Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Síntese da Literatura Recente sobre CT&I: Práticas e Tendências Empresariais, Esquemas de Inovação

Uma síntese da literatura recente sobre as atividades de ciência, tecnologia e inovação (ct&i) em empresas brasileiras e norte-americanas. Baseado em estudos de caso e entrevistas com pesquisadores e representantes de empresas, o texto destaca tendências empresariais atuais em estratégia tecnológica, especialmente aqueles relacionados à sua formulação e práticas adotadas. Além disso, oferece informações e orientações gerais para empresas cuja fonte de inovação vem principalmente das atividades de pesquisa e desenvolvimento (p&d).

O que você vai aprender

  • Quais tendências empresariais estão sendo observadas em estratégia tecnológica atualmente?
  • Quais são as melhores práticas/métodos de estratégia tecnológica nas empresas entrevistadas?
  • Como as empresas podem lidar com incertezas tecnológicas em projetos de P&D?
  • Como as empresas brasileiras podem explorar novos mecanismos de prospecção tecnológica?
  • Qual é a importância da participação de cientistas de peso em conselhos científicos nas empresas?

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Copacabana
Copacabana 🇧🇷

4.4

(49)

221 documentos

1 / 86

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
DESTAQUES DA INOVAÇÃO
MELHORES PRÁTICAS
EMPRESARIAIS PARA INOVAR
Brasília, 2016
V
E
R
S
Ã
O
P
R
E
L
I
M
I
N
A
R
V
E
R
S
Ã
O
P
R
E
L
I
M
I
N
A
R
VERSÃO PRELIMINAR
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Síntese da Literatura Recente sobre CT&I: Práticas e Tendências Empresariais e outras Esquemas em PDF para Inovação, somente na Docsity!

DESTAQUES DA INOVAÇÃO

MELHORES PRÁTICAS

EMPRESARIAIS PARA INOVAR

Brasília, 2016 VER SÃOPRE LIM IN AR VE RS ÃO PRE LIMINAR VERSÃO PRELIMINAR

DESTAQUES DA INOVAÇÃO

MELHORES PRÁTICAS

EMPRESARIAIS PARA INOVAR

Brasília, 2016 VER SÃOPRE LIM IN AR VE RS ÃO PRE LIMINAR VERSÃO PRELIMINAR

4 DESTAQUES DA INOVAÇÃO Prospecção e estratégia tecnológica, avaliação de projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e modelos de gestão da inovação podem não ser temas novos, mas certamente adquiriram maior relevância na última década. Essas ferramentas são capazes de organizar o grande volume de dados e informações disponíveis e mobilizar equipes detentoras de conhecimentos específicos, focadas no desenvolvimento e na adaptação de tecnologias e nos métodos de apresentação, análise e gestão de informações. Dessa forma, constituem-se em elementos determinantes para o sucesso de empresas e países no acirrado ambiente competitivo global. Este trabalho procura fazer uma síntese da literatura recente sobre os temas indicados, apontando alguns caminhos para o fortalecimento das atividades de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no País, a partir de estudos de caso e de entrevistas, realizadas com pesquisadores e representantes de empresas no Brasil e nos Estados Unidos. Para tanto, estrutura-se em sete capítulos, além desta introdução. No segundo capítulo, descrevem-se os principais métodos de prospecção tecnológica disponíveis e identificam-se as práticas mais utilizadas pelas empresas entrevistadas (Anexo) nos dois países. No terceiro, apresentam-se algumas importantes tendências empresariais contemporâneas em estra- tégia tecnológica, destacando-se os aspectos relacionados à sua formulação e às práticas adotadas pelas empresas que responderam às questões formuladas nas entrevistas. O quarto capítulo, por sua vez, busca sistematizar conceitos, critérios e métodos de avaliação de projetos de P&D, enquanto o quinto discute as principais tendências da gestão de inovação, trazen- do ambos, mais uma vez, informações extraídas das entrevistas realizadas no Brasil e nos Estados Unidos. Em linha com esses capítulos centrais, que detalham práticas e técnicas de prospecção, estratégias tecnológicas, avaliação de projetos de P&D e gestão da inovação, o sexto capítulo constitui-se em uma seção especial, destinada ao estudo do venture capital. O sétimo capítulo, por fim, indica algu- mas possíveis ações para as empresas brasileiras avançarem no sentido de melhorar seu desempe- nho e o ambiente de inovação no país. Ao longo do documento, sistematizam-se informações acerca da estrutura e das formas de atuação de algumas empresas de referência, que se constituíram em estudos de casos selecionados das estratégias de inovação e melhores práticas identificadas.

1 INTRODUÇÃO

MELHORES PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INOVAR 5 Constituindo-se em rica fonte de consulta para empresas, associações empresariais, governos, ins- tituições públicas, universidades, centros de pesquisa e demais unidades de produção de conheci- mento, este trabalho contribui para o fortalecimento do sistema nacional de CT&I. Em especial, reúne informações e orientações de ordem geral para empresas cuja fonte de inovação vem essencialmente das atividades de P&D e que pretendem: a. conceber estratégias para enfrentar os desafios do planejamento tecnológico; b. estruturar métodos para seleção, priorização e avaliação de projetos de P&D; c. definir critérios claros e transparentes para a tomada de decisões relativas à inovação; d. fortalecer canais de comunicação institucionais e ambientes de diálogo sobre o tema; e. utilizar ferramentas capazes de organizar informações sobre tendências de mercado, ambiente de inovação e oportunidade de negócios (data mining, análise de texto e inteligência artificial, por exemplo); f. criar grupos internos e “antenas tecnológicas” externas, para o monitoramento de mercados, tecnologias, patentes e publicações; g. empreender esforços de internacionalização, associados ao mapeamento de tendências mun- diais e ao intercâmbio de profissionais; h. constituir conselhos científicos e painéis de especialistas, com o objetivo de subsidiar decisões tecnológicas estratégicas; i. investir na criação de fundos de investimento para aquisição de empresas de base tecnológica e startups, com o propósito de viabilizar o acesso a novas tecnologias, reduzindo custos de P&D e diversificando riscos; j. constituir plataformas de gestão de inovação, a partir de parcerias público-privadas, com vistas a sistematizar informações capazes de embasar o processo de decisões; k. participar de programas de capital de risco, para ampliar as possibilidades de investimento em startups de base tecnológica no Brasil; e l. fortalecer articulações com universidades e centros de pesquisa, com o objetivo de desenhar propostas de políticas públicas e sugestões de estratégias empresariais. Embora esses sejam caminhos identificados e testados internacionalmente, o Brasil não tem acom- panhado as novas tendências no ritmo desejado e necessário, apesar do lançamento de programas e ações focadas no fomento à inovação e no desenvolvimento tecnológico na última década. Prospec- tar novas tecnologias, estabelecer estratégicas tecnológicas, avaliar e gerir processos de inovação são esforços que demandam estreita parceria entre os setores público e privado, assim como meto- dologias e modelos adequados para cada uma das finalidades colocadas. De fato, decisões de longo prazo, que envolvem riscos tecnológicos elevados, apresentam maiores níveis de acerto quando respaldadas por análises conjuntas consistentes de governos e empresas. Com a publicação deste trabalho, a MEI pretende contribuir para a disseminação de boas práticas e o avanço da inovação no Brasil.

MELHORES PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INOVAR 7 como Firat, Woon e Madinick (2008), pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), fizeram uma revisão do estado da arte da prospecção tecnológica e mapearam os principais méto- dos utilizados, evidenciando que as empresas precisam desses instrumentos no seu planejamento estratégico, especialmente para priorizar suas atividades de P&D, planejar o desenvolvimento de novos produtos e tomar decisões acerca do licenciamento de tecnologias e da assinatura de acordos de cooperação. Diversos estudos indicam que o setor público também utiliza técnicas de prospecção tecnológica para formar redes de conhecimento e construir consensos na comunidade científica e tecnológica. O Technology Futures Analysis Methods Working Group, do MIT, classifica os métodos de análise sobre o futuro da tecnologia em seis diferentes categorias: a. monitoramento tecnológico; b. inteligência técnica e competitiva; c. previsão tecnológica; d. roadmapping; e. avaliação de impacto; e f. prospec- ção tecnológica (Firat et al., 2008). Embora esses métodos apresentem muitas características em co- mum, a tendência geral é separar os esforços de avaliação dos trabalhos de prospecção tecnológica. Utilizando dados das publicações da Web of Science, Porter (2007) evidenciou que o número de arti- gos publicados sobre a análise do futuro da tecnologia dobrou na segunda metade dos anos 2000, o que demonstra que a discussão acerca do tema tem ganhado relevância.^1 As principais tendências mundiais na área de prospecção tecnológica apontam para a combinação de conhecimento tecnológico específico e métodos quantitativos, capazes de mobilizar um grande conjunto de informação de forma estruturada e sistemática. Baseado em opiniões de pesquisadores com larga experiência na área, Rohrbeck e Gemünden (2011) ressaltaram que as melhores práticas de prospecção tecnológica associam a experiência acadêmica com a aplicação de instrumentos e métodos apropriados, que empregam conhecimentos tecnoló- gicos específicos para lidar com as diversas fontes de informação disponíveis. De fato, a aplicação de métodos quantitativos a informações tecnológicas específicas constitui-se em um grande desafio, conforme argumentam Haegeman et al. (2013) em estudo sobre a prospecção realizada por várias empresas e governos.

2.1 MÉTODOS DE PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA

As empresas que procuram desenvolver atividades de prospecção tecnológica buscam, essencial- mente, encontrar a melhor alocação de recursos para suas atividades de inovação. Os principais mé- todos disponíveis estão indicados no Quadro 1, apresentado a seguir. 1 O autor listou 11 journals com dez ou mais publicações contendo análises sobre o futuro da tecnologia: Technological Forecasting & Social Change; International Journal of Technology Management; Futures; Research Technology Management; American Chemical Soci- ety; Technovation; Journal of Cleaner Production; Journal of Forecasting; R&D Management; Solid State Technology; e Technology Analysis & Strategic Management.

8 DESTAQUES DA INOVAÇÃO Quadro 1: Principais métodos de prospecção tecnológica GRUPO MÉTODOS ESPECÍFICOS Análise de tendência Técnicas de regressão Curvas S Opinião de especialistas Delphi / Web Delphi Painel de especialistas Técnicas de cenários Cenários exploratórios Cenários desejados ou normativos Métodos computacionais e ferramentas analíticas Árvores de relevância e modelos de decisão não estruturados Cientometria, bibliometria, data mining e text mining Análise de patentes Modelos de criatividade Análise morfológica Análise de impacto Brainstorming Focus group Metáforas e analogias Ficção científica Fonte: CNI, com base em Porter et al. (1991); Skumanich e Silbernagel (1997); Coates et al. (2001); Gordon et al. (2003); e Firat, Woon e Madinick (2008). Construído com base em indicações disponíveis na literatura e em práticas empresariais identifica- das, o quadro agrega os métodos específicos em cinco grandes grupos: a. análise de tendência; b. opinião de especialistas; c. cenários; d. métodos computacionais e ferramentas analíticas; e f. mode- los de criatividade.^2 A opção por um determinado método é condicionada pelas especificidades de cada situação e pode levar em conta o tempo disponível para a análise, a amplitude do projeto e as especificidades da tecnologia em questão. Em algumas ocasiões, múltiplas técnicas são adotadas simultaneamente. Em certos casos, combinam-se métodos qualitativos e quantitativos ao longo do processo de prospec- ção tecnológica. Não existe, a priori, um método superior a outro, mas podem-se identificar aqueles que mais se ajustam à realidade da empresa e às especificidades da tecnologia analisada. Para ampa- rar escolhas dessa natureza, serão descritos, a seguir, os grupos e os principais métodos específicos, indicados no Quadro 1. 2 A agregação proposta é ad hoc e possíveis alternativas poderiam ser sugeridas. Uma análise baseada nos trabalhos de Coates et al. (2001) e de Firat, Woon e Madinick (2008), por exemplo, poderia levar à proposição de nove grupos principais: i) análise de tendên- cias; ii) opinião de especialistas; iii) cenários; iv) métodos estatísticos; v) modelagem e simulação; vi) métodos de monitoramento e inteligência; vii) valoração/decisão/métodos econômicos; viii) métodos descritivos e matriciais; e ix) criatividade. A tipologia adota- da, contudo, simplifica a análise das alternativas e contempla, nos métodos específicos, a maior parte do conteúdo de uma tipologia mais detalhada.

10 DESTAQUES DA INOVAÇÃO de especialistas, refinadas em um processo iterativo, até que se alcance consenso interdisciplinar e correspondente à redução do viés individual. As características básicas desse procedimento – como o anonimato dos especialistas, a iteração com feedback controlado e respostas estatísticas do grupo, que reduzem a pressão do participante na direção da conformidade – evitam a dispersão das respostas individuais e facilitam o consenso. Embora não existam fórmulas prontas para a execução do Delphi, verifica-se, na prática, que é essen- cial a estruturação de uma boa amostra de especialistas. A ferramenta Web Delphi tem sido utilizada para prospecção de futuro e é indicada para situações de mudanças estruturais, inexistência de da- dos históricos ou horizontes de tempo muito longos. Por vezes, a análise SWOT (acrônimo em inglês para “forças, fraquezas, ameaças e oportunidades”) tem sido empregada de forma explícita como fer- ramenta básica para identificar as condições dos ambientes externos e internos e auxiliar a seleção dos tópicos a serem examinados no método Delphi. Os painéis de especialistas possuem a vantagem de permitir uma grande interação entre os partici- pantes e de garantir uma representatividade mais equilibrada entre todos os segmentos interessa- dos na prospecção tecnológica: empresas, academia, terceiro setor e governo. Esses procedimentos têm sido amplamente utilizados para identificar tecnologias críticas, pois po- dem ser usados com um conjunto de critérios, por meio dos quais a importância ou a criticidade de uma tecnologia pode ser avaliada. Em muitos casos, a opinião de especialistas também pode ser obtida por meios de surveys, com per- guntas abertas (permitindo ao respondente maior flexibilidade nas respostas), entrevistas pessoais ou em comitês, seminários, conferências e workshops, que reúnam os envolvidos no mesmo lugar ao mesmo tempo.

2.1.3 TÉCNICA DE CENÁRIOS

Outro grupo de procedimentos utilizado na prospecção tecnológica é a técnica de cenários, que consiste, segundo Ringland (2010), em traçar cenários futuros que envolvem a descrição de eventos geralmente múltiplos. Os cenários podem ser classificados como: a. exploratórios, quando buscam analisar possíveis futuros alternativos, com base em tendências passadas e presentes, segundo sua natureza ou probabilidade; e b. desejados ou normativos, quando são a expressão do futuro baseada nas vontades e expectativas. Nos últimos anos, a técnica de cenários tem sido bastante aplicada, sendo geralmente combinada com outros procedimentos. Um exemplo é o trabalho de Steler et al. (2015), que, além de propor um novo procedimento que alia os cenários à bibliometria, mapeia vários trabalhos recentes, que com- binam técnicas nessa mesma direção.

2.1.4 MÉTODOS COMPUTACIONAIS E FERRAMENTAS ANALÍTICAS

Os métodos computacionais e as ferramentas analíticas têm em comum a utilização de softwares como base para modelagem e simulações, apropriando-se de grandes quantidades de dados dispo- níveis de forma eletrônica.

MELHORES PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INOVAR 11 As técnicas de modelagem podem ser definidas como qualquer tipo de prospecção que usa algum tipo de equação para relacionar variáveis, enquanto um modelo é uma representação simplificada da estrutura e dinâmica de alguma parte do mundo real. No conjunto dos métodos computacionais e das ferramentas analíticas, há métodos específicos muito variados, com diferentes formas de apre- sentação, como árvores de relevância e modelos de decisão não estruturados, cientometria, biblio- metria, data mining, text mining e análise de patentes. As árvores de relevância (ou árvores de decisão) são utilizadas para analisar situações em que se po- dem identificar diferentes níveis de complexidade ou hierarquia. Cada nível inferior, sucessivamente, envolve uma distinção ou subdivisões mais elaboradas, de modo que a estrutura hierárquica do de- senvolvimento tecnológico é geralmente identificada nesse procedimento. As probabilidades de alcançar as metas e objetivos nos diferentes níveis de desenvolvimento tecno- lógico devem ser estimadas, podendo ser usadas para prever a probabilidade de alcançar as metas estabelecidas e os objetivos da tecnologia proposta. Modelos de decisão não estruturados, semelhantes à árvore de relevância, também são conhecidos como analytic hierarchy process (AHP). Embora tenham sido usualmente empregados para auxiliar os processos decisórios, esses métodos são utilizados também para fazer prospecção tecnológica e como parte da construção de cenários. Além desses modelos, métodos de impactos cruzados abran- gem uma família de técnicas para avaliar a influência de determinado evento sobre a ocorrência de outros eventos. Modelos estendidos conhecidos como Kane’s Simulation (KSIM) também são utiliza- dos para produzir simulação dinâmica. Uma categoria de procedimentos de prospecção tecnológica que tem adquirido relevância abrange os métodos cientometria, bibliometria, data mining e text mining. Cientometria e bibliometria são princípios que têm como função a contagem de publicações e cita- ções, sendo geralmente utilizadas para medir a produtividade científica e identificar redes de coo- peração em ciência e tecnologia. A cientometria tem como foco encontrar ferramentas que identi- fiquem as áreas da ciência que podem ser exploradas comercialmente. Suas principais ferramentas são derivadas da bibliometria e envolvem medidas relacionadas à publicação de trabalhos científi- cos. Normalmente, o trabalho é feito com base na opinião de especialistas, havendo poucos métodos objetivos ou quantitativos para complementá-lo. Esses princípios são empregados na prospecção tecnológica, em conjunto com sistemas computa- cionais de data e text mining, pois permitem “garimpar” informações estratégicas em grandes bancos de dados. Data mining é o processo voltado para descobrir novas correlações, padrões e tendências significativas, “garimpando” grandes bases de dados e utilizando ferramentas de reconhecimento de padrões, assim como técnicas estatísticas e matemáticas. Essas técnicas geram melhores resultados quando associadas a opiniões de especialistas na interpre- tação dos resultados. Utilizando a combinação de tecnologia da informação (TI), análise estatística, técnicas de modelagem e tecnologia de base de dados, o data mining identifica relações e padrões entre os dados e infere regras que permitem predizer resultados futuros. Dessa forma, tendências tecnológicas podem ser identificadas por meio de processos de minera- ção de dados. Ao tempo em que pode extrair informações importantes de um texto, identificando padrões de interesse, o text mining filtra o conhecimento necessário e dá suporte à identificação de

MELHORES PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INOVAR 13

  • Focus group, que envolve a constituição de um grupo de pessoas para discutir determinado tema, sendo frequentemente usado na área de pesquisa de mercado para identificar, de ma- neira mais qualitativa, a forma como um produto é percebido pelos usuários;
  • Metáforas e analogias, que se baseiam na observação de que padrões de desenvolvimento tecnológico e de adoção pelo mercado de novas tecnologias são similares aos do passado; e
  • Ficção científica, que considera que, algumas vezes, cientistas competentes seriam capazes, intuitivamente, de escrever sobre ou prever um futuro que posteriormente se torna realidade.
2.1.6 ALGUMAS PRECAUÇÕES RECOMENDADAS

O uso dos métodos descritos ao longo desta seção requer certas precauções para evitar falhas asso- ciadas à sua aplicação de maneira incorreta. No conjunto dessas falhas, destacam-se:

  • A extrapolação pura e simples de tendências lineares, vinculadas a curvas de ciclo de vida e métodos de previsão puramente quantitativos;
  • A subestimação das inovações básicas, nos primeiros estágios do desenvolvimento;
  • A superestimação da velocidade das mudanças, ocasionadas por inovações incrementais;
  • A associação entre viabilidade tecnológica e demandas de mercado;
  • O abandono do monitoramento contínuo; e
  • A inclinação em direção à quantificação, nos casos em que a qualificação é insuficiente.

14 DESTAQUES DA INOVAÇÃO

IBM

A área de pesquisa da IBM é composta por cerca de três mil pesquisadores de diversas esferas do conhecimento, trabalhando em doze laboratórios ao redor do mundo, sen- do três nos EUA e um em cada um dos seguintes países: Brasil, Irlanda, Suíça, Quênia, Israel, Índia, China, Japão e Austrália. No que diz respeito à prospecção tecnológica, talvez a empresa seja um dos exemplos mais completos em termos da variedade de atividades desenvolvidas. A habilidade de antecipar tendências tecnológicas e de mercado tem sido um dos principais ati- vos da companhia, o que corrobora, em grande medida, sua capacidade de promover mudanças significativas nos últimos 20 anos, tais como: a. de uma empresa de har- dware para uma empresa de serviços de informação; e b. de produtos individuais para soluções e serviços integrados, entre outros produtos. A excelência em prospecção é um exemplo de boas práticas, construídas para que a companhia pudesse liderar o mercado (MOCKER; KAGAN; ROSS, 2014). Os esforços de prospecção da IBM são sistemáticos, fazendo parte da rotina institucio- nal da empresa. Além do envolvimento de um grande número de funcionários nessas atividades, existem colaboradores especialmente dedicados à prospecção de novas tendências tecnológicas e de mercado, como a equipe responsável pela elaboração do Global Technology Outlook, descrito a seguir, e o grupo do Institute for Business Value, braço de consultoria estratégica, voltado para a análise de tendências e para o apoio às atividades de prospecção realizadas internamente. A IBM também utiliza ferramentas sofisticadas de análise de dados, muitas das quais disponibilizadas no mercado para atender à demanda de clientes em suas atividades de análise e de prospecção. Na verdade, o fato de ser uma empresa especializada em serviços de informação talvez torne a IBM mais propensa a utilizar internamente os seus próprios produtos e ferramentas de análise de tendências e mineração de dados. Outras práticas adotadas são as consultas a especialistas e a prospecção/monitora- mento do ambiente por meio da participação em feiras e congressos e da mobilização de sua rede de relacionamento com universidades, institutos de pesquisa e outras instituições. Entre as atividades, programas e relatórios rotineiros, com a finalidade de prospectar tecnologias e oportunidades de negócios, destacam-se os itens discutidos a seguir.

2.2 PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA EM EMPRESAS NO BRASIL E NOS

ESTADOS UNIDOS

ESTUDO DE CASO I

16 DESTAQUES DA INOVAÇÃO Institute for Business Value (IBV) Em agosto de 2001, a IBM comprou pequena empresa de consultoria estratégica se- diada em Cambridge (EUA). Essa aquisição, agregada às competências internas na análise de impacto das tecnologias sobre os negócios, possibilitou a criação do IBV, consultoria voltada para prospecção e estratégia. Considerando a aplicação de ferra- mentas e metodologias para realizar prospecção tecnológica, pode-se afirmar que as atividades que o IBV realiza têm características afinadas com o que a literatura classifi- ca como as melhores práticas nessa área:

  • Sistematicidade da atividade de prospecção;
  • Equipes internas prioritariamente preocupadas com análise de tendências e prospecção;
  • Consulta a especialistas, por meio de painéis, workshops, fóruns etc.;
  • Uso de ferramentas sofisticadas de análise de dados e de tendências;
  • Monitoramento de informações relativas a patentes e publicações;
  • Participação em feiras, congressos e conferências;
  • Integração de clientes e fornecedores às atividades de prospecção. Há uma vasta fronteira de possibilidades a ser explorada pelas empresas brasileiras, a partir do uso de novos mecanismos de prospecção tecnológica. Trata-se de procedimentos de baixo custo, que apresentam enorme potencial de suporte às estratégias competitivas corporativas. Amplamente utilizados nos Estados Unidos, esses mecanismos têm ajudado as empresas a gerenciar incertezas em relação ao futuro, apoiando suas atividades de planejamento estratégico e gestão tecnológica. Para lidar com as incertezas inerentes ao desenvolvimento de novas tecnologias, é fundamental a aplicação de métodos de prospecção que: a. orientem-se para a resolução de problemas; b. iden- tifiquem os fatores que afetam as soluções indicadas; c. estabeleçam projeções sobre o comporta- mento desses fatores; d. desenhem cenários alternativos; e. identifiquem tendências disruptivas; e f. definam estratégias para os diferentes cenários traçados. Em estudo envolvendo 18 empresas, Backer (2003) mostrou que a prospecção era motivada por ne- cessidades específicas das organizações, que demandavam orientações de longo prazo e ferramen- tas para melhor compreender o mercado e lidar com as incertezas inerentes a sua área de atuação. Sobretudo nos segmentos industriais marcados por longos ciclos de produto e custos de desenvolvi- mento de produtos e processos elevados, o monitoramento das novas tendências tecnológicas e das

MELHORES PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INOVAR 17 áreas científicas relacionadas com essas tecnologias ocupa lugar central no processo de competição, uma vez que o sucesso da estratégia de inovação depende da identificação precoce de mudanças tecnológicas que se iniciam. Do ponto de vista do ambiente externo, as atividades de prospecção se justificam, haja vista que as empresas não desejam ser surpreendidas por situações que alterem de forma negativa sua posição no mercado. Assim, a prospecção tecnológica cumpre o papel de acompanhar tendências e apontar riscos potenciais, aprimorando a compreensão do contexto sociocultural do mercado e da evolução das tecnológicas emergentes. A atividade de prospecção também tem sido útil para orientar estra- tégias de abertura de empresas em outros mercados, facilitando a transferência de tecnologias já dominadas. Como regra geral, a prospecção tecnológica procura: a. oferecer inteligência, provendo informações e alertas sobre o desenvolvimento tecnológico futuro; b. definir cenários e estabelecer diretrizes e estratégias; c. determinar prioridades para as linhas de P&D, bem como estimar o dispêndio corres- pondente de recursos; e d. estimular sinergias no processo de inovação, apontando possibilidades de parcerias. A atividade de prospecção pode ser compartilhada pelos setores público e privado, uma vez que a evolução tecnológica envolve falhas de mercado. Segundo Kozlowski (2004), as primeiras atividades de prospecção foram realizadas pelos governos do Japão e dos Estados Unidos. No início dos anos 2000, pouco mais de duas dezenas de países já utilizavam técnicas de prospecção tecnológica de forma sistemática. Alguns dos cientistas e pesquisadores entrevistados para este trabalho avaliam que o Estado bra- sileiro, ainda que de forma incipiente, tem buscado avançar na área de prospecção tecnológica, na medida em que criou um Conselho de Ciência e Tecnologia vinculado à Presidência de República e organizou as Conferências Nacionais de Ciência e Tecnologia. Nos países que se posicionam na fronteira do desenvolvimento científico e tecnológico, a prospec- ção pública tem desempenhado papel relevante na definição das estratégias tecnológicas das em- presas, direcionando suas decisões de investimentos. O êxito da prospecção tecnológica tem sido vinculado, nesses países, à proximidade do centro de- cisório governamental, a horizontes temporais – não inferiores a dez ou quinze anos – e a procedi- mentos técnicos bem estabelecidos e, por vezes, padronizados. Considerando essas características, é possível afirmar que o governo brasileiro não tem realizado prospecção tecnológica – ao menos da maneira como os países líderes realizam. Assim, tanto na esfera pública quanto na privada – e tam- bém considerando as possiblidades de interação entre ambas – o Brasil tem muito a avançar. O questionário aplicado neste trabalho abrangeu questões relativas aos métodos de prospecção tecnológica utilizados pelas empresas brasileiras, às vantagens e desvantagens do emprego de cada uma dessas metodologias e às bases de dados utilizadas para a prospecção tecnológica. Nos quadros 2, 3 e 4, apresentados a seguir, sistematizam-se os resultados obtidos. Em linhas gerais, os pontos de maior destaque são:

  • De forma geral, as empresas brasileiras entrevistadas não parecem planejar o lançamento de novos produtos e processos em prazo superior a cinco anos. Embora as respostas não necessariamente revelem a inexistência de um planejamento de médio ou longo prazo, o

MELHORES PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INOVAR 19 decisões de inovação e a estratégia global da companhia, muito embora se reconheça que um relativo afastamento do trabalho cotidiano possa impulsionar ambientes mais criativos. A existência de um conselho científico mostra-se eficiente quando sua composição inclui es- pecialistas das áreas científicas que dão suporte à inovação na empresa, sobretudo por evitar efeitos endógenos vinculados às redes de contatos já estabelecidas pela equipe de trabalho interna. Conselhos científicos formados por especialistas não científicos, por outro lado, não aparentam ser as melhores alternativas quando o tema é prospecção tecnológica.

  • No caso das empresas brasileiras, praticamente não se identifica a estratégia de aquisição de firmas no exterior com foco no acesso a tecnologias anteriormente prospectadas. Prati- camente inexiste, também, a perspectiva de formação de corporate ventures. Além disso, ne- nhuma dessas empresas realiza atividade de investimento e formação de fundos de capital de risco, como forma de absorver novas tecnologias planejadas em um processo estruturado de prospecção tecnológica.
  • Os mecanismos disponíveis para a geração de ideias são considerados importantes, e todas as empresas participantes da pesquisa já desenvolveram alguma experiência estruturada nessa direção. No Brasil, a maior parte desses esforços não estava direcionada à prospecção de tec- nologias, mas à identificação da demanda dos consumidores por novos produtos e processos. Diferentes eventos do tipo brainstorms ajudaram as empresas a focar a sua atuação, embora não esteja claro se contribuíram para impulsionar suas capacitações para inovar. Do ponto de vista da prospecção de novas tecnologias, mais importante do que ter ideias é a capacidade de colocá-las em prática.
  • Os esforços de buscar novas ideias em eventos organizados pelas empresas parecem con- trastar com os encaminhamentos posteriores à identificação das sugestões. O tempo e os recursos gastos para a realização desses eventos podem não ser compensados, se a forma de encaminhar internamente as novas ideias não for exaustivamente planejada. Muitas inova- ções deixam de acontecer pela falta de atenção e pelo tratamento inadequado das sugestões apresentadas.
  • As novas ferramentas na internet e os fóruns de discussão on-line são excelentes mecanismos para potencializar os esforços de inovação das empresas, embora possam tornar-se experiên- cias pouco úteis quando não há retorno para aqueles que delas participam. Tais mecanismos quase não são empregados pelas empresas brasileiras entrevistadas, que poderiam conside- rar seu uso como forma de sustentar atividades de inovação.
  • A pesquisa identificou que a inovação aberta é mais um discurso do que uma prática das em- presas entrevistadas. Parte desse problema deriva da trajetória pregressa de crescimento das firmas, que enraizaram aspectos culturais, que tornaram mais difíceis o trato de questões rela- tivas ao direito de propriedade e à divisão de receitas futuras. Mesmo em setores fortemente internacionalizados, as firmas enfrentam dificuldade para estabelecer mecanismos de trocas de conhecimento estruturado no exterior (participação direta da empresa nos principais cen- tros de desenvolvimento tecnológico estrangeiros, por exemplo).
  • Não se identificou o uso sistemático de nenhum método quantitativo com cruzamento de modernas tecnologias de cenário, mineração, bibliometria e analise de patentes nas etapas que antecedem o planejamento estratégico e na gestão dos projetos de P&D das empresas entrevistadas. Mais comum do que a prospecção tecnológica é a prospecção de novos negó-

20 DESTAQUES DA INOVAÇÃO cios, que geralmente fica a cargo de uma unidade específica. Essa unidade, no caso de em- presas que atuam em setores maduros, parece constituir-se em sua grande fonte de inovação.

  • Uma das empresas brasileiras entrevistadas reportou a realização de atividades específicas − em conjunto com outras instituições − para identificar empresas de base tecnológica e startups no Brasil com vistas a futuras parcerias. Embora pouco comuns, identificaram-se casos de aquisição de empresas no exterior, a fim de incorporar tecnologia. Quadro 2: Métodos de prospecção tecnológica nas empresas entrevistadas TIPO DE METODOLOGIA MÉTODO/PRÁTICA^ MUITO UTILIZADO POUCO UTILIZADO NÃO UTILIZADO Opinião de especialistas Consulta informal e não sistemática a pesquisadores X Rede informal de contatos dos profissionais da empresa X Rede formal de pesquisadores externos X Existência de comitê ou conselho científico X Eventos, conferências, feiras etc. X Consulta sistemática a clientes e/ou fornecedores X Vínculo com pesquisadores e universidades no exterior X Intercâmbio de profissionais X Métodos computacionais e ferramentas analíticas Monitoramento e análise de patentes X Monitoramento e análise de publicações científicas X Data mining/Big data X Outros métodos computacionais X Criatividade X Análise de tendências X Cenários X Outras práticas Mapeamento/prospecção de instituições científicas X Mapeamento/prospecção de novos talentos X Contratação de pessoal especializado em prospecção X Grupo ou equipe dentro da empresa responsável por atividades de prospecção X Prospecção de novos negócios e monitoramento da concorrência X Fonte: Entrevistas realizadas com empresas brasileiras e americanas, entre os meses de setembro e novembro de 2015.