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Artigo
originAl COVID-19 no Brasil: evolução da epidemia até a semana
epidemiológica 20 de 2020
doi: 10.5123/S1679-
Resumo
Objetivo: descrever a evolução da COVID-19 no Brasil até a Semana Epidemiológica (SE) 20 de 2020. Métodos: estudo
ecológico baseado em dados e documentos do Ministério da Saúde brasileiro e órgãos internacionais; foram realizadas com-
parações do Brasil com outros países e calculadas taxas de incidência e de mortalidade. Resultados: até o fim da SE 20, no
país havia 233.142 casos, 15.633 óbitos confirmados e 3.240 (58,2%) dos municípios apresentavam pelo menos um caso;
o Brasil estava em uma fase anterior da pandemia quando comparado aos demais países, exceto Rússia e Turquia, em casos
acumulados, e Canadá, em óbitos acumulados; as maiores taxas foram encontradas em Unidades da Federação da Região Norte,
com o Amazonas apresentando as maiores taxas de incidência (4.474,6/1 milhão) e mortalidade (331,8/1 milhão). Conclusão:
o Brasil está entre os países com maiores números de casos e óbitos confirmados, exibindo notáveis diferenças regionais.
Palavras-chave: Infecções por Coronavirus; Pandemias; Vigilância em Saúde Pública; Epidemiologia; Brasil.
COVID-19 en Brasil: evolución de la epidemia hasta la semana epidemiológica 20 de 2020
João Roberto Cavalcante¹ - orcid.org/0000-0003-2070- Augusto César Cardoso-dos-Santos² - orcid.org/0000-0002-1499- João Matheus Bremm² - orcid.org/0000-0002-2150- Andréa de Paula Lobo² - orcid.org/0000-0002-7801- Eduardo Marques Macário² - orcid.org/0000-0002-6383- Wanderson Kleber de Oliveira² - orcid.org/0000-0002-9662- Giovanny Vinícius Araújo de França² - orcid.org/0000-0002-7530-
(^1) Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto Medicina Social, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (^2) Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Brasília, DF, Brasil
Endereço para correspondência: Giovanny Vinícius Araújo de França - Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas, SRTVN 701, Via W5 Norte, Ed. PO700, 6º andar, Brasília, DF, Brasil. CEP: 70719- E-mail: giovanny.franca@saude.gov.br
COVID-19 in Brazil: evolution of the epidemic up until epidemiological week 20 of 2020
COVID-19 no Brasil até a semana Epidemiológica 20 de 2020
Introdução
Em dezembro de 2019, a cidade de Wuhan, localiza-
da na província de Hubei, na China, vivenciou um surto
de pneumonia de causa desconhecida.1-4^ Em janeiro de
2020, pesquisadores chineses identificaram um novo
coronavírus (SARS-CoV-2) como agente etiológico de
uma síndrome respiratória aguda grave, denomina-
da doença do coronavírus 2019, ou simplesmente
COVID-19 (Coronavírus Disease – 2019). 3,
No início do surto, todos os casos estavam rela-
cionados a um mercado de frutos do mar e animais
vivos, também em Wuhan. 5 Nos primeiros 30 dias, a
China registrou 11.821 casos e 259 óbitos. Ainda em
janeiro, a doença foi registrada em outros países da
Ásia, Europa e América do Norte. 6,7^ Em 30 de janeiro
de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) de-
clarou Emergência em Saúde Pública de Importância
Internacional (ESPII). Em um cenário com mais de 110
mil casos distribuídos em 114 países, a OMS decretou
a pandemia no dia 11 de março de 2020.^8
As pessoas com COVID-19 podem apresentar tosse,
dificuldade para respirar, dores de garganta, febre e
outras manifestações clínicas. Há ainda os portadores
assintomáticos, os quais possuem importância epide-
miológica, dado que são potenciais transmissores. 9 O
SARS-CoV-2 apresenta o número básico de reprodução
(R0) alto quando comparado a outros coronavírus,
chegando a 6,49 na província de Hubei.^10
A experiência da China mostrou que intervenções
não farmacológicas, que incluem diversas formas de
distanciamento social, desde o isolamento de casos
e contatos, até o bloqueio total (lockdown) , podem
conter a epidemia.^11 No entanto, a aplicabilidade dessas
estratégias se dá de diferentes formas entre os diver-
sos países. As dificuldades na adoção dessas medidas
podem ajudar a explicar o registro, no mundo, no dia
16 de maio de 2020, de 4.425.485 casos de COVID-19,
com 302.059 óbitos, sendo as Américas o continente
mais atingido, seguido da Europa.^12
No Brasil, os primeiros casos foram confirmados no
mês de fevereiro, e diversas ações foram implementa-
das a fim de conter e de mitigar o avanço da doença.
Em 3 de fevereiro de 2020, o país declarou Emergência
de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), 13
antes mesmo da confirmação do primeiro caso. A
consolidação dos dados sobre casos e óbitos por
COVID-19, coletados e disponibilizados pelas Secreta-
rias Estaduais de Saúde, vem sendo realizada desde o
início da pandemia pelo Ministério da Saúde brasileiro.
Isso permite o conhecimento da dinâmica da doença
no país e, consequentemente, o estabelecimento de
políticas para desacelerar o incremento no número
de casos.
Este estudo objetivou descrever a evolução da
COVID-19 no Brasil até a semana epidemiológica (SE)
20. Tal evolução foi comparada entre os dez países
com maior número de casos da COVID-19 notificados
até esta semana, bem como entre as Unidades da
Federação (UFs).
Métodos
Trata-se de um estudo ecológico descritivo, cujas
unidades de análise foram o Brasil, suas macrorre-
giões e UFs, assim como os demais nove países que
apresentaram maior número de casos confirmados
(Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, Espanha, Itália,
Alemanha, Turquia, França e Irã) e nove países que
apresentaram maiores números de óbitos confirmados
(Estados Unidos, Reino Unido, Itália, França, Espanha,
Bélgica, Alemanha, Irã e Canadá) de COVID-19 até 16
de maio de 2020, o último dia da SE 20.
O Brasil possui 5.570 municípios divididos em 27
UFs, as quais são agrupadas em cinco macrorregiões
geográficas (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e
Sul), que possuem características sociodemográficas
e de saúde bem distintas entre si.14,
Para a situação epidemiológica, considerou-se o
período entre 26 de fevereiro, data da confirmação do
primeiro caso no país, e 16 de maio de 2020 (data de
extração dos dados). Foram utilizados os dados de casos
e óbitos confirmados pela doença, por local de residência
e agregados por país, macrorregião geográfica e UFs do
Brasil, disponibilizados pelo Painel COVID-19 do Ministério
No Brasil, os primeiros casos foram
confirmados no mês de fevereiro, e
diversas ações foram implementadas a
fim de conter e de mitigar o avanço da
doença. Em 3 de fevereiro de 2020, o país
declarou Emergência de Saúde Pública
de Importância Nacional (ESPIN), antes
mesmo da confirmação do primeiro caso.
COVID-19 no Brasil até a semana Epidemiológica 20 de 2020
A.
B.
Figura 1 – Número de casos acumulados a partir do 50° caso confirmado (A) e óbitos acumulados a partir do 50°
óbito confirmado (B) por COVID-19, nos dez países com maior número de casos e óbitos até 16 de maio de
0
200000
400000
600000
800000
1000000
1200000
1400000
1600000
D1 D7 D13 D19 D25 D31 D37 D43 D49 D55 D61 D67 D73 D
Total de casos
Dias após o 50°caso
Estados Unidos Rússia Reino Unido Brasil Espanha Itália Alemanha Turquia França Irã
Estados Unidos Dia: 82
Rússia Dia: 63
Reino Unido Brasil^ Dia: 74 Dia: 66 (^) Espanha Dia: 78 Itália Dia: 84 França Dia: 78
Alemanha Turquia Dia: 78 Dia: 60
Irã Dia: 82
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
90000
100000
D1 D7 D13 D19 D25 D31 D37 D43 D49 D55 D61 D67 D
Total de óbitos
Dias após o 50°óbito
Estados Unidos Reino Unido Itália França Espanha Brasil Bélgica Alemanha Irã Canadá
Estados Unidos Dia: 65
Bélgica Dia: 56
Brasil Dia: 54
Espanha Dia: 66
França Dia: 67
Alemanha Dia: 58
Itália Dia: 77
Irã Dia: 78
Reino Unido Dia: 63
Canadá Dia: 50
0
200000
400000
600000
800000
1000000
1200000
1400000
1600000
D1 D7 D13 D19 D25 D31 D37 D43 D49 D55 D61 D67 D73 D
Total de casos
Dias após o 50°caso
Estados Unidos Rússia Reino Unido Brasil Espanha Itália Alemanha Turquia França Irã
Estados Unidos Dia: 82
Rússia Dia: 63
Reino Unido Brasil^ Dia: 74 Dia: 66 Espanha Dia: 78 Itália Dia: 84 França Dia: 78
Alemanha Turquia Dia: 78 Dia: 60
Irã Dia: 82
0
10000
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40000
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D1 D7 D13 D19 D25 D31 D37 D43 D49 D55 D61 D67 D
Total de óbitos
Dias após o 50°óbito
Estados Unidos Reino Unido Itália França Espanha Brasil Bélgica Alemanha Irã Canadá
Estados Unidos Dia: 65
Bélgica Dia: 56
Brasil Dia: 54
Espanha Dia: 66
França Dia: 67
Alemanha Dia: 58
Itália Dia: 77
Irã Dia: 78
Reino Unido Dia: 63
Canadá Dia: 50
Giovanny Vinícius Araújo de França e colaboradores
aos demais países, exceto Rússia (dia 63) e Turquia
(dia 60). Em relação às curvas de óbitos acumulados
por dia após o 50° óbito, observa-se que o Brasil (dia
54) também está em uma fase anterior da pandemia
quando comparado aos demais países, exceto Canadá
(dia 50). Em ambos os gráficos, as curvas do Brasil se
comportam de forma diferente, exibindo aumentos
de casos e óbitos em fases diferentes da curva, em
comparação com os demais países (Figuras 1A e 1B).
No dia 26 de fevereiro, foi confirmado o primeiro
caso importado no Brasil, no estado de São Paulo: um
brasileiro do sexo masculino com 61 anos de idade,
vindo da Itália. No dia 22 de março, 25 dias após a
confirmação do primeiro caso da COVID-19 no Brasil,
todas as UFs já haviam notificado casos da doença. Pas-
sados 56 dias do milésimo registro, o número de casos
aumentou mais de 200 vezes, atingindo 233.142 casos
no final da SE 20. O primeiro óbito foi registrado no dia
17 de março, 20 dias após a confirmação do primeiro
caso, também no estado de São Paulo, e mais uma vez
se tratava de um homem idoso, com o diferencial de
que não havia realizado viagem internacional. O estado
do Tocantins foi o último a registrar sua primeira morte
pela doença, 29 dias após a confirmação do primeiro
óbito. Em 20 de março, o país decretou transmissão
comunitária em todo o território nacional (Figura 2).
Ao final da SE 20, o Brasil registrou 233.142 casos
e 15.633 óbitos. A região Norte apresentou as maiores
taxas de incidência (2.358,3/1 milhão) e mortalidade
(156,6/1 milhão). A taxa de incidência da região Norte
ultrapassou a da região Sudeste após a SE 16 (Figura
3A). Além dela, a região Nordeste encerrou a 20ª SE
com taxa de incidência acima da nacional. A região
Norte também apresentou as maiores taxas de mor-
talidade desde a 18ª SE, seguida das regiões Sudeste
e Nordeste, as quais apresentaram taxas superiores à
nacional (Figura 3B).
Entre as UFs, o Amazonas apresentou a maior taxa
de incidência (4.747,6/1 milhão), seguido de Amapá
(4.533,4/1 milhão) e Roraima (2.816,3/1 milhão). O
Amazonas também apresentou a maior taxa de mor-
talidade (331,8/1 milhão), seguido do Ceará (176,7/
milhão) e de Pernambuco (152,9/1 milhão). São Paulo,
embora tenha o maior número absoluto de casos e
óbitos confirmados, apresentou a 12a^ maior taxa de
incidência (1.332,4/1 milhão) e a 7ª maior taxa de
mortalidade (102,1/1 milhão) (Tabela 1).
Ao final da 20ª SE, 3.240 municípios (58,2% do total
de municípios brasileiros) apresentaram pelo menos
um caso confirmado de COVID-19, sendo que a região
Norte apresentou o maior percentual de municípios
afetados (75,1% dos 450 municípios da região). Entre
as UFs, os maiores percentuais foram registrados no
Amazonas (96,8% dos 60 municípios), Rio de Janeiro
(96,7% dos 92 municípios) e Pará (95,8% dos 144
municípios). Com relação aos óbitos, 1.216 municípios
(21,8% do total de municípios brasileiros) apresenta-
ram pelo menos um óbito, com o maior percentual
presente na região Norte (39,3% dos 450 municípios).
Os maiores percentuais entre as UFs foram registrados
por Amapá (75%), Amazonas (71%) e Rio de Janeiro
(63%) (Tabela 1).
Ao compararmos as curvas das UFs brasileiras com
maior número de casos acumulados após o 50° caso,
observou-se que Amazonas (dia 53), Pernambuco
(dia 51), Espírito Santo (dia 50), Maranhão (dia 46)
e Pará (dia 44) estavam em uma fase da epidemia
anterior quando comparados com os estados de São
Paulo (dia 65), Rio de Janeiro (dia 59), Ceará (dia 58),
Santa Catarina (dia 57) e Bahia (dia 55). Em relação
às curvas de óbitos acumulados por dia após o 50°
óbito, observa-se que Maranhão (dia 27), Bahia (dia
25), Pará (dia 24), Espírito Santo (dia 21) e Alagoas
(dia 16) encontravam-se em uma fase anterior quando
comparados com os estados de São Paulo (dia 53), Rio
de Janeiro (dia 43), Ceará (dia 38), Pernambuco (dia
38) e Amazonas (dia 37) (Figuras 4A e 4B).
Discussão
Até a SE 20 de 2020, o Brasil se encontrava em uma
etapa anterior no curso da epidemia da COVID-19,
quando comparado aos demais países que apresen-
tavam os maiores números de casos confirmados da
doença. As medidas de mitigação serão decisivas para
que o país tenha uma evolução favorável da situação
epidemiológica, com desaceleração no incremento de
casos e óbitos.
Embora o Brasil tenha sido o primeiro país da
América do Sul a apresentar um caso confirmado de
COVID-19, este ocorreu várias semanas após a maio-
ria dos países do hemisfério Norte. 4,7,12^ Por exemplo,
considerando os dias a partir do 50° caso confirmado
ou óbito de cada país, o Brasil está 16 dias atrás dos
Giovanny Vinícius Araújo de França e colaboradores
Figura 3 – Taxas de incidência (A) e de mortalidade (B) por COVID-19 entre as semanas epidemiológicas 9 e 20
de 2020, Brasil e macrorregiões
continua
Tabela 1 – Indicadores da COVID-19, Brasil, macrorregiões e Unidades da Federação, até a Semana
Epidemiológica 20 de 2020
Região/Unidade da Federação Casos N^
Óbitos N
Taxa de incidên- cia a
Taxa de mortali- dade a
Número de dias após o pri- meiro caso
Número de dias após o pri- meiro óbito
Total de municí- pios N
Municípios com casos confirmados
Municípios com óbitos confirmados
N % N %
Norte 43.466 2.886 2.358,3 156,6 63 53 450 338 75,1 177 39,
Rondônia 1.919 69 1.079,8 38,8 58 47 52 34 65,4 9 17,
Acre 1.867 59 2.116,9 66,9 59 40 22 19 86,4 5 22,
Amazonas 19.677 1.375 4.747,6 331,8 63 53 62 60 96,8 44 71,
Roraima 1.706 49 2.816,3 80,9 56 43 15 15 100,0 6 40,
Pará 13.184 1.199 1.532,5 139,4 59 46 144 138 95,8 86 59,
Amapá 3.834 108 4.533,4 127,7 58 43 16 16 100,0 12 75,
Tocantins 1.279 27 813,2 17,2 59 32 139 56 40,3 15 10,
0,
500,
1000,
1500,
2000,
2500,
9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 1 6 1 7 1 8 1 9 2 0
Coeficiente de incidência por 1 milhão de habitantes
Semana Epidemiológica
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
0,
20,
40,
60,
80,
100,
120,
140,
160,
180,
9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 1 6 1 7 1 8 1 9 2 0
Coeficiente de mortalidade por 1 milhão de habitantes
Semana Epidemiológica
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
0,
500,
1000,
1500,
2000,
2500,
9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 1 6 1 7 1 8 1 9 2 0
Coeficiente de incidência por 1 milhão de habitantes
Semana Epidemiológica
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
0,
20,
40,
60,
80,
100,
120,
140,
160,
180,
9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 1 6 1 7 1 8 1 9 2 0
Coeficiente de mortalidade por 1 milhão de habitantes
Semana Epidemiológica
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
A.
B.
COVID-19 no Brasil até a semana Epidemiológica 20 de 2020
continuação
Estados Unidos em relação aos casos e 11 dias em
relação aos óbitos. Essa é uma métrica que tem sido
utilizada para permitir uma comparação mais fidedigna
da situação da pandemia em cada país, considerando-se o
estágio em que cada um se encontra.
O Brasil também tem uma extensão territorial bem
maior que países como Espanha, Itália, França, Alemanha
e Reino Unido, o que dificulta ainda mais as comparações,
pois a dimensão territorial tem influência direta sobre a
dispersão da doença. Somente no dia 22 de março, quase
um mês após a primeira confirmação no estado de São
Paulo, Roraima confirmou seu primeiro caso de COVID-19,
sendo o último estado brasileiro a confirmar a circulação
do SARS-CoV-2.
Nordeste 78.069 4.521 1.367,9 79,2 72 53 1.794 1.223 68,2 476 26,
Maranhão 11.592 524 1.638,4 74,1 57 48 217 183 84,3 49 22,
Piauí 2.085 65 637,0 19,9 58 50 224 105 46,9 28 12,
Ceará 23.795 1.614 2.605,7 176,7 61 52 184 175 95,1 109 59, Rio Grande do Norte 3.004^136 856,6^ 38,8^65 49 167 110 65,9^35 21, Paraíba 4.063 183 1.011,2 45,5 59 46 223 135 60,5 35 15,
Pernambuco 18.488 1.461 1.934,5 152,9 66 53 185 161 87,0 109 58,
Alagoas 3.593 199 1.076,6 59,6 70 47 102 82 80,4 39 38,
Sergipe 3.135 53 1.363,8 23,1 63 45 75 63 84,0 25 33,
Bahia 8.314 286 559,0 19,2 72 49 417 209 50,1 47 11,
Sudeste 93.853 7.723 1.062,0 87,4 81 61 1.668 936 56,1 372 22,
Minas Gerais 4.474 150 211,3 7,1 70 48 853 317 37,2 71 8,
Espírito Santo 6.595 271 1.641,1 67,4 72 45 78 70 89,7 31 39,
Rio de Janeiro 21.601 2.614 1.251,1 151,4 73 59 92 89 96,7 58 63,
São Paulo 61.183 4.688 1.332,4 102,1 81 61 645 460 71,3 212 32,
Sul 10.615 336 354,1 11,2 68 53 1.191 566 47,5 142 11,
Paraná 2.242 123 196,1 10,8 66 51 399 176 44,1 46 11,
Santa Catarina 4.678 81 652,9 11,3 65 52 295 167 56,6 40 13,
Rio Grande do Sul 3.695 132 324,8 11,6 68 53 497 223 44,9 56 11,
Centro-Oeste 7.139 167 438,1 10,2 71 52 467 177 37,9 49 10,
Mato Grosso do Sul 508 15 182,8 5,4 62 47 79 36 45,6 7 8,
Mato Grosso 851 27 244,2 7,7 58 44 141 58 41,1 14 9,
Goiás 1.640 69 233,7 9,8 65 52 246 82 33,3 27 11,
Distrito Federal 4.140 56 1.373,0 18,6 71 49 1 1 100,0 1 100,
Brasil 233.142 15.633 1.109,4 74,4 81 61 5.570 3.240 58,2 1.216 21,
a) Taxas por 1 milhão de habitantes, calculadas considerando-se a projeção do Tribunal de Contas da União (TCU), 2019.
Tabela 1 – Indicadores da COVID-19, Brasil, macrorregiões e Unidades da Federação, até a Semana
Epidemiológica 20 de 2020
Região/Unidade da Federação Casos N^
Óbitos N
Taxa de incidên- cia a
Taxa de mortali- dade a
Número de dias após o pri- meiro caso
Número de dias após o pri- meiro óbito
Total de municí- pios N
Municípios com casos confirmados
Municípios com óbitos confirmados
N % N %
COVID-19 no Brasil até a semana Epidemiológica 20 de 2020
O maior número absoluto de casos confirmados foi
concentrado na região Sudeste, contudo a região Norte
do país apresentou a maior taxa de incidência da doen-
ça até a SE 20. Nesta região, houve registros de diversos
empecilhos de adesão, por parte da população, para o
isolamento social recomendado pelas autoridades de
saúde. 22 Outro motivo que pode explicar esse resul-
tado é que a rede hospitalar da região Norte é menor
quando comparada com as das outras regiões do país,
possuindo o menor número de leitos, que em longo
prazo é incapaz de responder à demanda, tanto no setor
público quanto no privado.^23 O estado do Amazonas,
que apresentou as maiores taxas de incidência e de
mortalidade, reportou colapso no sistema de saúde e
crise no sistema funerário.24,
Em relação ao percentual de municípios com
casos de COVID-19 em cada UF, chama atenção o es-
tado do Rio de Janeiro, com 89 dos 92 municípios do
estado afetados. Trata-se de um estado com extensão
territorial pequena, com extensa malha rodoviária
e grande circulação de pessoas, o que permite que
uma expressiva quantidade de indivíduos atravesse
o estado em poucas horas. Essa elevada dispersão de
pessoas levou as autoridades de saúde a adotarem
medidas mais restritivas, impedindo a circulação
de indivíduos entre os municípios e em 11 bairros
da capital. 26,
As curvas de casos e óbitos das dez UFs com os
maiores números de casos, a partir do 50° caso ou
50° óbito, mostram que o estado de São Paulo se
encontra em um estágio mais avançado da epidemia
se comparado às demais UFs. É importante que se-
jam avaliados os efeitos das medidas aplicadas pelo
estado no combate à epidemia, considerando-se que
essa experiência acumulada pode balizar decisões
a serem tomadas pelas demais UFs, sem deixar de
considerar, contudo, que o efeito de medidas to-
madas tem relação direta com características dessa
localidade. Informações como a estrutura etária da
população, o percentual de pessoas em situação de
vulnerabilidade, a mobilidade da população e o aces-
so aos serviços de saúde são fatores que devem ser
levados em conta para a tomada de decisões locais.
Algumas limitações devem ser consideradas na
interpretação dos dados apresentados neste estudo.
A subnotificação de casos e óbitos, tanto no mundo,
quanto no Brasil, implica subestimativa dos indica-
dores calculados. Na maioria dos países, como no
Brasil, ainda não foi possível estimar a magnitude da
subnotificação e o seu impacto sobre as estimativas
apresentadas. Contudo, há uma série de iniciativas
em curso no país para modelar essa subnotificação,
com base em premissas bastante robustas. Além
disso, espera-se que estudos de soroprevalência
que estão em curso no Brasil possam fornecer es-
timativas confiáveis da população já infectada pelo
SARS-CoV-2.
As mudanças na definição de caso para notificação
e confirmação da COVID-19 no Brasil também podem
ter afetado a captação dos casos suspeitos e, consequen-
temente, a classificação final dos casos. Estudos que
permitam conhecer a sensibilidade e a especificidade
dessas definições ao longo do tempo são necessários,
dado que permitiriam uma correção das estimativas
e uma maior compreensão sobre a real situação da
epidemia no país.
As populações de 2019 utilizadas para o cálculo das
taxas são estimativas projetadas a partir dos censos
de 2000 e 2010, e podem sofrer alterações após a
realização do próximo censo. Dado que o Censo De-
mográfico de 2020 foi adiado e que as estimativas da
população referentes ao ano de 2020 ainda não foram
disponibilizadas pelo IBGE, é importante ressaltar
que as taxas de incidência e mortalidade podem estar
superestimadas, considerando-se que se espera um
aumento anual da população residente, devido ao
crescimento populacional.
Não foi possível padronizar as taxas de incidência
e mortalidade, uma vez que a distribuição dos casos
e óbitos por faixa etária e sexo no Brasil não está
disponível publicamente, impossibilitando aplicação
do método direto. Além disso, não se tem uma população
de referência para padronização das taxas indiretamente.
Reforçamos que as taxas de incidência são influenciadas
diretamente pelas estratégias de testagem adotadas em cada
país e UF, enquanto as taxas de mortalidade e de letalidade
até agora disponíveis apresentam variações importantes
entre países. Assim, a adoção de um país como referência,
de forma arbitrária, poderia enviesar as taxas reais e levar a
uma interpretação equivocada das estimativas.
Finalmente, os resultados aqui apresentados mostram
que o Brasil está em uma fase anterior da epidemia quando
comparado aos demais países do mundo, porém com taxas
de incidência e mortalidade altas quando se observam suas
subdivisões macrorregionais e estaduais. Novos estudos
serão necessários para monitorar o comportamento da
Giovanny Vinícius Araújo de França e colaboradores
doença no território nacional em longo prazo, além da cria-
ção e execução de planos emergenciais para municípios que
ainda não registraram casos e óbitos. As características locais,
sociais e demográficas devem ser levadas em consideração
nas estratégias de resposta à epidemia, uma vez que o país
possui uma população grande, distribuída de forma não
homogênea no território, com diferenças culturais e geográ-
ficas que podem influenciar na adesão às intervenções não
farmacológicas, além de ostentar marcantes desigualdades
sociais e no acesso aos serviços de saúde.
Contribuições dos autores
JRC e ACCS contribuíram igualmente em todas as
etapas do estudo. JMB e APL contribuíram na análise e
interpretação dos dados e revisão crítica do manuscrito.
EMM e WKO contribuíram com revisões do manuscrito.
GVAF participou da concepção do estudo e orientou em
todas as etapas de escrita e revisão. Todos os autores
leram e aprovaram a versão final do artigo.
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COVID-19 no Brasil até a semana Epidemiológica 20 de 2020
Abstract
Objective: to describe the evolution of COVID-19 in Brazil
up until epidemiological week 20 of 2020. Methods: this is
an ecological study based on data and official documents
from the Brazilian Ministry of Health and international
organizations; comparisons were made between Brazil
and other countries and incidence and mortality rates
were calculated. Results: by the end of epidemiological
week 20, 233,142 cases, and 15,633 deaths had been
confirmed for Brazil as a whole and 3,240 (58.2%) of the
country’s municipalities had reported at least one case;
Brazil was at an earlier phase of the pandemic when
compared to other countries, except Russia and Turkey,
regarding cumulative cases, and except Canada regarding
cumulative deaths; the highest rates were found in Brazil’s
Northern Region states, where Amazonas state had the
highest incidence rates s(4,474.6/1,000,000) and mortality
rates (331.8/1,000,000). Conclusion: Brazil is one of the
countries with the highest number of confirmed cases and
deaths, with marked regional differences.
Keywords: Coronavirus Infections; Pandemics; Public
Health Surveillance; Epidemiology; Brazil.
Resumen
Objetivos: describir la evolución de COVID-19 en
Brasil hasta la Semana Epidemiológica (SE) 20 de 2020.
Métodos: estudio ecológico basado en datos y documentos
del Ministerio de Salud Brasileño y organismos internacio-
nales; se hicieron comparaciones entre Brasil y otros países
y fueran calculadas las tasas de incidencia y mortalidad.
Resultados: al final de la SE 20, en el país había 233.
casos, 15.633 muertes confirmadas y 3.240 (58.2%) de los
municipios tenían al menos un caso; Brasil se encuentra
en una fase anterior de la pandemia en comparación
con otros países, excepto Rusia y Turquía, para los casos
acumulados y Canadá, en muertes acumuladas; las tasas
más altas se encontraron en las Unidades Federativas
en la Región Norte, con Amazonas con las tasas de
incidencia más altas (4.474.6/1.000.000) y mortalidad
(331.8/1.000.000). Conclusión: Brasil es uno de los países
con el mayor número de casos y muertes, con notables
diferencias regionales.
Palabras clave: Infecciones por Coronavirus; Pande-
mias; Vigilancia en Salud Pública; Epidemiología; Brasil.
Recebido em 03/06/ Aprovado em 01/07/
Editora associada: Luciana Guerra Gallo - - orcid.org/0000-0001-8344-