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O jornalismo literário contra o jornalismo informativo
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Nelson e as crônicas imortais Nos idos de 1950, já consagrado como dramaturgo, folhetinista e contista embora despertando a ira dos moralistas da época, Nelson Rodrigues dava partida nos campos de celulose do jornalismo esportivo, inscrevendo seu nome de forma inovadora aos olhos do torcedor brasileiro. Não tínhamos como escapar do adjetivismo incendiário do famoso dramaturgo. Seu clube do coração, pulmão e corpo inteiro foi o Fluminense, que ganhou textos glorificados pela ótica inconfundível do escritor.
Armando Nogueira contava que ele, quando saia do Maracanã – pseudônimo para Mário Filho, nome dado ao estádio em homenagem ao irmão de Nelson Rodrigues –, e como não enxergava bem, lhe perguntava “que jogo nós assistimos?”. Claramente Nelson não assistia o futebol para explicar por quais circunstâncias o Fluminense perdeu o jogo. Ele estava à procura de alguma grande história, carregando consigo como seu maior mérito, descrever e transferir as cenas do futebol para o cotidiano.
Porém, com a chegada do mundo novo, o que era literatura virou informação. Antes se fazia uma leitura elucidativa do cotidiano entranhado ao futebol de chuteiras. Para Paulo Vinícius Coelho, o “PVC” do canal de TV fechada ESPN Brasil, talvez o único comentarista esportivo a nunca ter sido influenciado pelo estilismo dos grandes romancistas da crônica esportiva nacional, o romance no futebol não é informação. E diz mais: “Nelson Rodrigues escreve sobre as 120 mil de almas no Monumental de Nuñez no dia do Brasil x Argentina. É bonito, só que não havia 120 mil almas, porque no Monumental nunca houve espaço para 120 mil almas”.
O que mais interferiu nos jornalistas da época de Nelson Rodrigues para a destituição deste tipo de descrição foi a superexposição da condição humana. O grande jogador cujas grandes jogadas nós conhecíamos pela descrição e não pelo olho, acabou.
Como os defeitos destes jogadores não eram escancarados ao grande público, era exaltado somente suas qualidades, tanto é que em uma crônica de Nelson Rodrigues intitulada Jogos Infantis, o jornalista soltou mais um dos seus aforismos: “No dia em que a criatura humana perder a capacidade de admirar, cairá de quatro, para sempre”. Para ser enfático, é como se os jogadores do passado fossem atores de teatro, e os novos, astros de cinema. Com o registro do evento, não se é mais preciso fabular sobre o espetáculo, pois ele estará à mão de quem e quando quiser rever. A jogada ficará
registrada para sempre e não resistirá ao teste da realidade. Pois aí que a fada da logística invadiu os gramados.
Antigamente pouco se ouvia falar do entorno que abastecia o futebol. Para Nelson e suas anedotas, “o que mais admira, em nós, jornalistas, é a desenvolta irresponsabilidade com que escrevemos as nossas barbaridades”. Realmente, o jornalista tinha por fetiche encantar as jogadas, os jogos, jogadores de habilidade ímpar, mas não tinha olhos para os bastidores do esporte bretão.
Nos dias de hoje é comum folhar as páginas do jornal boquiaberto com os incontáveis escândalos envolvendo a santíssima trindade da Confederação Brasileira de Futebol: Ricardo Teixeira, José Maria Marin e João Havelange. Comum também são as marcações cerradas da imprensa sobre o atraso das obras dos estádios para a Copa do Mundo, aeroportos sem capacidade para superar a demanda e a transparência na utilização de recursos – assunto distorcido pela Vossa Excelência, Dilma Rousseff.
E, como se não bastasse extinguirmos o romance da crônica esportiva, a deturpação que o jornalismo sofreu com a chegada do computador em meados dos anos 1980 criou mais um antagonista dos tempos modernos: o robô-jornalista. Criados pela americana Narrative Science, as supermáquinas se baseiam em números finais de uma partida de futebol, como quantidades de faltas e passes, e no caso de um jogador fazer mais gols que os demais, ganha destaque, livrando o texto de ser lido como relatório. Mas não achemos culpados. Nós mesmos, seres humanos, empobrecemos os textos jornalísticos. Como? Através dos treinadores.
O tsunami alcunhado de globalização, e a grande busca pela informação, que faz a vez das placas tectônicas na analogia, influenciaram no esporte número um do mundo a ponto dos treinadores de futebol trocar o bom senso empírico pelas estatísticas.
Em 2004, Arsène Wenger, treinador do clube de futebol londrino Arsenal, buscava um jogador capaz de correr longas distâncias. Na época, Wenger era um dos raros treinadores a recorrer às estatísticas para tomas suas decisões. Apaixonado por matemática e formado em Economia pela Universidade de Estrasburgo, o francês consultou dados estatísticos de várias ligas europeias, levando-o a descobrir um jovem principiante do Olympique de Marselha, Mathieu Flamini, que percorria até 14 quilômetros por partida. A fim de certificar se os números afirmavam que o Flamini corria na direção certa ou se sabia jogar bola, Wenger tomou um voo para Marselha
CASTRO, Ruy. Anjo Pornográfico. São Paulo: Editora Cia das Letras, 1992.
RODRIGUES, Nelson. O berro impresso das manchetes. Rio de Janeiro: Editora Agir,