Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Metáforas e Metonímias: Perspectivas Atuais por Paulo Roberto Gonçalves, Notas de aula de Lógica

Uma análise sobre as metáforas e metonímias, conceitos importantes na linguística cognitiva. O autor, paulo roberto gonçalves, discute as perspectivas atuais destes fenômenos linguísticos, baseado em obras de lakoff & johnson e lakoff. O texto aborda a natureza da metáfora e metonímia, suas interações, esquemas imagéticos e suas relações com o domínio-fonte e domínio-alvo.

O que você vai aprender

  • Quais são as principais obras que abordam as metáforas e metonímias?
  • Qual é a diferença entre metáfora e metonímia?
  • Como as metáforas e metonímias influenciam a nossa compreensão do mundo?
  • Quais são as interações entre metáfora e metonímia?
  • Quais são os esquemas imagéticos e suas relações com as metáforas e metonímias?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Adriana_10
Adriana_10 🇧🇷

4.5

(197)

226 documentos

1 / 26

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Metáfora e Metonímia:
perspectivas atuais
Paulo Roberto
Gonçalves Segundo
(USP)
Metáfora e Metonímia:
perspectivas atuais
Sintaxe do Português II
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP)
1º Semestre de 2016
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Metáforas e Metonímias: Perspectivas Atuais por Paulo Roberto Gonçalves e outras Notas de aula em PDF para Lógica, somente na Docsity!

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Metáfora e Metonímia:

perspectivas atuais

Sintaxe do Português II Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP) 1º Semestre de 2016

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

  1. O pontapé inicial da TMC foi o livro Metaphors we live by, de Lakoff & Johnson, em 1980. Outra obra essencial para a abordagem é a Women, Fire and Dangerous Things: What Categories reveal about the mind , escrita por Lakoff ( 1987 ).
  2. Os autores propuseram-se a enfrentar a corrente majoritária daquele momento, que via a metáfora como um recurso figurativo de caráter estilístico, típico de textos literários.
  3. Lakoff & Johnson, a partir de uma análise volumosa de dados linguísticos de diversas campos, buscam mostrar que a metáfora não é apenas um fenômeno de linguagem, mas um fenômeno de cognição que envolve a projeção de correspondências entre diferentes domínios cognitivos – um domínio- fonte, mais concreto e usualmente mais corporificado; e um domínio-alvo, mais abstrato.
  4. A partir dos estudos sobre metáfora, também abarcou-se o fenômeno da metonímia.
  5. Hoje, a TMC, apesar de influente, tem perdido espaço para outras abordagens, como a Teoria dos Espaços Mentais e da Integração Conceptual (MSCI). Entretanto, muitos autores têm trabalhado no sentido de refiná-la, dentre eles Ruíz de Mendoza Ibañez, Grady, Kövecses, Diéz, Vereza, dentre outros.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

II. Sobre a noção de domínio ou modelo cognitivo idealizado Kövecses ( 2010 ) compreende domínio conceptual como qualquer organização coerente de experiência. Lakoff ( 1987 ) propõe a noção de modelo cognitivo idealizado (MCI) para explicar a organização conceptual.

1. MCI são representações mentais relativamente estáveis que abarcam teorias sobre o mundo (Evans & Green, 2006 ). São idealizados , na medida em que: a. consistem em abstrações relativas a uma gama de experiências que reiteradamente vivenciamos, permitindo-nos não só categorizar e raciocinar, como também interpretar situações e reagir de forma mais ou menos adequada. b. não abarcam a representação de cada instância de uma dada experiência. Por conseguinte, não se encaixam perfeitamente a todas as situações e não abrangem toda a complexidade da realidade.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

III. Sobre a noção de Esquema Imagético e Corporeamento

  1. A hipótese do Corporeamento estabelece que a estrutura conceptual é determinada e delimitada, por refração, pela gama e pela natureza das experiências que vivenciamos, a partir das potencialidades dos nossos corpos (não dicotomização entre corpo e mente ). A representação conceptual, por sua vez, é codificada e externalizada pela linguagem por meio da estrutura semântica, organizada em termos específicos e esquemáticos. 2. Esquemas Imagéticos (EI) são, para Grady ( 2005 ), um conjuntos de representações mentais, de caráter multimodal, que atuam como âncoras da cognição, na medida em que emergem de padrões recorrentes de interação e experiência corpórea, o que inclui percepção visual, auditiva, gustativa, olfativa, tátil; sensações internas, como fome ou dor; e movimentação.
  2. Dado seu caráter emergente, a. o conteúdo dos esquemas imagéticos não é inato; o que é inata é a capacidade de gerá-los. b. eles possuem origem pré-conceptual.
  3. Entretanto, EI são conceptuais, consistindo nos elementos fundamentais da estrutura conceptual, uma vez que são os primeiros a emergirem na mente humana. Por estarem tão profundos no sistema cognitivo, EI não podem ser acessados via introspecção consciente.
  4. Como EI são derivados de nossas interações com o mundo, eles são inerentemente significativos e ativam consequências previsíveis.
  5. EI podem possuir estrutura interna e ocorrer em clusters. Exemplo: EI de FORÇA, que inclui EQUILÍBRIO, FORÇA CONTRÁRIA, COMPULSÃO, RESTRIÇÃO, HABILIDADE, BLOQUEIO e ATRAÇÃO (Ferrari, 2011 ; Croft & Cruse, 2004 ).
  6. Grady associa os EI aos domínios-fonte de projeções metafóricas e denomina esquemas de respostas os domínios- alvo dessas projeções. Exemplo: DIFICULDADE É PESO; DIFICULDADE É DUREZA; EXCITAÇÃO É CALOR.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

iii. A máquina de arrecadação de impostos no Brasil faz do governo sócio parasita de todo mundo que trabalha. Fórmula: DOMÍNIO-ALVO É DOMÍNIO-FONTE SOCIEDADE É UM ORGANISMO; INSTITUIÇÕES SÃO PARTES/COMPONENTES DO CORPO; GOVERNO É PARASITA. Análise não exaustiva e focada apenas na metáfora em negrito. Domínio-Fonte Domínio-Alvo Parasita Governo Alvo: Organismo Alvo: Conjunto de Trabalhadores Método de atuação: Infecção Método de atuação: Cobrança de impostos Consequência: Adoecimento Consequência: Empobrecimento

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

IV. Explorando a Metáfora Conceptual a. A TMC assume como foco a abordagem das metáforas convencionalizadas , atribuindo o caráter convencional à importância cognitiva das projeções, uma vez que são ancoradas na experiência humana corporificada. b. Hipótese da Invariância: as projeções metafóricas preservam a estrutura imagética do domínio-fonte; em outros termos, nós raciocinamos sobre o domínio-alvo a partir da imagética da fonte.  Consequência 1 : assimetria entre Domínio-fonte e Domínio-Alvo. Consequência 2 : O Domínio-Fonte não é reconceptualizado por suas correspondências em relação ao domínio-alvo. c. Lakoff & Johnson ( 1980 ) propõem dois tipos de correspondências: i. as ontológicas , que dizem respeito às projeções de um domínio a outro; ii. as epistêmicas , que abarcam as relações possíveis e inferíveis entre os elementos dos domínios, tendo como base o conhecimento enciclopédico. d. Os autores propõem, originalmente, três grandes tipos de metáfora: i. as estruturais; ii. as ontológicas; iii. as orientacionais. e. Deve-se tomar cuidado em diferenciar o domínio conceptual da metáfora de sua expressão linguística.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

IVb. Explorando as Metáforas Ontológicas Metáforas Ontológicas não possuem domínios-fonte com rica estrutura conceptual para a formação e a compreensão de um conceito-alvo. Seu trabalho cognitivo é oferecer estatuto ontológico para alvos abstratos. Exemplos: Eu tenho medo de baratas. EMOÇÃO É OBJETO POSSUÍDO. Ele me levou à loucura. EMOÇÃO É DESTINO ESPACIAL. Ele fez muito exercício ontem. ATIVIDADE É SUBSTÂNCIA/MASSA. A mente dele estava repleta de bobagens. ENTIDADE E CONTEÚDO NÃO FÍSICOS SÃO CONTÊINER E CONTEÚDO FÍSICO. Personificações são também casos típicos de Metáfora Ontológica.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

IVc. Explorando as Metáforas Orientacionais As metáforas orientacionais provêm ainda menos estrutura conceptual da fonte para o alvo. Sua função é dar coerência para um conjunto de conceitos-alvo no nosso sistema conceptual. O nome orientacional deriva de sua ligação comum com orientações espaciais humanas, como cima-baixo, centro- periferia, esquerda-direita, etc. Exemplos: Eu estou em cima dele / A situação está sob controle. CONTROLAR É RELAÇÃO CIMA-BAIXO; SER CONTROLADO É BAIXO-CIMA. Ele tinha caído em depressão, mas já conseguiu se reerguer. DOENTE É BAIXO; SAUDÁVEL É CIMA.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

IVd. Explorando a Metáfora Conceptual – Metáfora Primária Exemplos: 1 ) SIMILARIDADE É PROXIMIDADE  Essas abordagens sobre a linguagem são bem próximas. 2 ) IMPORTÂNCIA É TAMANHO  Amanhã será um grande dia. 3 ) QUANTIDADE É ELEVAÇÃO VERTICAL  Ele tem uma alta capacidade de atenção. 4 ) CAUSAS SÃO FORÇAS; ESTADOS SÃO LUGARES  Aquela pessoa me levou à loucura. 5 ) MUDANÇA É MOVIMENTO  Ele saiu da adolescência agora. 6 ) DESEJO É FOME  Ele está com fome de bola. 7 ) ESTADOS SÃO CONTÊINERES  Eles entraram em coma ontem; não conseguimos sair dessa enrascada. Exemplos : 8 ) TEORIAS E ARGUMENTOS SÃO CONSTRUÇÕES  Aquela teoria não tem fundamento; seu argumento não se sustenta; ele construiu um argumento sólido; toda aquele aparato teórico ruiu.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

V. A Ancoragem da Metáfora A visão cognitivista propõe que as metáforas conceptuais se baseiem em uma variedade de experiências humanas, a destacar: i. correlações experienciais; ii. similaridades estruturais percebidas. i. Correlações experienciais dizem respeito à seguinte noção: se um evento X é acompanhado de um evento Y com frequência, eles estão correlacionados (mas não são similares).  QUANTIDADE É VERTICALIDADE: um monte de; alta capacidade de atenção;  OBJETIVO É DESTINO: usos da preposição para.  RAIVA É CALOR: ele está de cabeça quente; vá esfriar a cabeça; ele está soltando fumacinha pela cabeça.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

VI. A natureza parcial das projeções metafóricas Segundo Kövecses ( 2010 : 96 ), como conceitos (tanto alvos quanto fontes) possuem diversos aspectos, falantes precisam de diversos domínios-fonte para entender os diferentes aspectos dos conceitos- alvo. Assim, denomina-se destaque metafórico ( metaphorical highlighting ) os traços do domínio-alvo que são perfilados pela metáfora, ao passo que se denomina utilização metafórica ( metaphorical utilization ) os aspectos do domínio-fonte que são recrutados para a interpretação metafórica. Deve-se destacar que esse processo sempre implica um ocultamento. Se algum aspecto de um dos domínios é destacado ou utilizado, outros são ocultados. Isso pode ser explorado em termos de análise discursiva. A metáfora PESSOAS SÃO ALIMENTOS é largamente utilizada no país no que tange a um domínio sexual. Exemplo: Aquele cara é delicioso; Que menina gostosa!; Fulano dá uma bela refeição. Contudo, no que tange à relação sexual em si, em geral, é a mulher que ocupa a função de alimento: Fulano comeu ciclana.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

VII. O escopo da metáfora Do mesmo modo que um mesmo domínio-alvo pode ser construído por inúmeros domínios-fonte, PESSOAS SÃO ANIMAIS: Nunca mais jogo com aquele cavalo PESSOAS SÃO ALIMENTOS: Aquele ator é um pão-de-ló PESSOAS SÃO MÁQUINAS: Aquele aluno sempre está desligado um mesmo domínio-fonte pode estruturas vários domínios-alvo TEORIAS SÃO CONSTRUÇÕES: O paradigma gerativista foi construído por Chomsky RELAÇÕES SÃO CONSTRUÇÕES: Quando passamos a enxergar o outro como é - e principalmente nos enxergamos tal qual somos - passamos a construir a base sólida de um amor real [...] SISTEMAS ECONÔMICOS SÃO CONSTRUÇÕES: O Neoliberalismo está em ruínas, se desfazendo Contudo, é possível depreender, em análise horizontais e verticais de dados extensos, um foco principal de significado ( main meaning focus ). Kövecses ( 2010 : 138 ) assim define essa noção: Cada fonte está associada a um foco (ou focos) de significado particulares que é (ou são) projetados para o alvo. O foco de significado é convencionalmente fixo e compartilhado por uma comunidade de fala; é típico de vários casos daquela fonte; e é característico daquela fonte apenas. O alvo herda o foco (ou focos) de significado principal da fonte.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Metonímias Conceptuais

Kövecses ( 2010 : 173 ) De forma análoga às metáforas, metonímias também possuem natureza conceptual e são reveladas por expressões linguísticas. Diferente delas, no entanto, sua principal função parece ser a de prover acesso a uma entidade conceptual, o alvo , por meio de outra, o veículo, em um mesmo domínio ou MCI. Há várias polêmicas acerca da natureza da metonímia e, embora haja ressalvas aqui ou ali, em geral, ela se encontra associada às seguintes características: a. A metonímia tem uma função precipuamente referencial, embora não unicamente. Em geral, ela não é usada, como a metáfora, para compreender um domínio com base em outro. b. A metonímia atua como ponto de referência que permite dirigir a atenção para outra entidade relacionada. Ela está na base da noção langackeriana de zona ativa. c. Metonímias constituem a base de várias metáforas conceptuais, especialmente, das primárias – MAIS É PRA CIMA; RAIVA É CALOR; CAUSAS SÃO FORÇAS. Ruiz de Mendoza ( 2014 : 147 ) a define como uma projeção conceptual interna a um domínio por meio da qual o domínio-alvo é resultado ou de uma expansão ou de uma redução do material conceptual do domínio-fonte. Tal definição aponta para duas grandes categorias de metonímia:

  1. Metonímias fonte-no-alvo (parte de um domínio pelo domínio todo)  Expansão. Acessa-se a parte como ponto de referência para se conceber o todo.
  2. Metonímias alvo-na-fonte (o domínio todo por parte dele)  Redução conceptual. Acessa-se o todo como ponto de referência para se conceber a parte.

Metáfora e Metonímia: perspectivas atuais Gonçalves Segundo (USP)

Metonímias Conceptuais

i. O Haiti tem nos custado muito dinheiro. ii. O 121 está subindo agora. Ruiz de Mendoza ( 2000 ) Intervenção militar Haiti LUGAR POR EVENTO Metonímia Alvo-na-Fonte (target-in-source) : um domínio inteiro é usado para simbolizar um subdomínio. Apartamento 121 Condômino MORADIA PELO MORADOR Metonímia Fonte-no-Alvo (source-in-target) : um subdomínio é utilizado para simbolizar um domínio todo.