores, pois eles normalmente não tinham comunhão. Desde meus primeiros momentos na cúpula da Universal pode perceber o clima de competição reinante entre os pastores. Todos queriam destaque e consagração. éramos todos engajados numa verdadeira guerra santa: espionando uns aos outros, copiando idéias, dedurando, fazendo lobby. Era a lei da selva. Esses eram os mesmos indivíduos que ocupavam os microfones e púlpitos pregando irmandade e amor entre os homens. A hipocrisia era parte do nosso trabalho. Entre mim e aquele pastor existia uma verdadeira amizade. Eu confiava nele e ele em mim. Numa tarde estávamos conversando enquanto tomávamos um sorvete e eu lhe disse que estava gostando de uma moça que era obreira de minha igreja. Percebi que ele mudou imediatamente de comportamento, passando a ficar inquieto e atrapalhado com o sorvete na mão. Em nenhum momento me passou pela cabeça que o motivo de sua visível perturbação era o fato de eu estar querendo ter uma namorada. No dia seguinte ele me procurou e disse estar apaixonado por mim. Eu tive uma crise de riso. Ele era um cara brincalhão e naturalmente engraçado, do tipo Jerry Lewis. Teria sido um ótimo comediante se não tivesse optado pelo pastorado. Mas naquele momento ele não estava brincando e eu parei de rir quando percebi isso. Você e homossexual? - perguntei. Jurou que não era e disse não saber o que estava acontecendo com ele. Eu o aconselhei a conversar com o pastor Paulo, em busca de ajuda, e ameacei eu mesmo contar se ele não o fizesse. Na verdade, tanto ele quanto eu sabíamos que se o líder viesse a ter conhecimento daquilo ele seria provavelmente expulso da Igreja. Mesmo porque naquela época ele era um pastor sem nenhuma expressão, o que o tornava facilmente removível. Mas, usando o bom senso, decidimos então que deveríamos manter distancia até que ele superasse aquela fase confusa. Eu só não entendia porque aquilo havia mexido tanto comigo. Passei varias noites depois daquela conversa pensando no assunto. Aquilo serviu para aumentar todas as minhas duvidas em relação a sexualidade. Não vi meu amigo nas semanas que se seguiram. Nem mesmo nas reuniões de pastores que eram realizadas nas tardes de segunda-feira. Ate que um dia recebi um bilhete dele: "Estou indo passar o fim de semana em Recife. Se você quiser vir comigo, me encontre hoje a noite no aeroporto." O bilhete com as passagens tinha sido enviado por ele por intermédio de um obreiro. O fato de estar se arriscando daquele jeito foi uma prova de que realmente ele sentia alguma coisa por mim. Ao voltar daquela viagem ao Recife eu sabia que minha vida não seria mais a mesma. Eu sempre havia sido sincero no teor da minha pregação. Pregava aquilo que vivia e esse era o segredo da minha popularidade. Leituras diárias da Bíblia e vigílias de orações eram para mim tão essenciais quanto comer e beber. Eu amava a Deus de todo o meu coração e seria capaz de morrer pela causa do Evangelho. Procurava levar uma vida pura, respeitando o meu corpo e a Igreja. Convivia com constantes escândalos de pastores adulterando e

roubando a Igreja, mas eu sempre procurava me esquivar de mulheres e dinheiro, as principais razoes da queda de um pastor. No entanto, eu havia perdido numa noite todo aquele sentido de pureza que havia guardado intacto dentro de mim. Havia pecado contra Deus e contra mim mesmo. Havia tido minha primeira relação sexual, com um homem, também pastor, da própria Igreja Universal do Reino de Deus. Pensei em largar tudo, pois já não me sentia mais digno de continuar pregando a palavra de Deus A condenação de Levíticos martelava diuturnamente a minha mente: "maldito e o homem que se deita com outro homem". Uma terrível angustia tomou conta de mim. Sufoquei todo aquele sentimento e tentei seguir adiante sem pensar no que havia acontecido. Como se isso fosse possível. Não consegui conviver com aquele sentimento de culpa e pecado por muito tempo. Mesmo pensando que seria expulso da Igreja, procurei o pastor Gonçalves, que era o novo líder do estado, e lhe contei tudo o que havia se passado entre mim e o outro pastor. Ele me perguntou se mais alguém sabia disso. Com a minha resposta negativa, me orientou a esquecer o ocorrido e não fazer "uma tempestade num copo d’água". Por algum tempo eu vinha sendo pressionado pelos lideres para casar Achavam que comandando uma igreja do porte da Liberdade, eu precisava de uma esposa, que alem de me ajudar na organização de grupos de senhoras e crianças me daria um ar de responsabilidade, fazendo me parecer mais velho do que meus dezoitos anos. A escolhida foi uma das mais dedicadas obreiras da Igreja. Uma moça bonita, inteligente e profundamente crista. Marcamos a data da cerimônia e convidamos o bispo Roberto Augusto para celebra-la. A rua General Savaget estava intransitável naquela tarde. Centenas de pessoas, inclusive do interior do estado, haviam comparecido a cerimônia religiosa, que seria celebrada pelo bispo. Naquela igreja lotada, decorada com uma variedade de flores brancas, fizeram-se ouvir as primeiras notas que saiam do órgão acompanhando um coral que havia sido contratado exclusivamente para a ocasião. Ali na frente, sem ainda ter certeza do que estava fazendo, eu me preparava para receber a noiva que caminhava em minha direção com passos lentos, trazida pelo braço do pai. Enquanto isso, sua mãe, ao meu lado, enxugava as lagrimas que teimavam em lhe borrar a maquilagem. O bispo começou o seu sermão nupcial, enquanto na minha cabeça os pensamentos movimentavam-se como um furacão. Ele pregava a fidelidade como receita para uma união feliz e eterna. Estavam ali todos os pastores, inclusive o meu amigo. Eu não estava casando por amor. Casava somente para provar a mim mesmo que era homem. Num predeterminado momento do ritual, fomos instruídos a olhar um ao outro nos olhos e repetir as palavras do livro de Rute. Na frente do altar, sendo alvo da atenção de todas aquelas pessoas, olhando nos olhos de Graça, pela primeira vez eu percebi o quanto ela me amava, e o quanto esperava o mesmo de mim. "Aonde você for, irei eu", começamos o juramento "...onde dormir, ali dormirei também. O seu povo será o meu povo e o seu Deus, meu Deus". A igreja emocionada, em completo silencio, nos olhava naquele momento de juras de amor eterno: "...e que não seja outra coisa alem da morte a me separar de ti", concluímos.

CAPITULO TRÊS

distribuição de quilos de carne e feijão. A sua igreja no bairro carioca de São Cristóvão era um verdadeiro sucesso. Diferente de outros estados como Sergipe, Rio Grande do Sul ou Goiás, onde nós tínhamos um numero pequeno de templos e seguidores, a Bahia era um porto seguro para a Universal. Houve ali um tempo em que toda igreja que se plantava dava Mas o pastor Gonçalves, como todo vice que se preza, assumiu o poder e fez uma serie de trapalhadas durante a sua gestão, o que veio prejudicar a Igreja em todo o estado. Logo que recebeu a liderança do estado das mãos do experiente pastor Paulo, Gonçalves começou a lidar com problemas graves, como prisões de pastores por envolvimento com drogas (foi o caso do pastor Paulo César), adultérios e rebeliões de pastores que, em massa, abandonavam a Universal para abrir seus próprios templos. Afinal de contas, templo é dinheiro.

Havia também aqueles cujo nível de vida era bem superior ao que seus salários poderiam proporcionar. Estava claro como azeite santo que desviavam dinheiro da Igreja para as suas contas pessoais. O bispo, então, decidiu enviar Rodrigues, numa tentativa de resgatar a Universal baiana da desmoralização e evitar a perda dos poucos fieis que teimavam em continuar na Igreja Gonçalves, por sua vez, foi transferido para a humilhante posição de pastor auxiliar da matriz, na Abolição. Mas, vingança e um prato que se come frio. Anos mais tarde, ele deu a volta por cima e se tornou o líder nacional, enquanto o bispo se transferia com a família para Nova York, na ilusão de que os americanos comprariam o seu produto.

II As primeiras reuniões de pastores que Rodrigues realizou foram basicamente uma enxurrada de ameaças e baixarias. A mensagem foi curta e grossa: o pastor que não atingisse a meta de oferta que ele havia estipulado levaria um chute no traseiro (prefiro usar esta palavra). Sabendo da nossa origem humilde, ele prometeu fazer cada um de nos voltar a antiga vida dura de pedreiros, garis e padeiros caso não levantássemos o dinheiro que ele queria. Depois que mordia, assoprava. Chamava na frente uns matutões, pastores de cidadezinhas como Xique-Xique e Alagoinhas, e dava ao sujeito um vale para a extração do dente podre ou presenteava o infeliz com um terno de tergal lilás. Fico imaginando se e isso o que o setor empresarial quer dizer quando fala de "prêmio de incentivo". Rodrigues tinha de positivo o fato de não ostentar a tradicional mascara franciscana com a qual os lideres freqüentemente exercitavam sua demagogia. Era evidente que a razão maior de sua transferencia para Salvador fora a necessidade que a Igreja tinha de fazer mais dinheiro naquele ano de 1985. Alem de ter ainda as ultimas parcelas da radio Bahia para quitar, o bispo estava comprando quase todos os imóveis em que a Igreja operava, incluindo os que ficavam em áreas nobres como a Barra, em Salvador, Copacabana e Ipanema, no Rio e Vila Mariana e Santo Amaro, em São Paulo. Alem disso, ele já havia iniciado negociações para a compra de uma "emissora de TV para Jesus". Como a Bahia era o segundo maior estado gerador de ofertas e Rodrigues um expert em lidar com o povo, o casamento dos dois foi uma feliz c rentável idéia. Na sua gestão, o dizimo, secularmente 10%, passou para 30%. Ele criou também o "Pacto da Comunidade",

um carnê de doze prestações que as pessoas pagavam mensalmente. Muito parecido com o Baú da Felicidade, com a desvantagem de que, caso os milagres não acontecessem, o fiel não teria direito a eletrodomésticos nas lojas Tamakavi. Sob a nova direção, a Igreja Universal do Reino de Deus da Bahia voltou a ser o pátio dos milagres da época de Paulo Roberto. Com o programa de rádio mais ouvido de Salvador entre oito e onze horas da manha, Rodrigues arrebanhava diariamente centenas de pessoas para os cultos que realizávamos. Na tentativa de se fazer passar por um "apresentador polemico", ele batia boca, ao vivo, com os seguidores de mãe Menininha do Gantois e do cardeal dom Avelar Brandão Vilela. O ano de 1982 marcou também o período em que a Igreja começou a se politizar. Alegando querer salvar o Rio de Janeiro do "comunista" Leonel Brizola e das "mazelas do pedetismo", o bispo apoiou abertamente a candidatura da professora Sandra Cavalcanti para o governo do estado. Isso soou como uma espécie de, digamos, quebra de promessa de campanha, pois a pregação de Macedo ate o início dos anos 80 era a de que a igreja nunca se envolvesse diretamente com política, que para ele era "uma coisa do diabo". Mudou o diabo ou mudamos nos? Foi, porém, em 1986 que vendemos de vez a alma para Satã. Naquele ano, começamos a apoiar candidatos em vários estados do país e, no Rio, pensava-se abertamente na possibilidade de lançar a própria mulher do bispo Macedo, ou um de seus irmãos, Eraldo ou Edna, como candidatos da Igreja. Já não queriam apenas intermediários. No final, decidiram que o bispo Roberto Augusto seria candidato a deputado federal e Eraldo Macedo a deputado estadual. Poucos anos depois, já eleito, o bispo-deputado brigaria com Edir Macedo e abandonaria a Igreja Universal. Rodrigues, vendo a sua intenção de ser deputado federal abortada pelo bispo, teve de se conformar em ser apenas o coordenador político da Igreja. E nesta função ele se saiu muito bem. Alem de eleger um bom numero de vereadores e deputados, elegeu também o prefeito Mário Kertz, que, sendo desafeto de Antônio Carlos Magalhães, jamais teria chegado a prefeitura de Salvador sem o apoio da Igreja. O prestigio político de Rodrigues estava tão alto que o maior problema de Enir, sua mulher e secretária particular, era conseguir espaço na agenda para o grande numero de parlamentares em busca de audiência. Ele chegou ao requinte de ser convidado para a posse do governador Waldir Pires, no Palácio de Ondina. O que o governador eleito não sabia era que Rodrigues, em troca de verbas para sua recém criada "fundação", jogava nos dois times, trabalhando também, por baixo dos panos, para a eleição de seu adversário, Josaphat Marinho, candidato do PFL, partido dos neocoronessauros do Nordeste. Política deve ser coisa do diabo! Enquanto se tornava uma figura importante na política baiana e era endeusado pelo povo, para os seus pastores Rodrigues era cada vez mais um constante pesadelo. Muitos não concordavam com seus métodos, mas, por amor a seus empregos, não tinham coragem de se manifestar. Para mim, não existia dia pior do que as segundas-feiras, dia das reuniões de pastores. Durante esses encontros, nos éramos psicologicamente estuprados pelo cinismo e pelo sarcasmo do pastor Rodrigues. Toda semana ele mandava pastores "improdutivos" embora. Mas, para não passar aquela imagem de a-gente-so-pensa-em-dinheiro , ele lançou mão de um plano maquiavélico: durante as reuniões, lia cartas anônimas de veracidade duvidosa, em que alguém relatava a ma conduta daquele pastor que Rodrigues já pretendia mandar embora. Depois de lidas as cartas, era feita, na base do "levante a mão", uma eleição que decidia a sorte do pobre coitado. Tínhamos então nas mãos, literalmente, um dilema: se levantássemos a mão pedindo a

de um pai autoritário para as minhas, um marido que não sabia cumprir o papel de amigo, companheiro e amante. A mãe era tudo o que tinha, e ela a perdera. Não me acusou, mas nos dois sabíamos que sua mãe havia morrido porque eu resolvi acatar a ordem de ir para Jequié. Era como se aquele fosse o nosso (...). As desgraças começaram a se suceder umas as outras. Três noites após chegarmos aquela cidade, com nossas mudança ainda na caixa, acordamos durante a madrugada com água invadindo o porão da igreja onde havíamos sido temporariamente instalados. Imaginei que fosse uma tempestade e que as precárias condições da igreja não impediam que a água entrasse. Mas vendo que o volume da água crescia assustadoramente peguei Graça e Gabriela e tentei fugir dali. Ao abrir a porta, a água entrou com tanta forca que nos empurrou de volta ao porão. Apertando Gabriela contra meu peito, eu pedia a Deus que não nos deixasse morrer ali. Finalmente conseguimos alcançar a rua, que estava completamente alagada e cheia de gente correndo em desespero. Passaram-se alguns minutos ate que percebêssemos que não havia chovido. Era uma dessas madrugadas tediosas em que até as estrelas bocejam. A enchente tinha sido provocada pela ruptura em uma das represas da cidade. Caminhando entre pessoas que choravam o desaparecimento de parentes nas águas, fomos, molhados e trêmulos, procurar um lugar onde pudéssemos sentar e nos recuperar do susto. Com as estrelas dando lugar aos primeiros raios de sol, sentamos numa escadaria bem em frente a igreja e ali no alto ficamos em silencio por algum tempo olhando o porão onde estávamos dormindo completamente tomado pela água. Tudo o que tínhamos estava ali dentro. Dinheiro, roupas e moveis. Mas naquele momento, do topo daquelas escadas, tudo o que pensávamos era o que teria acontecido se Gabriela não tivesse nos acordado para mamar.

III Aquele ano fechou com a morte de minha mãe. Quando eu soube que ela estava com câncer, procurei não dar muita importância ao fato. Na verdade eu não acreditava que minha mãe morreria. Eu achava que Deus tinha uma dívida comigo. Afinal de contas eu trabalhava para Ele e o mínimo que Ele podia fazer era curar minha mãe daquela doença. Ela também pensava assim, pois de tanto eu insistir minha mãe era agora também membro da Igreja Universal. Porem, o fato de tentar ignorar a doença de minha mãe não impediu que ela viesse a falecer.

Quando minha mãe morreu, o pastor de sua igreja não se deu conta disso. Cinco meses depois, minha irmã recebeu uma carta endereçada a mamãe, com a seguinte mensagem: Prezada Irmã, Ultimamente termos sentido a falta de sua preciosa presença nos cultos de louvores ao Divino Espírito Santo. Espero ver-te na próxima Ceia do Senhor. Paz seja convosco. Seu escravo em Cristo, Pastor Ricardo Pellegrini. PS. () O dízimo da irmã está atrasado em cinco meses. Ha muito tempo eu vinha querendo visitar minha mãe, mas Rodrigues dizia que minha igreja em Jequié não estava dando lucro suficiente para me premiar com um "passeio" ao Rio de Janeiro. Pouco antes de receber a noticia do falecimento de minha mãe, eu havia sido transferido de volta para Salvador e fui colocado a frente da igreja na praça da Se, marco histórico da Universal, por ter sido a primeira igreja a funcionar naquele estado. Na época de minha volta para a capital eu estava num terrível estado de depressão. Não comia, não dormia e passava as madrugadas chorando. Cada pessoa que vinha a mim contando problemas e pedindo conselhos contribuíam para o aumento daquela depressão. Não existia

na Universal um único grupo de suporte aos pastores. Os lideres nunca chamavam os pastores para conversar, para saber o que estava se passando em suas vidas, para conhece-los melhor. Com exceção daqueles que faziam parte do seu grupinho de fins de semana na Pousada do Rio Quente, Rodrigues nunca nos deu atenção e toda vez que se dirigia a nos era para cobrar crescimento nas ofertas. Eu não era o único pastor com Problemas de depressão. Apesar de não termos coragem de nos abrirmos uns com os outros, eu sabia que pastores mais amigos, como Edilson, Edson Menezes e Marcelo sofriam do mesmo mal. Quando o meu grande amigo, pastor João Ferreira morreu (tomou um remédio errado, de acordo com o laudo medico), em seguida a morte de minha mãe, mergulhei numa depressão tão grande que pensei que nunca mais conseguiria sair daquele estado. Tinha medo de conversar sobre isso ate com minha mulher, apesar de ela ter percebido que alguma coisa estava errada comigo. Por meio de um conhecido no Rio, tive acesso ao antidepressivo Lexotan, que me deixava estupidamente ativo e alegre. Naquele estado de falsa serenidade eu procurava continuar a minha vida fazendo as mesmas coisas que sempre fiz, mas agora não com tanto amor e dedicação. O trabalho na Igreja havia se tornado uma tarefa insuportável para mim. Eu vivia como se estivesse num palco o tempo todo, assumindo uma personalidade que já não era mais a minha. Representava na Igreja e representava mesmo quando estava em casa com minha família. O vazio deixado pela morte de minha mãe fez com que eu fosse buscar refugio em uma outra droga, alem do Lexotan. Foi então que descobri a maconha, que passei a fumar compulsivamente antes e depois dos cultos. Houve vezes em que dirigi reuniões de oração completamente high. Para conseguir a droga eu passei a fazer a loucura de freqüentar as bocas de fumo da praça da Se. Correndo o risco de ser visto por um dos membros da minha Igreja, que funcionava naquele local. Procurando pelos vendedores de drogas fui assaltado duas vezes no Maciel, a área mais barra-pesada de Salvador. Numa das vezes o assaltante, com raiva porque eu não carregava dinheiro suficiente, mandou que me ajoelhasse para morrer e chegou a colocar o cano frio da arma na minha nuca. Acredito que só não o fez porque viu a minha carteira de pastor. Mesmo assim foi embora levando minhas roupas e me deixando de cueca e meias em pleno centro da cidade. Eu não estava satisfeito com aquela vida. Queria mudar de atitude, mas não sabia como. Queria ajuda, mas não sabia a quem pedir ou onde buscar. Em vez disso, continuava vivendo o meu papel de analista de Bagé, naquela farsa de ajudar as pessoas a resolver seus problemas, numa absurda tentativa de dar aquilo que não tinha nem para mim mesmo. Estava mais desorientado e vazio do que nunca. Toda a minha experiência de vida havia sido alicerçada na areia e não estava agüentando a primeira tempestade. Os meus problemas pessoais não afetaram em nada meu trabalho como pastor. A igreja que dirigia na rua do Tijolo era uma das mais prosperas da capital e por isso ela foi escolhida para ser a primeira de uma serie de igrejas a passar por uma reforma que incluía revestimento de mármore, bancos de madeira de lei, calcada de pedras portuguesas e aparelhagem de som de ultima geração. Também foi a primeira a possuir uma livraria. Fui recompensado recebendo de volta o programa de radio, que passou a ser apresentado das seis as oito da manha, de segunda a sexta. Horário nobre em matéria de radio. O sucesso do meu trabalho (repetindo o que já disse, o sucesso de um pastor na Igreja Universal depende de quanto ele arrecada) me levou a ser um dos sete pastores escolhidos para serem consagrados pelo bispo Macedo durante sua peregrinação pelo Nordeste. Um fato interessante e que na Universal existiam pastores e pastores, a diferença estava na