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A Extensão Rural no Brasil: História, Metodologias e Impacto, Resumos de Sociologia Rural

Uma análise histórica da extensão rural no brasil, abordando suas metodologias, objetivos e evolução ao longo dos anos. O livro 'a extensão rural' de nádia velleda caldas e flávio sacco dos anjos é utilizado como fonte principal. O livro discute a trajetória da extensão rural no brasil, sua importância na modernização agrícola e os métodos clássicos e participativos utilizados. Além disso, o documento discute a importância da extensão rural para a melhoria da qualidade de vida das famílias rurais e o papel da sociologia rural na divulgação das inovações.

Tipologia: Resumos

2024

Compartilhado em 05/03/2024

neiriele-bruschi-montina
neiriele-bruschi-montina 🇧🇷

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Extensão
Rural:
um manual
para alunos
de graduação
Nádia Velleda Caldas
Flávio Sacco dos Anjos
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Baixe A Extensão Rural no Brasil: História, Metodologias e Impacto e outras Resumos em PDF para Sociologia Rural, somente na Docsity!

Extensão

Rural:

um manual

para alunos

de graduação

Nádia Velleda Caldas

Flávio Sacco dos Anjos

Extensão

Rural:

um manual

para alunos

de graduação

Nádia Velleda Caldas

Flávio Sacco dos Anjos

Pelotas, 2021

Extensão

Rural:

um manual

para alunos

de graduação

Rua Benjamin Constant, 1071 - Porto Pelotas, RS - Brasil Fone +55 (53)3284 1684 editora.ufpel@gmail.com

Chefia Ana da Rosa Bandeira Editora-Chefe Seção de Pré-Produção Isabel Cochrane Administrativo Seção de Produção Suelen Aires Böettge Administrativo Anelise Heidrich Revisão Franciane Medeiros (Bolsista) Design Editorial Seção de Pós-Produção Morgana Riva Assessoria Madelon Schimmelpfennig Lopes Eliana Peter Braz Administrativo Revisão Técnica Ana da Rosa Bandeira

Revisão Ortográfica Anelise Heidrich

Projeto Gráfico & Capa Franciane Medeiros

Ícones da capa Freepik (com adaptação) Disponíveis em: www.flaticon.com

Filiada à A.B.E.U.

Dados de Catalogação na Publicação: Gabriela Machado Lopes – CRB-10/

C145e Caldas, Nádia Velleda Extensão Rural [recurso eletrônico] : Um manual para alunos de graduação / Nádia Velleda Caldas, Flávio Sacco dos Anjos. - Pelotas : Ed. UFPel, 2021. 148p. 8,81 MB, eBook (PDF) ISBN: 978-65-86440-54-

  1. Extensão rural. 2. Agronomia. 3. Desenvolvimento sustentá- vel. I. Sacco dos Anjos, Flávio. II.Título.

CDD 630.

Tecnologia, agricultura e extensão rural

O surgimento da química agrícola e da agronomia

A revolução verde e seus impactos

Classificação das inovações tecnológicas na agricultura

O processo de difusão de tecnologias

A extensão rural no Brasil

Os Land-Grant Colleges e o surgimento da extensão

rural nos EUA

A trajetória da extensão rural no Brasil

Metodologias em extensão rural

Alguns métodos clássicos utilizados pela extensão rural

Outros recursos e ferramentas utilizadas pela

extensão rural

Metodologias participativas em extensão rural

Tópicos emergentes em extensão rural

Sustentabilidade

Multifuncionalidade

Segurança alimentar

Posfácio

Referências

Agradecimentos

Esta obra foi elaborada durante o período em que ambos os autores exerceram suas atividades como professores visitantes junto a uma prestigiosa instituição de pesquisa espanhola, qual seja, o Instituto de Estudos Sociais Avançados (IESA), sediado em Córdoba, Andalu- zia, durante os meses de setembro de 2019 e agosto de 2020. O IESA é um órgão ligado ao Conselho Superior de Investigações Científi- cas (CSIC), a mais importante instituição do gênero daquele país. Agradecemos a acolhida dos colegas espanhóis, sobretudo aos pesquisadores doutores Eduardo Moyano Estrada e Fernando Gar- rido, com os quais construímos relações de intercâmbio, amizade e apoio recíproco há, pelo menos, duas décadas. Todavia, o livro que ora vem a público não teria sido possível sem o apoio da Coorde- nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), através do Programa Institucional de Internacionalização (PRINT). Foi sob a égide do CAPES-PRINT-UFPel que fomos contemplados com bolsas de pesquisa e com os meios necessários para que pu- déssemos nos dedicar integralmente à produção de conhecimento durante o aludido período. Estivemos diretamente implicados nes- sa iniciativa que já começa a dar frutos para a UFPel, para o país e para as pessoas que dedicaram suas energias em promovê-la. Agradecemos também o apoio dos colegas do Departamento de Ciências Sociais Agrárias da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel por haverem assumido os encargos didáticos, sem o qual nada do que fizemos teria sido possível. Nossa gratidão se estende aos alu- nos dos cursos de ciências agrárias e a todas as pessoas que com- partilharam suas experiências de extensão e desenvolvimento ru- ral, as quais serviram de fonte inspiradora para os conteúdos aqui apresentados. Um registro especial a todos os alunos de graduação, iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado que passaram pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agroecologia e Políticas Públi- cas para a Agricultura Familiar (NUPEAR-UFPel) ao longo da última década. Para esses jovens pesquisadores e profissionais dedicamos

Prólogo

Em muitos países se cumpre mais de meio século de extensão ru- ral, já que na maioria dos casos esse serviço público desempenhou uma importante função no processo de modernização da agricul- tura na década de 1960 e nos anos que se seguiram. Graças ao lou- vável trabalho dos agentes de extensão rural, muitas explorações familiares puderam incorporar-se ao processo de modernização, assimilando os métodos e técnicas da “revolução verde”. Foram es- ses agentes os que tornaram possível que em alguma medida tal dinâmica pudesse incluir aos que então eram chamados pequenos agricultores. A Espanha e outros países europeus (França e Itália) são um bom exemplo desse fato, do mesmo modo que o sucedido na América Latina. O Brasil é um país onde o extensionismo rural e agrário desempenhou um papel relevante na modernização da agricultu- ra. Atualmente, em pleno século XXI, existe um “novo” modelo de extensão rural e agrária. Não é um sistema estritamente público como anteriormente, senão um sistema misto, constituído por uma pluralidade de entidades que prestam uma ampla gama de serviços aos produtores no sentido de responder aos desafios da agricultura atual.

Um novo cenário

O cenário da agricultura e do meio rural é atualmente muito dis- tinto do que havia há aproximadamente seis décadas, assim como muito mais complexo. É verdade que a tradicional função produti- va segue sendo a missão mais importante do setor agrário. O mes- mo há que ser dito em relação aos métodos convencionais de pro- dução, baseados no uso de agroquímicos, os quais convivem com modelos alternativos, baseados na agroecologia e em sintonia com as novas demandas sociais (agricultura ecológica, slow food, merca- dos de proximidade, etc.).

Mas é certo também que, junto a essa função produtiva, a agricul- tura desempenha outros papéis, cada vez mais diversos no âmbito educativo, sanitário, turístico, paisagístico, etc., os quais existem enquanto oportunidades para serem exploradas por todos produto- res e produtoras interessados. Mais além dessas atribuições, a agri- cultura desempenha um novo e mais intrincado papel no contexto das dinâmicas de interação rural-urbana. Este aspecto aparece refletido nas novas orientações das políti- cas agrárias e rurais, a exemplo da atual política europeia (PAC) e na forma que haverá de assumir tal instrumento depois de 2020. Dentro desse marco, o desenvolvimento dos territórios é encarado dentro de uma visão mais integrada que articule de forma coope- rativa os diversos fundos estruturais (FEADER, FEDER e FSE)^1 e o fundo de coesão. Ainda assim, a PAC aposta por apoiar ações que reduzam os efeitos da mudança climática e apostem por um mo- delo agrário mais identificado com temas como a sustentabilida- de ecológica, a proteção da biodiversidade, a economia circular, o bem-estar animal e a saudabilidade no consumo alimentar.

Novas orientações da extensão agrária

É dentro desse contexto que se deve potencializar novas fórmulas de cooperação público-privada que respondam às necessidades dos produtores e produtoras no campo da formação e transmissão do conhecimento. Se trata de um novo extensionismo rural e agrário, plural e diversificado, para o qual convergem ações procedentes tanto do próprio setor privado como do ponto de vista da adminis- tração pública. É fato que os agricultores dispõem hoje de um amplo leque de vias de informação para acessar dados que necessitam. Não obs- tante, é também uma realidade que agricultores detentores de ex- plorações de caráter familiar estão, comparativamente, em piores condições que empresários rurais para obter conhecimentos sobre temas afins, situação que gera, entre ambos, uma importante bre- cha social, econômica e cultural. É por esse motivo que os serviços

1. Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER); Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER); Fundo Social Europeu (FSE).

Extensão Rural Prólogo

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A extensão agrária e rural no Brasil

Os professores Nádia Velleda Caldas e Flávio Sacco dos Anjos, da Universidade Federal de Pelotas (Rio Grande do Sul, Brasil), ela- boraram um excelente livro sobre extensão rural, prestando uma atenção especial ao caso brasileiro. Em seu trabalho tratam de abordar os desafios do extensionismo agrário e rural no contexto do século XXI sem esquecer de abordar as circunstâncias históricas que ensejaram o seu surgimento, muito menos as mutações que experimenta a agricultura e o mundo rural através do tempo. A obra se inicia propondo um conceito de “extensão rural”, no qual se destaca um conjunto de traços essenciais, como o de ser um campo de exercício profissional, uma vocação para os que a ela se dedicam, bem como uma política estatal e um sistema de assistência técnica. O passo seguinte é analisar o conceito de de- senvolvimento, matéria que é essencial para o desenho da práxis extensionista. Esse termo de uso estendido já foi definido como si- nônimo de progresso (Comte), de industrialização e crescimento econômico (Rostow), mas também como aspecto central da busca por uma agricultura ambientalmente sustentável (Carson e Brun- dtland) e que convirja para a ampliação das liberdades dos indiví- duos do campo e da cidade (Sen). O terceiro capítulo está dedicado à análise do extensionismo no contexto agropecuário, centrando a atenção no papel desempenha- do pelos avanços científicos e tecnológicos associados ao fenôme- no da revolução verde e da difusão das inovações. O quarto capítulo aborda a evolução histórica da extensão rural no Brasil, a qual é apresentada dentro de quatro grandes etapas ou fases.

- Uma etapa pioneira (1948-1964) identificada com as primeiras experiências surgidas em dois municípios paulistas (Santa Rita do Passa Quatro e São José do Rio Pardo), bem como da criação da Associação de Crédito e Assistência Rural do estado de Minas Gerais (ACAR). Tais iniciativas foram levadas a cabo no marco de um convênio de colaboração firmado entre os governos do Brasil e EUA e a mediação do empresário norte-americano Nelson Rockefeller. - Uma etapa denominada difusionista-produtivista (1964-1989) correspondente ao auge da extensão rural, mas também do re-

Extensão Rural Prólogo

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gime militar implantado nesse país latino-americano. O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) se converte numa verdadeira plataforma que impulsiona o modelo produtivista de extensão, assim como um projeto de modernização conservadora da agri- cultura brasileira. Tal período coincide com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em 1973, bem como da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER), em 1975.

- A terceira etapa corresponde ao período de “crise” da extensão rural, momento em que se dá a dissolução da EMBRATER em meio ao período de transição democrática e do começo do go- verno de Collor de Melo (1989). É também o momento em que se abre um processo de reflexão e questionamento sobre o sistema de extensão rural enquanto instrumento a serviço do desenvolvi- mento capitalista da agricultura brasileira. - Uma quarta etapa, em meados dos anos 1990, é aquela na qual finalmente se ativam as políticas destinadas a apoiar a agricultu- ra familiar, como é o caso do PRONAF, dentro de um ambiente no qual emerge um renovado interesse pela extensão rural. Tal mo- vimento coincide especialmente com a chegada de Lula da Silva ao governo do Brasil em 2003, havendo sido aprovadas políticas de enfrentamento à fome e à pobreza (PAA, PNAE), bem como de políticas expressamente dirigidas a recriar um sistema público de extensão rural em todo o país (PNATER).

Após uma interessante reflexão sobre o produtivismo, bem como sobre “eficácia” e “eficiência” desta classe de instrumento público de intervenção, os autores incluem em seu livro uma seção dedica- da a apresentar e discutir metodologias e ferramentas usadas pela extensão rural ao longo do tempo. O passo seguinte é apresentar e debater alguns dos grandes temas (sustentabilidade, multifuncio- nalidade e seguridade alimentar) que ocupam lugar destacado den- tro da nova agenda da extensão rural brasileira e latino-americana.

Eduardo Moyano Estrada Professor Investigador do Conselho Superior de Investigação Científica - Instituto de Estudos Sociais Avançados Córdoba, Espanha | Março de 2020

Extensão Rural Prólogo

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vestigação militante e jornaleira na Andaluzia, em sua busca por construir uma agricultura ambientalmente referida. Na ocasião destaquei a necessidade de um compromisso do Esta- do no sentido de apoiar iniciativas do gênero, convergindo no sen- tido de atuar não necessariamente desde o prisma dos interesses advindos dos órgãos de extensão agrária da Europa, senão desde os interesses ditados pelos próprios camponeses e trabalhadores rurais que demandavam este apoio. O debate surgido após minha exposição despertou uma forte oposição de todos os “funcionários extensionistas europeus” parti- cipantes do evento. Após suas agressivas intervenções emergiram duas frentes: a primeira delas integrada pela maioria extensionista europeia convencional; a segunda composta por mim e pelos orga- nizadores do evento, os professores Timmi Tillman e sua esposa, Maruja Salas. Miguel Altieri era um prestigiado convidado externo oriundo da Universidade de Berkeley, à época considerada como o grande vértice da “ciência extensionista”, o qual aderiu ao nosso discurso ao pressentir, em meio aos debates, o surgimento de um novo paradigma nesse campo de atuação. Com inusitada maestria Altieri começou a desenhar uma improvisada e titubeante inter- venção que me pareceu esplêndida. Tal fato acarretou, num pri- meiro momento, o começo da larga gestação de uma nova extensão rural e, num segundo momento, do consequente processo de ins- titucionalização de uma atividade de caráter militante de apoio aos movimentos de camponeses com e sem-terra. Altieri, apoiando nosso discurso, construído no âmbito da forte interação do ISEC com o movimento dos jornaleiros do campo, ex- pôs ali uma argumentação em que ressaltou a necessidade de fazer uso dos insumos naturais e renováveis da agricultura camponesa, bem como do manejo sustentável dos recursos e da conservação da biodiversidade. Tal orientação impediria a depredação ocasionada pela agricultura industrializada, depredação esta que afeta não so- mente a natureza e a saúde das pessoas pelo uso de agroquímicos, mas também de ordem social ao romper com os mercados campo- neses que operam dentro de dinâmicas que não se coadunam com o lucro estritamente capitalista e com a economia concorrencial. E foi assim que se deu início ao processo de construção de uma agricultura social e ecologicamente sustentável, a qual se impõe no marco dos legítimos anseios dos movimentos sociais e de uma extensão rural militante que logo a seguir passamos a chamar de

Extensão Rural Uma apresentação relatando o surgimento da extensão rural agroecológica

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Agroecologia. A repercussão que alcançou junto aos meios oficiais europeus a polêmica de Bad Homburg fez com que a Administração Central Espanhola, através da Secretaria Geral Técnica do Ministé- rio da Agricultura, Pesca e Alimentação, se pusesse em contato com o ISEC, demandando nossa colaboração. Do mesmo modo, tal fato deu lugar a que a Junta de Andaluzia solicitasse um assessoramento no que tange à atuação da Direção Geral de Investigação e Extensão Agrária. Surge daí uma equipe que passa a atuar em parceria com o ISEC durante o período compreendido entre os anos 1985 e 1990. Tal grupo de trabalho decorre de um convênio estabelecido entre as aludidas instituições para pôr em marcha um projeto denomina- do “A Extensão Rural em Espanha: análise de evolução, estrutura e estabelecimento de linhas de atuação futura”. Por conta disso, as investigações realizadas sobre Extensão Rural no âmbito do ISEC foram incorporadas às atividades do Doutorado que desenvolvíamos no âmbito da Universidade de Córdoba. É mis- ter frisar que à época os programas de Doutorado das Universida- des espanholas exigiam, antes da realização do trabalho de campo, o exercício de dois anos de docência, incluindo tanto cursos de na- tureza teórica como de métodos e técnicas específicas para realizar a pesquisa doutoral. No período compreendido entre os anos 1990 e 1995 surgem no- vos programas de Doutorado que se somam ao Curso de Sociolo- gia Agroecológica. É nesse contexto que se dá a incorporação de marcos teóricos qualitativos que incluem técnicas como grupos de discussão e os métodos participativos inspirados na obra de Paulo Freire e Fals Borda, os quais permitem saltar da pluridisciplinari- dade das ciências sociais à transdisciplinaridade. Tal mudança gera uma concepção epistemológica de natureza coletiva que transfor- ma o objeto da investigação em sujeito da mesma, de forma a que sejam os próprios atores os que levem à frente os processos. Isso fez com que o segundo quinquênio dos anos 1990 se convertesse num período de afirmação da Extensão Agroecológica a partir da investigações levadas a cabo no seio do ISEC. Nesse contexto, o espaço de tempo compreendido entre os anos 1995 e 2002 correspondeu a uma fase em que houve um poderoso impulso à institucionalização da Extensão Agroecológica. Tal pro- cesso surge como consequência da atuação de um importante gru- po de pesquisadores oriundos de instituições de ensino, pesquisa e extensão rural do Brasil. A nova Extensão Agroecológica apregoada

Extensão Rural Uma apresentação relatando o surgimento da extensão rural agroecológica

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Encerro esta apresentação destacando que me compraz reco- mendar a obra elaborada por Nádia Velleda Caldas e Flávio Sacco dos Anjos durante sua estância como Professores Visitantes junto ao Instituto de Estudos Sociais Avançados a partir de convite for- mulado pelos professores Eduardo Moyano Estrada e Fernando Garrido. Indubitavelmente se trata de uma ferramenta útil e rele- vante para todas as pessoas identificadas com o esforço por cons- truir uma extensão rural baseada nos princípios da Agroecologia em todos os rincões do planeta.

Eduardo Sevilla Guzmán Professor Catedrático de Agroecologia da Universidade de Córdoba Córdoba, Espanha | Março de 2020

Extensão Rural Uma apresentação relatando o surgimento da extensão rural agroecológica

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O que é extensão rural?

Comecemos pelo óbvio. Antes de mais nada é preciso definir, ainda que preliminarmente, o que entendemos como extensão rural. Am- bos os termos (extensão e rural) dão margem a múltiplas interpre- tações. “Extensão” deriva do verbo estender, definido nos diversos dicionários da língua portuguesa como “estirar-se no espaço, alar- gar-se, alongar-se, expandir-se no tempo, fazer chegar, abranger, levar” ou mesmo “apregoar, divulgar, propagar”. Mas daí surgem as primeiras indagações: estender precisamente o quê? para quem? como fazer isso? E, por fim, por que fazê-lo? Não são perguntas retóricas e irrelevantes. Em verdade, elas re- fletem a própria natureza de uma prática diretamente relacionada com o âmbito das ciências agrárias, das ciências humanas e socio- ambientais. Façamos aqui um breve raciocínio. Praticar a extensão rural poderia ser entendido, de forma muito simples, como levar uma determinada tecnologia, informação ou conhecimento, a al- gum determinado tipo de produtor, de alguma localidade, seguindo uma determinada metodologia. Todavia, surgem novas questões: esse suposto produtor manifestou previamente seu interesse ou disposição no que lhe está sendo entregue ou estendido? A quem serve essa tecnologia? De que modo ela será disponibilizada? Quais os supostos benefícios decorrentes de sua aplicação ou incorpora- ção? E se estender é levar algo de um lugar para outro, será que necessariamente a nova condição é melhor que anteriormente ao recebimento do que lhe foi entregue ou estendido? Existe alguma forma de interlocução ou canal de comunicação entre esse produ- tor e aquele que lhe estende ou entrega a tal tecnologia? Ou, contra- riamente, encontramo-nos diante de uma via de mão única, ou de uma estrada sem saída? Há vários autores que consideram que o termo “extensão” não deveria ser mais empregado para referir-se a esse tipo de atividade executada por profissionais das ciências agrárias, dado que durante muito tempo significou levar alguma coisa para alguém que não so- licitou, que foi induzido a aceitar o que lhe foi entregue, bem como