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A memória da escravidão em são paulo através da lente da etnografia e da arte. Explora como lugares e monumentos podem ser interpretados como 'lugares de memória', revelando histórias silenciadas e promovendo a reflexão sobre o passado e o presente da cidade. O documento destaca a importância da arte como ferramenta de crítica social e de ressignificação da história, utilizando exemplos de artistas e projetos que abordam o tema da escravidão e do racismo.
Tipologia: Teses (TCC)
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais Memória, imagem e esquecimento na cidade de São Paulo: etnografia e arte na evocação dos lugares de escravidão e conflitos silenciados Estágio Pós-Doutoral em Ciências Sociais com concentração na área de Antropologia no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob a supervisão da Prof.ª Dr.ª Maria Celeste Mira Arlete Fonseca de Andrade Pós-Doutorado em Ciências Sociais/Antropologia São Paulo
Agradecimentos A minha mãe, Alzira da Fonseca Andrade, e a meu pai, Areno Cesar de Andrade, minha gratidão e amor eterno. Vocês são a razão do melhor que existe em mim. Meu agradecimento ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. À CAPES pelo apoio integral na concessão da bolsa PNPD nesta pesquisa de estágio pós-doutoral. À Prof.ª Dr.ª Lucia Bógus e à Prof.ª Dr.ª Vera Chaia, minha total gratidão por todo apoio, atenção e confiança. À Prof.ª Dr.ª Josildeth Consorte, minha gratidão pelos importantes ensinamentos que adquiri nos estudos antropológicos e de vida, no decorrer da pesquisa. À Prof.ª Dr.ª Maria Celeste Mira, minha gratidão por aceitar a supervisão na pesquisa. Ao Prof. Dr. José Guilherme Cantor Magnani pelas orientações atenciosas que concedeu no início desta pesquisa. À Prof.ª Dr.ª Sílvia Borelli pelo incentivo ao ingresso na pesquisa de pós-doutorado. A Kátia Cristina da Silva pelo profissionalismo na secretaria do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais e por sua dedicação carinhosa em atender esta pesquisadora nos momentos de aflição e na resolução dos problemas durante todo processo. Ao amigo e colega Luís Felipe Aires Magalhães da PUC-SP, por sua gentileza e apoio com esta pesquisadora e temática da pesquisa.
Apresentação Introdução
‘Dedicada a memória dos africanos e africanas escravizados no Brasil’
2 (^2) Primeira fila da esquerda para direita: imagens da cidade desenhadas em carvão colorido em papel hahnemuhle. Os desenhos foram depois fotografados, digitalizados, impressos e recortadas em formato de kit de mapa turístico. Segunda linha da esquerda para direita: corpos femininos africanos bordados em tecido no contrapondo aos corpos retratados por Agassiz. Bordado do largo e antiga igreja Nossa Senhora da Misericórdia que foi demolida. Bordado da cidade imperial de São Paulo. Na terceira linha da esquerda para a direita: Mapa do bairro da liberdade e região central da cidade impressa em papel couchê tamanho A5. Linha preta colada no trajeto dos lugares percorridos na pesquisa. Foi sobreposto papel vegetal e desenhado com tinta branca no contraponto ao esquecimento e tentativa de apagamento da memória dos povos que habitaram a região como os povos de origem e africanos escravizados. Colagem e tinta no contorno dos mapas misturando cores da África e Brasil em papel hahnemuhle tingido.
Ao caminhar atentamente pelas ruas centrais da cidade – em que os manuais históricos indicam o descobrimento de uma terra, de um lugar que antes já existia e com ele uma grande nação composta por diferentes etnias, guerreiras e livres e de cabelos negros e uma grande população de africanos sequestrados e escravizados implantada pelo invasor neste continente - floresceu uma sensação envolta pela memória, revelando os lugares há muito já esquecidos. O cenário e a atmosfera me levaram a lugares além do somente ver e interpretar. Pude sim imaginar e criar uma cena infinita de feitos e momentos cotidianos. Pensei em velhos nomes, casarões, pessoas e muitos rios e nascentes encobertos pela civilização. Quis apagar o mapa que nos ensinaram e criar o meu próprio. Mapa dos lugares por onde andei, imaginei, desenhei, pintei e inseri meu momento e pertencimento ao tempo e lugar. E assim fiz. Meus passos me levaram a um percurso ao mesmo tempo real e imaginário: ruas, largos e viadutos até a Consolação para lá receber um acalento. Nomes não importam, e sim o tempo que se desloca e se transpõe. São tantos poemas, histórias, momentos que um mapa não sustentaria suas aspirações e inspirações. E, assim como o mapa-múndi de Ptolomeu que possui coordenadas geográficas incorretas e ventos representados por cabeças, o meu também é coordenado por cores, dores, amores, medos, lutas, nascimento, morte e ressurreição embaixo e acima da Terra.^3 (^3) O texto e os desenhos a carvão foram produzidos durante a atividade Entre o Livro e o Lugar, 201 5, programada pelo Centro de Pesquisa e Formação do SESC. Ao final foi organizada pelo CPF uma exposição com a produção de todos os participantes.
dos anéis. Do que fica impresso, temos lembrança e conhecimento e enquanto persiste a imagem; o que se apaga ou não pôde ser impresso, esquecemos e ignoramos. (PLATÃO, 2 00 1, p. 110 ) A explicação de Sócrates nos leva a deduzir que não há como garantir fatos e afirmações, e sim uma variedade de impressões e interpretações. Isso não quer dizer que tudo é relativo, mas sim qual a relação do tempo que estabelecemos com a memória, pois a reinvenção do passado e o processo de construção de identidades e da história estão ligados a ela e, para que possamos compreendê-la, é necessário também reinventar o presente. Em menção à memória na tomada de conhecimento e reinvenção do passado e do presente, é importante salientar que representações e percepções entre tempos e deslocamentos são misturadas e resultam em outras reflexões e redescobertas acolhidas na consciência. Ecléa Bosi nos elucida sobre esse processo em referência a Henri Bergson na citação a seguir: [...] começa-se a atribuir a memória uma função decisiva no processo psicológico total: a memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo “atual” das representações. Pela memória, o passado não só vem à tona das águas presentes, misturando-se com as percepções imediatas, como também empurra, “desloca” estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória aparece como forca subjetiva ao mesmo tempo, profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora. (BRANDÃO, 1998, 297 apud BOSI, 1979) Outro atributo fundamental nas impressões mnêmicas é a linguagem, e aqui não me refiro apenas ao ato da fala em si, mas a todos os atos que dão sentido à memória, ou seja, sensações do e no corpo: cheiro, paladar, medo, felicidade, etc., que muitas vezes não podemos transformar em símbolos verbais. Já a narrativa está intimamente ligada à construção das diversas identidades humanas atravessadas pela temporalidade, em frequente movimento e reinvenção, pois, por fazermos parte da linha do tempo, não somos o mesmo sempre, assim como a história não é. Essa característica da memória, imagem e imaginário está presente em todos os povos e culturas e, nesta pesquisa, a referência são os povos africanos que
foram sequestrados por traficantes e “colonizadores” e trazidos pelo Atlântico para diversos países da América e da Europa a fim de serem escravizados e, nesse cenário etnocida^4 , a memória se transpõe-se como forma de resistência diante do plano exploratório e ‘anticivilizador’ de aniquilar corpos, histórias, afetos, línguas, religiões pelo escravizador. Apesar desse contexto desumanizador, vários povos africanos escravizados resistiram à violência e à exploração mantendo sua cultura, memórias e histórias no registro de suas simbologias e significados pela cidade nos serviços de ferreiros prestados aos escravizadores, como por exemplo o povo Akan da antiga Costa do Ouro - atual Gana - que ao construir portões de ferro inseriam uma variação de símbolos que o colonizador desconhecia. Dentre o conjunto de simbologias do ideograma ‘Adrinkra’ o ‘Sankofa’ é um deles. [...] “Sankofa é um pássaro africano de duas cabeças que, segundo a filosofia do povo Akan, significa “ nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás ”. Em outras palavras, podemos ler como o retorno ao passado para ressignificar o presente. Este símbolo faz parte de um conjunto ideográfico, o adrinkra, que o povo da antiga Costa do Ouro (atual Gana), o povo Akan, concebeu, e que posteriormente, se espalhou pelo Togo, Costa do Marfim e países da África Ocidental. Um dos exemplos mais conhecidos da resistência esculpida em ferro que os colonizadores até então não entendiam o significado daquele símbolo, mas que todos aqueles, vindos do continente africano, o identificavam como uma simbologia de luta, de resistência e de preservação de suas histórias. Estas memórias estão expostas a todo momento nos grandes portões dos bairros, mas principalmente nos portões dos grandes edifícios das capitais do país, que saúdam todos aqueles que descendem desta população escravizada, mas que não é de compreensão da grande população, assim como não era dos colonizadores nos tempos passados. Além de toda arte produzida, esculpida e talhada a mão que levam títulos europeus, mas que todos os contornos e detalhes levam a mão de obra e o traçado de povos africanos. Uma verdadeira desvinculação da arte e do serviço braçal, a negação das potencialidades, sub julgamento dos feitos e a escrita do “vencedor” que renega qualquer memória ao povo escravizado.” (CERQUEIRA, 2016) (^4) [...] Se o termo genocídio remete à ideia de “raça” e à vontade de extermínio de uma minoria racial, o termo etnocídio aponta não para a destruição física dos homens (caso em que se permaneceria na situação genocida), mas para a destruição de sua cultura. O etnocídio, portanto, é a destruição sistemática dos modos de vida e pensamento de povos diferentes daqueles que empreendem essa destruição. Em suma, o genocídio assassina os povos em seu corpo, o etnocídio os mata em seu espírito. (CLASTRES, 2004, p. 83)
humanos, tornando-se fatores identificadores e potencializadores da imagem de todo o produto. [...] A comunicação por meio das vestimentas é de valor essencial para a cultura akan, pois a potencialidade da imagem, por meio dos signos, ... incorpora, preserva e transmite aspectos da história, filosofia e normas socioculturais de seu povo. Identidade cultural não é uma essência fixa, que se mantém imutável em relação à história e à cultura. É sempre construída por meio da memória, fantasia, narrativa e mito. [...] Sankofa, que significa “voltar e apanhar de novo” – seria aprender com o passado, construir sobre as fundações do passado. (CASTRO; MENEZES, 2009, p. 39-40) A importância de conhecer a cultura de um grupo étnico, no caso da pesquisa os oriundos do continente africano como resultado da colonização que marca a história entre Brasil e África é fundamental para que possamos entender suas práticas sociais e culturais tão fortemente presente em nosso cotidiano. A pesquisa busca nesse contexto andar, imaginar, sentir, ler e (re)descobrir os vestígios e rastros que o território apresenta de uma história e memória fundadas num projeto necropolítico, de coisificação étnica e cultural e que ficou esquecida por mais de 300 anos, decorrente de uma ideologia elitista e higienista no anseio utópico de uma cidade limpa no sentido de apagar^5 toda referência e impressão que possa trazer a memória de um lugar “rudimentar”, “atrasado” e ocupado em sua maioria por africanos escravizados, pobres, indigentes, doentes e, anteriormente, por povos de origem, somada às práticas públicas punitivas e de condenação severa aos corpos esfacelados e sepultados em covas rasas. Dessa proposta higienista, o historiador Sidney Chalhoub enfatiza a problemática das ‘classes perigosas’ que ocupavam e ocupam os lugares da cidade na citação a seguir: [...] As classes pobres não passaram a ser vistas como classes perigosas apenas porque poderiam oferecer problemas para a organização do trabalho e a manutenção da ordem pública. Os pobres ofereciam também perigo de contágio. Por um lado, o próprio perigo social representado pelos pobres aparecia no imaginário político brasileiro de fins do século XIX através da metáfora da doença contagiosa: as classes perigosas continuaram a se reproduzir enquanto as crianças pobres permanecessem expostas aos vícios de seus pais. Assim, na própria discussão sobre a repressão à ociosidade, que temos citado, a estratégia de combate ao problema é geralmente apresentada como consistindo em duas etapas: mais imediatamente, cabia reprimir os supostos hábitos de não-trabalho dos (^5) Grifo meu. Memórias não se apagam. A palavra apagar usei como uma tentativa do Estado para que isso viesse a ocorrer.
adultos; a mais longo prazo, era necessário cuidar da educação dos menores (CHALHOUB, 1996 , p. 29). Esse cenário contrário aos interesses da elite representava uma ameaça ao corpo social e, assim se instaura um discurso e projeto ideológico de limpeza e controle social. A historiadora Maria Izilda Matos esclarece sobre esse processo urbano voltado a uma política higienista. [...] Nesse processo, a problemática da cidade foi delineada enquanto questão – a chamada questão urbana- encontrando-se atravessada pelos pressupostos da disciplina e da cidadania, passando a cidade a ser reconhecida como espaço de tensões. A primeira via a focalizar a cidade de São Paulo como uma ‘questão’ foi a higiênico-sanitarista, conjugando o olhar médico com a observação/transformação do engenheiro, junto a uma política de intervenção de um Estado planejador/reformador, que procurou de todas as formas neutralizar o espaço, dar-lhe uma qualidade universal e manipulável, mediante a ‘racionalidade e objetividade’ da ciência, que tem função-chave na sua luta contra o ‘arcaico pela ordem e progresso’, caminhando conjuntamente ao desejo já latente e generalizado de ‘ser moderno’, em que a cidade aparece como sinônimo de progresso em oposição ao campo. Conjuntamente à questão urbana, constrói-se a questão social com o surgimento da pobreza e a identificação do outro – o pobre, o imigrante. (MATOS, 1996, p.133). Aliada às medidas higienistas e disciplinadoras das classes menos favorecidas implantadas a partir da 1ª República, o Estado comunga da visão ideológica das elites e passa a ter papel central de intervenção neste processo que ultrapassa a organização pública em relação aos grupos marginalizados, a fim de apagar qualquer referência e memória dos lugares e práticas do passado secular e totalitário, com o desejo de projetar outra e nova cidade empenhada na crença de um futuro baseado na modernização de propostas urbanísticas inovadoras, como bem descreve a citação do geógrafo Maurício de Almeida Abreu : [...] Esta fé no “país do futuro” tornou-se uma ideologia avassaladora a partir da República, e isto explica por que foram tão bem sucedidas, no século XX, as reformas urbanísticas radicais que tanto transformaram a face de diversas cidades brasileiras. Viabilizadoras desse futuro, essas reformas tiveram grande acolhida entre as elites modernizadoras do país, que jamais hesitaram em enfrentar qualquer apego a antigos valores, a antigas “usanças” urbanas, taxando sempre esse comportamento como um
"O olho vê, a memória revê e a imaginação transvê." Manoel de Barros
[...] os escravos vindos dos baixos do Carmo, da várzea do Tamanduateí, subiam a Tabatinguera. Paravam estatelados na Igrejinha da Boa Morte. Seguiam ao pelourinho, ali no atual Largo Sete de Setembro. Viam o suplício dos seus irmãos de cor e destino. Seguiam, não raras vezes, até o Largo da Forca (atual Liberdade), mais ou menos onde hoje se situa a Igreja dos Enforcados. Nesta paragem balouçavam os corpos inanimados dos escravos condenados à morte certa. Seus irmãos de cor e sorte desciam aos Aflitos. E ali compartilhavam a dor de uma vida sem esperanças. (ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO/REGIÃO EPISCOPAL SÉ) Apesar das dificuldades na manutenção e preservação da arquitetura original desde sua fundação, a Capela Nossa Senhora dos Aflitos resiste sufocada entre imóveis residenciais e comerciais construídos no seu entorno e ainda cumpre sua agenda religiosa semanalmente aos que ali vão fazer suas preces, promessas e, também, rezar para as almas dos aflitos e injustiçados. Além de sua relevância histórica, a Capela preserva e cultiva a memória de Francisco das Chagas^9 , mais conhecido como Chaguinhas , personalidade popular bem conhecida pelos frequentadores. Trata-se do soldado do 1º Batalhão de Caçadores de Santos, que em 23 de junho de 1821 liderou movimento contra a Coroa Imperial devido ao não pagamento dos soldos no decorrer de cinco anos. Esse movimento resultou em sua prisão e sentença de morte por enforcamento. Posteriormente, foi sepultado no Cemitério dos Aflitos no dia 21 de setembro de
1821.^10 Desde então, muitos devotos o consideram um santo popular e pedidos são escritos em pequenos bilhetes de papel inseridos entre os vãos da porta da Capela, além da oferta de faixas, flores e velas em agradecimento pelas graças alcançadas. (^9) “ Em 1827, a Igreja tornou-se popular quando o soldado Francisco das Chagas permaneceu em suas dependências na noite que antecedeu sua morte por enforcamento. Soldado, o negro Chaguinhas, como era conhecido, foi condenado por liberar (sic) rebelião por pagamento de soldo.” (^10) Há várias narrativas que circulam sobre a prisão e enforcamento de Chaguinhas. A mais popular relata que no dia do enforcamento [...] “a corda arrebentou por três vezes. Sob os gritos de liberdade da população, o carrasco então tomou emprestado o laço de couro de um vaqueiro e consumou o suplício. Transformado em velário, a sala da prisão atrai fiéis que batem à porta três vezes pedindo graças. Localizada em local popular do século dezenove, a forca encontrava-se onde se ergue hoje a Praça da Liberdade, onde em frente se encontra a Igreja Santa Cruz dos Enforcados foco de interessante sincretismo religioso.” http://www.preservasp.org.br/04_informativo_capela_aflitos
O enforcamento no período colonial era um “evento” popular, usado como símbolo para reprimir e amedrontar os rebeldes e evitar a fuga dos africanos escravizados. A pena corporal é uma herança europeia e foi introduzida pelo português quando invadiu e colonizou o território, aplicando essa técnica de punição e suplício a determinados grupos sociais a fim de adestrar corpos e mentes daqueles que seriam subjugados. Essa herança punitiva foi utilizada na Europa durante toda a idade média até início de 1800. Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir cita a explicação de “ Jaucourt ” [...] Pena corporal, dolorosa, mais ou menos atroz [...] É um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a crueldade. (FOUCAULT, 1987 , p. 34) O filósofo continua na explicação em relação a pena e suplício. [...] O suplício repousa na arte quantitativa do sofrimento. Mas não é só: esta produção é regulada. O suplício faz correlacionar o tipo de ferimento físico, a qualidade, a intensidade, o tempo dos sofrimentos com a gravidade do crime, a pessoa do criminoso, o nível social de suas vítimas. [...] o suplício faz parte de um ritual. É um elemento na liturgia punitiva, e que obedece a duas exigências. Em relação à vítima, ele deve ser marcante: destina-se , ou pela cicatriz que deixa no corpo, ou pela ostentação de que se acompanha, a tornar infame aquele que é sua vítima; o suplício, mesmo se tem como função <