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Guias e Dicas
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Marca do Nacionalismo em Mayombe de Pepetela, Esquemas de Literatura

1. INTRODUÇÃO 4 1.1. PROBLEMÁTICA 4 1.2. OBJECTIVOS 5 1.2.1. Geral 5 1.2.2. Específicos 5 1.3. JUSTIFICATIVA 5 1.4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 6 1.5. METODOLOGIA 6 2. VIDA E PERCURSO DE PEPETELA 7 3. CONTEXTO HISTÓRICO: ANGOLA E A LUTA ANTICOLONIAL 7 4. REPRESENTAÇÃO DO NACIONALISMO EM MAYOMBE 8 5. MAYOMBE: ESTRUTURA NARRATIVA E PERSONAGENS 10 6. MANIFESTAÇÕES DO NACIONALISMO EM MAYOMBE 12 6.1. NACIONALISMO VERSUS TRIBALISMO 12 6.2. MARXISMO E NACIONALISMO: TENSÕES IDEOLÓGICAS 13 6.3. A FLORESTA DO MAYOMBE COMO SÍMBOLO NACIONAL 15 7. O NACIONALISMO CRÍTICO DE PEPETELA 16 8. NACIONALISMO E SACRIFÍCIO: A MORTE DO COMANDANTE 16 9. CONCLUSÃO 19 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21

Tipologia: Esquemas

2024

Compartilhado em 03/06/2025

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UNIVERSIDADE PÚNGÉ
FACULDADE DE LETRAS, CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADE
A MARCA DO NACIONALISMO EM MAYOMBE DE PEPETELA
Curso de Licenciatura em Ensino de Português
3° grupo
Acacio paulo uaeca luis
Anapista Dureza Belo
Climidio Luís blumo
Elisa Faustino Fiosse
Graça Eusébio Almeida
Marieza Joaquim Amoda
Madalena Ernesto Caero
Tete
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UNIVERSIDADE PÚNGÉ

FACULDADE DE LETRAS, CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADE

A MARCA DO NACIONALISMO EM MAYOMBE DE PEPETELA

Curso de Licenciatura em Ensino de Português 3° grupo Acacio paulo uaeca luis Anapista Dureza Belo Climidio Luís blumo Elisa Faustino Fiosse Graça Eusébio Almeida Marieza Joaquim Amoda Madalena Ernesto Caero Tete

Abril, 2025 3° grupo Acacio paulo uaeca luis Anapista Dureza Belo Climidio Luís blumo Elisa Faustino Fiosse Graça Eusébio Almeida Marieza Joaquim Amoda Madalena Ernesto Caero A MARCA DO NACIONALISMO EM MAYOMBE DE PEPETELA O presente projecto de pesquisa, orientado para fim de avaliação parcial da cadeira de Literatura Africana de língua portuguesa , sob orientação do Docente: Dr. Januário Cabarela

1. INTRODUÇÃO

A literatura angolana contemporânea está profundamente marcada pela experiência colonial e pelo processo de independência do país. Nesse contexto, Pepetela emerge como um dos mais importantes escritores angolanos, cuja obra reflete sua própria experiência como combatente na guerra de libertação nacional. Publicado pela primeira vez em 1980, Mayombe é considerado um dos romances fundamentais da literatura angolana pós- independência, retratando a luta armada contra o colonialismo português na floresta do Mayombe, no enclave de Cabinda. Este trabalho tem como objetivo analisar como o nacionalismo angolano é representado na obra, considerando as diversas dimensões desse fenômeno: a ideológica, a étnica, a cultural e a política. Utilizando uma abordagem literária e histórica, buscamos compreender como Pepetela, através de sua narrativa e personagens, problematiza a construção da nação angolana em meio às tensões do conflito armado e das diferenças tribais. 1.1. PROBLEMÁTICA Como o romance Mayombe representa o nacionalismo angolano e quais são as suas diferentes expressões ao longo da narrativa? 1.2. OBJECTIVOS: 1.2.1. Geral Analisar as manifestações do nacionalismo no romance Mayombe , identificando suas diferentes dimensões e significados. 1.2.2. Específicos  Investigar como o nacionalismo é articulado entre os personagens.  Refletir sobre a relação entre nacionalismo e identidade étnica no romance.

 Compreender o papel da literatura na construção do imaginário nacional angolano. 1.3. JUSTIFICATIVA Este trabalho de pesquisa justifica-se pela relevância do tema do nacionalismo na literatura africana pós-colonial, particularmente no contexto angolano. A obra de Pepetela destaca-se por apresentar uma visão complexa e crítica do projeto nacionalista, explorando suas contradições internas, as tensões étnicas, as diferenças ideológicas e os desafios na formação de uma consciência nacional unificada. O estudo do nacionalismo em Mayombe revela-se especialmente pertinente no contexto atual dos estudos literários e culturais africanos por múltiplas razões. Primeiramente, a obra foi escrita em um momento histórico crucial durante a própria luta pela independência por um autor que era simultaneamente intelectual e combatente, o que confere ao texto uma dupla dimensão de testemunho e elaboração estética. Esta característica singular posiciona Mayombe como um documento literário privilegiado para a compreensão dos processos de formação nacional não apenas em seu aspecto político, mas também simbólico e identitário. Segundo, o contexto angolano apresenta especificidades históricas significativas que tornam seu estudo particularmente relevante para a compreensão das complexidades do nacionalismo africano. Angola experimentou um dos mais longos e violentos processos de descolonização do continente, marcado pela presença simultânea de três movimentos de libertação com diferentes bases étnicas e ideológicas, o que resultou em um cenário político fragmentado que se estendeu em guerra civil após a independência. Mayombe, ao representar ficcionalmente as tensões internas do MPLA, oferece uma janela para a compreensão dessas dinâmicas complexas que moldaram não apenas a história angolana, mas de várias outras nações africanas pós-independência. Para finalizar, a pesquisa se justifica pela crescente importância dos estudos sobre literaturas africanas no contexto acadêmico. A ampliação desses estudos responde a uma necessidade de descolonização do conhecimento e do cânone literário, permitindo a emergência de vozes e perspectivas tradicionalmente marginalizadas. Nesse sentido, o estudo aprofundado da obra de Pepetela contribui para o fortalecimento dos laços culturais e acadêmicos dos países africanos de língua portuguesa, reforçando o debate

Vida e percurso de 7Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos,

conhecido pelo pseudônimo de Pepetela, nasceu em Benguela, na

Angola, em 29 de outubro de 1941. Cursou os estudos primários e

secundários em Benguela e em Lubango. Em 1958, mudou-se para

Lisboa , onde frequentou o Instituto Superior Técnico e onde iniciou

suas atividades políticas e literárias.

Em 1962, saiu de Portugal com destino a Paris, França, onde passou

seis meses. Posteriormente, seguiu para a Argélia, onde se

formou em sociologia, vindo a trabalhar na representação do

Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e no centro de

Estudos Angolanos, que ajudou a criar.

Regressou a Angola e participou diretamente da luta

armada como guerrilheiro e como responsável pelo setor da

educação, de 1969 a 1974. Foi nesse contexto de guerra que ele

adotou o nome Pepetela , que significa, na língua umbundo,

“pestana”, e que passou a utilizar como pseudônimo literário.

Integrou, em 1974, a primeira delegação do MPLA que chegou à

capital, Luanda.

Desempenhou os cargos de diretor do Departamento de Educação

e Cultura e do Departamento de Orientação Política. Além disso, foi

membro do Estado Maior da Frente Centro. De 1975 a 1982, foi

vice-ministro da Educação. Posteriormente, passou a lecionar

sociologia na Universidade de Luanda. Pepetela publicou

inúmeros romances, livros de crônica e teatro. Atualmente suas

obras são traduzidas para vários idiomas, e é membro fundador da

União dos Escritores Angolanos.

2. CONTEXTO HISTÓRICO: ANGOLA E A LUTA ANTICOLONIAL

Para compreender a representação do nacionalismo em Mayombe, é fundamental contextualizar historicamente o período em que se passa a narrativa. Angola foi colônia portuguesa desde o século XV até 1975, quando finalmente conquistou sua independência após uma longa guerra de libertação iniciada em 1961. Essa luta foi conduzida principalmente por três movimentos nacionalistas: o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola). O MPLA, movimento ao qual Pepetela pertencia, foi fundado em 1956 e tinha uma orientação marxista-leninista, defendendo um projeto nacionalista que buscava superar as divisões étnicas em prol de uma identidade nacional angolana unificada. No entanto, na prática, as tensões étnicas e tribais continuaram a influenciar o cenário político e social angolano, tanto durante a luta pela independência quanto no período pós-colonial. A floresta do Mayombe , cenário principal do romance, está localizada no enclave de Cabinda , região rica em petróleo e separada geograficamente do resto de Angola, o que contribuiu para a complexidade da situação política e militar. A região era (e ainda é) habitada por diferentes grupos étnicos, como os bakongos , umbundos e kimbundos , fato que Pepetela explora amplamente em sua narrativa para discutir as tensões entre o nacionalismo unificador e as lealdades tribais.

3. REPRESENTAÇÃO DO NACIONALISMO EM MAYOMBE O nacionalismo em Mayombe é apresentado de muitas formas diferentes, ou seja, com pontos de vista diversos ( ideologia, étnico, pessoal e político ). Por um lado, há um ideal coletivo de libertação e construção de uma nação independente. Por outro, surgem conflitos internos que questionam a viabilidade desse ideal. A obra mostra que o nacionalismo não é um conceito homogêneo, mas sim uma construção complexa influenciada por fatores históricos, culturais e pessoais:

  1. O Nacionalismo Ideológico versus Realidade Prática
  1. O Nacionalismo como Projeto Político em Construção A floresta Mayombe serve como metáfora para o próprio processo de construção nacional: densa, complexa, desafiadora e em constante transformação. O romance sugere que o nacionalismo angolano não é um estado acabado, mas um projeto em constante negociação: As discussões ideológicas entre os guerrilheiros refletem os debates sobre qual modelo de nação construir, os conflitos de liderança entre Sem Medo e o Comissário mostram diferentes visões para o futuro da nação e a relação tensa com as populações locais questiona a base popular do movimento nacionalista. A obra também sugere que construir uma nação não é apenas expulsar o colonizador, mas negociar as diferenças internas e forjar uma identidade coletiva que respeite a diversidade. O nacionalismo em Mayombe não é um bloco monolítico, mas um diálogo constante entre o ideal e o real, entre o coletivo e o individual, entre o passado tribal e o futuro nacional. 4. MAYOMBE: ESTRUTURA NARRATIVA E PERSONAGENS Mayombe apresenta uma estrutura narrativa complexa, alternando entre um narrador em terceira pessoa e múltiplos narradores em primeira pessoa, identificados apenas no final de seus relatos ("Eu, o Comandante", "Eu, o Comissário", "Eu, o Médico", etc.). Essa polifonia narrativa permite que diferentes perspectivas sobre a luta nacionalista e as tensões étnicas sejam apresentadas ao leitor. Os principais personagens do romance são :
  2. Comandante Sem Medo (Ogum) : Líder da guerrilha, descrito como um homem pragmático, corajoso e sem ilusões sobre a revolução. De origem cabinda, representa um nacionalismo que busca transcender as divisões tribais.
  3. Comissário Político (Mwene) : Intelectual idealista, responsável pela formação política dos guerrilheiros. De etnia kimbundo, acredita firmemente no projeto revolucionário e na construção de uma Angola unificada.
  1. Teoria : Mestiço (filho de português com angolana), simboliza o dilema identitário de muitos angolanos com herança mista e representa a complexidade da identidade nacional em formação.
  2. Muatiânvua : Guerrilheiro que se define como pertencente a todas as etnias angolanas, simbolizando o ideal de unidade nacional que supera as divisões tribais.
  3. Milagre : Guerrilheiro de etnia cabinda, representa o tribalismo e a desconfiança em relação a membros de outras etnias.
  4. André : Responsável pela logística, posteriormente revelado como traidor. Representa os conflitos internos que enfraqueciam o movimento de libertação.
  5. Lutamos : Guerrilheiro disciplinado e dedicado à causa revolucionária, simboliza o compromisso com o ideal nacionalista. Esta diversidade de personagens permite a Pepetela explorar as múltiplas facetas do nacionalismo angolano e suas contradições internas. 5. MANIFESTAÇÕES DO NACIONALISMO EM MAYOMBE 5.1. NACIONALISMO VERSUS TRIBALISMO Um dos temas centrais de Mayombe é a tensão entre o ideal nacionalista unificador e as lealdades tribais que persistem entre os guerrilheiros. Um exemplo claro dessa tensão aparece nas reflexões do personagem Milagre : "Eu, Milagre, de nome de guerra, de origem cabinda, do Mayombe, sou o que causa o desequilíbrio neste grupo. [...] Os kimbundos não gostam dos cabindas, nem os cabindas dos kimbundos, isso é nacionalismo? [...] Querem impor a sua tribo aos outros." Essa passagem evidencia como, mesmo dentro de um movimento que luta pela libertação nacional, as divisões tribais continuam a moldar as relações entre os combatentes, revelando as contradições internas do projeto nacionalista. Por outro lado, personagens como Muatiânvua representam a possibilidade de superação dessas divisões:

"É preciso que os homens se habituem a considerar os chefes como iguais a eles, embora com tarefas diferentes. [...] O paternalismo é a arma dos oportunistas e daqueles que querem criar o culto da personalidade" (PEPETELA, 2013, p. 47). Em contraponto, o Comandante Sem Medo representa uma visão mais pragmática e adaptada às circunstâncias concretas: "Para quê ser-se comunista, se não é para melhorar? Porque é então? Para aplicar esquemas, mesmo que não sirvam? Para criar uma casta de privilégios?" (PEPETELA, 2013, p. 114). Estas divergências ideológicas mostram que o projeto nacionalista angolano não é monolítico, mas permeado por diferentes interpretações sobre o caminho a seguir. O romance não resolve definitivamente estas tensões, mas as apresenta como parte constitutiva do processo revolucionário, em que teoria e prática estão em constante diálogo e reajuste. Particularmente interessante é a personagem Teoria, mestiço educado em Portugal que experimenta uma crise de identidade por não ser completamente aceito nem como branco nem como negro: “Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe, misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não, para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta.” O trauma da mestiçagem é tão explícito na vivência da personagem, que mesmo o fato de estar numa posição privilegiada na guerrilha, por ser professor, e ter a incumbência da formação educacional dos guerrilheiros, não diminui o sentimento de segregação que vivencia, fortalecendo ainda mais a sua luta. “Os meus conhecimentos levaram-me a ser nomeado professor da base. Ao mesmo tempo, sou instrutor político, ajudando o comissário. A minha vida na Base é preenchida

pelas aulas e pelas guardas. Por vezes, raramente, uma ação. Desde que estamos no interior, a atividade é maior. Não atividade de guerra, mas de patrulha e reconhecimento. Ofereço-me sempre para as missões, mesmo contra a opinião do Comando: poderia recusar? Imediatamente se lembrariam de que não sou igual aos outros.” “Uma vez quis evitar ir em reconhecimento: tivera um pressentimento trágico. Havia tão poucos na Base que o meu silêncio seria logo notado. Ofereci-me. É a alienação total. Os outros podem esquivar-se, podem argumentar quando são escolhidos. Como o poderei fazer, eu que trago em mim o pecado original do pai-branco? (PEPETELA, 2013, p. 21/22).” Assim, temos uma personagem extremamente importante para os temas explorados pela narrativa, pois encerra nela uma questão de profunda relevância na formação identitária angolana pós contexto colonial, que é a tentativa de conciliar em si, a importância da tradição e da manutenção da cultura ancestral, bem como se propõe também observar novas formas de subjetivação, passando pelo universo da mestiçagem e da pluralidade cultural, elementos importantes da nova formação política, cultural, histórica, social e étnica em Angola e que vai definir aquilo que será chamado de angolanidade Por meio desta personagem, Pepetela explora a complexidade da identidade nacional em um país multirracial e marcado pelo colonialismo. Teoria representa o intelectual que busca seu lugar no projeto revolucionário, mostrando como o nacionalismo angolano precisa lidar com a herança colonial também no nível das identidades individuais. 5.2. A FLORESTA DO MAYOMBE COMO SÍMBOLO NACIONAL A própria floresta do Mayombe assume no romance uma dimensão simbólica relacionada à identidade nacional angolana. Descrita como impenetrável, misteriosa e poderosa, a floresta representa tanto os desafios enfrentados pelos guerrilheiros quanto a riqueza e potencial da nação angolana. Tal como podemos encontrar um trecho do romance: “O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do teto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um

6. O NACIONALISMO CRÍTICO DE PEPETELA

Uma das características mais notáveis de Mayombe é que, embora seja uma obra escrita por um militante do MPLA e celebre a luta pela independência, ela não idealiza o movimento nacionalista, apresentando uma visão crítica e complexa do processo de construção nacional. Pepetela expõe as contradições internas do movimento, as rivalidades pessoais, as tensões étnicas e os abusos de poder, revelando o que o crítico literário Inocência Mata chama de "nacionalismo crítico". Essa postura crítica é exemplificada pela figura do Comandante Sem Medo , que, apesar de seu compromisso com a causa revolucionária, mantém um distanciamento crítico em relação aos dogmas e simplificações ideológicas: "Um verdadeiro revolucionário, um homem que quer conscientemente fazer uma Revolução, tem de se transformar num pregador. E não há nada mais dogmático que um pregador! [...] Eu já não acredito, há muito que deixei de acreditar." O ceticismo de Sem Medo reflete o próprio posicionamento de Pepetela como intelectual que, mesmo comprometido com o projeto nacionalista, mantém uma postura crítica que questiona suas contradições e limitações. Essa dimensão crítica distingue Mayombe de uma literatura meramente apologética, transformando-o em uma reflexão profunda sobre os desafios da construção nacional em contextos pós-coloniais.

7. NACIONALISMO E SACRIFÍCIO: A MORTE DO COMANDANTE Um momento crucial do romance é a morte do Comandante Sem Medo, que se sacrifica para salvar Teoria durante uma operação militar. Este sacrifício adquire uma dimensão simbólica relacionada ao projeto nacionalista: o líder que morre para salvar um mestiço, representando assim a necessidade de superar as divisões étnicas em prol da unidade nacional. A morte do Comandante pode ser interpretada como uma metáfora do sacrifício necessário para o nascimento da nação angolana: "O Comissário aproximou-se. Sem Medo tinha os olhos abertos e ainda se lia neles uma expressão de troça. A última imagem que o Comissário conservou do Comandante foi esse olhar de troça."

Esse " olhar de troça " final do Comandante pode ser interpretado como um último gesto de ceticismo em relação aos ideais absolutos, sugerindo que mesmo no momento do sacrifício supremo pela nação, permanece a consciência crítica que questiona o sentido desse sacrifício.

8. CONCLUSÃO A análise de Mayombe revela como Pepetela constrói uma narrativa complexa sobre o nacionalismo angolano, explorando suas múltiplas dimensões e contradições. Longe de apresentar uma visão idealizada ou simplista da luta pela independência, o autor utiliza a diversidade de personagens e a polifonia narrativa para problematizar questões fundamentais relacionadas à construção da identidade nacional angolana. O nacionalismo em Mayombe aparece atravessado por tensões: entre o ideal unificador e as lealdades tribais; entre a teoria revolucionária importada e a realidade local; entre o compromisso com a causa coletiva e os interesses individuais. Através dessas tensões, Pepetela nos oferece um retrato nuançado do processo de formação nacional, revelando tanto seu

SANTOS, Boaventura de Sousa. Entre Próspero e Caliban: colonialismo, pós- colonialismo e inter-identidade. In: RAMALHO, Maria Irene; RIBEIRO, António Sousa Luís Kandjimbo e Ana Mafalda Leite. Críticos da literatura africana de expressão portuguesa. Benedict Anderson (2008). “Comunidades Imaginadas” nacionalismo como construção social. Frantz Fanon (2005) .“Os Condenados da Terra” sobre o papel do nacionalismo nas lutas anticoloniais. LEITE, Ana Mafalda. Literatura angolana: identidade e nação. Lisboa: Colibri, 2003. MATA, Inocência. A literatura angolana e a construção da nação. Lisboa: Vega, 2001. MATA, Inocência. Literatura angolana: silêncios e falas de uma voz inquieta. Lisboa: Mar Além, 2001.