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Este texto explora a temática da misericórdia de deus no evangelho de lucas, enfatizando a importância da misericórdia na vida de jesus e na relação entre deus e os mortos. O autor examina o episódio da viúva de naim e as perspectivas de f. Bovon sobre a extensão da graça de deus em três direções: soteriológica, eclesiológica e cristológica.
Tipologia: Notas de estudo
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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA FACULDADE DE TEOLOGIA MESTRADO INTEGRADO EM TEOLOGIA JOÃO PAULINO GOMES DELGADO GARCIA
Um estudo exegético e teológico. Dissertação Final sob orientação de: Professor Doutor José Tolentino Mendonça Lisboa 2019
“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que , na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressureição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos Céus para vós, que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n´Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas”. (1Pd, 1,3-9. 2ª leitura do Domingo da Divina Misericórdia, ano A).
O episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim (cf. Lc 7,11-17), do qual procurámos uma melhor compreensão ao longo da nossa pesquisa, torna claro que a misericórdia, que coincide com o agir de Jesus, restitui vida aos mortos. Ao entregar à mãe, vivo, o filho que estava morto, Jesus revela ser o Senhor da vida e da morte. Ele é o novo Elias esperado por Israel, é Deus que vem visitar o seu povo, e, sendo Deus, enfrenta a morte e a vence para sempre. N’Ele se revela a misericórdia, como principal atributo divino, que restitui o homem à sua dignidade mais genuína e constitui o núcleo central da mensagem evangélica. O milagre de Naim constitui um sinal de esperança para todos aqueles que, tal como o filho da viúva de Naim, experimentando a morte, esperam, da misericórdia do Senhor, escutar aquela palavra anastática: Levanta-te! Uma ordem dada num tom imperativo que recria o homem, ferido mortalmente, nas dimensões mais recônditas do seu ser, o restabelece na sua capacidade de se relacionar e o abre para a vida. A misericórdia, própria do ser e do agir de Deus, deve ser replicada no jeito de estar e de agir do discípulo, em cumprimento do mandato de Jesus: “ Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso ” (Lc 6,36). Ela deve ser a expressão da nossa koinônia fraterna e a manifestação evangélica da nossa adesão ao “mandamento novo”. Ainda recentemente, o Papa Francisco convocou toda a Igreja para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia com o objetivo de nos recolocar no seguimento de Cristo, o “Rosto da Misericórdia”. Palavras-chave: Jesus, Misericórdia, Naim, Lucas, Ressurreição, Viúva, Profeta, Povo.
AAS Acta Apostolicae Sedis AnVal Anales Valentinos AT Antigo Testamento BLE Bulletin de Littérature Ecclésiastique BS BALZ, H. - SCHNEIDER, G., Diccionario Exegetico del Nuevo Testamento_._ Vol. I-II, Sigume, Salamanca, 1996 - 2012. Coor. Coordenador DCBNT Dizionario dei Concetti Biblici del Nuovo Testamento DENT Diccionario Exegetico del Nuevo Testamento Dir. Diretor DivTh Divus Thomas Ed. Editor Eds. Editores EstAg Estudio Agustiniano ETR Études Théologiques et Religieuses GLNT Grande Lessico del Nuovo Testamento LeDiv Lectio Divina LumVit Lumen Vitae LibAn Liber Annuus NRT Nouvelle Revue Théologique NT Novo Testamento NTS New Testament Studies RCI Revue Catholique Internationale ( Communio ) RTL Revue Théologique de Louvain
S. SS Versículo (s) Seguinte (s) StMor Studia Moralia TOB Traduction Œcuménique de la Bible V. VV Versículo(s) VTB Vocabulaire de Théologie Biblique Vol. Volume LXX Versão da Bíblia grega dos Setenta
se concretiza a compaixão, em Jesus? Como no-la apresenta Lucas no seu Evangelho? Eis algumas questões que procurámos entender e às quais nos propomos responder como objetivo desta dissertação, à luz do episódio da viúva de Naim. Pela misericórdia se nos revela o mistério da Santíssima Trindade^3. É o ato supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro; a lei fundamental que deve habitar o coração de cada ser humano no olhar sincero que dirige ao irmão nos caminhos da vida; é o elo que une Deus aos homens porque abre o nosso coração à experiência de sermos amados por Ele mesmo nos limites das nossas fragilidades (cf. Misericordiae vultus nº 2; 10). Em todo o tempo e lugar o homem está sob o olhar de Deus rico em misericórdia, que nos visita^4 e que Jesus nos revela como Pai. A presente dissertação se estrutura e desenvolve em três etapas: No primeiro capítulo apresentaremos algumas propostas de tradução e uma breve análise exegético-teológica de Lc 7,11-17, procurando compreender melhor o significado dos termos utilizados no texto em si, e o seu enquadramento literal mais próximo, dentro do Evangelho lucano. No seguimento da exegse deste capítulo, apresentaremos algumas variantes que o aparato crítico de Nestle-Aland nos apresenta para esta perícope, analisando as que têm mais potencial exegético, seguida de uma análise morfo-sintática e comentário exegético da perícope. No segundo capítulo faremos um estudo mais aprofundado do verbo σπλαγχνίζομαι, dos termos hebraicos a ele associados, no Antigo Testamento, assim como os termos gregos no Novo Testamento, em suas diversas associações, sentidos e ocorrências, para percebermos melhor o sentido com que Lucas nos apresenta a maternal misericórdia^5 de Deus neste episódio. Fazendo um breve percurso pelo terceiro Evangelho, também chamado “Evangelho da (^3) Cf. F. C. ARELLANO, «Misericordia, amor a los pobres, colaboración en la construcción de la casa común», in Isidorianum , 49 (2016) 30-39. (^4) Cf. M. DE LOVINFOSSE, «L´événement visé par la seconde «visite» du Benedictus: d´après le champ sémantique entourant Lc 1,78», in Science et Esprit , 69/3 (2017) 361-379. (^5) Cf. M. GIUSTO, «Eucharistie, révélation suprême de la miséricorde chez saint Augustin», in NRT 138 (2016) 222 -
Misericórdia”, veremos como é que, em Jesus, a misericórdia adquire contornos expressivos através dos seus gestos e palavras. Finalmente no terceiro capítulo, debruçando-nos sobre o episódio de Naim, o seu enquadramento no Evangelho de Lucas, e a sua inserção lucana no contexto identitário da pessoa de Jesus e da questão dos milagres, será apresentado um breve estudo sobre alguns personagens que aparecem neste episódio e o papel de cada um dentro do texto. À luz desta perícope, da sua interpretação teológica e situação atual, procuraremos oferecer algumas propostas de atuação eclesial para os dias de hoje. Os conceitos de compaixão e de misericórdia têm significados similares que se entrecruzam. A misericórdia é uma atitude compassiva do nosso coração que se debruça sobre a miséria, e nos leva a agir, ou seja, é o próprio Deus que vem socorrer a nossa fragilidade. Na abordagem breve de alguns testemunhos da Escritura, tanto do AT como do NT, veremos em que consiste, realmente, a misericórdia de Deus. O testemunho da Escritura mostra que Deus sai sempre ao encontro dos seus filhos, mostrando o seu rosto e suas entranhas de misericórdia de diversos modos^6. É nossa intenção, à luz do episódio da viúva de Naim e de outras passagens evangélicas, ir fazendo aproximações sucessivas ao sentido profundo da misericórdia revelada por Jesus. (^6) Cf. P. C. MORALES, «Como voestro Padre es misericordioso. La misericordia en el Evangelio de Lucas », in Isidorianum , 50 (2016) 287-289.
13 καὶ ἰδὼν αὐτὴν ὁ κύριος ἐσπλαγχνίσθη ἐπ’ αὐτῇ καὶ εἶπεν αὐτῇ· μὴ κλαῖε. 14 καὶ προσελθὼν ἥψατο τῆς σοροῦ, οἱ δὲ βαστάζοντες ἔστησαν, καὶ εἶπεν· νεανίσκε, σοὶ λέγω, ἐγέρθητι. 15 καὶ ἀνεκάθισεν ὁ νεκρὸς καὶ ἤρξατο λαλεῖν, καὶ ἔδωκεν αὐτὸν τῇ μητρὶ αὐτοῦ. 16 ἔλαβεν δὲ φόβος πάντας καὶ ἐδόξαζον τὸν θεὸν λέγοντες ὅτι προφήτης μέγας ἠγέρθη ἐν ἡμῖν καὶ ὅτι ἐπεσκέψατο ὁ θεὸς τὸν λαὸν αὐτοῦ. 17 καὶ ἐξῆλθεν ὁ λόγος οὗτος ἐν ὅλῃ τῇ Ἰουδαίᾳ περὶ αὐτοῦ καὶ πάσῃ τῇ περιχώρῳ. 13 Ao vê-la, o Senhor compadeceu-se profundamente dela e disse-lhe: “Não chores”. 14 E, aproximando-se, tocou no caixão. Os que o transportavam pararam e Ele disse: “Jovem, Eu te digo: levanta-te!” 15 E o morto sentou-se, e começou a falar e Jesus^8 entregou-o à sua mãe^9. 16 O medo apoderou-se de todos, e glorificaram a Deus, dizendo: “Um grande profeta surgiu entre nós!”, e: “Deus visitou o seu povo!”. 17 Esta notícia acerca dele espalhou-se na Judeia inteira e por todos os arredores.
2. Variantes textuais (Crítica textual) Apresentam-se seguidamente variantes a partir do aparato crítico de Nestle-Aland, complementadas com outros estudos realizados. Para esta perícope (Lc 7,11-17), são apresentadas ao todo 14 variantes que nos parecem ser as mais relevantes, das quais vamos analisar aquelas que mais podem interferir no trabalho de tradução e condicionar a sua interpretação. Das variantes textuais que são apresentadas por Nestle-Aland^10 , duas delas consideram-se particularmente pelo seu forte potencial exegético: nos versículos 11 ( Καὶ ἐγένετο ἐν τῷ ) e em 13 (o termo κύριος ). (^8) “Jesus” é acrescento da tradução. (^9) A evocação do milagre de Elias (1Rs 17,23) é aqui ainda mais clara. (^10) Cf. Eb. NESTLE – Er. NESTLE, Er - B. ALAND, K. ALAND, (Ed.) Novum Testamentum Graece. 27ª ed., Deutsche Bibelgetellschaft, Stuttgart, 1995, 176.
Esta perícope encontra-se em muitos manuscritos que incluem o conteúdo lucano, embora os lecionários e os Padres da Igreja a omitam, o que pode indiciar que a Igreja dos primeiros séculos a desconheceu. Muitos estudiosos põem a hipótese de que tal aconteceu por esta perícope estar bastante corrompida no Códice de Beza Cantabrigiensis e nos cursivos, nas famílias 1 e 13, que contêm um maior número de variantes que não encontram suporte^11 na documentação mais qualificada. A tabela que segue apresenta, de forma resumida, as variantes que Nestle-Aland, no seu aparato crítico, propõe acerca desta perícope, com as diferenças entre os manuscritos^12. Texto grego (Lc 7,11-17) Ver. Variantes^13 Καὶ ἐγένετο ἐν τῷ ἑξῆς 11 ἐγένετο ἐν τῷ é substituído por:
καὶ ὅτι ἐπεσκέψατο ὁ θεὸς τὸν λαὸν αὐτοῦ.
2.1. Análise das variantes As variantes que aparentam ser mais relevantes encontram-se nos vv. 11 e 13, por isso as vamos analisar com especial atenção. Na tabela anterior apresentava-se, como referimos, uma síntese significativa das variantes propostas no aparato critico de Nestle-Aland. 2.1.1. As variantes do v. Καὶ ἐγένετο ἐν τῷ ἑξῆς ἐπορεύθη εἰς πόλιν καλουμένην Ναῒν καὶ συνεπορεύοντο αὐτῷ οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ καὶ ὄχλος πολύς. a) Ἐν τῷ ἑξῆς Qualquer das versões apresentam formas sintáticas aceitáveis, embora com algumas diferenças^14. Os manuscritos D e W apresentam uma alteração estilística, sendo que Lucas em outras ocasiões não utiliza o prefixo ἐν na expressão τῷ ἑξῆς ), como podemos verificar: