Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

mecãnica de fluidos, Notas de estudo de Tecnologia Industrial

tudo sobre fluidos

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 16/05/2010

luiz-henrique-bueno-7
luiz-henrique-bueno-7 🇧🇷

1 documento

1 / 160

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Defini¸oes e Nota¸ao
Atransposta da matriz A, denotada por At, ´e a matriz cujas entradas
ao: (At)ij =Aji,1in, 1jm.
Vetores em IRmao identificados com matrizes coluna m×1.Vetores
ao denotados por letras min´usculas, latinas ou gregas, em negrito,
como por exemplo: ξ= (ξ1, ξ2, ξ3)tou x= (x1, x2, x3)t.Oiesimo
vetor da base canˆonica de IRm´e denotado por ei.
O rotacional, o divergente, o gradiente e o laplaciano ao denotados,
respectivamente por: rot ,div ,e4.
O conjunto dos umeros reais ´e denotado por IR, o dos naturais por
IN, ao passo que IR+denota (0,+) e Z+denota IN {0}.
Osupremo de um subconjunto de IR, denotado por sup X, define-se
como sendo o menor real que seja maior ou igual a todos os elementos
de X. Analogamente, o ´ınfimo de um subconjunto de IR, denotado por
inf X, define-se como sendo o maior real que seja menor ou igual a
todos os elementos de X.
Diz-se que um subconjunto de IRm´e compacto se ele for fechado e
limitado.
Osuporte de uma fun¸ao f´e o fecho do conjunto dos pontos onde ela
´e ao nula.
Cn(Ω) denota o conjunto das fun¸oes definidas em possuindo nde-
rivadas cont´ınuas. Se n= 0,trata-se do conjunto das fun¸oes cont´ı-
nuas. C(Ω) denota o conjunto das fun¸oes definidas em infinit-
amente diferenci´aveis.
BC(Ω) denota o conjunto das fun¸oes limitadas e cont´ınuas em .
vii
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe mecãnica de fluidos e outras Notas de estudo em PDF para Tecnologia Industrial, somente na Docsity!

Defini¸c˜oes e Nota¸c˜ao

  • A transposta da matriz A, denotada por At, ´e a matriz cujas entradas s˜ao: (At)ij = Aji, 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m.
  • Vetores em IRm^ s˜ao identificados com matrizes coluna m × 1. Vetores s˜ao denotados por letras min´usculas, latinas ou gregas, em negrito, como por exemplo: ξ = (ξ 1 , ξ 2 , ξ 3 )t^ ou x = (x 1 , x 2 , x 3 )t. O i-´esimo vetor da base canˆonica de IRm^ ´e denotado por ei.
  • O rotacional, o divergente, o gradiente e o laplaciano s˜ao denotados, respectivamente por: rot , div , ∇ e 4.
  • O conjunto dos n´umeros reais ´e denotado por IR, o dos naturais por IN, ao passo que IR+^ denota (0, +∞) e Z+ denota IN ∪ { 0 }.
  • O supremo de um subconjunto de IR, denotado por sup X, define-se como sendo o menor real que seja maior ou igual a todos os elementos de X. Analogamente, o ´ınfimo de um subconjunto de IR, denotado por inf X, define-se como sendo o maior real que seja menor ou igual a todos os elementos de X.
  • Diz-se que um subconjunto de IRm^ ´e compacto se ele for fechado e limitado.
  • O suporte de uma fun¸c˜ao f ´e o fecho do conjunto dos pontos onde ela ´e n˜ao nula.
  • Cn(Ω) denota o conjunto das fun¸c˜oes definidas em Ω possuindo n de- rivadas cont´ınuas. Se n = 0, trata-se do conjunto das fun¸c˜oes cont´ı- nuas. C∞(Ω) denota o conjunto das fun¸c˜oes definidas em Ω infinit- amente diferenci´aveis.
  • BC(Ω) denota o conjunto das fun¸c˜oes limitadas e cont´ınuas em Ω.

vii

  • Cn 0 denota o conjunto das fun¸c˜oes em Cn^ e de suporte compacto. A- nalogamente, C 0 ∞ (Ω) denota o conjunto das fun¸c˜oes definidas em Ω infinitamente diferenci´aveis e de suporte compacto.
  • O produto interno entre vetores de IRm^ ´e denotado por um ponto: “x · y”. Enquanto que o produto interno entre fun¸c˜oes ´e denotado por (f, g) ; e 〈l, f 〉 denota o valor do funcional linear l calculado na fun- ¸c˜ao f.
  • Sendo (a, b) 3 s 7 → c(s) ∈ IR^3 uma parametriza¸c˜ao local de uma curva, o elemento de comprimento da curva ´e dl = |dc/ds| ds. E sendo (a 1 , b 1 ) × (a 2 , b 2 ) 3 (s 1 , s 2 ) 7 → a(s 1 , s 2 ) ∈ IR^3 , uma parametriza¸c˜ao local de uma superf´ıcie, o elemento de ´area da superf´ıcie ´e dS = |as 1 × as 2 | ds 1 ds 2.

viii

Cap´ıtulo 1

Euler e Navier-Stokes

1.1 Dedu¸c˜ao das Equa¸c˜oes

Consideremos uma por¸c˜ao de fluido (l´ıquido ou g´as) que, no instante t = 0, ocupa uma regi˜ao do espa¸co Ω 0 ⊆ IR^3. Uma maneira de descrever seu movimento ´e dar uma fun¸c˜ao fluxo φ(a, t) tal que, para cada a ∈ Ω 0 , a curva t 7 → φ(a, t) descreva a trajet´oria da part´ıcula que ocupa a posi¸c˜ao a no instante t = 0. Esta ´e a chamada descri¸c˜ao lagrangiana e os pontos de Ω 0 s˜ao chamados coordenadas materiais. Em vez de acompanharmos o movimento de cada part´ıcula, podemos dar a velocidade v(x, t) da part´ıcula que, no instante t, ocupa a posi¸c˜ao x. Esta ´e a chamada descri¸c˜ao euleriana e os pontos x s˜ao chamados coordenadas espaciais. A rela¸c˜ao v(φ(a, t), t) =

∂t φ(a, t) , a ∈ Ω 0 , (1.1)

segue-se imediatamente das defini¸c˜oes. Assim, conhecendo-se φ e sabendo-se inverter a fun¸c˜ao φt, definida por

φt(x) = φ(x, t) ,

obt´em-se v(x, t) pela f´ormula

v(x, t) =

∂t

[φ(φ− t 1 (x), t)].

Reciprocamente, se o campo de velocidades v(x, t) for conhecido, obt´em-se φ(a, t) resolvendo-se, para cada a ∈ Ω 0 , a equa¸c˜ao diferencial ordin´aria com

1

2 CAP´ITULO 1. EULER E NAVIER-STOKES

condi¸c˜ao inicial: (^)   

d dt c^ =^ v(c, t)

c(0) = a

(equa¸c˜ao da trajet´oria), e definindo φ(a, t) como sendo igual ao valor da solu¸c˜ao de (1.2) no instante de tempo t. Nosso objetivo nesta se¸c˜ao ´e deduzir, a partir da segunda lei de Newton e do princ´ıpio da conserva¸c˜ao da massa, equa¸c˜oes diferenciais envolvendo o campo de velocidades v(x, t). Vamos admitir que a fun¸c˜ao fluxo φ existe e possui todas as propriedades de diferenciabilidade e invertibilidade que forem necess´arias. Mais precisamente, se Ωt ´e a regi˜ao do espa¸co ocupada pelo fluido no instante t, admitimos que

φt : Ω 0 −→ Ωt x 7 −→ φ(x, t)

´e diferenci´avel e possui inversa diferenci´avel. Se, por exemplo, v for de classe C^1 , tal hip´otese ser´a satisfeita para t suficientemente pequeno (Veja, por exemplo, [55]). As vezes, ser´` a necess´ario que φt possua mais de uma derivada, mas isso n˜ao ser´a dito explicitamente.

Derivada Material e Teorema do Transporte

Dada uma fun¸c˜ao f (x, t), x ∈ Ωt, e uma trajet´oria 1 c(t), calculemos a derivada em rela¸c˜ao ao tempo da fun¸c˜ao composta

fc(t) = f (c(t), t) ,

usando a regra da cadeia. Chamamos o resultado f (^) c′(t) de derivada de f ao longo de c. Obtemos:

f (^) c′(t) = ∇f (c(t), t) ·

dc dt (t) +

∂f ∂t (c(t), t)

( v · ∇f +

∂f ∂t

) (c(t), t).

(Denotamos o produto interno por · e o gradiente por ∇.) Definamos a derivada material de f pela f´ormula: Df Dt

= v · ∇f + ∂f ∂t

(^1) Isto ´e, c satisfaz (1.2) para algum a.

4 CAP´ITULO 1. EULER E NAVIER-STOKES

de vari´aveis tem dom´ınio de integra¸c˜ao independente do tempo, podemos portanto trocar a ordem de deriva¸c˜ao e integra¸c˜ao. Obtemos:

d dt

Ωt

f (x, t) dx =

Ω 0

∂t [f (φ(y, t), t)]J(y, t) dy

Ω 0

f (φ(y, t), t)

∂J

∂t (y, t) dy. (1.6)

Tratemos logo da primeira integral que aparece do lado direito da igual- dade acima. A derivada no integrando ´e a derivada de f calculada ao longo de uma trajet´oria. Aparece ent˜ao a derivada material que acabamos de definir. Obtemos assim que esta primeira integral ´e igual a: ∫

Ω 0

Df Dt

(φ(y, t), t)J(y, t) dy ,

a qual, atrav´es da mudan¸ca de vari´aveis x = φt(y), vemos ser igual a ∫

Ωt

Df Dt (x, t) dx.

Vamos agora cuidar da ´ultima integral em (1.6). Devemos calcular a derivada do jacobiano,

∂J

∂t

∂t

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

∂φ 1 ∂y 1

∂φ 1 ∂y 2

∂φ 1 ∂y 3 ∂φ 2 ∂y 1

∂φ 2 ∂y 2

∂φ 2 ∂y 3 ∂φ 3 ∂y 1

∂φ 3 ∂y 2

∂φ 3 ∂y 3

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

no ponto (y, t). Comutando derivadas, usando (1.1) e a regra da cadeia, obtemos:

∂ ∂t

∂φi ∂yj

(y, t) =

∂yj

[vi(φ(y, t), t)] =

∑^3

k=

∂vi ∂xk

(φ(y, t), t) ∂φk ∂yj

(y, t).

Aplicando as propriedades usuais dos determinantes e omitindo, por en- quanto, os pontos onde as derivadas s˜ao calculadas, vem:

∂J

∂t

∑^3

k=

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

∂v 1 ∂xk

∂φk ∂y 1

∂v 1 ∂xk

∂φk ∂y 2

∂v 1 ∂xk

∂φk ∂y 3 ∂φ 2 ∂y 1

∂φ 2 ∂y 2

∂φ 2 ∂y 3 ∂φ 3 ∂y 1

∂φ 3 ∂y 2

∂φ 3 ∂y 3

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

1.1. DEDUC¸ AO DAS EQUAC˜ ¸ OES˜ 5

∑^3

k=

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

∂φ 1 ∂y 1

∂φ 1 ∂y 2

∂φ 1 ∂y 3 ∂v 2 ∂xk

∂φk ∂y 1

∂v 2 ∂xk

∂φk ∂y 2

∂v 2 ∂xk

∂φk ∂y 3 ∂φ 3 ∂y 1

∂φ 3 ∂y 2

∂φ 3 ∂y 3

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

∑^3

k=

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

∂φ 1 ∂y 1

∂φ 1 ∂y 2

∂φ 1 ∂y 3 ∂φ 2 ∂y 1

∂φ 2 ∂y 2

∂φ 2 ∂y 3 ∂v 3 ∂xk

∂φk ∂y 1

∂v 3 ∂xk

∂φk ∂y 2

∂v 3 ∂xk

∂φk ∂y 3

∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣ ∣∣

O primeiro destes trˆes somat´orios de determinantes ´e igual ao produto (∂v 1 /∂x 1 )J, pois os termos correspondentes a k = 2 e k = 3 s˜ao iguais a (∂v 1 /∂xk) vezes um determinante com linhas repetidas. Afirma¸c˜ao an´aloga vale para os outros dois somat´orios. Obtemos, ent˜ao:

∂J ∂t = J div v ,

onde o jacobiano e sua derivada s˜ao calculados no ponto (y, t) e o divergente div v ´e calculado no ponto (φ(y, t), t). Da´ı, vem: ∫

Ω 0

f (φ(y, t), t)

∂J

∂t (y, t)dy =

Ω 0

f (φ(y, t), t)[(div v)(φ(y, t), t)]J(y, t)dy ,

que ´e igual, via a substitui¸c˜ao x = φt(y), a ∫

Ωt

f (x, t) div v(x, t) dx ,

o que demonstra (1.4).

Conserva¸c˜ao da Massa, Fluidos Incompress´ıveis

Denotaremos por ρ(x, t), ou simplesmente ρ, a densidade de massa do flui- do. Por defini¸c˜ao, ρ ´e uma fun¸c˜ao tal que a massa da por¸c˜ao de fluido que ocupa uma regi˜ao Ω no instante t ´e dada por ∫

Ω

ρ(x, t) dx.

A hip´otese de que a massa se conserva se traduz na equa¸c˜ao ∫

Ω 0

ρ(x, 0) dx =

Ωt

ρ(x, t) dx ,

v´alida para todo t ≥ 0, onde Ωt ´e a imagem de Ω 0 por φt, e Ω 0 ´e arbitr´ario. Assumindo como hip´otese que ρ tem derivadas cont´ınuas, e aplicando ent˜ao o Teorema do Transporte, temos:

0 =

d dt

Ωt

ρ(x, t) dx =

Ωt

( Dρ Dt

  • ρdiv v

) (x, t) dx.

1.1. DEDUC¸ AO DAS EQUAC˜ ¸ OES˜ 7

Se um fluido tem densidade constante, independente do tempo e do espa¸co, a equa¸c˜ao em (1.7) implica que o fluido satisfaz (1.9) e, portanto, tamb´em a condi¸c˜ao de incompressibilidade (1.8). Chamaremos o fluido de incompress´ıvel se ρ for constante. Seria mais natural definir como incom- press´ıvel o fluido que satisfizesse (1.8) ou (1.9). N˜ao o fazemos por mera conveniˆencia: quase sempre, nestas notas, trataremos somente do caso de densidade constante. Note que temos apenas uma “quase-rec´ıproca”: se vale (1.9), ent˜ao (1.7) implica que ρ ´e constante ao longo das trajet´orias das part´ıculas. Da´ı, se ρ(x, 0) for independente de x, ρ(x, t) ser´a independente de x e de t.

Conserva¸c˜ao do Momento

O momento (linear) de uma por¸c˜ao de fluido que ocupe, no instante t, a regi˜ao Ωt ´e dado pela integral 4

Ωt

ρ(x, t)v(x, t) dx.

Pela segunda lei de Newton, a derivada em rela¸c˜ao ao tempo desta quanti- dade ´e igual a for¸ca total atuando em Ωt. Esta ´e iguala soma das for¸cas externas que atuam no fluido (peso, for¸ca de Coriolis ou mesmo for¸cas ele- tromagn´eticas) e das for¸cas internas, exercidas sobre Ωt pelo restante do fluido. Suporemos conhecido o somat´orio das for¸cas externas por unidade de massa, que ser´a denotado por f (x, t). 5 Isto ´e, a for¸ca externa total atuando na por¸c˜ao de fluido que, no instante t, ocupa a regi˜ao Ωt ´e dada por (^) ∫

Ωt

ρ(x, t)f (x, t) dx.

No caso de apenas o peso ser consider´avel, f ´e constante e igual a acelera¸c˜ao da gravidade. Quantoas for¸cas internas, supomos serem elas for¸cas de contato ou tens˜oes. Desprezamos ent˜ao a¸c˜oes a distˆancia entre as part´ıculas do fluido e supomos existir um campo de tens˜oes τ (x, t, n) que dˆe a for¸ca de contato por unidade de ´area atuando numa superf´ıcie perpendicular a n no ponto x, no instante t. Mais precisamente, a for¸ca exercida pelo resto do fluido na

(^4) Uma vez que ρ d´a a massa por unidade de volume, ρv d´a o momento por unidade de volume, assim como ρ|v|^2 /2 d´a a densidade de energia cin´etica. (^5) A rigor, dever´ıamos escrever f (x, v, t), para incluir casos como o de for¸cas magn´eticas, por exemplo. Isto em nada alteraria a dedu¸c˜ao que se segue.

8 CAP´ITULO 1. EULER E NAVIER-STOKES

por¸c˜ao de fluido que, no instante t, ocupa a regi˜ao fechada Ωt, delimitada pela superf´ıcie ∂Ωt, ´e dada por

∂Ωt

τ (x, t, n) dSx ,

onde n denota o vetor unit´ario normal a ∂Ωt, apontando para fora. O campo de tens˜oes n˜ao ´e independente das outras grandezas f´ısicas do problema. Na verdade, vamos obter uma equa¸c˜ao diferencial envolvendo τ , ρ, v e f. Um teorema de Cauchy (veja [28], par´agrafo 7) garante que, se o fluido satisfizer a segunda lei de Newton, ent˜ao τ tem de depender linearmente de n, ou seja, existe uma fun¸c˜ao matricial S(x, t) tal que

τ (x, t, n) = S(x, t)n.

(Em particular, τ (x, t, −n) = −τ (x, t, n), o que ´e consequˆencia da terceira lei de Newton.) A segunda lei de Newton ent˜ao fica expressa pela seguinte integral, de onde omitimos os argumentos (x, t) das fun¸c˜oes que aparecem nos integran- dos: d dt

Ωt

ρv dx =

Ωt

ρf dx +

∂Ωt

Sn dSx.

Podemos calcular a derivada do lado esquerdo desta equa¸c˜ao aplicando o Teorema do Transporte a cada componente. Quanto `a integral de superf´ıcie, ela pode ser transformada numa integral de volume usando o Teorema da Divergˆencia. Obtemos, ent˜ao:

Ωt

[ D Dt (ρv) + ρvdiv v − ρf − Div S

] dx = 0 , (1.10)

onde Div S denota o vetor que tem a i-´esima componente igual ao divergente do i-´esimo vetor-linha de S. Usando (1.7), ´e f´acil verificar a igualdade

D Dt

(ρv) + ρvdiv v = ρ Dv Dt

de onde, usando a equa¸c˜ao em (1.10) e o fato de seu integrando ser cont´ınuo e Ωt arbitr´ario, resulta a Equa¸c˜ao da Conserva¸c˜ao do Momento:

ρ

Dv Dt = ρ f + Div S. (1.11)

10 CAP´ITULO 1. EULER E NAVIER-STOKES

da velocidade de uma dada part´ıcula ´e igual a (^) DtD v, como vimos quando tratamos da derivada material. Uma outra maneira de completar as equa¸c˜oes em (1.12) e (1.7) ´e intro- duzir uma equa¸c˜ao de estado, ou seja, supor que existe uma fun¸c˜ao

r : (0, ∞) −→ IR

tal que p = r(ρ). Para um g´as ideal a temperatura constante, p ´e diretamente proporcional a ρ. Em modelos f´ısicos mais realistas, torna-se necess´ario introduzir novas vari´aveis tais como temperatura, entropia, energia interna (veja [28], par´agrafos 19 e 20).

Equa¸c˜oes de Navier-Stokes

Ao tentarmos obter formas para a matriz S que incluam for¸cas de viscosida- de, argumentos f´ısicos e matem´aticos 7 (veja [32], [25] e [28, par´agrafo 16]), permitem-nos concluir que, em primeira aproxima¸c˜ao, S deve ser dada por

S = −pI + μ′(div v)I + μ(G + Gt) , (1.13)

onde, μ e μ′^ s˜ao constantes, Gt^ denota a transposta de G, que denota a matriz ∇v :

G = ∇v =

    

∂v 1 ∂x 1

∂v 1 ∂x 2

∂v 1 ∂x 3 ∂v 2 ∂x 1

∂v 2 ∂x 2

∂v 2 ∂x 3 ∂v 3 ∂x 1

∂v 3 ∂x 2

∂v 3 ∂x 3

    

Para completar o sistema formado pelas equa¸c˜oes em (1.7), (1.11) e (1.13), temos duas sa´ıdas, tal como no caso n˜ao-viscoso. Ou procuramos uma equa¸c˜ao de estado p = r(ρ), ou supomos que o fluido ´e incompress´ıvel. Vimos que, neste caso, o divergente de v ´e nulo. Isto implica em duas simplifica¸c˜oes: O termo μ′div v desaparece e vale (verifique) a igualdade

Div (G + Gt) = 4 v. (^7) Aqui vai um esbo¸co desses argumentos. E’ fisicamente razo´avel supor que S + pI dependa apenas das derivadas espaciais de v, pois n˜ao h´a atrito em um fluxo com velo- cidade uniforme. Como em rota¸c˜oes r´ıgidas tamb´em n˜ao h´a movimento relativo entre as part´ıculas, S +pI n˜ao deve depender da parte anti-sim´etrica do gradiente de v, mas apenas de (G + Gt)/2 (veja a se¸c˜ao seguinte, especialmente a discuss˜ao ap´os (1.22)). Usando-se que esta dependˆencia deve ser invariante por transforma¸c˜oes ortogonais (rota¸c˜oes dos eixos coordenados) e desprezando-se termos de segunda ordem, chega-se a (1.13).

1.1. DEDUC¸ AO DAS EQUAC˜ ¸ OES˜ 11

A equa¸c˜ao de conserva¸c˜ao do momento (1.11) se escreve ent˜ao como:

ρ

Dv Dt = ρf − ∇p + μ 4 v , (1.15)

conhecida como a equa¸c˜ao de Navier-Stokes. A constante μ ´e chamada o coeficiente de viscosidade 8 e seu inverso o n´umero de Reynolds. Um fluido viscoso e incompress´ıvel ´e descrito ent˜ao pelas equa¸c˜oes em (1.15) e (1.9) Estudando exemplos de solu¸c˜oes, consideraremos quase sempre f ≡ 0. Isto ´e equivalente a tomar f constante, no seguinte sentido. Um par (v,p) ´e solu¸c˜ao de (1.15) e (1.9) com f ≡ 0 se e somente se (v,p]) ´e solu¸c˜ao de (1.15) e (1.9) com f ≡ f 0 , onde

p](x, t) = p(x, t) + f 0 · x.

(Verifique esta afirma¸c˜ao.) Em particular, v ≡ 0 e p(x, t) = ρg · x, onde g ´e a acelera¸c˜ao da gravidade, ´e uma solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Navier-Stokes, para f constante e igual a g. Corresponde a um l´ıquido em repouso, na presen¸ca da gravidade. (Veja o Exerc´ıcio 15) Para futura referˆencia, escrevemos aqui as equa¸c˜oes de Euler e de Na- vier-Stokes, para a conserva¸c˜ao do momento, na ausˆencia de for¸cas externas.

ρ ∂v ∂t

  • ρ(v · ∇)v = −∇p (Euler) (1.16)

ρ ∂v ∂t

  • ρ(v · ∇)v = −∇p + μ 4 v (Navier-Stokes) (1.17)

Exerc´ıcio 2 a) Encontre a press˜ao p(x, t) que, juntamente com o campo de velocidades nulo v(x, t) ≡ 0 , resolve (1.12) e (1.15), para f = g + ω^2 r. Aqui, supomos que a acelera¸c˜ao da gravidade g ´e paralela ao eixo x 3 , ω ´e uma constante e r = (x 1 , x 2 , 0) ´e o vetor radial das coordenadas cil´ındricas. Mostre que as superf´ıcies de n´ıvel da press˜ao s˜ao parabol´oides de revolu¸c˜ao. b) Interprete fisicamente o resultado acima, e conclua que a superf´ıcie de separa¸c˜ao entre o ar e um l´ıquido girando num tubo cil´ındrico com velocidade angular constante, sem movimento relativo entre as part´ıculas do fluido nem entre o fluido e o recipiente, ´e um parabol´oide de revolu¸c˜ao. (Dicas: A press˜ao na superf´ıcie de separa¸c˜ao ´e constante, igual `a press˜ao atmosf´erica. O campo f dado no item (a) ´e a soma da acelera¸c˜ao da gravidade com a “acelera¸c˜ao centr´ıfuga”.)

(^8) Sobre o significado f´ısico da constante de viscosidade, consulte [20].

1.2. EXEMPLOS E COMENT ARIOS´ 13

Figura 1.1: Fundo de um rio

´e uma solu¸c˜ao de (1.15) e (1.9) no semi-espa¸co { x 2 ≥ 0 } com condi¸c˜ao de fronteira v(x 1 , 0 , x 3 ) = 0 e velocidade m´axima de escoamento em x 2 = 1, (digamos que a altura m´axima do rio seja igual a 1, e que a´ı ocorra a velocidade m´axima de escoamento). Este ´e um modelo simplificado para a cinem´atica do escoamento n˜ao-turbulento de ´agua em um rio largo, longe das margens, o fundo do rio coincidindo com o plano x 1 x 3. As trajet´orias das part´ıculas s˜ao retas paralelas ao eixo x 1. A for¸ca que impulsiona a ´agua, ´e a componente da for¸ca da gravidade na dire¸c˜ao tangente ao fundo do rio.

Exemplo 4 (Deforma¸c˜ao) Seja D uma matriz sim´etrica de tra¸co nulo e v(x) = Dx. E’ um c´alculo simples verificar que o divergente de v ´e nulo e que vale a igualdade (v · ∇)v = D^2 x.

Pode-se ver ent˜ao que (v(x), p(x) ), com

p(x) = −

ρ 2 xtD^2 x ,

´e solu¸c˜ao de (1.16) e (1.9). Como 4 v ≡ 0, tamb´em (1.17) ´e satisfeita. Vamos descrever as trajet´orias das part´ıculas supondo que a matriz ´e diagonal,

D =

 

λ 1 0 0 0 λ 2 0 0 0 λ 3

 .

14 CAP´ITULO 1. EULER E NAVIER-STOKES

Figura 1.2: Jato (Deforma¸c˜ao)

O caso geral pode ser transformado neste, atrav´es da mudan¸ca de vari´aveis x = U y, onde U ´e uma matriz ortogonal tal que U −^1 DU ´e diagonal. Tal U existe, pelo Teorema Espectral (veja [8], Teorema 9.3.1). As equa¸c˜oes das trajet´orias ficam ent˜ao desacopladas:

dxi dt

= λixi , i = 1, 2 , 3.

Para uma dada condi¸c˜ao inicial x(0) = a, a solu¸c˜ao ´e

x(t) = (a 1 eλ^1 t, a 2 eλ^2 t, a 3 eλ^3 t)t^.

Como o tra¸co de D ´e nulo, temos: λ 1 + λ 2 + λ 3 = 0. Para fixar id´eias, suponhamos que λ 1 ´e positivo e λ 2 e λ 3 s˜ao negativos. Vemos ent˜ao que as part´ıculas se aproximam rapidamente do eixo x 1 e se afastam rapidamente do plano x 2 x 3. Esta ´e uma aproxima¸c˜ao grosseira de um jato.

Exemplo 5 (Rota¸c˜ao) Dado ω ∈ IR^3 , consideremos o campo vetorial

v(x) = ω × x ,

onde × denota o produto vetorial. E’ f´acil verificar que v tem divergente nulo e que vale a igualdade:

(v · ∇)v = (x · ω)ω − |ω|^2 x.

Por inspe¸c˜ao vemos ent˜ao que se tomarmos para press˜ao

p(x) = ρ

[ −

(x · ω)^2 +

|ω|^2 |x|^2

]

16 CAP´ITULO 1. EULER E NAVIER-STOKES

Exerc´ıcio 6 a) Dada uma matriz 3 × 3 anti-sim´etrica A, mostre que existe um ´unico ξ ∈ IR^3 tal que Ax = ξ × x, para todo x ∈ IR^3. (Dica: ξ 1 = a 32 , ξ 2 = a 13 e ξ 3 = a 21 ) b) Se Ω ´e a parte anti-sim´etrica da matriz-gradiente de um campo de vetores v(x) em IR^3 , ent˜ao

Ωx =

(rot v) × x , x ∈ IR^3.

c) Mostre que, se Ω ´e uma matriz anti-sim´etrica e D uma matriz sim´e- trica de tra¸co nulo, ent˜ao temos:

(DΩ + ΩD)x = −(Dξ) × x , x ∈ IR^3 , (1.21)

onde ξ ´e o vetor tal que Ωx = ξ × x , x ∈ IR^3.

Consideremos agora o comportamento de um fluido qualquer, em regime estacion´ario, nas proximidades de um ponto fixo x 0. Podemos escrever (expans˜ao de Taylor):

v(x 0 + h) = v(x 0 ) + (∇v)h + r(h) ,

onde r(h) ´e da ordem de |h|^2. Tomando h muito pequeno, decompondo ∇v em suas partes sim´etrica e anti-sim´etrica, D e Ω, e usando o item b do exerc´ıcio acima, obtemos:

v(x 0 + h) ≈ v(x 0 ) + Dh +

ω × h , (1.22)

onde ω = rot v, e ω e D s˜ao calculados no ponto x 0. Tomando x 0 como origem e h no lugar de x para descrever as trajet´orias das part´ıculas, vemos que o campo v pode ser aproximadamente decomposto em trˆes parcelas: uma respons´avel pela transla¸c˜ao do fluido (as trajet´orias associadas a um campo uniforme de velocidades s˜ao retas), outra respons´a- vel pela deforma¸c˜ao do fluido, e a terceira pela rota¸c˜ao. A presen¸ca de um rotacional n˜ao nulo indica, portanto, a presen¸ca de rota¸c˜ao.

Exerc´ıcio 7 Denota-se por v ⊗ v a matriz ((vivj )) 1 ≤i,j≤ 3. Mostre que as equa¸c˜oes em (1.16) e (1.9) s˜ao equivalentes a

ρ

∂v ∂t

  • ρDiv (v ⊗ v) = −∇p + μ 4 v (1.23)

div v = 0.

(O divergente de uma matriz foi definido ap´os (1.10).)

1.3. IDENTIDADES VETORIAIS, LEI DE BERNOULLI 17

Exerc´ıcio 8 Seja (v(x, t), p(x, t)) solu¸c˜ao de (1.16) e (1.9). Mostre que, dados reais positivos α e β, definindo

vα,β (x, t) = αv

( x β

α β

t

) ,

existe pα,β tal que (vα,β , pα,β ) tamb´em ´e solu¸c˜ao das mesmas equa¸c˜oes.

Exerc´ıcio 9 Mostre que um campo de velocidades independente da coor- denada x 3 (v 1 (x 1 , x 2 , t), v 2 (x 1 , x 2 , t), v 3 (x 1 , x 2 , t))t

´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Navier-Stokes (1.17) se e somente se (v 1 , v 2 ) ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Navier-Stokes bidimensional, isto ´e,

ρ

∂t

( v 1 v 2

)

  • ρ

( v 1

∂x 1

  • v 2

∂x 2

) ( v 1 v 2

) = −∇p + μ 4

( v 1 v 2

) ,

e v 3 ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao

ρ

∂v 3 ∂t

  • ρ

( v 1

∂x 1

  • v 2

∂x 2

) v 3 = μ 4 v 3.

(Observe que esta ´ultima equa¸c˜ao ´e linear, se v 1 e v 2 forem conhecidos. Neste caso, e se μ = 0, a equa¸c˜ao pode ser resolvida pelo m´etodo das carac- ter´ısticas, descrito no Apˆendice A.)

1.3 Identidades Vetoriais, Lei de Bernoulli

Extremamente ´util para a dedu¸c˜ao de identidades vetoriais ´e a introdu¸c˜ao do pseudo-tensor anti-sim´etrico de Levi-Civita (veja [1]):

ijk =

  

0 se i = j ou j = k ou k = i 1 se (i, j, k) ∈ {(1, 2 , 3), (2, 3 , 1), (3, 1 , 2)} − 1 se (i, j, k) ∈ {(2, 1 , 3), (3, 2 , 1), (1, 3 , 2)}

Se x e y s˜ao vetores de IR^3 , ´e f´acil verificar que a i-´esima componente do produto vetorial x × y ´e dada pela soma

(x × y)i =

∑^3

j=

∑^3

k=

ijk xj yk.