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Este estudo analisa as obras macunaíma de mário de andrade, casa-grande & senzala de gilberto freyre e o povo brasileiro de darcy ribeiro, explorando suas perspectivas sobre a formação do povo e da sociedade brasileira baseada na ideia do 'mito das três raças'. A partir da obra de mário de andrade, percebemos a influência multifacetada dos povos que formaram a nação brasileira no caráter do 'herói sem nenhum caráter'.
Tipologia: Exercícios
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Resumo: O presente estudo tem como objetivo comparar as obras Macunaíma de Mário de Andrade, Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre e O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil de Darcy Ribeiro no tocante à formação do povo e da sociedade brasileira, baseado na ideia do “mito das três raças”. A partir da obra de Mário de Andrade, percebemos que o “herói sem nenhum caráter”, que segundo o autor representaria o povo brasileiro, tem seu caráter multifacetado por influência dos vários povos que vieram formar a nação brasileira. Outro ponto de destaque refere-se à situação socioeconômica dos índios e dos negros que, ainda hoje, são discriminados e sofrem de diversas maneiras quanto ao preconceito.
Palavras-Chave: Literatura. Macunaíma. Índios. Negros. sociedade.
Abstract: The present study aims to compare the works of Mário de Andrade (Macunaíma), Gilberto Freyre (Casa-Grande & Senzala) and Darcy Ribeiro (The Brazilian People - Formation and the Meaning of Brazil) in the formation of the people and the Brazilian society, based on the idea of the "myth of the three races". From the work of Mário de Andrade, we perceive that the "hero without any character" and that, according to the author would represent the Brazilian people, has its multifaceted character by the influence of the various peoples that came to form the Brazilian nation. Another point of prominence refers to the socioeconomic situation of Indians and blacks
who, even today, are discriminated against and suffer in various ways regarding prejudice.
Keywords: Literature. Macunaíma. Indian. Blacks. Society.
Em 1928, Mário de Andrade lançava seu livro Macunaíma, o herói sem nenhum caráter , uma crítica à formação do povo brasileiro que, algum tempo depois, outros autores tomariam como exemplo para o “mito das três raças”, como por exemplo Gilberto Freyre em CasaGrande & Senzala (1933) ou Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil (1995). O objetivo desta pesquisa é analisar os diferentes olhares sobre a formação do povo brasileiro, quer seja pela literatura de Mário de Andrade, quer pelos estudos de Gilberto Freyre e de Darcy Ribeiro e de outros que se façam presentes quando das pesquisas. Além disso, temos em mente que a formação da sociedade brasileira apresenta características díspares e, ao mesmo tempo, complementares. Quando se pensa no título da obra de Mário de Andrade e nos deparamos com “o herói sem nenhum caráter”, podemos ter em mente que se trata de uma personagem desprovida de polimento, de compromisso com a verdade ou com as falhas de caráter social (alguém que seja desajustado socialmente – mentiroso, briguento, preguiçoso, traiçoeiro etc.). No entanto, ao analisarmos mais detalhadamente, percebemos que Macunaíma não
possui um caráter específico, mas a junção de várias características que formaram (e formam) o povo brasileiro. A inserção de trechos das obras de Gilberto Freyre e de Darcy Ribeiro complementam a análise para que possamos vislumbrar uma das várias facetas, em termos de compreensão textual oferecidas por Mario de Andrade e sua personagem icônica. A formação do povo brasileiro, a partir das três “raças”, ou seja - a indígena, a negra e a europeia – bem como as várias características que cada uma carrega, fazem parte deste estudo, além de analisarmos a situação de cada uma na atualidade.
Há muito se fala sobre “raças humanas” haja vista as diferentes tonalidades de pele, tipos de cabelos, cor de olhos, estrutura óssea, entre outros aspectos. No entanto, a constituição de um africano para um europeu, por exemplo, varia entre 3% e 5%, ou seja, os valores são tão ínfimos que não há como dizer tratar-se de outra raça humana. Encontramos as divisões da espécie humana entre os egípcios (pela cor da pele), no Antigo Testamento (filhos de Noé, formadores de outros povos), entre os gregos (não pela tez, mas pela cultura e idioma). Europeus do século XVI conheceram humanos diferentes daqueles padrões aos quais estavam acostumados, principalmente nas terras recém-descobertas com o advento das Grandes Navegações; assim sendo, dividiram aqueles que não seguiam os padrões conhecidos pela Europa até então, como se fossem de outra raça. A ideia de várias raças humanas perdurou até meados do século XX, quando surgiu o Projeto Genoma que, analisando a genética de diferentes povos, constatou que estas eram irrelevantes. Outro ponto a ser observado é que o conceito de “raça”, antes aceito pelos pesquisadores, tornou-se arcaico, sem sentido ou perigoso quando utilizado, principalmente em livros. No Brasil, a utilização do termos é feita apenas no ambiente político para a "igualdade racial" ou em termos de legislação,
por exemplo, com a lei n.º 12.288, de 20 de julho de 2010 , que instituiu, no Brasil, o "Estatuto da Igualdade Racial". Atualmente, a palavra “etnia” é bem mais aceita. A UNESCO recomendou, na década de 1950, “grupos étnicos” para as diferentes apresentações dos ser humano; no entanto, as acepções racistas perduram ainda hoje. Em termos de Brasil, Gilberto Freyre, em Casa- Grande & Senzala (1933), trata da importância da casa-grande e da senzala no que diz respeito à formação sociocultural brasileira, enfatizando a miscigenação que houve entre brancos, negros e índios. Quando da leitura, percebemos a formação hierárquica composta pelos brancos (senhores de engenho, principalmente), negros escravizados de várias etnias (que serviam em tudo aos seus senhores) e indígenas (escravizados ou não). Freyre suaviza a forma como tal formação se deu. Para MOURA (1988), "Gilberto Freyre caracterizou a escravidão no Brasil como composta de senhores bons e escravos submissos". SILVA (1995) afirma que “a miscigenação é um velhíssimo processo de enriquecimento racial e cultural dos povos, capaz de gerar civilizações”. Além disso, “nunca foi tratada e nunca existiu como um processo livre, espontâneo, e, portanto, natural, de união entre dois povos.” Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro , nos explica que:
“No Brasil, de índios e negros, a obra colonial de Portugal foi também radical. Seu produto verdadeiro não foram os ouros afanosamente buscados e achados, nem as mercadorias produzidas e exportadas. Nem mesmo o que tantas riquezas permitiram erguer no Velho Mundo. Seu produto real foi um povo‐nação , aqui plasmado principalmente pela mestiçagem, que se multiplica prodigiosamente como uma morena humanidade em flor, à espera do seu destino. Claro destino, singelo, de simplesmente ser, entre os povos, e de existir para si mesmos” (p.68, grifo nosso).
Na obra, Darcy Ribeiro trata das matrizes culturais e da formação étnica-cultural do povo brasileiro de
as práticas mágicas – da magia branca e da magia negra – todo o folclore brasileiro, enfim, num corte horizontal de mestre. É um mosaico, uma síntese viva e uma biografia humanizada do folclore de nossa terra”. (FERNANDES, 1946: 150-151).
A brasilidade de Macunaíma, apresentada por Mário de Andrade, soma todas as características dos indígenas, negros e europeus. O jogo entre tais características faz com que a cultura brasileira seja original, incomparável aos olhos de outras nações, pois, ao mesmo tempo em que apresenta elementos heterogêneos, também o faz quanto ao patrimônio cultural. Mas, e quanto ao “caráter” ou à falta dele? De acordo com CUNHA (1986) em seu Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa , o vocábulo foi utilizado de forma inicial no século XVI com o sentido de “cunho, marca (...) qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa”, trata-se de uma palavra derivada do latim charcter, -ris , derivada do grego charakter - eros. Macunaíma, portanto, apresenta um caráter plural, sem nenhum caráter específico (grifo nosso). Ao somar características várias, de diversas etnias, como um modernista antropofágico apresenta várias facetas – para o indígena, apesar de todos os conflitos entre eles serem minimizados em suas obras – o primeiro entre negros e brancos e o segundo entre europeus, índios e negros. Em Casa-Grande & Senzala , Freyre comenta: “Nesse ponto já o mestre ilustre que é o professor Roquette-Pinto insinuou a necessidade de retificar- se Euclides da Cunha, nem sempre justo nas suas generalizações. Muito do que Euclides exaltou como valor da raça indígena, ou da sub-raça formada pela união do branco com o índio, são virtudes provindas antes da mistura das três raças que da do índio com o branco; ou tanto do negro quanto do índio ou do português. "A mestiçagem", diz Roquette-Pinto, e "deu o jagunço: o jagunço não é mameluco, filho de índio e branco. Euclides estudou-o na Bahia; Bahia e Minas são os dois estados da União em que mais se espalhou o africano".(p.56)
Em tempos de politicamente correto, tal excerto soaria racista, haja vista denominar a mestiçagem à
“sub-raça”. Um pouco mais adiante, Freyre nos explica sobre a formação da nação brasileira, levando em consideração três etnias básicas: o índio, o branco e o negro; no entanto, chama-nos a atenção para a maior diferença entre elas. Vejamos:
“Considerada de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade, como já salientamos às primeiras páginas deste ensaio, um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura europeia e a indígena. A europeia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o pária. O bacharel e o analfabeto. Mas predominando sobre todos os antagonismos: o senhor e o escravo.” (p.58) Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro apresentam como base para a formação do povo brasileiro o mito das três raças, cuja base é o senso comum e afirmam que tanto a cultura como a sociedade brasileira foram constituídas pelas influências dos europeus, africanos e indígenas. Importante notar que, com a chegada do europeu, as primeiras tentativas de escravizar os índios, principalmente pela “cunhadagem” (brancos que se casavam com as índias), não resultou como o esperado. Dessa forma, a vinda dos africanos, para suprirem as necessidades De acordo com Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro , “A distância social mais espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres aos ricos. A ela se soma a discriminação que pesa sobre índios, mulatos e negros.” Percebemos que tal assertiva se confirma ainda hoje de acordo com as mais variadas pesquisas. Segundo o IBGE (2005/2015), “o Brasil ainda está muito longe de se tornar uma democracia racial”, pois “os brancos têm os maiores salários, sofrem menos com o desemprego e são maioria entre os que frequentam o ensino superior”. Quando nos deparamos com os indicadores socioeconômicos da população afrodescendente e dos indígenas, estes “costumam ser bem mais desvantajosos”.
Darcy Ribeiro ainda nos brinda com o seguinte pensamento: “A luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi – e ainda é – a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional.” Macunaíma, Jiguê e Maanape, personagens criadas por Mário de Andrade há mais de oitenta anos, mostram exatamente essa discrepância entre o branco europeu, o índio e o negro. Para Ribeiro, são
“(...) matrizes raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo (...), num novo modelo de estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos”. (p. 19)
Após o banho na fonte “milagrosa”, temos Macunaíma como o chefe do grupo (o europeu branco), sentindo-se mais bonito, inteligente, forte e “senhor” dos outros dois irmãos, usando-os a seu bel prazer de acordo com suas (as dele) necessidades. Ainda de acordo com Darcy Ribeiro,
“A distância social mais espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres dos ricos. A ela se soma, porém, a discriminação que pesa sobre negros, mulatos e índios, sobretudo os primeiros.” (p. 219)
Macunaíma não se torna um homem rico, mas age como tal. Quase ao término da obra, no capítulo IX- Cartas pras Icamiabas, proclamase imperador: “Finalmente, senhoras Amazonas e muito amadas súbditas, assaz hemos sofrido e curtido árduos e constantes pesares, depois que os deveres da nossa posição, nos apartaram do Império do Mato Virgem. (...) Com pouco o vosso abstêmio Imperador se contenta; si não puderdes enviar duzentas igaras cheias de bagos de cacau, mandai, cem, ou menos cinqüenta! Recebei a bênção do vosso Imperador e mais saúde e fraternidade. Acatai com respeito e obediência estas mal traçadas linhas; e,
principalmente, não vos esqueçais das alvíçaras e das polonesas, de que muito hemos mister. Ci guarde a Vossas Excias. Macunaíma, Imperator.”
Assim se sentiam os europeus, senhores de engenho abastados ou nem tanto, no início da colonização do Brasil. Os irmãos de Macunaíma o seguiam e, mesmo a contragosto, se colocavam numa posição inferior à do irmão. Jiguê (o irmão do meio) é um bravo guerreiro e possui musculatura forte, mesmo sendo traído por suas mulheres com o irmão Macunaíma, dificilmente se volta contra ele – desconta sua fúria de homem traído em suas mulheres. Após o banho sagrado, fica com a coloração da pele na cor do cobre; portanto, poderíamos dizer que se trata da etnia indígena. Maanape é o irmão mais velho, feiticeiro, faz com que Macunaíma reviva algumas vezes – sua função no decorrer de todo o romance é o de cuidar do irmão; ao se banhar na água sagrada, fica apenas com as palmas das mãos e a sola dos pés brancas, ele continua negro como os outros de sua tribo – uma alusão os negros escravizados. Tanto um como o outro seguem Macunaíma; no entanto, percebemos claramente que o Jiguê se revolta mais facilmente contra o irmão (assim como vários indígenas se voltavam contra os brancos quando da tentativa de serem escravizados pelos europeus) e que Maanape o segue sem muito reclamar (como muitos negros escravizados se comportavam em relação a seus senhores). Atualmente, a condição de índios e negros em nosso país se revela tão triste como há tanto tempo. Assim como os três irmãos seguiram para a cidade grande, de acordo com a FUNAI (www.funais.gov.br), a população indígena
“vem enfrentando uma acelerada e complexa transformação social (...) As comunidades indígenas vêm enfrentando problemas concretos tais como invasões, degradações territoriais e ambientais, exploração sexual, aliciamento e uso de drogas, exploração de trabalho, inclusive infantil, êxodo desordenado causando grande
mais aprofundadamente e, na medida do possível, que essas diferenças sejam reduzidas.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. O Herói sem nenhum caráter. 16ª ed. São Paulo: Martins, 1978.
BUENO, Silveira. Vocabulário Tupi- Guarani – Português. São Paulo: Brasilivros Editora e Distribuidora Ltda., 1987.
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