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MANUAL INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO
Tipologia: Trabalhos
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Não perca as partes importantes!
Cardiologista e Arritmologista; Diretor de ACLS e BLS pela American Heart Association; Professor do curso de Urgências e Emergências da Universidade Brasil; Diretor técnico da Viva Coração; Presidente da SOCESP - regional Vale do Paraíba
**1. Síndromes coronarianas agudas nos dias atuais
umário
A prevenção e o controle dos fatores de risco – como hi- pertensão, diabetes, dislipidemia, tabagismo e sedentarismo
Suspeita clínica
O diagnóstico adequado se inicia a partir da suspeita clíni- ca. A caracterização da dor torácica é etapa fundamental na abordagem do paciente, devendo ser realizada já na triagem pela Enfermagem e, em seguida, confirmada pelo médico.
É considerada dor típica aquela que possui duas das três características a seguir^5 : I. Dor retroesternal em aperto, peso ou queimação, prolongada (maior que 20 minutos), que pode irradiar para membros su- periores (principalmente esquerdo), região epigástrica, pescoço, mandíbula ou dorso; II. Precipitada por estresse físico ou emocional; III. Aliviada com repouso ou nitrato.
A presença de sinais/sintomas disautonômicos, como su- dorese fria, palidez, dispneia, náuseas ou vômitos, refor- çam a probabilidade de doença isquêmica.
Uma atenção especial deve ser dada aos idosos, diabéticos e mulheres, que, com menor frequência, apresentam qua- dro típico. Canto et al. (2002) observaram que mais da me- tade dos idosos apresentam sintomas atípicos, podendo se apresentar apenas com dispneia, por exemplo^6.
Suspeita eletrocardiográfi ca
O eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações é o exa- me “divisor de águas” na abordagem diagnóstica do qua- dro suspeito de IAM, apresentando uma sensibilidade de 56% e especificidade de 94%. Assim, sua realização deve ser feita com até dez minutos após a admissão do paciente ao serviço de saúde. Esse exame permite clas- sificar a situação em dois grandes grupos: SCACSST e SCASSST, de acordo com a relação entre o segmento ST e a linha de base do traçado^7.
É fundamental o reconhecimento das diferentes paredes ventriculares a partir das derivações do ECG, conforme mostrado na figura 1. O supradesnível do segmento ST ≥ 1,0mm em duas ou mais derivações que compõem a mesma parede levanta forte suspeita de IAM e, na vigência de dor torácica, indica a terapia de reperfusão. A exceção a essa regra são as derivações V2 e V3, cujo supradesnível deve ser de ≥ 2,5mm em homens < 40 anos, ≥ 2mm em homens
40 anos e ≥ 1,5mm em mulheres^8.
Algumas apresentações infrequentes do ECG, na presença de sintomatologia típica, indicam intervenção coronaria- na precoce visando angioplastia primária, tais como^8 :
Nos quadros de SCASSST, as apresentações eletrocardio- gráficas variam de infradesnível de ST e inversão simétrica da onda T (isquemia subepicárdica), ondas T apiculadas e simétricas (isquemia subendocárdica), até traçados com- pletamente normais, que ocorrem em 6% a 8% dos casos^7. Quando o ECG inicial não é diagnóstico (até 45% em alguns estudos^9 ), recomenda-se repeti-lo em intervalos de 15 a 30 minutos ou de acordo com a sintomatologia.
Suspeita laboratorial
Uma série de marcadores de necrose miocárdica podem ser dosados na suspeita de SCA, porém três deles desta- cam-se como os mais utilizados^5 :
I. Creatina cinase total (CK total): presente em qual- quer tecido contrátil. Começa a se elevar na circulação após cerca de quatro a oito horas, apresentando pico entre 12 e 18 horas e normalização em 48 a 72 horas;
II. CK-MB atividade: isoforma da CPK, presente nos músculos periféricos e no cardíaco. É mais específica para o miocárdio por representar 5% a 30% da ativi- dade da CK total nesse músculo. Eleva-se após cerca de quatro a seis horas, apresentando pico entre dez e 24 horas e normalização em 72 a 96 horas. Quan- do elevadas, uma relação da CK-MB atividade sobre CK total entre 4% e 25% sugere lesão miocárdica. A CK-MB massa (dosada a partir da utilização de anti- corpos) possui cinética igual à da CK-MB atividade, mas com sensibilidade e especificidade superiores;
III. Troponinas T e I: são específicas da musculatura cardíaca e são consideradas os marcadores de primeira escolha para o diagnóstico de IAM. Sua elevação no sangue ocorre de três a 12 horas após o início dos sin- tomas, o pico entre 24 e 48 horas e a normalização em até dez dias (troponina I) e até 15 dias (troponina T).
Além de auxiliar no diagnóstico de IAM, os marcadores de necrose contribuem para a estratificação de risco das SCASSST. Mas é importante ressaltar que, nos quadros de SCACSST, suas dosagens não podem retardar a in- dicação e o início da terapia de reperfusão.
Figura 2: Estratifi cação de risco de Braunwald. Em vermelho estão demarcadas as variáveis independentes de risco.
Figura 3: Escore de risco TIMI.
Característica História
Alto Idade > 75 anos Dor progressiva, sintomas nas últimas 48 horas
Marcadores séricos de isquemia
Acentuadamente elevados
Dor precordial Prolongada (> 20 min.), em repouso
Exame físico Edema pulmonar, piora ou surgimento de sopro de regurgitação mitral, B3, hipotensão, bradicar- dia e taquicardia Eletrocardiogramas Infradesnível do segmento ST: 0,5mm (associada ou não com angina), alteração dinâmica do ST, bloqueio completo de ramo, novo ou presumida- mente novo. Taquicardia ventricular sustentada
*TnIc, TnTc ou CK-MB (preferencialmente massa) elevados = acima do percentil 99; elevação discreta = acima do nível de detecção e inferior ao percentil 99. Canadian Cardiovascular Society (CCS).
Idade superior a 65 anos Três ou mais FR para DAC (HAS) Uso prévio de AAS Estenose coronariana > 50% Dor precordial em repouso nas últimas 24 horas IST > 0,5mm Elevação de marcadores cardíacos
1 1 1 1 1 1 1
Pontuação Variável
0 – 2 pontos: Baixo Risco | 3 – 4 pontos: Risco Intermediário | 5 – 7 pontos: Alto Risco Legendas: FR: fator de risco; DAC: doença arterial coronariana; HAS: hipertensão arterial sistêmica; DM: diabetes; DLP: dislipidemia; HF: história familiar de insuficiência coronária prematura em parentes de primeiro grau; IST: infradesnível de ST
Nos cenários sem supradesnivelamento do segmento ST, são considerados de muito alto risco os indivíduos que se apresentam com instabilidade elétrica (arritmias ven- triculares complexas), clínica (dor refratária) ou hemodi- nâmica (choque cardiogênico).
A partir da determinação da categoria de risco do pa- ciente (baixo, intermediário, alto ou muito alto), defini- -se o ambiente de internação (enfermaria ou UTI/UCO) e o planejamento de estudo coronário (testes provocati- vos ou cateterismo), conforme ilustrado no algoritmo 1 apresentado mais adiante.
Moderado Baixo
Elevação discreta Normais
Prolongada (>20 min), em repouso, mas com alívio espontâneo ou nitrato
Sintomas novos de angina classe III ou IV da CCS nas últimas duas semanas, sem dor prolongada em repouso (>20 min)
Idade 70-75 anos Infarto prévio, doença vascular peri- férica,diabetes mellitus, cirurgia de revascularização, uso prévio de AAS
Inversão onda T > 2mm, ondas Q patológicas
Normal ou inalterado durante o período de dor
principais contraindicações ao nitrato são: hipoten- são, bradi ou taquicardia, infarto de ventrículo direi- to e uso de inibidores de fosfodiesterase nas últimas 24 a 72 horas. Na persistência da dor, sobretudo no paciente hipertenso, pode-se lançar mão da nitrogli- cerina endovenosa, iniciando com 5 a 10 mcg/min.
III. Opioide O sulfato de morfina endovenoso possui potente ação analgésica e ansiolítica, estando indicado naqueles que não respondem ao uso do nitrato. A dose inicial varia de 2mg a 8mg, podendo ser repetida a cada cinco a 15 minutos. Em caso da não disponibilidade desse fárma- co ou de hipersensibilidade a ele, pode ser substituí- do pelo sulfato de meperidina em doses fracionadas de 20mg a 50mg. As contraindicações aos opioides são praticamente as mesmas relacionadas aos nitratos. A administração oral de benzodiazepínicos pode ser considerada nos indivíduos mais ansiosos.
IV. Terapia antiplaquetária A antiagregação plaquetária constitui elemento fun- damental no tratamento de quadro isquêmico, de- vendo ser iniciada em até dez minutos após o início do atendimento.
Ácido acetilsalicílico (AAS) Atua bloqueando a ciclooxigenase e, com isso, inibindo a formação de tromboxano A2, um agregante plaquetá- rio e potente vasoconstritor.
Deve ser oferecido na dose única de ataque de 160mg a 325mg mastigáveis, nos primeiros dez minutos do aten- dimento; manutenção de 100mg/dia. Sua utilização este- ve relacionada à redução de 46% de eventos vasculares (infarto não fatal, acidente vascular cerebral (AVC) não fatal ou morte vascular). A droga está contraindicada nos casos de hipersensibilidade conhecida, sangramento ati- vo, hemofilia ou úlcera péptica ativa.
Clopidogrel Bloqueia a ligação do ADP com o receptor específico P2Y12, inibindo a adenilciclase e a agregação plaquetá- ria. Sua utilização junto ao AAS mostrou redução adicio- nal dos desfechos cardiovasculares.
A dose de ataque irá variar de acordo com o tipo de SCA, idade do paciente e terapia de reperfusão escolhida:
SCACSST (terapia trombolítica):
SCACSST (angioplastia primária):
SCASSST:
V. Terapia anticoagulante A ação anticoagulante acrescida à dupla antiagregação plaquetária contribui ainda mais na redução dos desfe- chos cardiovasculares, sendo obrigatória em toda SCA.
Em nosso meio, o anticoagulante mais utilizado é a heparina de baixo peso molecular (HBPM), sendo a enoxaparina a principal representante.
A dose irá variar de acordo com o tipo de SCA, idade do paciente, terapia de reperfusão escolhida e função renal:
SCACSST (terapia trombolítica):
SCACSST (angioplastia primária):
SCASSST:
Nos casos de SCACSST, em que se optou pela angio- plastia primária, é mais comum a utilização da heparina não fracionada (HNF) no laboratório de hemodinâmica. Nesse caso, a dose é de 70 a100UI/kg EV em bolus.
O algoritmo 1 ilustra o fluxo de atendimento dos cená- rios se SCASSST:
Algoritmo 1: Algoritmo de atendimento das SCASSST.
Quadro suspeito de síndrome coronariana aguda
ECG seriado Coleta de sangue: HMG, COAG, U, Cr, K, Na Marcadores de necrose: CPK, CK-MB e troponina (admissão, 6, 12 e 24hrs) Raio-x de tórax
SCA muito alto risco CATE até 24hrs Dinitrato de isosorbida 5mg SL (até três doses). Morfina 2mg a 4mg EV s/n Clopidogrel 300mg VO Enoxaparina 1mg/kg SC 12/12hrs. (>75 anos: 0,75mg/kg duas vezes; CICr<30: 1mg/kg uma vez) iECA/BRA, Bbloq, Ansiolítico, Estatina Dieta hipossódica laxativa
SCA mod/alto risco Transferência para UTI/UCO CATE < 48 a 72hrs
SCA baixo risco Transferência para enfermaria
Acomodar na sala de emergên- cia com monitorização cardía- ca e acesso venoso periférico
ECG com infra ST ≥ 0,5mm ou onda T negativa
Catéter O2 se Sat < 90% AAS 160mg a 325mg VO (exceto se alergia ou úlcera gástrica ativa)
ECG normal
Avaliar dor torácica e ECG
Estratificação de risco - pelo menos dois escores de risco
10min
Legendas: SCASSST: Síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento do segmento ST; ECG: eletrocardiograma; AAS: Ácido Acetil Salicílico; HMG: hemograma; COAG: coagulograma; U: ureia; Cr: creatinina; K: potássio; Na: sódio; CPK: creatinoqinase; CK-MB: fração MB; CATE: cateterismo cardíaco; UTI: unidade de terapia intensiva; UCO: unidade coronariana; iECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina; BRA: bloqueador do receptor de angiotensi- na II; Bbloq: beta-bloqueadores
II. Hospital não habilitado para ICP primária (figura 5):
Nesse caso, o tempo diagnóstico-transferência-balão (in- tervalo de tempo entre o diagnóstico do supradesnível, acionamento da ambulância, transferência para hospital habilitado e insuflação do balão de angioplastia) deve ser inferior a 120 minutos^8.
Se houver indícios de que esse tempo (< 120min) não po- derá ser alcançado, deve-se priorizar a terapia trombolíti- ca, idealmente com tempo diagnóstico-agulha (intervalo de tempo entre o diagnóstico do supradesnível e o início da administração do trombolítico) de até dez minutos^8.
É importante frisar que esses são tempos ideais, em que se alcança maior benefício ao coração. No entanto, enquanto houver dor e supradesnível do segmento ST (desde que < 12 horas do início dos sintomas), haverá indicação da terapia de reperfusão. Nas apresentações mais tardias (> 12 horas) ou em vigência de choque car- diogênico, dá-se preferência pela ICP primária8,^.
Figura 4: Estratégia de reperfusão em hospitais habilitados para realização de ICP.
Tempo diagnóstico-balão
ICP Primária
24hrs
60min
Legendas: ICP: intervenção coronária percutânea; ATC: angioplastia coronária
ICP primária
É a terapia de preferência na maior parte dos cenários, em especial, nos hospitais habilitados para tal procedimento. No entanto, a disponibilidade de hospitais habilitados em nosso país é muito baixa, limitando a realização desta.
As atuais diretrizes recomendam que, na fase aguda do IAM, a ICP primária deve ser realizada preferencialmen- te via acesso de artéria radial e devem-se utilizar stents farmacológicos para tal. Em geral, trata-se somente o vaso culpado pelo IAM na primeira abordagem; demais lesões podem ser tratadas em um segundo momento, de preferência ainda na mesma internação^8.
Figura 5: Estratégia de reperfusão em hospitais não habilitados para realização de ICP.
Tempo diagnóstico > Transferência > balão
< 120min
120min
10min 30min
Terapia trombolítica 60-90 min
Legendas: ICP: intervenção coronária percutânea; CATE: cateterismo cardíaco.