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Este estudo investiga o desempenho da atenção concentrada e difusa em pacientes com transtorno depressivo maior (tdm) em comparação com indivíduos sem diagnóstico de tdm. Através de testes neuropsicológicos, o estudo demonstra que pacientes com tdm apresentam déficits significativos na atenção concentrada e difusa, mesmo após a remissão clínica. A pesquisa destaca a importância da avaliação neuropsicológica na compreensão do impacto do tdm nas funções cognitivas e na necessidade de pesquisas futuras para investigar os mecanismos neurais subjacentes a esses déficits.
Tipologia: Notas de estudo
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v. 44, n. 4, pp. 552-559, out./dez. 2013
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Universidade Federal de Pernambuco Recife, PE, Brasil
Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão Recife, PE, Brasil
Universidade Federal de Pernambuco Recife, PE, Brasil RESUMO O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é um transtorno de humor que frequentemente cursa com prejuízos cognitivos. Estudos têm demonstrado que déficits cognitivos persistem mesmo após a melhora ou remissão total dos sintomas de- pressivos. Entretanto, pouco se sabe sobre o funcionamento da atenção concentrada e difusa após a fase aguda do trans- torno. O presente estudo objetivou realizar uma avaliação neuropsicológica dessas habilidades atentivas em pacientes ambulatoriais com TDM, em fase de continuação ou manutenção do tratamento, comparando dois grupos: 1 – Grupo Diagnosticado (GD), constituído por pacientes ambulatoriais com diagnóstico de TDM, e 2 – Grupo Controle (GC), formado por indivíduos sem diagnóstico para TDM. Participaram 26 indivíduos, de ambos os sexos, com idades entre 20 e 55 anos, avaliados através da Bateria Geral de Funções Mentais 1 e 2. Os resultados demonstraram prejuízo da atenção concentrada e difusa entre os membros do GD. Os achados sugerem comprometimento da rede neural fronto-parietal. Palavras-chave: Depressão; Avaliação neuropsicológica; Atenção concentrada; Atenção difusa. ABSTRACT Neuropsychological Evaluation of Attention Skills in Patients With Major Depressive Disorder Major Depressive Disorder (MDD) is a mood disorder that evolves to cognitive impairment. Studies have shown that cognitive deficits persist even after an improvement or total remission of depressive symptoms. However, little is known about the functioning of sustained and divided attention after the acute phase of the disorder. The aim of this study was to perform a neuropsychological evaluation of these attentional skills in MDD outpatients, in continuation or maintenance phases of treatment, comparing two groups: 1 – MDD Group (GD), consisting of outpatients with a MDD diagnosis, and 2 – Control Group (GC), consisting of individuals with no diagnosis of MDD. Participants included 26 (GD, n=12 and GC, n=14) individuals of both sex whose ages were between 20 and 55 years, assessed by the Battery General Mental Functions 1 and 2. Results showed loss of sustained and divided attention among the members of the MDD group. These findings suggest alteration of the fronto-parietal neural network. Keyword: Depression, neuropsychological evaluation; Sustained attention; Divided attention. RESUMEN Evaluación Neuropsicológica de las Habilidades de Atención en Pacientes con Transtorno Depresivo Mayor Trastorno Depresivo Mayor (TDM) es un transtorno del humor que a menudo conduce a un deteriolo cognitive. Los estudios han demonstrado que los déficits cognivos persisten incluso después de la mejoría o remisión total de los síntomas depresivos. Sin embargo, poco se sabe sobre el funcionamiento de la atención sostenida y dividida tras la fase aguda de la enfermedad. Este estudio había como objetivo de lograr una evaluación neuropsicológica de estas habilidades atento en pacientes ambulatorios con trastorno depresivo mayor, en la fase de continuación o de mantenimiento del tratamiento, comparando dos grupos: 1 – Grupo de Diagnóstico (GD), que consta de los pacientes ambulatorios diagnosticados con trastorno depresivo mayor, y 2 – Grupo Control (GC), integrado por personas sin diagnóstico de trastorno depresivo mayor. Los participantes incluyeron 26 indivíduos de ambos sexos, con edades comprendidas entre 20 y 55 años, evaluado por la Batería Funciones Generales Mental 1 y 2. Los resultados mostraron que la pérdida de la atención sostenida y se dividen entre los miembros de GD. Los hallazgos sugieren la implicación de la red fronto-parietal neural. Palabras clave: Depresión; Evaluación neuropsicológica; Atención sostenida; Atención dividida.
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O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é uma síndrome clínica que vem sendo descrita desde a antiguidade, apresentada sob diferentes termos ao longo da História. Atualmente, é reconhecido como um transtorno de humor, configurando-se como uma condição médica comum, de caráter episódico e recorrente, que frequentemente está associada à incapacitação funcional e comprometimento da saúde física (Khandelwal, Chowdhury, Regmi, Mendis e Kittirattanapaiboon, 2001; Kaplan, Sadock e Grebb,1997; Costa e Maltez, 2002). Trata-se de um quadro clínico que tem se difundido entre diferentes povos e etnias, apresentando uma alta e crescente prevalência na população geral (Fonseca, 1997), sendo atualmente admitido como um problema de saúde pública (OMS, 2001). Segundo Dalgalarrondo (2008), as síndromes depressivas caracterizam-se por uma pluralidade de sintomas: afetivos, instintivos e neurovegetativos, bem como ideativos e cognitivos; relacionados à autovalorização, à vontade e à psicomotricidade. Em conjunto, o quadro sintomatológico leva à disfunção considerável em todas as áreas da vida de um indivíduo afetado, sendo o suicídio um risco substancial (Khandelwal et al., 2001). A partir de achados através de método de neuroimagem, neuropsicológicos e histopatológicos, Vago, Epstein, Catenaccio e Stern (2011) propõem que as regiões cerebrais mais consistentemente im- plicadas na produção de sinais e sintomas depressivos podem ser esquematizadas em um modelo de circuito corticolímbico-insular-estriatal-palidal-talâmico, de- nominado pelo autor de circuito CLIPST (do inglês, corticolimbic-insular-striatalpallidal-thalamic). Este modelo inclui estruturas envolvidas no processamento do medo, recompensa, atenção, motivação, memória, estresse, cognição social e funções somáticas. Nesta perspectiva teórica, a depressão pode surgir no contexto de disfunções de uma ou mais dessas regiões, ou devido a falhas de interações coordenadas dentro ou entre os circuitos mais amplos. Uma característica importante e já bem reconhecida entre os estudiosos da área é que o Transtorno Depressivo Maior (TDM) frequentemente cursa com déficits cognitivos (Austin, Mitchel e Goodwin, 2001; Porto, Hermolin e Ventura, 2002; Ravnkilde et al., 2002; Rozenthal, Laks e Engelhardt, 2004). Estudos têm evidenciado a presença de comprometimento neuropsicológico acompanhando um episódio depressivo maior tendendo a englobar vários domínios cognitivos, tais como: atenção, memória, funções executivas, velocidade psicomotora e de processamento (Marazziti, Consoli, Picchetti, Carlini e Faravelli, 2010; Hammar e Årdal, 2009, Fiedler et al.,2004; Ravnkilde et al., 2002, Austin et al., 2001). Atualmente, há um consenso de que alguns déficits cognitivos presentes durante um episódio depressivo maior persistiriam mesmo após a remissão clínica (Rozenthal, Laks e Engelhardt, 2004; Hammar e Årdal, 2009), ou seja, esses déficits prevaleceriam mesmo após a melhora ou remissão total dos sintomas depressivos, o que pode trazer prejuízos significativos à qualidade de vida do paciente com TDM. Através do desenvolvimento das avaliações neuropsicológicas, as quais, segundo Capovilla e Capovilla (2007) objetivam estabelecer correlações entre cérebro, comportamento e funções cognitivas, têm sido possível identificar padrões de déficits cognitivos em pacientes psiquiátricos através de recursos como entrevistas, inventários, questionários e as baterias de testes, que permitem avaliar o humor, qualidade de vida, habilidade cognitivas, entre outros aspectos. Entre as funções cognitivas já demonstradas como persistentes ao longo do curso do TDM está a atenção (Paradiso, Lamberty, Garvey e Robinson, 1997; Habermann, Pohl e Leplow, 2005; Fiedler et al., 2004; Rozenthal et al., 2004), a qual, de acordo com Porto et al.(2002), destaca-se como uma das principais funções cognitivas estudadas nos processos depressivos, possivelmente pela facilidade com que se é avaliada sua alteração. A atenção é um sistema funcional complexo que envolve extensos circuitos cerebrais, englobando tanto áreas corticais como subcorticais, não podendo ser reduzida a uma simples função mental (Dalgalarondo, 2008; Tonglet, 2003; Nabas e Xavier, 2004). Em decorrência de sua complexidade conceitual, da dificuldade para se elaborar um conceito único e preciso que a defina, a atenção tem sido descrita a partir de definições operacionais, tais como a sua clássica divisão em três formas básicas: atenção sustentada, dividida e seletiva, proposta por Muir (Nabas e Xavier, 2004); ou a subdivisão proposta por Tonglet (2003), em: atenção discriminativa, concentrada e difusa. A atenção sustentada refere-se à capacidade de o indivíduo manter-se num estado de prontidão por longo período de tempo de modo a detectar e responder a alterações específicas nos estímulos focalizados. A atenção dividida, por sua vez, corresponde à capacidade de se desenvolver mais de uma tarefa simultaneamente, o que pode envolver tanto aspectos espaciais como temporais. E a atenção seletiva diz respeito à capacidade de se focar a atenção em uma determinada parte de ambiente, à medida que se
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Antes de se iniciar a coleta de dados, a pesquisa foi submetida à Comissão do Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE tendo obtido aprovação para seu início. Posteriormente, foi solicitada a participação voluntária de todos os participantes (GC e GD), e nesta ocasião foram esclarecidos os objetivos da pesquisa e realizada a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual deveria ser assinado, quando de acordo, pelos indivíduos solicitados. A seleção dos participantes do GC foi realizada buscando-se sujeitos que respondessem aos critérios estabelecidos para participação na pesquisa já descritos anteriormente (faixa etária, escolaridade mínima, e ausência de TDM). Para se constatar a ausência de TDM nestes indivíduos, tomaram-se como referência nesta investigação os Critérios de Diagnóstico para Episódio Depressivo Maior do DSM-IV. E no que se refere ao GD, a seleção de seus membros se fez através da mediação do psiquiatra responsável pelos atendimentos no ambulatório de Saúde Mental do Hospital das Clínicas da UFPE (HCPE) no dia e horário escolhidos para coleta de dados. Foram repassados ao psiquiatra os critérios para participação da pesquisa, e o mesmo selecionava aqueles que se enquadravam no perfil previamente estabelecido encaminhando-os para a sala disponibilizada pelo setor para a aplicação dos instrumentos. Ambos os grupos inicialmente passaram pela entrevista semiestruturada e em seguida foram subme- tidos individualmente aos testes neuropsicológicos de atenção concentrada da BGFM-2 e, posteriormente, ao teste de atenção difusa simples da BGFM-1. Para o GD, a investigação prosseguia com a aplicação do BDI, com o objetivo de verificar o grau de intensidade de depressão para estes indivíduos que respondiam aos critérios de diagnóstico para o TDM. Esta aplicação foi realizada a partir da leitura feita pela examinadora das instruções já padronizadas do Inventário, procurando verificar se as mesmas estavam sendo compreendidas pelos examinandos. Em caso contrário, tais instruções eram repetidas buscando-se adequar a linguagem ao entendimento do paciente. As respostas obtidas durante
556 Dutra, N. G., Santos, S. C., Aguiar, M. J. L., et al. a aplicação do referido instrumento foram registradas para o posterior cálculo da pontuação, conforme a padronização do BDI, indicando o nível de depressão encontrado para cada indivíduo avaliado. Todo o procedimento com o GC foi realizado em local escolhido respeitando-se as condições básicas necessárias (cadeira, mesa, boa luminosidade, pouco ruído), para manter o mínimo de distratores possíveis a fim de evitar alterações nos resultados dos testes.
Primeiramente foi verificado o grau de homo- geneidade da amostra utilizando o coeficiente de Pearson e coeficiente quartílico de variação. As pontuações do TEDIF-1 (BGFM-1) e da BGFM- (TECON-1, TECON-2 e TECON-3), bem como do inventário de depressão de Beck (BDI) foram obtidas com base nos manuais desses instrumentos. Para análise dos dados dos testes neuropsicológicos foi utilizado o Software estatístico SPSS (do inglês, Statistical Package for Social Sciences) versão 16.0, sendo empregado o Mann-Whitney Test para comparar o desempenho entre os grupos. O nível de significância aceito foi de p ≤ 0,05.
A aplicação do Inventário de Depressão de Beck (BDI), entre os participantes do GD, demonstrou que 25% destes apresentavam nível de depressão mínimo, 8,33% nível leve, 41,67% nível moderado e 25% nível grave. A média de tempo de tratamento em que se encontravam os pacientes que participaram da pesquisa foi de aproximadamente quatro anos. Todos estavam sob tratamento medicamentoso fazendo uso de antidepressivos (100%) e/ou benzodiazepínicos (91,67%). E durante a entrevista, 100% dos partici- pantes do GD relataram perceber melhora em seu quadro clínico. Destes 25% relatam que já estiveram melhor do que estavam no momento da avaliação, e 75% especificaram ter melhorado o humor. Os escores médios e erros padrão obtidos a partir dos testes neuropsicológicos de atenção concentrada da Bateria Geral de Funções Mentais 2 (BGFM-2) e de atenção difusa simples da Bateria Geral de Funções Mentais 1 (BGFM-1), de ambos os grupos estudados, estão representados na Tabela 1. A análise estatística dos pontos obtidos nos testes da Bateria Geral de Funções Mentais 2, ou seja, os referentes à atenção concentrada, demonstrou haver diferença significativa de desempenho entre os grupos estudados para esta função em todas as formas de apli- cação: TECON-1 (U = 26,0; z = -2,9847; p = 0 ,0028), TECON-2 (U = 25,5; z = -3,0115; p = 0,0026), e TECON-3 (U = 23; z = -3,1391; p = 0,0017). Tal resultado sugere déficit da atenção concentrada no GD em todos os níveis de complexidade quando comparados aos sujeitos do GC. TABELA 1 Resultados dos testes de Atenção Concentrada (TECON-1, TECON-2 e TECON-3) e do teste de Atenção Difusa Simples (TEDIF-1). Testes Grupos Controle (n=14) Diagnosticado (n=12) M (EP) M (EP) TECON-1 55,71 (5,77) 29 (4,48) TECON-2 66,29 (6,95) 31,08 (6,01) TECON-3 68,43 (6,79) 35,33 (5,37) TEDIF-1 32,29 (2,1) 24,33 (1,53) M = Média; EP = Erro Padrão. TECON-1 = Teste de Atenção Concentrada – Forma 1; TECON-2 = Teste de Aten- ção Concentrada Complexa – Forma 2; TECON-3 = Teste de Atenção Con- centrada Complexa – Forma 3; TEDIF-1 = Teste de Atenção Difusa – Forma 1. No TECON-1 foi constatada diferença significativa entre os grupos GC e GD para o número de acertos (U = 36,5; z = -2,4448; p = 0,0145) e para o número de omissões (U = 36,0; z = -2,4790; p = 0,0132). No TECON-2 também foi verificada diferença significativa para o número de acertos (U = 38,5; z = -2,3415; p = 0,0192), e no TECON-3 houve diferença significativa para o número de erros (U = 36,5; z = -2,5106; p = 0,0121). Estes dados suge- rem que a qualidade da tarefa realizada pelo GD está comprometida quando comparado ao desempenho do GC. No que se refere à velocidade de resposta motora, avaliada a partir do número de linhas produzidas na tarefa, em nenhuma das formas de aplicação houve diferença significativa entre os grupos, tendo o GC apresentado uma média de 11,29; 12,86 e 13, linhas, nos testes TECON-1, TECON-2 e TECON- respectivamente, ao passo que o GD apresentou, também respectivamente para os testes mencionados, médias de 10,75; 11,83 e 12,83 linhas, o que sugere não haver diferença significativa entre os grupos para a produtividade no desenvolvimento da tarefa realizada. Na Figura 1 encontra-se a representação do desem- penho dos grupos GC e GD nos testes de atenção difusa simples (TEDIF-1). A análise estatística dos dados obtidos a partir dos grupos estudados demonstrou diferença significativa na avaliação da atenção difusa (U = 31,5; z = -2,7124; p = 0,0067). Estes resultados revelam que o grupo GD parece apresentar dificuldade na realização de tarefas que requeiram a focalização
558 Dutra, N. G., Santos, S. C., Aguiar, M. J. L., et al. No que diz respeito a circuitaria neural envolvida nessa modalidade de atenção, Tonglet (2002) afirma que ocorre ativação de diversas estruturas neuroanatômicas durante o desenvolvimento dos testes de atenção difusa. Segundo o referido autor, estão envolvidas vias neurais auditivas, da fala, motoras, motivacionais, além da memória operativa e áreas importantes para percepção espacial. Machado (Tonglet, 2002) afirma que a capacidade de seguir sequências ordenadas de pensamento dependem fundamentalmente da área pré-frontal, atividade que pode ser equiparada a tarefa de rastrear a sequência numérica exigida no teste em questão. Sternberg (2000) relata que o sistema atentivo posterior, o qual envolve o lobo parietal do córtex, uma parte do tálamo e regiões do mesencéfalo relacionadas aos movimentos oculares, está altamente ativado durante a execução de tarefas que envolvem atenção visuoespacial, tais como a sondagem visual, característica fundamental do teste de atenção difusa. Dessa forma, estando comprometida essa forma de atenção como verificado nesta pesquisa, sugere-se possíveis alterações nesses sistemas neurais, o que deve ser melhor investigado em trabalhos futuros, dada a escassez de estudos voltados para esse componente da atenção. Destaca-se, porém, o envolvimento da área pré-frontal durante a execução do teste de atenção difusa. Como visto anteriormente, esta área também está envolvida durante a execução do teste de atenção concentrada, e tem sido reconhecida com um dos substratos neurais dessa forma de atenção. Deste modo, é possível que o comprometimento desta região neural esteja comprometendo também o funcionamento da atenção difusa. Um importante fator a se destacar refere-se ao uso de psicofármacos pelos participantes do GD durante esta investigação. Ainda não está claro de que modo antidepressivos podem influenciar o funcionamento cognitivo. Entretanto, estudos anteriores têm sugerido que caso existe alguma influência, sendo que esta deve ser mínima (Ravnkilde et al., 2002; Fiedler et al., 2004). No que se refere ao uso de benzodiazepínicos, não foi encontado estudos que pudessem esclarecer de forma precisa os efeitos destas drogas sobres as variáveis cognitivas estudadas. Sabe-se que esta classe de psico- fármacos pode causar problemas de memória e embo- tamento da cognição, provavelmente como resultado de seu efeito sedativo (Ravnkilde et al., 2002). Uma vez que quase todos os indivíduos da amostra avaliada que constituiu o GD faziam uso de benzodiazepínicos, não foi possível avaliar diretamente os seus efeitos no âmbito deste estudo. Assim, não está claro se estes psicofármacos podem comprometer ainda mais a atenção concentrada e atenção difusa dos pacientes avaliados. Propõe-se, portanto, a elaboração de novos trabalhos que possam verificar a ação específica dos psicofármacos sobre o funcionamento cognitivo, sobretudo, no que diz respeito aos processos atentivos.
A avaliação neuropsicológica aqui apresentada constatou a presença de déficits na atenção, nas formas concentrada e difusa, em pacientes deprimidos ambulatoriais nas fases de continuação ou manuten- ção do tratamento. Observou-se, assim, que estas habilidades atentivas permanecem comprometidas mesmo após a melhora do estado de humor. Os achados, correlacionados com dados encontrados em trabalhos anteriores, sugerem comprometimento de circuitos neurais específicos, tais como, a rede fronto- parietal, a qual tem sido identificada como substrato neural da atenção concentrada. No que se refere a atenção difusa, tem-se considerado o envolvimento de várias estruturas neuroanatômicas, entre elas a área pré-frontal, estrutura comum ao funcionamento das habilidades atentivas aqui estudadas. Entretanto, o subatrato neural desta modalidade da atenção precisa ser melhor investigado para que se possa chegar a conclusões mais precisas acerca da existência de um comprometimento neuropsicológico correspondente ao déficit da atenção difusa. Destaca-se que os déficits atencionais verificados parecem não responder ao tratamento antidepressivo, estratégia privilegiada para tratamento do TDM. Tal modalidade terapêutica fundamenta-se na hipótese monoaminérgica da etiologia deste transtorno, cuja ação sobre neurotransmissores tem como objetivo produzir efeitos sobre o humor, buscando-se idealmente o retorno ao nível de funcionamento pré-mórbido do paciente. A melhoria do estado de humor constitui um grande ganho para o paciente. Todavia, a persistência de déficits cognitivos pode causar prejuízos significativos para a vida do indivíduo, sobretudo, no que se refere ao comprometimento da atenção. É reconhecido que o sistema cognitivo atencional é um processo básico que está na base do funcionamento de várias outras funções cognitivas, sendo de grande importância para a adaptação do indivíduo ao meio de um modo geral. Desta forma, alterações em seu funcionamento podem prejudicar o indivíduo em grande medida, dificultando o desempenho de suas atividades cotidianas, sobretudo, de suas atividades ocupacionais. Em casos extremos, podendo até mesmo levar à incapacidade funcional. Sendo assim, chama-se a atenção para que di- ferentes formas de tratamento possam ser pensadas, as
Avaliação neuropsicológica de habilidades atentivas ... 559 quais levem em conta também os déficits cognitivos, entre eles os déficits na atenção, que como já se sabe, frequentemente acompanham o curso do Transtorno Depressivo Maior. Deste modo, poder-se-á melhorar ainda mais a qualidade de vida desses pacientes, permitindo-os retomar suas atividades cotidianas normalmente.
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Márlison José Lima de Aguiar – Biomédico e Doutor em Nutrição pela UFPE, Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão (FAINTVISA), Departamento de Psicologia e Farmácia. Cilene Rejane Ramos Alves de Aguiar – Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH, Departamento de Psicologia, Laboratório de Psicologia Experimental – LABPEX, Endereço para correspondência: Cilene Rejane Ramos Alves de Aguiar Laboratório de Psicologia Experimental – LABPEX Departamento de Psicologia – Universidade Federal de Pernambuco Rua Acadêmico Hélio Ramos, s/n, 9° andar – Cidade Universitária CEP 50670-901, Recife, PE, Brasil Tel.: 81 2126-8270 – 2126- E-mail: cilenelabpex@yahoo.com.br.