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Falenas, Machado de Assis, Notas de estudo de Literatura Brasileira

Machado de Asssis falenas

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 10/09/2009

paulo-karvan-9
paulo-karvan-9 🇧🇷

4.6

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MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação Biblioteca Nacional
Departamento Nacional do Livro
FALENAS
Machado de Assis
Labouring up
Tennyson*
* Manteve-se a grafia do nome próprio usada pelo autor
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MINISTÉRIO DA CULTURA

Fundação Biblioteca Nacional

Departamento Nacional do Livro

FALENAS

Machado de Assis

Labouring up Tennyson*

  • (^) Manteve-se a grafia do nome próprio usada pelo autor

VÁRIA

Duas asas do céu: a esperança e a saudade. Uma vem do passado, outra cai do futuro; Com elas voa a alma e paira no éter puro, Com elas vai curar a sua mágoa estranha.

A terra da poesia é a nossa Alemanha.

RUÍNAS

No hay pájaros en los nidos de antaño Provérbio espanhol

Cobrem plantas sem flor crestados muros; Range a porta anciã; o chão de pedra Gemer parece aos pés do inquieto vate. Ruína é tudo: a casa, a escada, o horto, Sítios caros da infância. Austera moça Junto ao velho portão o vate aguarda; Pendem-lhe as tranças soltas Por sobre as roxas vestes. Risos não tem, e em seu magoado gesto Transluz não sei que dor oculta aos olhos; -- Dor que à face não vem, -- medrosa e casta, Íntima e funda; -- e dos cerrados cílios Se uma discreta muda Lágrima cai, não murcha a flor do rosto; Melancolia tácita e serena, Que os ecos não acorda em seus queixumes, Respira aquele rosto. A mão lhe estende O abatido poeta. Ei-los percorrem Com tardo passo os relembrados sítios, Ermos depois que a mão da fria morte Tantas almas colhera. Desmaiavam, Nos serros do poente, As rosas do crepúsculo. “Quem és? pergunta o vate; o sol que foge No teu lânguido olhar um raio deixa; -- Raio quebrado e frio; -- o vento agita Tímido e frouxo as tuas longas tranças. Conhecem-te estas pedras; das ruínas Alma errante pareces condenada A contemplar teus insepultos ossos. Conhecem-te estas árvores. E eu mesmo Sinto não sei que vaga e amortecida Lembrança de teu rosto.”

Desceu de todo a noite, Pelo espaço arrastando o manto escuro Que a loura Vésper nos seus ombros castos, Como um diamante, prende. Longas horas Silenciosas correram. No outro dia, Quando as vermelhas rosas do oriente

MUSA DOS OLHOS VERDES

Musa dos olhos verdes, musa alada, Ó divina esperança, Consolo do ancião no extremo alento, E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges C’os fúlgidos cabelos; Tu que transformas em dourados sonhos Sombrios pesadelos;

Tu que fazes pulsar o seio às virgens; Tu que às mães carinhosas Enches o brando, tépido regaço Com delicadas rosas;

Casta filha do céu, virgem formosa Do eterno devaneio, Sê minha amante, os beijos meus recebe, Acolhe-me em teu seio!

Já cansada de encher lânguidas flores Com as lágrimas frias, A noite vê surgir do oriente a aurora Dourando as serranias.

Asas batendo à luz que as trevas rompe, Piam noturnas aves, E a floresta interrompe alegremente Os seus silêncios graves.

Dentro de mim, a noite escura e fria Melancólica chora; Rompe estas sombras que o meu ser povoam; Musa, sê tu a aurora!

LA MARCHESA DE MIRAMAR

1

A misérrima Dido Pelos paços reais vaga ululando. Garção

De quanto sonho um dia povoaste A mente ambiciosa, Que te resta? Uma página sombria, A escura noite e um túmulo recente.

Ó abismo! Ó fortuna! Um dia apenas Viu erguer, viu cair teu frágil trono. Meteoro do século, passaste, Ó triste império, alumiando as sombras. A noite foi teu berço e teu sepulcro. Da tua morte os goivos inda acharam Frescas *as rosas dos teus breves dias; E no livro da história uma só folha A tua vida conta: sangue e lágrimas.

No tranqüilo castelo, Ninho de amor, asilo de esperanças, A mão de áurea fortuna preparara, Menina e moça, um túmulo aos teus dias. Junto do amado esposo, Outra c’roa cingias mais segura, A coroa do amor, dádiva santa Das mãos de Deus. No céu de tua vida Uma nuvem sequer não sombreava A esplêndida manhã; estranhos eram Ao recatado asilo Os rumores do século.

Estendia-se Em frente o largo mar, tranqüila face Como a da consciência alheia ao crime, E o céu, cúpula azul do equóreo leito. Ali, quando ao cair da amena tarde, No tálamo encantado do ocidente, O vento melancólico gemia, E a onda murmurando, Nas convulsões do amor beija a areia, Ias tu junto dele, as mãos travadas, Os olhos confundidos, Correr as brandas, sonolentas águas,

  • (^) Na errata consta Fuscas

Nos teus sonhos de louca, e um grito apenas, Um soluço profundo reboando Pela noite do espírito, parece Os ecos acordar da mocidade. No entanto, a natureza alegre e viva, Ostenta o mesmo rosto. Dissipam-se ambições, impérios morrem. Passam os homens como pó que o vento Do chão levanta ou sombras fugitivas. Transformam-se em ruína o templo e a choça. Só tu, só tu, eterna natureza, Imutável, tranqüila, Como rochedo em meio do oceano, Vês baquear os séculos. Sussurra Pelas ribas do mar a mesma brisa; O céu é sempre azul, as águas mansas; Deita-se ainda a tarde vaporosa No leito do ocidente; Ornam o campo as mesmas flores belas... Mas em teu coração magoado e triste, Pobre Carlota! o intenso desespero Enche de intenso horror o horror da morte. Viúva da razão, nem já te cabe A ilusão da esperança. Feliz, feliz, ao menos, se te resta, Nos macerados olhos, O derradeiro bem: -- algumas lágrimas!

SOMBRAS

Que tienes? que estás pensando Gloria de mi pensamiento?* Cervantes*

Quando, assentada à noite, a tua fronte inclinas, E cerras descuidada as pálpebras divinas, E deixas no regaço as tuas mãos cair, E escutas sem falar, e sonhas sem dormir, Acaso uma lembrança, um eco do passado, Em teu seio revive? O túmulo fechado Da ventura que foi, do tempo que fugiu, Por que razão, mimosa, a tua mão o abriu? Com que flor, com que espinho, a importuna memória Do teu passado escreve a misteriosa história? Que espectro ou que visão ressurge aos olhos teus? Vem das trevas do mal ou cai das mãos de Deus? É saudade ou remorso? é desejo ou martírio?

Quando em obscuro templo a fraca luz de um círio Apenas alumia a nave e o grande altar E deixa todo o resto em treva, -- e o nosso olhar Cuida ver ressurgindo, ao longe, dentre as portas, As sombras imortais das criaturas mortas, Palpita o coração de assombro e de terror; O medo aumenta o mal. Mas a cruz do Senhor, Que a luz do círio inunda, os nossos olhos chama; O ânimo esclarece aquela eterna chama; Ajoelha-se contrito, e murmura-se então A palavra de Deus, a divina oração.

Pejam sombras, bem vês, a escuridão do templo; Volve os olhos à luz, imita aquele exemplo; Corre sobre o passado impenetrável véu; Olha para o futuro e vem lançar-te ao céu.

  • (^) Manteve-se fidelidade ao texto original, por isso não se usou o sinal gráfico espanhol.

VISÃO

A LUIZ DE ALVARENGA PEIXOTO

Vi de um lado o Calvário, e do outro lado O Capitólio, o templo-cidadela. E torvo mar entre ambos agitado, Como se agita o mar numa procela.

Pousou no Capitólio uma águia; vinha Cansada de voar. Cheia de sangue as longas asas tinha; Pousou; quis descansar.

Era a águia romana, a águia de Quirino; A mesma que, arrancando as chaves ao destino, As portas do futuro abriu de par em par. A mesma que, deixando o ninho áspero e rude, Fez do templo da força o templo da virtude, E lançou, como emblema, a espada sobre o altar.

Então, como se um deus lhe habitasse as entranhas, A vitória empolgou, venceu raças estranhas, Fez de várias nações um só domínio seu. Era-lhe o grito agudo um tremendo rebate. Se caía, perdendo acaso um só combate, Punha as asas no chão e remontava Anteu.

Vezes três, respirando a morte, o sangue, o estrago, Saiu, lutou, caiu, ergueu-se...e jaz Cartago; É ruína; é memória; é túmulo. Transpõe, Impetuosa e audaz, os vales e as montanhas. Lança a férrea cadeia ao colo das Espanhas. Gália vence; e o grilhão a toda Itália põe.

Terras da Ásia invadiu, águas bebeu do Eufrates, Nem tu mesma fugiste à sorte dos combates, Grécia, mãe do saber. Mas que pode o opressor, Quando o gênio sorriu no berço de uma serva? Palas despe a couraça e veste de Minerva; Faz-se mestra a cativa; abre escola ao senhor.

Agora, já cansada e respirando a custo, Desce; vem repousar no monumento augusto. Gotejam-lhe inda sangue as asas colossais. A sombra do terror assoma-lhe à pupila. Vem tocada das mãos de César e de Sila.

Vê quebrar-se-lhe a força aos vínculos mortais.

Dum lado e de outro lado, azulam-se Os vastos horizontes; Vida ressurge esplêndida Por toda a criação. Luz nova, luz magnífica Os vales enche e os montes... E além, sobre o Calvário, Que assombro! que visão!

Fitei o olhar. Do píncaro Da colossal montanha Surge uma pomba, e plácida Asas no espaço abriu. Os ares rompe, embebe-se No éter de luz estranha: Olha-a minha alma atônita Dos céus a que subiu.

Emblema audaz e lúgubre Da força e do combate, A águia no Capitólio As asas abateu. Mas voa a pomba, símbolo Do amor e do resgate, Santo e apertado vínculo Que a terra prende ao céu.

Depois... Às mãos de bárbaros, Na terra em que nascera, Após sangrentos séculos, A águia expirou; e então Desceu a pomba cândida Que marca a nova era, Pousou no Capitólio, Já berço, já cristão.

ITE MISSA EST

Fecha o missal do amor e a bênção lança À pia multidão Dos teus sonhos de moço e de criança; A bênção do perdão. Soa a hora fatal, -- reza contrito As palavras do rito: Ite missa est.

Foi longo o sacrifício; o teu joelho De curvar-se cansou; E acaso sobre as folhas do Evangelho A tua alma chorou. Ninguém viu essas lágrimas ( ai tantas!) Cair nas folhas santas. Ite missa est

De olhos fitos no céu rezaste o credo, O credo do teu deus; Oração que devia, ou tarde ou cedo, Travar nos lábios teus. Palavra que se esvai qual fumo escasso E some-se no espaço. Ite missa est.

Votaste ao céu, nas tuas mãos alçada, A hóstia do perdão, A vítima divina... e profanada Que chamas coração. Quase inteiras perdeste a alma e a vida Na hóstia consumida. Ite missa est.

Pobre servo do altar de um deus esquivo É tarde; beija a cruz; Na lâmpada em que ardia o fogo ativo, Vê, já se extingue a luz. Cubra-te agora o rosto macilento O véu do esquecimento. Ite missa est.

FLOR DA MOCIDADE

2

Eu conheço a mais bela flor; És tu, rosa da mocidade, Nascida, aberta para o amor. Eu conheço a mais bela flor. Tem do céu a serena cor, E o perfume da virgindade. Eu conheço a mais bela flor, És tu, rosa da mocidade.

Vive às vezes na solidão, Coma *^ filha da brisa agreste. Teme acaso indiscreta mão; Vive às vezes na solidão. Poupa a raiva do furacão Suas folhas de azul celeste. Vive às vezes na solidão, Como filha da brisa agreste.

Colhe-se antes que venha o mal, Colhe-se antes que chegue o inverno; Que a flor morta já nada val. Colhe-se antes que venha o mal. Quando a terra é mais jovial Todo o bem nos parece eterno. Colhe-se antes que venha o mal, Colhe-se antes que chegue o inverno.

  • (^) Conforme o original, que se repete na forma correta como( verso 16) e não coma. Não consta na errata.

Folhas com que alastrei o solo ardente De verde e mole alfombra.

Pelas ondas do tempo arrebatados, Até à morte iremos, Soltos ao longo do baixel da vida Os esquecidos remos. Calmos, entre o fragor da tempestade, Gozaremos o bem que amor encerra; Passaremos assim do sol da terra Ao sol da eternidade.

MENINA E MOÇA

3 A Ernesto Cybrão

Está naquela idade inquieta e duvidosa, Que não é dia claro e é já o alvorecer; Entreaberto botão, entrefechada rosa, Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha, Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor; Tem coisas de criança e modos de mocinha, Estuda o catecismo e lê versos de amor.

Outras vezes valsando, e*^ seio lhe palpita, De cansaço talvez, talvez de comoção. Quando a boca vermelha os lábios abre e agita, Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada, Olha furtivamente o primo que sorri; E se corre parece, à brisa enamorada, Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, é raro que não lance Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia, A cama da boneca ao pé do toucador; Quando sonha, repete, em santa companhia, Os livros do colégio e o nome de um doutor.

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra; E quando entra num baile, é já dama do tom; Compensa-lhe a modista os enfados da mestra; Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo Para ela é o estudo, excetuando talvez A lição de sintaxe em que combina o verbo To love , mas sorrindo ao professor de inglês.

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço, Parece acompanhar uma etérea visão;

  • (^) Imprimiu-se e no original. Não consta na errata.