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Desafios na adoção das normas IFRS no Brasil: estudo de caso em empresa europeia, Notas de estudo de Contabilidade

Este documento discute as dificuldades enfrentadas por uma empresa controlada por grupo europeu no processo de adoção das normas contábeis internacionais ifrs no brasil. As questões de pesquisa incluem as dificuldades de migração entre as normas, o processo inicial de elaboração e implantação dos relatórios em ifrs, a necessidade de investimento em novos sistemas, a influência do fator cultural e do sistema jurídico brasileiro na adoção de normas de contabilidade internacional. O estudo identifica as dificuldades práticas e culturais na adoção das normas ifrs no brasil, bem como a necessidade de formação e treinamento para os profissionais de contabilidade.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 22/05/2010

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HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL: UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES
DE CONVERGÊNCIA DAS NORMAS CONTÁBEIS BRASILEIRAS EM RELAÇÃO
ÀS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE (IFRS)
Autores:
ALAN APARECIDO SIQUEIRA S
OUZA
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS UNIMONTES)
FERNANDO BATISTA COUTINHO FILHO
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
-
UNIMONTES)
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo investigar as principais dificuldades p
ara a readequação
das Normas Brasileiras de Contabilidade em relação às Normas Internacionais de
Contabilidade (IFRS) em uma empresa metalúrgica do Norte de Minas. As questões de
pesquisa
foram relacionadas às dificuldades de migração entre as normas, ressaltando o
processo inicial de elaboração e implantação dos relatórios em IFRS, a necessidade de
investimento em novos sistemas, a influência do fator cultural na adoção de normas de
contabilidade internacional, a influência do sistema jurídico brasileiro, a questão da disciplina
contabilidade internacional e outros fatores relevantes para a investigação empírica. No
delineamento desta investigação, adotou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso; e
como procedimentos de coleta de dados, foram utilizados entrevista semi-estruturada e
questionários, além da análise documental e da observação. Nos resultados do estudo são
aponta
dos e discutidos aspectos relacionados ao processo
que
envolve a integração da
empresa pesquisada ao contexto internacional utilizando as estruturas em IFRS, as quais
apresenta
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poucas semelhanças com as normas contábeis brasileiras
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Palavras
-
Chave
:
contabilidade internacional, harmonização das normas contábeis,
readequação entre as normas.
1.
CONTEXTUALIZAÇÃO
A discussão acerca da harmonização das normas de contabilidade intensificou-se ao
fim da década de 90 do século passado. A crise das economias japonesa, asiática e russa
despertou a atenção de organismos internacionais para o fato de que a contabilidade de cad
a
país é diferente, o que torna as demonstrações emitidas por empresas em diferentes países,
demonstrativos incomparáveis, não atendendo, assim a
os
requisitos de uma economia
globalizada. Neste aspecto, observa-se que são grandes os riscos de investimento onde se
desco
nhecem as regras (ANDRADE, 2003, p. 24). Vê-se, portanto a necessidade de uma
harmonização das normas de contabilidade em
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nível mundial. Para Pohlmann (1995,
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HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL: UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES

DE CONVERGÊNCIA DAS NORMAS CONTÁBEIS BRASILEIRAS EM RELAÇÃO

ÀS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE (IFRS)

Autores:

ALAN APARECIDO SIQUEIRA S OUZA

(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS UNIMONTES)

FERNANDO BATISTA COUTINHO FILHO

(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES)

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo investigar as principais dificuldades para a readequação das Normas Brasileiras de Contabilidade em relação às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) em uma empresa metalúrgica do Norte de Minas. As questões de pesquisa foram relacionadas às dificuldades de migração entre as normas, ressaltando o processo inicial de elaboração e implantação dos relatórios em IFRS, a necessidade de investimento em novos sistemas, a influência do fator cultural na adoção de normas de contabilidade internacional, a influência do sistema jurídico brasileiro, a questão da disciplina contabilidade internacional e outros fatores relevantes para a investigação empírica. No delineamento desta investigação, adotou-se como estratégia de pesquisa o estudo de caso; e como procedimentos de coleta de dados, foram utilizados entrevista semi-estruturada e questionários, além da análise documental e da observação. Nos resultados do estudo são aponta dos e discutidos aspectos relacionados ao processo que envolve a integração da empresa pesquisada ao contexto internacional utilizando as estruturas em IFRS, as quais apresenta m poucas semelhanças com as normas contábeis brasileiras.

Palavras - Chave : contabilidade internacional, harmonização das normas contábeis, readequação entre as normas.

1. CONTEXTUALIZAÇÃO

A discussão acerca da harmonização das normas de contabilidade intensificou-se ao fim da década de 90 do século passado. A crise das economias japonesa, asiática e russa despertou a atenção de organismos internacionais para o fato de que a contabilidade de cad a país é diferente, o que torna as demonstrações emitidas por empresas em diferentes países, demonstrativos incomparáveis, não atendendo, assim a os requisitos de uma economia globalizada. Neste aspecto, observa-se que são grandes os riscos de investimento onde se desco nhecem as regras (ANDRADE, 2003, p. 24). Vê-se, portanto a necessidade de uma harmonização das normas de contabilidade em um nível mundial. Para Pohlmann (1995, p.13) :

A harmonização das normas contábeis é um processo necessário e natural, já que é fato notório e incontestável a recente internacionalização e globalização dos negócios, trazendo como provável conseqüência o requerimento maciço de informações de natureza contábil, com um conteúdo claro e bem compreendido por todos os usuários.

Nesse contexto, o Brasil integra-se ao projeto ligado ao Internacional Forun for Accountancy Development (IFAD), e tem a árdua tarefa de convencer a comunidade de negócios da necessidade de modernizar a prática profissional contábil brasileira (ANDRADE, 2003, p. 25).

Quanto à harmonização contábil de uma forma geral, nota-se que organismos internacionais como o International Accounting Standards Committee (IASB) vem demonstrando a necessária harmonização entre as normas, com a emissão de vários pronunciamentos sobre o assunto, sempre com intuito de promover de forma mundial a aceitação e o cumprimento dessas novas regras. De um mesmo modo, o Financial Accounting Standards Board (FASB) norte americano, reconhece também a imprescindível readequação contábil em uma linguagem universal (LEITE, 2002, p. 95). É, no entanto notável observar que apesar da existência de conflitos de interesses entre esses organismos internacionais contábeis, a atual tendência é de convergência entre ambos os conjuntos de normas. Dentre as normas internacionais, destaca-se o International Financial Reporting Standards (IFRS) utilizados pelos países da União Européia.

Essas normas objetivam internacionalizar as informações contábeis, proporcionando maior comparabilidade e confiabilidade, oferecendo maior precisão na análise das demonstrações das instituições nacionais com suas matrizes no exterior (MADEIRA, 2004, p.82). A adoção de tais práticas justifica-se por ser uma linguagem única para medir e relatar o desempenho das empresas, pois mensurações realizadas com normas não harmônicas provocam insegurança no mercado, o que pode até mesmo retirar de um país emergente a possibilidade de atrair recursos.

No Brasil, diversos estudos versam sobre a harmonização contábil internacional. Dentre outros, Pohlmann (1995), Leite (2002), Carvalho (2004), Madeira (2004), Weffort (2005), Martins e Lisboa (2005). Observa Weffort (2005, p. 27), que além do preenchimento de lacunas existentes na literatura contábil nacional e internacional, o estudo do Brasil e a harmonização contábil traz contribuições para a compreensão do modelo contábil predominante neste país e dos fatores para a determinação das suas características.

Especificamente quanto ao International Financial Reporting Standard (IFRS), Madeira (2004) indica que esses padrões emitidos pelo IASB estão sendo considerados uma revolução no mercado financeiro, sendo o ano de 2005 o período da introdução dessas atuais normas em várias empresas da União Européia, dando grande passo a caminho da harmonização internacional. De acordo com Carvalho, Lemes e Costa (2006, p.19), os IFRS ganharam importância substancial com a sua obrigatoriedade nas empresas listadas em bolsas da União Européia a partir de 2005.

Martins e Lisboa (2005, p. 65) argumentam que o Brasil vem procurando aderir às regras emitidas pelo IASB, mas a cultura fiscalista e do Direito Romano aqui presentes, impede fortemente essa adesão de forma rápida. Neste aspecto, Madeira (2004, p.81) refere-se ao projeto de lei nº 3.741 que propõe alterações em dispositivos na Lei 6.404/76 com

3. GLOBALIZAÇÃO: UM PROCESSO DE MUDANÇA IRREVERSÍVEL

Nos últimos anos, o mundo e sua economia estão passando por processos de mudanças consideradas como irreversíveis, que modificaram praticamente todos os aspectos da sociedade mundial (LEITE, 2002, p. 86).

Sobre esse processo Ianni (2001, p. 212) argumenta:

O mundo transforma-se em território de todo o mundo. Tudo se desterritorializa e reterritorializa. Não somente muda de lugar, desenraiza-se, circulando pelo espaço, atravessando montanhas e desertos, mares e oceanos, línguas e religiões, culturas e civilizações. As fronteiras são abolidas ou tornam-se irrelevantes e inócuas, fragmentam-se e mudam de figura, parecem, mas não são.

Nesse cenário mundial marcado pela crescente internacionalização da economia, surgem blocos econômicos continentais e regionais, que somam esforços conjuntos para ampliação de suas relações socioculturais, demonstrando que recentemente se busca por meio da cooperação o desenvolvimento socioeconômico entre os paises com o propósito de fortalecer para enfrentar a competitividade global (ROSA, 1999, p. 19).

É, no entanto notável observar, que nesta nova realidade os grupos de usuários da informação contábil ganham escalas consideradas planetárias e demandam por uma linguagem financeira universal, pois as demonstrações contábeis elaboradas em diferentes países com normas não uniformes geram demonstrativos incomparáveis, não atendendo às expectativas do mercado globalizado.

A harmonização contábil é um processo pelo qual, vários países de comum acordo, realizam mudanças expressivas nos seus sistemas contábeis, tornando-os compatíveis, e respeitando as peculiaridades de cada região. Observa-se, no entanto que a harmonização contábil não é uma fácil tarefa, uma vez que vários são os obstáculos para a sua concretização. A harmonização é necessária para redução das divergências contábeis entre os países. O objetivo deste processo não é extinguir as diferenças, mas apenas acomodá-las, pois a contabilidade deve ser direcionada ao atendimento das necessidades específicas de cada país (WEFFORT, 2005, p. 21).

Nesse ambiente, os investidores externos aplicarão seus capitais se tiverem antecipadamente boas informações sobre as condições do mercado e sobre as empresas em que vão investir. Desta forma, países que desejam atrair recursos, devem direcionar seus esforços para o processo de harmonização das normas de contabilidade, pois este constitui fator decisivo para competitividade em nível mundial. Como destacam Iudicíbus, Martins e Gelbke (2000, p. 35), há que se evoluir por conceitos mais avançados para apuração de valores realmente confiáveis e úteis à administração local e aos acionistas no exterior.

Considerando as modificações advindas com o processo da globalização, ressalta-se que o futuro caminha para a harmonização das normas de contabilidade. No entanto, o Brasil tendo aceitado o desafio da harmonização, tem a difícil tarefa de conduzir a atualização e modernização da prática profissional contábil brasileira (ANDRADE, 2003, p.25).

4. A CONTABILIDADE INTERNACIONAL

Em relação à evolução dos negócios mundiais neste início de século, nota-se a existência de grandes fluxos de capitais não apenas financeiros, mas também humanos e de conhecimento ao redor do planeta. Neste cenário, Weffort (2005, p. 19) reconhece a contabilidade como ferramenta de gestão essencial para a criação e manutenção de empreendimentos nas modernas economias mundiais, sendo que a contabilidade internacional ganha destaque como resposta às mudanças deste novo e dinâmico mercado.

Quanto aos fluxos financeiros de capitais entre os países, Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 14), identificam que:

Investidores, dados seus apetites para risco, estão ávidos por oportunidades de investimento; os investidores avessos ao risco buscam oportunidades de ganhos modestos, mas consistentes no tempo, virtualmente sem volatilidades. Os investidores amantes do risco buscam oportunidades de ganhos mais polpudos em prazos mais curtos. Ambos são protagonistas reais e presentes no jogo econômico no mundo de hoje, e ambos têm seu espaço legítimo.

Assim, nota-se que os excedentes de poupanças e a movimentação de capitais entre diversos países despertaram a busca por uma harmonização das normas e práticas contábeis em uma escala mundial, uma vez que o objetivo é a redução das incertezas de investimento. De fato, convém observar que os relatórios contábeis devem transmitir confiabilidade, pois, informações elaboradas em um determinado país, são analisadas em outras nacionalidades por possíveis investidores (MADEIRA, 2004, p. 78).

Nesse sentido, Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 15) destacam que, a contabilidade internacional surgiu para minorar as agruras de quem quer investir fora do país e até hoje tinha que manusear balanços em dezenas de normas contábeis distintas, tentando compatibilizá-las para comparar. Sem dúvida, pode ser constatado que esse é o papel da contabilidade internacional.

Apesar disso, Weffort (2005, p. 215), identifica que no Brasil a Contabilidade Internacional como disciplina, é pouco freqüente nos cursos de graduação em ciências contábeis, não favorecendo assim a harmonização contábil internacional.

5. AS NORMAS INTERNACIONAIS DE RELATÓRIOS FINANCEIROS (IFRS)

As normas internacionais de relatórios financeiros constituem-se na tradução para a expressão em inglês International Financial Reporting Standard (IFRS), que são o conjunto de normas internacionais de contabilidade adotados pelos países da União Européia.

Segundo Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 19), a partir do ano de 2005, as empresas listadas em bolsas dessa União, adotaram de forma obrigatória esses padrões de contabilidade. Outros países como Austrália, Rússia e Uruguai também se manifestaram favoravelmente em prol da adoção dos IFRS nos próximos anos. Para adoção pela primeira vez de tais normas,

Segundo Demo (1985, p.61), tudo aquilo que os seres humanos, através dos tempos e em todos os lugares, criaram, descobriram, construíram, transformaram e desenvolveram para sobreviver e satisfazer às suas necessidades, podemos dizer que é cultura ou manifestações culturais. Por conseguinte, partindo dessa definição, e relacionando a cultura com a área contábil, Martins e Lisboa (2005, p.52) reconhecem a contabilidade como ciência social aplicada que recebe as influências da cultura geral do local onde está inserida.

Esses valores exercem grandes influências sobre a contabilidade. Como destaca Weffort (2005, p. 19):

A contabilidade é moldada pelo ambiente no qual opera. Da mesma forma que as nações têm diferentes histórias, valores e sistemas políticos, elas também têm diferentes padrões de desenvolvimento da contabilidade financeira. [...] Esta diversidade é resultante da variação dos ambientes de negócios ao redor do mundo e do fato de a contabilidade ser ambientalmente sensível.

Em relação a esta variação de ambientes, vários são os obstáculos para a harmonização contábil internacional, pois grandes são as divergências entre as práticas contábeis de diversos paises, aliado aos distintos sistemas jurídicos. Outro fator é o de não reconhecer que diferentes países precisam de normas diferentes, de acordo com suas especificidades culturais, legais e econômicas (MADEIRA, 2004, p.79).

A cultura integra-se às causas para as diferenças contábeis internacionais, sendo capaz de influenciar nas normas e práticas, afetando o comportamento do contador e dos usuários das informações contábeis. Mas é fato justificável por não haver duas sociedades absolutamente iguais, e conseqüentemente é improvável que se encontre internacionalmente duas culturas idênticas (WEFFORT, 2005, p. 138-139).

Portanto, considerando que é fato notório a influência da cultura de um país em suas normas e práticas contábeis, nota-se que a adoção das normas internacionais IFRS representa a importação de uma nova forma de cultura contábil, advinda da União Européia e fortemente influenciada pela globalização da economia. Entretanto, como pondera Weffort (2005, p. 217- 218), as práticas contábeis encontram-se enraizadas nas regiões onde se desenvolvem e devem ser respeitadas, pois não se podem deixar subitamente as normas locais, apesar das razões significativas para uma harmonização contábil internacional.

7. AS INFLUÊNCIAS DO DIREITO ROMANO E CONSUETUDINÁRIO

A partir do entendimento que a formação jurídica de cada país poderá exercer influências no processo de adoção de normas internacionais de contabilidade, é importante identificar algumas das características inerentes às culturas do Direito Romano e Consuetudinário. Desse modo, considerando que o objeto da contabilidade é o patrimônio, ele está relacionado com conceitos de propriedade, daí é perceptível o vínculo que se estabelece entre o Direito e a Contabilidade. Nesta relação, é verificável a influência do Direito e da cultura de um povo sobre sua contabilidade (MARTINS e LISBOA, 2005, p. 51).

A cultura do Direito Romano ou Sistema Codificado é referida por Weffort (2005, p. 94-95), como o sistema que modelado na Europa, é o mais usado nos países europeus e em seus respectivos colonizados na América Latina. Suas bases são do Império Romano, caracterizado por ser complexo, individualista e formalista. Outra característica acentuada é a presença da codificação o que não existe no Direito Consuetudinário, o que faz este mais eficiente que o Romano.

Caracterizando ainda o Direito Romano, Martins e Lisboa (2005, p. 52-53) argumentam que para este, tudo precisa estar bem escrito e com detalhes servindo assim como fonte de direito. Desse modo, o que mais tem valor é a lei, as normas, o contrato. Essa cultura incluiu as regras contábeis em leis para as pessoas jurídicas, exigindo escriturações contábeis bem como suas demonstrações com o fim específico de proteção aos credores.

Por outro lado, a cultura do Direito Consuetudinário é definida como um sistema que tem suas bases no direito costumeiro, com soluções casuísticas para os conflitos, é direito elaborado por juizes e por isso tem na jurisprudência sua principal fonte. Sua origem é inglesa e está presente em países colonizados pela Inglaterra como os Estados Unidos, África do Sul, Canadá, Austrália, Nova Zelândia (WEFFORT, 2005, p. 91-93).

De acordo com Martins e Lisboa (2005, p. 53-54), na cultura do Direito Consuetudinário, considera-se que, quanto menos se escrever em termos de legislação, melhor. Os julgamentos consideram a força e a interpretação da consciência popular do que é correto. Desta forma, a tradição, os costumes e a cultura têm grande relevância na solução de conflitos. É importante ouvir e conhecer o pensamento das pessoas, da sociedade, atendo-se os julgadores apenas o mínimo necessário que está escrito.

Segundo esses autores, os anglo-saxônicos não se interessaram em colocar a contabilidade e suas regras em Leis. O importante para eles é a consulta quando necessário aos especialistas nos assuntos contábeis, e nunca à legislação que jamais deveria se prender a aspectos técnicos, pois eles mudam com o tempo e com as necessidades do dinâmico mundo dos negócios.

Ao estabelecer uma comparação do Direito Romano e Consuetudinário, percebe-se que neste último é desconhecida a reunião de leis em código, tornando-o mais eficaz e flexível que o sistema Romano. Observam Martins e Lisboa (2005, p. 54) que:

[...] essas diferentes culturas e doutrinas, principalmente as relativas ao mundo do Direito, levaram a diferentes Contabilidades. Mas isso vem custando muito porque diferentes formas de Contabilidade atravancam e encarecem os grandes movimentos migratórios de capital de hoje, com grandes investimentos na forma de empréstimos ou de inversões de capital de um país no outro.

Observa-se que o formalismo e a complexidade presentes nas bases jurídicas do Direito Romano poderão dificultar a adesão de forma rápida das práticas contábeis internacionais em IFRS, pois essas devem submeter-se aos processos às vezes demorados de normatização para serem instituídas em lei, como é, por exemplo, o caso do Brasil.

8. O BRASIL

No Brasil, as normas contábeis encontram-se, principalmente, na legislação societária, comercial e fiscal, o que faz com que a incorporação das tendências internacionais dependa do processo legislativo, normalmente demorado (o Código Civil atual entrou em vigor em 2003, quase 28 anos após a sua primeira proposta, com inúmeras deliberações ultrapassadas sobre aspectos contábeis). Há, portanto, um engessamento das normas contábeis nacionais, proveniente das próprias características do sistema jurídico, excessivamente formalista e rígido, que valoriza mais a forma do que a essência.

9. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

9.1 ANÁLISE GERAL

Nesta pesquisa, buscou-se identificar as dificuldades de adequação das normas brasileiras de contabilidade em relação as IFRS na realidade empresarial do Norte de Minas. Com esse propósito, foi encaminhado um questionário de pesquisa composto por dez questões abertas a uma empresa Metalúrgica do Norte de Minas que elabora suas demonstrações contábeis segundo a legislação societária brasileira e reporta essas informações em IFRS para a sua matriz localizada na Europa.

As questões foram elaboradas e articuladas em boa medida com as teorias que norteiam este trabalho e com informações obtidas em entrevistas semi-estruturadas iniciais, junto à gerência responsável pela migração entre as normas. Os aspectos abordados no questionário foram relacionados às dificuldades de migração entre as normas, ressaltando o processo inicial de elaboração e implantação dos relatórios em IFRS, a necessidade de investimento em novos sistemas, a influência do fator cultural na adoção de normas de contabilidade internacional, a influência do sistema jurídico brasileiro, a questão da disciplina contabilidade internacional e outros fatores relevantes para essa investigação empírica.

Perguntada acerca da implantação e elaboração inicial das demonstrações em IFRS, constatou-se que por exigência do grupo a que pertence, a empresa pesquisada adotou as normas internacionais de relatórios financeiros em IFRS no ano de 2005, utilizando os modelos de relatórios elaborados e disponibilizados pelo próprio grupo. Esses relatórios são mensalmente reportados ao exterior, sendo que a conversão para a moeda estrangeira é feita no momento da consolidação das demonstrações pelo grupo controlador. O processo de migração das informações é realizado utilizando planilhas eletrônicas, com o uso de fórmulas que levam as informações ao formato internacional em IFRS. Parte das informações geradas é reportada em arquivos eletrônicos e a outra parte é enviada através de um sistema na página do próprio site do grupo.

Ao questionar sobre a necessidade de investimentos em sistemas que processem estas novas formas de informação, identificou-se que o grupo readequou e investiu em um sistema para todas as unidades, criando novas contas quando preciso e atualizando-o sempre que necessário às mudanças da legislação internacional, pois a emissão e melhoria de normas

internacionais de contabilidade é tarefa interminável considerando a atual dinâmica empresarial. As IFRS demandam por melhores sistemas para apresentação e processamento de dados contábeis, entretanto, os sistemas importados têm elevados custos. Como se verifica, os custos decorrentes da divulgação de dois demonstrativos de resultados não são baixos.

A questão que solicitava opinião sobre a qualidade e flexibilidade das demonstrações em IFRS em relação às demonstrações brasileiras, trouxe uma visão positiva das normas internacionais de contabilidade, evidenciando que essas demonstrações elaboradas em IFRS são padronizadas pelo grupo e mais voltadas ao foco gerencial. Essa constatação é reforçada por Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 94), que consideram as IRFS como formas de demonstrações, destinadas a capacitar os usuários da informação contábil para a tomada de decisões econômicas. Essa realidade é diferente daquela apresentada no mundo latino; no Brasil, por exemplo, as demonstrações contábeis são mantidas para atender principalmente ao fisco. Como destacam Martins e Lisboa (2005, p.60), a Receita Federal interessa-se fortemente em editar regras para a contabilidade, que sejam convenientes a ela. Com isso, as regras fiscais brasileiras não favorecem a elaboração de demonstrações contábeis úteis e flexíveis a usuários externos, credores, e possíveis investidores.

Um outro item do questionário buscou identificar em quais aspectos eram mais percebidas complexidade e dificuldades em relação ao processo de convergência e migração das demonstrações brasileiras para IFRS. Foram elencados dois aspectos: o primeiro, relacionado à escassez de profissionais no Brasil que compreendem estas novas formas de informação em IFRS. Como se verifica, a utilização de normas internacionais é voluntária e necessária inicialmente às empresas multinacionais ou com investimentos no exterior, o número de profissionais envolvidos com estas informações limita-se a poucas empresas de auditorias reconhecidas internacionalmente. O segundo aspecto diz respeito a dificuldades técnicas de migração entre as normas, mais especificamente na forma de compreensão das mesmas. No caso em estudo, o suporte técnico para dirimir tais dificuldades é fornecido pelo próprio grupo, pois o mercado brasileiro apesar dos esforços realizados por vários órgãos de normatização contábil parece não estar totalmente preparado para esta nova realidade internacional.

Em relação à influência do fator cultural do país sobre as normas internacionais de contabilidade, foi perguntado se este constitui em obstáculo para a adoção das IFRS na empresa. A resposta foi de que, apesar do reconhecimento que a contabilidade é sensível ao ambiente em que opera, este fator não apresenta reflexos negativos na adoção das normas internacionais de contabilidade, pois, é o grupo que dita as regras. Weffort (2005, p. 216), apresenta evidências para compreensão de tal fato, observando que em companhias multinacionais os aspectos relacionados à cultura nacional tornam-se pouco relevantes, devido a tendências de atendimento a uma cultura global.

Na seqüência, questionou-se sobre o entendimento de que o sistema jurídico romano brasileiro constitui entrave à adoção de normas internacionais de contabilidade. Optou-se por este questionamento mesmo considerando que a adoção de normas internacionais é de natureza voluntária. A resposta foi de que, devido à morosidade na aprovação das leis, o ambiente jurídico brasileiro parece não estar ainda adequado à adoção de normas internacionais de contabilidade. Essa constatação se reforça pela existência do projeto de lei nº 3.741 que propõe criar condições para harmonização das práticas contábeis brasileiras com as práticas contábeis internacionais, o qual encontra-se em tramitação no congresso há anos. Neste aspecto, Weffort (2005, p. 107), caracteriza este sistema como demorado e rígido, não sendo capaz de antecipar e acompanhar possíveis mudanças.

informações mais relevantes para o tipo de atividade desenvolvida pelo grupo. Outras empresas, como as instituições financeiras, poderiam adotar conforme as IFRS outra estrutura por ordem de liquidez que fornecesse informações mais relevantes para atividades financeiras.

Nesse balanço em IFRS em estudo, verificou-se ainda que o valor da conta estoque corresponde ao mesmo do balanço segundo as normas brasileiras de contabilidade, indicando um ponto semelhante entre as normas. Observou-se assim que uma informação adicional ao balanço é também reportada ao grupo a respeito de obsolescência dos estoques. Conforme a regra em IFRS adotada pelo grupo, deve-se analisar a movimentação dos itens em estoque nos períodos de 180 dias e 360 dias. Para itens sem movimentação por 180 dias devem-se considerar 50% do seu valor obsoleto. Já os itens sem movimentação por 360 dias consideram-se 100% do seu valor obsoleto.

Por conseguinte, na análise da demonstração do resultado do exercício segundo as normas brasileiras e segundo as normas internacionais, identificou-se uma grande diferença nos resultados, superior a 878,85%. Enquanto que pelas normas brasileiras de contabilidade há um prejuízo, pelas normas em IFRS há um lucro significativo. Essa diferença entre resultados deve-se ao fato das normas aplicadas no Brasil serem diferentes das normas internacionais em IFRS, quando da elaboração desse demonstrativo contábil. Deste modo, nota-se que é necessário a elaboração de relatórios explicativos de tais diferenças para os investidores e outros usuários da informação contábil. Assim, segundo os documentos analisados, constatou-se que são significativas as diferenças entre os dois conjuntos de normas.

Utilizando ainda a técnica observacional para coletar dados e informações, foi observado todo o processo de readequação entre as normas brasileiras e as internacionais de contabilidade em um período de fechamento do resultado em um mês. A primeira impressão verificada é a do trabalho em equipe, pois, o setor responsável pela readequação entre as normas depende do fechamento contábil realizado no último dia de cada mês. Observou-se neste período a utilização freqüente de muitas planilhas eletrônicas de migração, demonstrando assim que é uma atividade complexa e que demanda por tempo e conhecimento para a concretização dos trabalhos.

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo destacou a contabilidade internacional como instrumento necessário ao moderno e dinâmico ambiente de negócios, merecendo destaque os padrões IFRS emitidos pelo IASB. Assim, por meio do estudo de uma empresa que utiliza tais padrões, verificou-se que essas regras internacionais têm como principal escopo informar e capacitar os usuários para a tomada de decisões econômicas, diferentemente da realidade presente no Brasil, onde a cultura fiscalista dá ordens e regras não apresentando compromisso algum com a técnica contábil.

Na empresa pesquisada o processo de readequação é trabalhoso exigindo profundos conhecimentos tanto das normas locais como das normas internacionais em IFRS. Foi verificada que a principal ferramenta utilizada nesse processo são as planilhas eletrônicas carregadas de diversas fórmulas e regras que levam a informação das demonstrações brasileiras ao formato IFRS.

Quanto às dificuldades nesse processo de convergência e migração entre normas, verificou-se, a carência de profissionais que compreendem essas novas formas de informação constatando desta forma que este conhecimento é ainda muito restrito, faltando especialistas para ministrarem cursos e treinamentos. Tal fato, juntamente com a escassez de disciplinas de contabilidade internacional nos cursos de graduação, contribui para dificuldades quanto à aplicação e compreensão destas normas.

Quanto ao fator cultural destacado nesse trabalho, percebeu-se que apesar de sua influência sobre a contabilidade, e mesmo considerando que cada nação tenha a sua própria história e valores culturais distintos, não foi considerado na pesquisa como entrave a adoção dos IFRS, pois a empresa pesquisada é uma multinacional, e a maior influência é a do grupo controlador, que dita os procedimentos e regras a serem seguidos internacionalmente.

Apesar de não afetar inicialmente a empresa sob investigação, o sistema jurídico romano Brasileiro, foi identificado como um dos principais obstáculos ao processo de convergência entre as normas, pois, no Brasil a lei é a principal fonte do direito, e não se pode impor obrigatoriamente a adoção de demonstrações contábeis fora dos padrões locais, a não ser em virtude de alterações na legislação. Entretanto, existe um projeto de lei esquecido há anos no congresso, e que não pode resolver toda a condição para a adoção de normas internacionais em IFRS, a sua aprovação significaria uma grande contribuição para a prática contábil brasileira.

A utilidade deste estudo está relacionada com os profissionais que se inserem neste contexto de mudanças constantes, pois, em um cenário onde o FASB e IASB revisam suas normas para convergência, é necessário atualização profissional contábil sobre essas normas internacionais de contabilidade.

Dessa forma, os dados apresentados e obtidos indicam que a empresa pesquisada integra-se ao contexto internacional utilizando as estruturas em IFRS as quais apresenta poucas semelhanças com as normas contábeis brasileiras, o que conseqüentemente geram diferenças significativas no resultado do período. Assim, considerando ainda a amplitude do tema, fica aberto o campo para futuras pesquisas nesta área internacional de contabilidade, que pode ser explorada em seus diversos aspectos relacionados à aplicação dos padrões IFRS.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Guy Almeida. Profissão Contábil no Brasil: primórdios, perspectivas e tendências. Revista de Contabilidade do CRC de SP Março/2003.

CARVALHO, L. Nelson, LEMES, Sirlei, COSTA, Fábio Moraes. Contabilidade Internacional Aplicação das IFRS 2005. São Paulo: Atlas, 2006.

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