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macroeconomia em economia aberta, Notas de estudo de Administração Empresarial

economia aberta

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 06/06/2012

Brasilia80
Brasilia80 🇧🇷

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MACROECONOMIA EM
ECONOMIA ABERTA
Rogério Studart
Doutor em Economia pela Universidade de Londres,
professor da UFRJ
1. INTRODUÇÃO
No mundo atual, as economias nacionais não estão isoladas de eventos mundiais. Pelo contrário, o
processo de globalização dos anos 80s, quando muitas das barreiras ao comércio internacional e,
principalmente, do fluxo de capital foram reduzidas, tornou as economias nacionais ainda mais
interdependentes.
Esta interdependência tem duas facetas relacionadas: por um lado, uma parcela crescente da renda
das economias nacionais passou a ser determinado pelo comércio e fluxos de capital com o Resto do
Mundo; por outro, as políticas governamentais (por exemplo, as políticas monetária e fiscal)1 perderam
graus de liberdade frente a variações no cenário internacional.2
O objetivo desta parte do programa do ECEX-UFRJ é mostrar como, do ponto-de-vista
estritamente econômico, se dão estas relações entre economias nacionais e economia internacional. A
primeira parte da apostila (seção II portanto) visa familiarizar o aluno com a quantificação dos "grandes
agregados" através de uma apresentação resumida das contas nacionais, e em especial da relação do
balanço de pagamentos com esta últimas. Na seção III passamos a tratar dos fatores que afetam os
resultados do Balanço de Pagamentos. Uma vez estabelecida as identidades contábeis, e seu significado, e
os determinantes do Balanço de Pagamentos, na seção IV apresentamos um modelo simplificado,
denominado IS-ALM, visando explicar o papel de tais fluxos na determinação da renda, produto e
emprego de uma "economia aberta".3
1 Os conceitos de política monetária e fiscal serão discutidos mais adiante na apostila.
2 Para uma análise do papel instabilizador para as economias nacionias da globalização financeira nos anos 80s e 90s,
veja-se Yilmaz Akyüz, "Instabilidad e incertidumbre en los mercados financieros internacionales", Boletim del CEMLA, nov-dic.
1991.
3 O que diferencia uma economia "fechada" de uma "aberta" é o fato de que na última se consideram, na análise
macroeconômica, os fluxos comerciais e de capital com o Resto do Mundo.
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MACROECONOMIA EM

ECONOMIA ABERTA

Rogério Studart Doutor em Economia pela Universidade de Londres, professor da UFRJ

1. INTRODUÇÃO

No mundo atual, as economias nacionais não estão isoladas de eventos mundiais. Pelo contrário, o processo de globalização dos anos 80s, quando muitas das barreiras ao comércio internacional e, principalmente, do fluxo de capital foram reduzidas, tornou as economias nacionais ainda mais interdependentes. Esta interdependência tem duas facetas relacionadas: por um lado, uma parcela crescente da renda das economias nacionais passou a ser determinado pelo comércio e fluxos de capital com o Resto do Mundo; por outro, as políticas governamentais (por exemplo, as políticas monetária e fiscal)^1 perderam graus de liberdade frente a variações no cenário internacional.^2 O objetivo desta parte do programa do ECEX-UFRJ é mostrar como, do ponto-de-vista estritamente econômico, se dão estas relações entre economias nacionais e economia internacional. A primeira parte da apostila (seção II portanto) visa familiarizar o aluno com a quantificação dos "grandes agregados" através de uma apresentação resumida das contas nacionais, e em especial da relação do balanço de pagamentos com esta últimas. Na seção III passamos a tratar dos fatores que afetam os resultados do Balanço de Pagamentos. Uma vez estabelecida as identidades contábeis, e seu significado, e os determinantes do Balanço de Pagamentos, na seção IV apresentamos um modelo simplificado, denominado IS-ALM, visando explicar o papel de tais fluxos na determinação da renda, produto e emprego de uma "economia aberta".^3

(^1) Os conceitos de política monetária e fiscal serão discutidos mais adiante na apostila. (^2) Para uma análise do papel instabilizador para as economias nacionias da globalização financeira nos anos 80s e 90s,

veja-se Yilmaz Akyüz, "Instabilidad e incertidumbre en los mercados financieros internacionales", Boletim del CEMLA , nov-dic.

(^3) O que diferencia uma economia "fechada" de uma "aberta" é o fato de que na última se consideram, na análise

macroeconômica, os fluxos comerciais e de capital com o Resto do Mundo.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] Cabe notar ainda que esta apostila é um texto introdutório de macroeconomia aberta, voltado para o perfil médio do estudante do ECEX-UFRJ. Para um tratamento mais aprofundado, recomenda-se a bibliografia citada ao longo, e listada no final, desta apostila.

2. O BALANÇO DE PAGAMENTOS E AS CONTAS NACIONAIS

A contabilidade nacional é uma forma especial de estatística econômica, cuja matéria é a classificação e mensuração sistemática de todas as transações (de bens e serviços) que compõem a vida econômica de uma nação.^4 Nesta contabilização, o PIB, ou Produto Interno Bruto, é sem dúvida a variável de destaque, já que, na maioria das análises macroeconômicas, esta é a medida de nível de produto e renda de uma economia. O PIB nada mais é do que o valor bruto - ou seja, o preço de mercado multiplicado pela quantidade - de todos os bens e serviços produzidos na economia doméstica, depurado das transações intermediárias e dos subsídios. Estas últimas transações são subtraídos do cálculo do PIB para que se evite dupla contagem dos valores agregados.^5 Toda transação econômica pode ser vista por pelo menos três ângulos do mesmo fenômeno: preço de produção, preço de venda e renda. Ou, colocado de outra forma, toda transação representa para o comprador, o preço da demanda; para o vendedor, sua renda e seu custo de produção (que inclui os custos de produção e sua própria remuneração). Neste sentido, como vemos na tabela seguinte, o PIB corresponde, ao mesmo tempo, ao somatória de todos os valores agregados em cada setor da economia, à renda agregada e ao dispêndio das empresas, famílias e Governo de uma economia nacional. Note-se que, enquanto o custo da produção interna de bens e serviços deve equivaler à renda das empresas e famílias, a renda agregada não equivale necessariamente ao valor do consumo agregado. Isto porque parte do consumo interno é saciado por importações (o que represente um fluxo para o exterior de renda), enquanto parte da oferta interna é direcionada para exportações (tendo como contrapartida uma criação de renda para o exportador

(^4) Cf. João Paschoal Rosetti, Contabilidade Nacional: Uma Abordagem Introdutória , São Paulo: Editora Atlas, 1980: 15.

O livro de J. P. Rosetti é uma referência básica para aqueles alunos que queira estudar mais profundamente Contabilidade Nacional. O capítulo 5 deste livro é o referente à economias abertas, que apontamos como leitura obrigatória. Entretanto, os capítulos 1 a 4 podem ser de interesse para o aluno que tenha dificuldades em compreender alguns dos conceitos básicos discutidos no capítulo 5. (^5) Por exemplo: suponha que haja um único produtor de matéria-primas necessárias para a produção de um automóvel, e que estas sejam vendidas à montadoras por CR$ 5 milhões. Suponha ainda que o veículo já montado seja vendido por CR$ 8 milhões. O valor bruto da produção corresponderia a CR$ 13 milhões, porém o valor agregado pelos setores correspondem a CR$ 8 milhões: ou seja, CR$ 5 milhões correspondente à remuneração do trabalho do produtor da matéria-prima e CR$ 3 milhões do montador do veículo.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] O Balanço de Pagamentos contabiliza as transações entre residentes e não residentes.^6 Estas transações são divididas entre aquelas oriundas de fluxos de bens (balança comercial), serviços (balança de serviços), transferenciais unilaterais e os movimentos de capital.

Tabela 2 - O Balanço de Pagamentos ESPECIFICAÇÃO DAS TRANSAÇÕES Recebi mentos

P agamentos

Saldo

  1. Balança Comercial 1.1. Exportações de mercadorias 1.2. Importações de mercadorias

X M

BC = X-M

  1. Balanço de Serviços 2.1. Viagens internacionais 2.2. Transportes 2.3. Seguros 2.4. Rendas de capitais 2.5 Serviços governamentais 2.6. Serviços diversos

Xs M s

BT = Xs-Ms

  1. Transferências unilaterais TU TRANSAÇÕES CORRENTES NX = BC + BT+ TU MOVIMENTOS DE CAPITAL
    1. Investimentos estrangeiros líquidos
    2. Empréstimos a médio e longo prazos
    3. Empréstimos a curto prazo
    4. Amortizações

IEL EMLP ECP A

CF

TOTAL BALANÇO DE PAGAMENTOS BP = NX + CF VARIAÇÃO DAS RESERVAS BP

(^6) "O conceito de residentes abrange os agentes permanentemente situados no território do país e

cuja atividade esteja sujeita à direção e ao controle sistemático das autoridades nacionais. Os não-residentes são os estabelecidos em outros países, os que se encontram em trânsito no exterior e os que, embora sediados no exterior, têm suas ações e atividades inteiramente financiadas pelos seus países de origem" (Rosetti, op. cit., p. 131).

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] Como se observa na Tabela 2, a balança comercial representa o resultado líquido dos pagamentos das exportações e importações de bens, realizadas pelo país em um determinado período (em geral, um ano). A balança comercial estará superavitária, portanto, se o valor das exportações superar o valor das importações anuais. A balança de serviços registra todos os pagamentos e recebimentos por prestações de serviços (gastos em viagens internacionais, pagamento de frete internacional, seguros etc) e por remuneração do capital investido no país por não residentes (i.e. dividendos) ou emprestados por não-residentes a residentes. As transações correntes representam a soma dos resultados das transações comerciais, de serviços e das transferências unilaterais - estas últimas representando os mais diversos tipos de donativos voluntários ou compulsórios, privados ou oficiais, de país para país, sem qualquer contraprestação futura. A conta de movimento de capitais, ao contrário da de transferências unilaterais, registra todo movimento de divisas relacionados a investimentos e empréstimos presentes e passados. Neste sentido, se incluem nesta conta investimentos líquidos e os empréstimos de curto e longo prazo realizados no período contábil, além do pagamento das amortizações, totais ou parciais, dos empréstimos fechados em períodos contábeis anteriores.^7 Na medida em que o balanço de pagamentos representa o resultado líquido de todos os pagamentos ao, e recebimentos do exterior, este resultado equivale à variação das reservas (de divisas e outros direitos) internacionais dos país. Ou seja, um superávit no balanço de pagamentos indica que o país sofreu uma redução de reservas internacionais no período contábil; no contrário, aumentaram suas reservas internacionais.

Fatores que afetam o Balanço de Pagamentos

O resultado do Balanço de Pagamentos influencia a performance da economia nacional de forma proporcional ao (^) grau de abertura desta última.^8 Primeiramente, os fluxos de bens e serviços são parte da demanda e a oferta agregadas da economia nacional e, portanto, tem efeitos diretos

(^7) Os juros e remessa de lucro, como denotamos acima, representam (^) rendas de capital e portanto

são lançados na conta de serviços.

(^8) O grau de abertura é normalmente definido como a soma do valor das exportaçoes e importações

da economia sobre o PIB e reflete a dependência este último às transações com o Resto do Mundo.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] A taxa de câmbio é definida como sendo a quantidade de moeda nacional necessário para a compra de uma unidade de moeda estrangeira.^10 Por exemplo a taxa de câmbio, e, do cruzeiro real (CR$) em relação ao dólar (US$) é definida pela seguinte fórmula:

e = (CR$ x)/(US$ 1) (1.1)

Esta definição implica em dizer que, numa desvalorização do cruzeiro (ou aumento de e ) precisamos de mais cruzeiros para comprar o mesmo dólar; logo que, ceteris paribus (ou seja, não havendo mudança dos preços dos bens transacionados entre os países), o produto nacional se torna ainda mais barato que o similar estrangeiro. Por outro lado, uma valorização da moeda nacional em relação ao dólar reduz a competitividade do produto nacional na medida em que aumento o seu custo em dólares. Colocado de outra forma, a taxa de câmbio influencia o comércio na medida em que estabelece os preços relativos entre produtos importados e nacionais. Por exemplo, suponha que um balde custe CR$ 1600 no Brasil e US$ 1 nos EUA. A uma taxa de câmbio igual a 1600, o balde brasileiro custa US$ 1, logo, ignorando-se os custos adjacentes (e.g. transporte) é economicamente racional que o consumidor americano seja indiferente entre a origem do balde (Brasil ou EUA). Mas se o cruzeiro for desvalorizado em cem por cento (logo e = 3200), o balde brasileiro pode ser vendido por CR$ 1600 mas para o consumidor Americano isto representará um preço de 50 cents de dólar, muito inferior portanto ao similar nacional (Americano). Até agora supomos que os preços tanto nos EUA quanto no Brasil não mudaram. Fica implícito que qualquer estímulo/desestímulo às importações/exportações vai depender do preço relativo dos produtos nacionais. Logo, se há uma desvalorização de 100% no cruzeiro, mas o preço do balde se eleva em 100% no Brasil, nada ocorre aos fluxos de importação e exportação de baldes. Daí a relevância do conceito de taxa de câmbio ajustada pela inflação (R), que é dada pela razão dos preços dos bens estrangeiros (Pf), medidos em cruzeiros reais, em relação aos preços dos bens domésticos (P):

R = e. (Pf/P) (1.2)

(^10) Em muitos países, como nos EUA esta definição é ao contrário; vamos nos ater à lógica e não à

definição do conceito.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] Podemos portanto simplificar o efeitos de rex sobre importações e exportações através do seguinte quadro:

Quadro 1 - Efeito de variações da taxa de câmbio real sobre o fluxo de bens e serviços

R sobe R desce

Importações desestimula estimula Exportações estimula desestimula

Ou seja, caso todos preços num país variassem proporcionalmente, para se manter a competitividade (de preços) dos produtos nacionais em relação, por exemplo, aos produtos Americanos, é preciso que a taxa de câmbio varie de acordo com a diferença entre a inflação Americana e a inflação nacional. Ou seja, isolando-se os fatores que determinam a variação da

taxa real de câmbio ( ∆ RR Erro! O argumento da opção não foi especificado. ), temos:

∆ R ∆ ∆^ ∆

R

= e

e

+ P

P

- P

P

f f

Erro! O argumento da opção não foi especificado.

(1.3) Erro! O argumento da opção não foi especificado. (1.3)

onde ∆ e

e

Erro! O argumento da opção não foi especificado. = variação da taxa de

câmbio

∆ f

f

P

P

Erro! O argumento da opção não foi especificado. = inflação nos EUA

∆ P

P Erro! O argumento da opção não foi especificado.^ = inflação no Brasil

Note-se que, por exemplo, a lógica da política de mini-desvalorizações seguida pelo Brasil (em diversos momentos de sua História recente até os dias de hoje) é tentar reduzir o impacto da inflação brasileira sobre a competitividade internacional, mantendo R intacto. Isto equivale a dizer que:

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] No exemplo acima ressaltamos o comércio de bens e serviços, onde a taxa de câmbio e os preços nacionais determinam diretamente a demanda e a oferta (dada plena competição etc). Já na compra e venda de ativos, ou na aquisição de uma dívida em moeda estrangeira, para tomar a decisão que determinará o fluxo de capitais entre países não basta ao agente conhecer os preço relativos corrente, porque os preços relevantes dos ativos financeiros e contratos são, por definição, os preços futuros. Quando se compra qualquer ativo financeiro, o que se tem em vista é a remuneração "real" que este ativo pode lhe proporcionar. Ou seja, quando por exemplo compramos um CDB não queremos saber se ele oferece 50 ou 100% em 2 meses, mais quanto isto representa face à inflação do período. Como esta inflação só vai ser conhecida no final do período , quando o banco nos oferece uma taxa nominal temos que formar expectativas quanto à inflação. No caso da compra de um ativo denominado em moeda estrangeira, temos que considerar outro risco: o risco cambial. Por exemplo, assumindo a hipótese heróica de que não haja inflação no Brasil após a implantação do Real, se comprarmos um título do governo americano com valor de face de US$ 100 que paga 5% ao ano e a moeda nacional valoriza-se em 10% então teremos a seguinte situação:

Quadro 2 - Uma simulação da rentabilidade de um ativo estrangeiro com variação da taxa de câmbio Em dólares Em cruzeiro Compra (período t)

Venda (período t+1)

Ou seja, mesmo que a taxa de remuneração do ativo em dólar seja imutável, o portador do título teve um prejuízo em moeda local de 5.5%. Colocado de outra forma, caso este agente tivesse tomado a decisão de não adquirir o ativo em dólares, ele não teria tido uma redução do seu patrimônio líquido em cruzeiros. O mesmo raciocínio acima pode se aplicar a um empréstimo. Ou seja, suponhamos que uma empresas final esteja adquirindo um empréstimo em, digamos, dólares, a uma taxa de juros (rf) de 5%. Se até o final do ano a desvalorização cambial for de 10%, ele estará de fato pagando uma taxa de juros de 15% em cruzeiros reais. Neste sentido, se a taxa de juros de empréstimos em moeda nacional for de 10%, esta empresa terá realizado um mal negócio.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ]

Podemos concluir, portanto, que o balanço de pagamentos é o resultado das forças que afetam os fluxos comercial e de capital entre o país e o resto do mundo. No que tange ao fluxo de bens e serviços, o resultado líquido (NX) recebimentos por exportações (X) e dos pagamentos de importações (M) pode ser definido da seguinte forma:

NX = X (Yf, R) - M (Y, R) = NX (Yf, Y, R) (1.4)

ou seja, as exportações são função direta da renda dos residentes do "Resto do Mundo" (Yf)^11 e da taxa de câmbio real (R); as importações serão função da renda dos residentes e inversa de R. Por sua vez, os fluxos financeiros de capital (CF) são determinados pelo diferencial entre taxas reais de juros no exterior (if) e no Brasil (i). Assim temos que:

CF = CF (i - if) (1.5)

if = rf + ∆ e

e

Erro! O argumento da opção não foi especificado.

onde rf significa taxa de juros nominal internacional e (de/e)e é a desvalorização cambial esperada. Tendo "modelado" os principais determinantes do Balanço de Pagamentos (BP = NX + CF), podemos partir para a análise estilizada da relação entre este último e os níveis de produto e emprego na economia nacional. Para tal usamos o modelo IS-ALM.

O Modelo IS-ALM

O modelo IS-ALM modela uma macroeconomia aberta, procurando mostrar como mudanças em variáveis selecionadas (por exemplo, taxas de juros, taxas de câmbio, Investimento, Consumo etc) vão afetar o produto e o emprego em uma economia aberta.

(^11) Uma forma mais ou menos evidente de entender tal questão é a seguinte: suponhamos que haja

uma recessão nos países importadores de produtos brasileiros. Isto significa que Yf irá cair e, mantido R, haverá uma redução na demanda por exportações brasileiras.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ]

renda agregada (e do emprego) numa economia fechada, basta focalizarmos na análise dos determinantes do consumo e do investimento. Comumente, assume-se que o consumo agregado é explicado primordialmente pelo nível de renda, de forma que matematicamente a relação entre estas duas variáveis pode ser assim expressa:

C = Co + c. Y (2.2)

onde Co é o consumo autônomo - ou seja, independente do nível de renda - e c representa a propensão (marginal) a consumir , ou seja, o quanto se espera que o consumo aumento para cada unidade adicional de renda. Substituindo (2.2) em (2.1) temos que a demanda agregada pode ser dividida em uma parcela dependente da renda (consumo) e uma independente da renda (consumo autônomo e investimento). Ou seja:

DA = Y = Co + c. Y + I (2.3.a)

o que, colocando Y em evidência, corresponde a

Y = ( C^ + I )

1- c

o = m. ( C o + I ) Erro! O argumento da opção não foi especificado.

(2.3.b) Isto significa que, para cada unidade adicional de gasto autônomo (Co + I) a renda será multiplicada por m (igual a 1/1-c) vezes. É por este motivo que m é conhecido como o multiplicador Keynesiano, ou simplesmente o multiplicador. Se nós sabemos que Co é dado no modelo Keynesiano, a variável causal mais importante do modelo é, automaticamente, o investimento. Os determinantes do investimento são portanto, na tradição Keynesiana, a causa causans (a causa última) na determinação do emprego e do produto nacional. A análise dos determinantes do investimento é fundamental na chamada teoria da demanda efetiva de Keynes, que tanto influência exerce sobre a macroeconomia das curvas IS- LM.

entender os problemas dinâmicos das economias de mercado, devemos analisar os determinantes da "oferta", enquanto a demanda ajusta-se por si só. De fato, a (^) Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda de Keynes (Rio de Janeiro: Ed. Atlas, 1983) foi revolucionária ao ser publicada em 1936 em mostrar que a recessão nos anos 30s se devia a problemas de falha de demanda agregada, e não a inflexibilidades de preços no mercado de trabalho (ou seja, falha de oferta agregada).

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ] Para Keynes, o investimento possuía dois determinantes básicos: em primeiro lugar, o que ele chamou de eficiência marginal do capital (EMC), ou seja o que os capitalistas esperam de retorno (o custo) pela compra de uma unidade adicional de investimento. Obviamente que, na medida em que os investimento em geral apresentam retorno somente após se tornarem expansão da capacidade produtiva e incrementarem a produção, a EMC representa as expectativas correntes dos empresários sobre a demanda futura de algum bem. Ou seja, a EMC reflete o estado de otimismo ou pessimismo do investidor em relação ao futuro. Em segundo lugar, o investimento, na Teoria Keynesiana, é uma função da taxa de juros. Esta relação se liga ao fato de que o investimento ser uma ativo , mesmo que fixo, para o empresário: ou seja, um instrumento pelo qual ele pretende aumentar a rentabilidade de seu negócio. Enquanto tal, este ativo concorre com outros ativos fixos (por exemplo, imóveis) e financeiros (por exemplo, CDB etc.). Ou seja, caso as expectativas empresariais esteja desfavoráveis ao investimento e as taxas de juros de mercado esteja suficientemente altas, obviamente os empresários iram postergar seus planos de investimento aplicando seu lucro acumulado em ativos financeiros de curto prazo e/ou deixando de endividar-se para o financiamento de expansão de capacidade produtiva. Desta forma, o investimento pode ser descrito como uma função direta das expectativas empresariais (EMC) e inversa da taxa de juros (i):

I = I (EMC, i) (2.4)

onde a condição de investir é que EMC > i. Isto dito, podemos supor que, dadas as expectativas dos empresários, quanto menor a taxa de juros, maior o nível de investimento da economia. Ou seja, graficamente podemos representar a relação entre taxa de juros e juros da seguinte como uma curva negativamente inclinada (Figura 1).

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ]

dois dias (quando seu preço atingir o mínimo); isto é o que ele racionalmente fará. Ao fazê-lo, entretanto, ele aumento a demanda por liquidez, criando pressão por um aumento da taxa de juros. Ou seja, variações das expectativas de investidores em mercados de ativos financeiros pode, dada a oferta de moeda, gerar variações nas taxas de juros.

Formalizando o modelo IS-ALM

Tendo definido os principais traços da Macroeconomia Keynesiana, e conhecendo as principais identidades das contas nacionais, podemos apresentar o modelo IS-ALM formalmente. Como observamos acima, uma das características do modelo Keynesiano é a interdependência entre variáveis financeiras (volatilidade dos preços de ativos financeiros e taxa de juros) e variáveis "reais" (produção, emprego etc). O modelo IS-ALM procura formalizar esta relação através de equações simultâneas definidoras dos mercados "real" e monetário. O mercado real é aquele que define nível de renda, demanda e oferta agregada. Desta forma, a curva IS, que representa o mercado real no modelo IS-ALM, apresenta, por assim dizer, o impacto das variações da demanda agregada sobre o nível de renda. Como estamos tratando de uma economia aberta , conforme já definimos acima, tanto a demanda agregada quanto a oferta agregada devem levar em consideração, respectivamente, as exportações e as importações. Se considerarmos ainda a demanda líquida do Governo (G) como exógeno, podemos redefinir a equação (2.1) como se segue:

Y º DA º C + I + G + (X - M) (3.1)

Sabemos que as exportações são determinadas pela renda externa e pela taxa real de câmbio. Logo podemos considerá-la exógena em relação à renda nacional. Logo, similarmente ao que fizemos com a função consumo (2.3), podemos dividir NX = X - M em parcelas dependente e independente da renda corrente (Y):

NX = X - (Mo + m. Y) (3.2)

Substituindo (2.2) e (3.2) em (3.1) temos:

DA = Y = Co + c. Y + I + G + X - (Mo + m. Y) (3.3)

Colocando a renda em evidência temos:

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ]

Y = C^ o^ + I + X + G -1 - c - m^ Mo^ K (3.4)

Ou seja, o efeito de um gasto autônomo (consumo, investimento, gasto do governo e exportações líquidas) sobre a renda será tanto maior quanto maio for a propensão a consumir da população (que aumenta a demanda agregada) e menor for a propensão a importar (que reduz a demanda interna). Levando em consideração a função de investimento Keynesiana (veja-se Figura 1 acima), podemos expressar graficamente a equação (3.4) como uma curva negativamente inclinada (Figura 2).

Se a curva IS mostra o efeito de uma variação dos gastos autônomos sobre a renda agregada, a curva LM mostra, principalmente, o efeito da política monetária e da variação da renda sobre o nível de taxas de juros. Ou seja, como já havíamos visto, dada a oferta de moeda, no modelo Keynesiano a taxa de juros vai depender da demanda por moeda por motivos transacionais e por motivos especulativos. Ou seja, o equilíbrio no mercado monetário é dado pela seguinte equação:

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ]

Apesar de ser um modelo extremamente simplificado da economia, com ele é possível entender-se alguns aspectos relevantes do papel das políticas monetária, fiscal e cambial para uma economia aberta. Por exemplo, suponhamos que o Governo decida expandir seus gastos para aumentar a demanda agregada e, portanto, ampliar a renda, o produto e o emprego. Uma política fiscal que implique a expansão dos Gastos (sem que haja variação da tributação), redunda em um deslocamento da curva IS para a direita (de IS para IS' na Figura 6 abaixo.

Macroeconomia em Economia Aberta [prof. Rogério Studart] Estudos em Comércio Exterior Vol. I nº 2 – jan/jun/1997 ( ISSN 1413-7976) ]

A expansão da demanda agregada (de Ye para Ye") provoca, por outro lado, um aumento da demanda por moeda para a realização de um maior número de transações na economia. Como a oferta de moeda continua imutável, esta aumento de demanda por moeda gerará uma elevação da taxa de juros (de re para re"), o que servirá para desestimular o investimento privado. Ainda no caso analisado acima, se o Governo quiser evitar que o aumento dos seus gastos tenha como contrapartida uma queda do investimento privado (o que os economistas chamam de crowding-out ), ele terá que suplementar a política fiscal expansionista com um política monetária também expansionista. Ou seja, a oferta monetária terá que expandir, o que equivale a um deslocamento da curva LM para a esquerda.