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Nesse sentido, a obra A arca de Noé, de Vinicius de Moraes, é um brinquedo e tanto. Trata-se de um clássico da produção poé tica para.
Tipologia: Provas
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Rosa Gens
contato com poesia é fundamental para leitores em forma- ção, que tendem a se envolver e se deliciar com poemas. Para crianças, a poesia é antes de tudo um brinquedo, que investe em sons, em ritmos, nas formas e combinações das palavras e em seus sentidos. Em outra perspectiva, representa possibilidades de adquirir competências de leitura, de entender o código linguístico e ultrapassar suas barreiras, enfim, de entender o mundo. Nesse sentido, a obra A arca de Noé , de Vinicius de Moraes, é um brinquedo e tanto. Trata-se de um clássico da produção poética para crianças no Brasil, publicado em 1970 , reunindo vinte textos. A eles se juntaram mais doze, entre letras de canções e inéditos, totalizan- do os 32 da presente edição. Nesta obra os poemas sobressaem-se pela qualidade estética e não trazem o ranço do ensinamento; a partir do uso certeiro da palavra poética, eliminam a facilitação e a sensaboria, sem concessões a ingenuidades que, por vezes, povoam os livros de poemas para crianças.
Em A arca de Noé , podem ser visualizados três eixos temáticos. O primeiro deles aponta para a religiosidade; o segundo, para a apreensão do humano e dos objetos; e o terceiro, para os animais. Os três primeiros poemas ligam-se à religiosidade. “A arca de Noé” abre o volume e pode ser percebido como condensador de determinados procedimentos encontrados no corpo da obra. Traz a história de Noé recontada, em versos de sete sílabas, introduzi- da por imagens que tendem à visualização. O ritmo popular e a tendência ao visual serão constantes na obra, produzindo efeitos de aproximação com o público infantil. No poema seguinte, “São Francisco”, privilegia-se a expressão da simplicidade que faz jus ao santo, tanto no âmbito da forma quanto no vocabulário. Em “Na- tal”, a data e sua simbologia são revigoradas quando o poeta as situa a partir da fala dos animais que asseguram o nascimento de Cristo em oposição ao papagaio que o nega e termina por levar uma surra. A religiosidade é resgatada em sua essência, seja por imagens poé- ticas que se fundamentam na simplicidade e no despojamento, seja por uma perspectiva inusitada, eivada de comicidade. O segundo eixo temático explora, de início, seres-crianças, em “O filho que eu quero ter” e “Menininha”, poemas marcados pela relação emocionada eu lírico/crianças. A seguir, apresentam-se elementos, como o girassol, o ar, o relógio, a porta e a casa. Vá- rios são os procedimentos utilizados nos poemas que seduzem o leitor-criança. Entre eles, o ritmo ágil, composto por diferentes metros. O humor é outro deles, mexendo com a visão cristalizada do mundo (ver “A porta”). E o nonsense capturado pelo poema “A casa”, imagem que se faz na impossibilidade, e assim proporciona voltas imaginativas dos leitores. O terceiro eixo temático centraliza-se em animais. O texto “Os bichinhos e o homem” serve de introdução a ele. Os animais “menores” tornam-se o centro da composição e apontam, como em outros poemas, para uma visão irônica da existência, já que o homem torna-se seu jantar. Em seguida, exibe-se a sequência de 21 poemas em que a voz poética apresenta os animais. Convém lembrar que o contato com os bichos, na infância principalmente, atiça a imaginação e provoca a afetividade. E a ótica utilizada para a apreensão do poético, em A arca de Noé , é do afeto em relação à infância, à criança. Os bichos são observados, muitas vezes, por esse olhar-criança, que capta o inesperado e o inusitado, proibidos para a ótica adulta. Pode-se dizer, inclusive, que há certa traves- sura nos textos, que fogem ao arrumado e quieto, e investem no irrequieto, no malcomportado.
Noé e sua arca Parte do Velho Testamento, a história de noé é uma das mais conhecidas da Bíblia. Tudo começa quando Deus, observando o mau comportamento dos homens, decide castigá-los com um dilúvio. De acordo com a tradição bíblica, noé foi o escolhido por Deus para continuar a espécie, por sua fé, bondade e justiça. a noé cabe a tarefa de construir um navio. Lá, ele deve embarcar um casal de cada espécie, a fim de perpetuar a vida na Terra após a calamidade. arca construída, os animais embarcam, assim como a família de noé. a arca representa, portanto, a salvação, e reveste-se de simbologia: casa protegida pelo divino, proteção das espécies e da aliança entre Deus e os homens. e, acima de tudo, simboliza a restauração cíclica.
Dizer que poesia, para criança, é brinquedo, não é confiná-la a uma gratuidade. Ao contrário, ao brincar com sons, com as pala- vras e seus significados, ao tentar entender o contexto, ao interpre- tar formas poéticas, a criança chega ao progressivo reconhecimento dos recursos da língua e a entendimentos do mundo. Trata-se de brincar, entender o mundo e poetizar. Navegar com essa Arca , em que a fantasia transita sem amarras, permite o exercício da poesia e o espaço para o conhecimento, para a brincadeira e para jeitos de aventurar-se a conhecer o mundo.
LeiTuRas suGeRiDas
Bem brasileirinhos , poesia para os bichos mais especiais da nossa fau- na, de Lalau e Laurabeatriz. São apresentados, na obra, animais quase extintos. Além das informações que os caracterizam e de- finem, cada um merece um poema. O livro vem acompanhado de um cd com poemas musicados.
De fora da arca , de Ana Maria Machado, com ilustrações de Laurent Cardon, em que são apresentados animais que ficaram fora da arca e não sobreviveram. A autora constrói uma narrativa introdutória, em que expõe a arca, para depois apresentar, um a um, animais que não se salvaram no plano do real, mas sobreviveram na imaginação e na memória, como o basilisco, a esfinge e a quimera, entre outros. Histórias de bicho feio , de Heloísa Seixas. Seis narrativas que mos- tram facetas diferentes de animais esquisitos, apoiadas na descons- trução do previsível e permeadas por comicidade. Olha o bicho , de José Paulo Paes, a partir de ilustrações de Ru- bens Matuck. Oito poemas, reunidos em volume de dimensões 38 x 22 cm que, centrados na temática de animais, se erigem por procedimentos poéticos vários. Os animais de todo mundo , de Jacques Roubaud. Obra com 61 poe- mas que formam uma espécie de bestiário pós-moderno. As ilustra- ções de Fefe Talavera, compostas de caracteres gráficos, merecem especial atenção. Recomendado para alunos do ensino médio, O livro dos seres ima- ginários , de Jorge Luis Borges, é na verdade um “manual de zoologia fantástica” que traz inúmeros bichos imaginários, classificados em ordem alfabética como nas enciclopédias. O livro Palavras, o abraço mágico , de Eloí Elizabeth Bocheco, reve- la experiências preciosas com poesia que podem ser encaminhadas para crianças.
aTiViDaDes suGeRiDas
No momento, há duas edições de A arca de Noé no mercado. A pri- meira é ilustrada por Laurabeatriz, apoiada em traços nítidos, a bico de pena, e a segunda por Nelson Cruz, utilizando a multi plicidade de cores. Os alunos podem examinar como cada um dos ilustrado- res desenhou os poemas. Caminha-se, aqui, para uma leitura visual, procurando verificar como as ilustrações dialogam com os textos — a partir da reprodução, do detalhamento, do suplemento.
Os alunos podem criar encontros de poesia, para declamar os poemas de A arca de Noé , procurando, através da recitação, limpar a melodia que a eles se colou.
Em um movimento contrário ao da atividade anterior, examinar as músicas dos cds A arca de Noé 1 e Arca de Noé 2 , e depois ler os poemas.
a arca Musicada a arca de noé, de Vinicius de Moraes, nasceu em livro, em 1970, reunindo 32 poemas, que apresentavam, em sua maioria, os animais como centro. Depois, Vinicius musicou alguns dos textos, a exemplo de “a casa” e “o pato”, que vieram a fazer parte de disco de 1972: “Vinicius canta ‘nossa filha Gabriela’”. a primeira arca de noé musicada aparece em 1980, e a segunda em 1981, ambas pela ariola/ Philips. Delas participaram — com as melodias para os textos de Vinicius — Toquinho, Tom Jobim e Paulo soledade, entre outros compositores. Cabe ressaltar que os poemas, ao se tornarem canções, passaram por pequenas mudanças, necessárias ao fluxo melódico. a Rogério Duprat coube fazer muitos dos arranjos, explorando sons e possibilidades rítmicas. e o elenco de intérpretes impõe-se pela variedade, de elis Regina a Clara nunes, de Marina a Jane Duboc, de alceu Valença a ney Matogrosso.