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musical, o único tipo de música que não está pres[o] a regras ... naquela linearidade, fica uma coisa gostosa, mas quando muda é que você sente: Putz!
Tipologia: Notas de aula
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Música Eletrônica e Xamanismo:
técnicas contemporâneas do êxtase
Tese de Doutorado em Ciências Sociais apresentada ao Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, sob orientação do Prof. Dr. Laymert Garcia dos Santos.
Este exemplar corresponde à versão final da Tese defendida pelo autor e aprovada pela Banca Examinadora em 2 de outubro de 2006.
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Laymert Garcia dos Santos (IFCH-UNICAMP; orientador)
Prof. Dr. Eduardo B. Viveiros de Castro (PPGAS-UFRJ)
Prof. Dr. Márcio Goldman (PPGAS-UFRJ)
Prof. Dr. Mauro W. Barbosa de Almeida (IFCH-UNICAMP)
Prof. Dr. Vanessa R. Lea (IFCH-UNICAMP)
Prof Dr. Luiz B.L. Orlandi (IFCH-UNICAMP; suplente) Prof Dr. José Miguel Wisnik (USP; suplente) Prof Dr. Hermano P. Vianna Jr. (suplente)
Agradecimentos ............................................................................................................................................................ ix Lista dos Quadros ......................................................................................................................................................... xi
Lista dos Quadros
1 – Quadro sintético das características distintivas da música eletrônica de pista frente à música popular tradicional segundo Fry............................................................................................................................................ 4 2 – Quadro sintético da cosmologia do DJ Mantrix................................................................................................. 46 3 – Quadro sintético da cosmologia de Mr. Lemon................................................................................................. 54 4 – Quadro sintético dos "dois passos" rituais do DJ Arlequim............................................................................... 68 5 – Quadro sintético das contingências do ritual segundo DJ Arlequim.................................................................. 68 6 – Quadro sintético de temas do discurso nativo relativos a rituais indígenas....................................................... 81 7 – Quadro sintético das idéias nativas sobre o underground e o mainstream ........................................................ 97 8 – Intensidade sonora (dB) ..................................................................................................................................... 318 9 – Faixas de freqüência do espectro sonoro, suas características e efeitos............................................................. 323 10 – Faixas de velocidade da música eletrônica de pista e suas características....................................................... 330
Nota Sobre as Referências
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repetição (corporal) modelo narrativo (mental) "sem ego", sem centralização no artista centrado na personalidade do artista público ativo público passivo transcultural culturalmente específica Quadro 1 – Quadro sintético das características distintivas da música eletrônica de pista frente à música popular tradicional segundo Fry (1999a)*
apresentado na revista como autor de um livro "recente" chamado " The Rave Culture ") sugerem que ambos, James Fry e Jimi Fritz, são a mesma pessoa. (^5) A idéia de que a música eletrônica seria mais "transcultural" (para não dizer "universal") do que qualquer outra é
muito comum no discurso nativo e encontra fundamento na efetiva disseminação global de sua estética repetitiva e artificial. Segundo vozes nativas: a música eletrônica é "a única portadora da liberdade universal da língua musical", "o único tipo de música que não está pres[o] a regras culturais" (Croppo *2002); "uma das linguagens mais universais que existem", "a música que fala a todos e une todos, porque é uma linguagem absolutamente polissêmica – possibilita trocentas [sic] interpretações", "[u]m som livre" (Pinheiro *2002); "a música menos preconceituosa do planeta" (Bia Abramo, in: Palomino 1999:124); nela "não existe atitude", "[é] a música por si só [...] [e não] como o hip hop ou como o rock, em que a idéia é mais forte do que a música", "[n]ão tem letra, não tem mensagem política, não tem ideologia [...] [e] talvez por isso seja uma música tão universal" (DJ Renato Cohen, in: Ney *2004); "um dos códigos musicais mais facilmente traduzidos atualmente", "[v]ocê coloca a agulha em uma batida e as pessoas respondem, estejam elas em Buenos Aires, Tel Aviv ou São Petersburgo" (DJ Spooky, in: Reighley 2000:17). Em seu estudo sobre o Techno, Dan Sicko afirma que o estilo substituiu a velha e "frouxa" definição de World Music com "um som universal, adaptado e modificado para provocar emoções íntimas em qualquer ambiente ou local" (Sicko 1999:172). Segundo o pesquisador Ansgar Jerrentrup, a música eletrônica "não pode ser considerada representativa de um povo ou de uma cultura, mas sim um exemplo de des-etnicização da música e de uma cultura cujo limite é a civilização" (Jerrentrup 2000:71). Depoimentos de ravers sobre a "universalidade" e a "transculturalidade" da música eletrônica podem ser encontrados em Fritz (1999:252-4). A contrapartida dessa des-etnicização seria a sobreposição de elementos musicais locais de cada cultura à "matriz neutra da música eletrônica [...] que pode ser entendida em qualquer cultura ou idioma" (Richard e Kruger 1998:165). Ralf Hütter, membro fundador do grupo pioneiro de música eletrônica Kraftwerk, apesar de reiterar a "natureza internacional" da música eletrônica, que ele define como "industrial folk music" (cf. Miller 1999:188) ou mesmo simplesmente como "world music" (cf. Savage 1993), freqüentemente aponta suas raízes "étnicas" na sua Alemanha natal – "gostamos de pensar [na música eletrônica] como música étnica da área industrial da Alemanha" (Hütter, in: Dery *1991) – e em sua história – "Qual é a nossa cultura étnica?... Ela foi bombardeada? [...] Qual é o nosso som? Qual é nosso ambiente? Eu sou mudo?" (Hütter, in: Toop 1995:206).
A natureza repetitiva da música eletrônica de pista é apenas aparentemente simples. Como o tambor do xamã, ela representa simbolicamente o batimento do coração, primeiro som que escutamos de dentro do útero. A batida contínua nos força a nos sintonizar com nosso próprio ritmo e humor, agindo como uma ponte que nos conecta a nós mesmos e a cada um de nós. Em alto volume, a música exige nossa total atenção, tornando-se um ambiente sonoro que sobrepuja todos os outros estímulos. Ela providencia o contexto para uma jornada pessoal. 6
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(^6) "The repetitive nature of electronic dance music is deceptively simple. Like the shaman's drum, it represents a
symbolic beating heart, the first sound we hear from inside the womb. The continual beat forces us to attune to our own rhythm and mood, acting as a bridge that connects us to ourselves and to each other. At high volumes, the music demands our whole attention, becoming an audio environment that overwhelms other stimuli. It provides a context for a personal journey." (Fry *1999a:A6). Para uma versão ligeiramente diferente da mesma passagem, cf. Fritz (1999:78). (^7) O título da matéria ("Meet five star DJs and producers in this dance-musician summit") permitia um trocadilho
entre o número de DJs entrevistados ( five ) e sua suposta excelência ( five star ). Eram eles: James Lumb, Chris Cowie, John Digweed, Paul Oakenfold e Dave Ralph. (^8) DJ Paul Oakenfold (também conhecido como "Oakie") é um dos principais personagens de uma das mais
consolidadas narrativas – logo adiante veremos que se trata de uma narrativa que chamaremos de cultural – sobre o início da "cena" eletrônica contemporânea na Inglaterra. A narrativa conta que, em 1988 e junto com outros DJs (Johnny Walker, Danny Rampling e Nicky Holloway), Oakenfold decidiu repetir em Londres a experiência que teve no verão anterior na ilha espanhola de Ibiza, composta basicamente por música eletrônica eclética (o que se convencionou chamar de Balearic Sound) e uma droga ainda nova para eles: o ecstasy (cf. Reynolds 1999:58; Brewster e Broughton 2000:366-67, Reighley 2000:13-6). E se ele foi um dos responsáveis pela explosão da "cena eletrônica" em Londres ("cena" que ele mesmo afirma ter "começado"; cf. Reighley 2000:16), esta por sua vez foi a responsável pela projeção mundial de sua carreira, tornando-o um dos DJs mais populares e bem pagos do mundo (cf. Reynolds 1999:275-6; Brewster e Broughton 2000:381 e 384-5). Ele toca periodicamente para milhares de pessoas e foi, em 1999, eleito "o DJ mais bem sucedido do mundo" pelo The Guinness Book of Records e "o melhor DJ do mundo" pela revista inglesa DJ (Kasparian 2004). (^9) DJ Paul Oakenfold, in: Fry (1999b:A10).
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Desde que o tecnopaganismo pós-Acid House se tornou uma opção de vida, o xamanismo tem sido evocado de maneira rotineira, como se consumir ecstasy e dançar Techno a noite inteira, quando não fazer um curso de xamanismo de fim-de-semana, pudesse produzir no corpo urbano profano e limitado, do dia para a noite, um estado xamânico.^21
(^15) Vianna (1988:22). (^16) Vianna (1988:80). Segundo Edmilton (dono de equipe e ex-DJ): "O discotecário é responsável [...] pelo clima do
baile. Ele tanto anima, provoca um clima de euforia, como ele pode desanimar, esfriar o pessoal" (Vianna 1988:45). (^17) Vianna (1988:45 nota 2). (^18) De fato, quase 10 anos depois do livro, Vianna (*1997) retoma o tema da "energia 'durkheimiana'", relacionando-a
então àquilo que ele chamou de "tecnologia do transe/êxtase" (mas dessa vez com relação à música eletrônica em geral, e não apenas o Funk carioca) e fazendo referência explícita à definição de Eliade (1998) do xamanismo como "técnica do êxtase". (^19) Cf. Toop (1995). (^20) Cf. Toop (1995:225-38). (^21) "Ever since post-acid-house techno-paganism took hold as a lifestyle option, shamanism has been invoked in a
routine way, as if swallowing Ecstasy and dancing all night to techno records, let alone taking a weekend course in shamanic journeying, can transform the beleaguered, profane urban body into a shamanic state overnight." (Toop 1995:277)
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(^22) "In their view, psychedelic shamanism has become a metaphorical holy grail, not only in the quest for new
identities in a fragmented world, but in the search for the ultimate commercial, theme park, drug machine." (Toop 1995:51) (^23) Junto com Juan Atkins e Kevin Saunderson, Derrick May integrava aquilo que ficou conhecido como "o trio de
Belleville [ the Belleville three ]", que figura nas narrativas dominantes como o grupo de DJs que, na segunda metade da década de 80, deu origem ao gênero que depois seria conhecido como Techno. (^24) A formulação original é: "self-proclaimed pro-psychedelic guru of the zippie (Zen-inspired professional pagan)
movement" (Toop 1995:277). Declarações de Clark sobre xamanismo e música eletrônica podem ser encontradas em Schneider et al. (*1993). (^25) Toop (1995:277-8). (^26) Vale citar a formulação original: "Without wishing to join the bootcamp of fundamentalist animal-skin shamanic
academics, I have serious doubts about automatic assumptions that the kind of free-floating ecstatic states induced by drugs, dancing and probable dehydratation are identical to shamanism's cosmologically centered spirit journeys. [...] Shamans, as portrayed by Oliver Stone, may gaze serenely into the middle distance as rock stars commune with the Dionysian mysteries of beer, but archive photographs and films of shamans from Siberia, Mongolia and Amazonas show grizzled, haunted characters, lined with knowledge after travelling to hell and back." (Toop 1995:278-9)