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Tipologia: Resumos
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É difícil avaliar corretamente o alcance dos acontecimentos contemporâneos, e é grande o perigo de que o julgamento se prenda à subjetividade. Por isso, estou ciente do risco que corro, ao empreender a tarefa de expressar minha opinião sobre certos acontecimentos contemporâneos - que julgo serem de grande importância - àqueles que tenham a paciência de me ouvir. Trata-se daquela notícia que chega até nós de todos os cantos da Terra; daquele boato sobre corpos redondos que percorrem a nossa troposfera e estratosfera e são chamados "saucers, pratos, soucoupes, discos, Ufos (Unidentified Flying Objects) e OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados)". Como já disse, este boato ou a existência física destes corpos parece-me tão importante, que novamente me sinto na obrigação de dar um grito de alerta, como já o fiz anteriormente^1 , naquela época em que começavam a se desenrolar os acontecimentos que iriam atingir em cheio a Europa. Sei muito bem que,
como então, a minha voa é muito fraca para ser ouvida por muitos. Não é a presunção que me impele, mas sim a minha consciência médica que me aconselha a cumprir com o meu dever de preparar aqueles poucos que podem me ouvir para os acontecimentos que estão reservados à humanidade, e que significam o fim de um éon (era). Como já sabemos, através da história do antigo Egito, são fenômenos psíquicos de transformação que acontecem sempre no final de um mês platônico e no início do mês subseqüente. Ao que parece, são modificações na constelação das dominantes psíquicas, dos arquétipos, dos "deuses", que causam ou acompanham transformações seculares da psique coletiva. Esta transformação tem alimentado dentro da tradição histórica e deixado as suas marcas. Primeiro, na transição da era de Touro para a de Áries (Carneiro). Logo depois da era de Áries para a de Pisces (Peixes), cujo início coincide com o surgimento da era cristã. Agora, estamos nos aproximando da grande mudança que pode ser esperada com a entrada do equinócio da primavera, em Aquarius (Aquário). Seria leviano da minha parte, se eu quisesse esconder do leitor que pensamentos deste tipo não somente são extremamente impopulares, como também se aproximam perigosamente daquelas fantasias confusas que assolam os cérebros de adivinhos e reformadores do mundo. Preciso correr o risco, pondo em jogo a minha fama de ser honesto, confiável e capaz de julgamento científico, que com tanto esforço conquistei. Posso garantir aos meus leitores que não me sinto à vontade para essa tarefa. Para ser sincero estou preocupado com a sorte daqueles que são surpreendidos por esses acontecimentos sem estarem preparados para tal, ficando à mercê daquilo que não podem compreender. Já que, até onde vão meus conhecimentos colhidos de várias fontes, ninguém se viu sensibilizado a examinar e dar ênfase aos possíveis efeitos psíquicos dessa previsível mudança astrológica, sinto-me na obrigação de fazer, neste caso, o possível - dentro dos limites das minhas forças. Assumo esta tarefa ingrata com a esperança de que o meu cinzel se desvie da dura pedra que ele atingirá. Há algum tempo, escrevi um pequeno artigo para o jornal Weltwoche expressando meus pensamentos sobre a natureza dos "discos voadores".^2
(^2) Weltwohe XXII/ n. 1078 (Zurique, 9 de Julho de 1954), p. 7.
com ilusões e visões. O material, que até hoje, ao longo de dez anos, chegou a meu conhecimento, apóia ambas as formas de consideração: num caso, um acontecimento objetivamente real, isto é, físico, dá motivo à criação de um mito que o acompanha; no outro, um arquétipo originou a respectiva visão. A estas interações causais acresce uma terceira possibilidade: a de uma coincidência sincronística, ou seja, acausal e significativa; problema que tem preocupado constantemente os espíritos, desde GEULINCX, LEIBNIZ e SCHOPENHAUER.^5 Esta forma de observação se impõe especialmente quando se trata de fenômenos relacionados com processos psíquicos arquetípicos. Como psicólogo, não disponho de recursos que contribuam para a solução do problema sobre a realidade física dos OVNIs. Por isso, posso incumbir- me somente do aspecto psíquico, que sem dúvida existe, dedicando-me a seguir quase que exclusivamente os fenômenos psíquicos concomitantes.
Levando em consideração que sobre os OVNIs se relatam coisas não somente inverídicas, como também contrárias aos princípios básicos da física, uma reação negativa, ou seja, a recusa critica, seria uma atitude natural. Certamente se trata de ilusões, fantasias e mentiras! Pessoas que relatam essas coisas (a saber: pilotos e pessoal de apoio em terra) não devem estar bem da cabeça! Além do mais, estas estórias provêm dos Estados Unidos, país das possibilidades ilimitadas e da "ficção científica". 596 De acordo com esta reação natural, vamos por enquanto encarar os relatórios sobre OVNIs como meros boatos, e na medida do possível tirar deste quadro psíquico todas as conclusões que nosso método analítico garante. Por enquanto, vamos deixar que o nosso ceticismo considere estes relatos sobre OVNIs como uma estória que foi contada muitas vezes pelo mundo afora, mas que de fato se diferencia das opiniões comuns criadas por boatos, por se expressar até por meio de visões^1 , ou por ser produzida e
(^5) Cf. meu Livro Sincronicidade: um principio de conexões acausais. 2a ed., Petrópolis, Vozes, 1985 § 816s. (^1) Prefiro o termo "visão" a "alucinação", porque este último está muito marcado como um conceito patológico, enquanto que "visão" significa um fenômeno, que de forma alguma se manifesta apenas nos estados mórbidos.
sustentada pelas mesmas. Chamo esta espécie de estória, relativamente rara, de boato visionário. Este se parece muito com as visões coletivas, como por exemplo a dos cruzados no cerco de Jerusalém, a dos lutadores de Mona na Primeira Guerra Mundial, a das multidões de fiéis que acorrem a Fátima, a das tropas de fronteira da Suíça na Segunda Guerra Mundial, etc. Além das visões coletivas, existem casos nos quais uma ou mais pessoas vêem alguma coisa que fisicamente não existe. Assim, uma vez eu presenciei uma sessão espírita, na qual quatro das cinco pessoas presentes viam um corpo parecido com uma pequena lua flutuando na altura do abdômen do médium, e mostravam-me (a mim que era a quinta pessoa e nada conseguia ver) o lugar exato onde podia ser visto aquele corpo. Para eles, era simplesmente inconcebível que eu não pudesse ver algo semelhante. Conheço mais outros três casos nos quais certos acontecimentos foram percebidos com todos os detalhes (dois casos, com duas pessoas; e um caso, com uma) e depois puderam ser provados como não existentes. Dois desses casos aconteceram sob a minha vista. O provérbio alemão "Pela boca de duas testemunhas, revela-se toda verdade", pode ser estatisticamente válido, mas, em certos casos, pode também não ser verdadeiro. Pode acontecer que em plena consciência, e em poder de todos os sentidos, sejam percebidas coisas que não existem. Eu não tenho explicação para estes acontecimentos. Talvez isto ocorra até com maior freqüência do que estou disposto a admitir, já que, geralmente, a gente não verifica as coisas que "viu com os próprios olhos", e portanto jamais chega a saber que estas coisas não existiram. Menciono estas possibilidades algo distantes, porque num assunto tão fora do comum, como é o caso dos OVNIs, todos os aspectos possíveis devem ser levados em consideração. A condição prévia para o aparecimento de um boato visionário, ao contrário do boato comum, é sempre uma emoção incomum, para cuja propagação e desenvolvimento bastam à curiosidade popular e o sensacionalismo, presentes em todo lugar. Mas a intensificação para tornar-se visão e alucinação nasce de uma excitação mais forte, e, por isso, de uma fonte mais profunda. Os primeiros sinais de estórias sobre OVNIs resultaram das observações de projéteis misteriosos nos céus da Suécia, feitas nos últimos anos da
me que há aproximadamente um ano as noticias sobre "discos" estavam mais ou menos desaparecendo da imprensa. Aparentemente, não eram mais "novidades". Mas o interesse pelos OVNIs e provavelmente a observação dos mesmos não se apagou. É o que demonstra uma noticia recentemente publicada pela imprensa, em que um Almirante dos Estados Unidos propôs que se fundassem clubes por todo o país, onde relatórios sobre OVNIs deveriam ser coletados e analisados nos mínimos detalhes. O boato informa que os OVNIs geralmente são lenticulares, oblongos ou em forma de charuto; que têm uma iluminação em cores variadas^3 ou um brilho metálico; que seus movimentos têm um alcance desde a parada total até a velocidade de 15.000 quilômetros por hora e que, em certos casos, a sua aceleração seria fatal, caso um ser, semelhante ao ser humano, o estivesse dirigindo. Sua trajetória descreve ângulos que só seriam possíveis a um objeto isento de força gravitacional. 603 Esta trajetória seria, então, comparável com aquela descrita por um inseto voador. Como este, o OVNI também pára repentinamente em cima de um objeto interessante, por um espaço de tempo mais curto ou mais longo, ou o circunda como que curiosamente, para, de repente, sair em disparada e descobrir num vôo de ziguezague novos objetos. Por isso, os OVNIs não podem ser confundidos com meteoritos, nem com espelhamentos em camadas de ar com inversão térmica. Seu suposto interesse por campos de vôo e instalações industriais ligadas à fissão nuclear nem sempre se confirma, já que foram vistos também na Antártida, no Saara e no Himalaia. Ao que parece, eles têm uma preferência especial para sobrevoar os Estados Unidos, mas novos relatórios mostram que visitam o Velho Mundo e o Extremo Oriente com bastante freqüência. Não se sabe bem o que eles procuram ou querem observar. Os nossos aviões parecem despertar a sua curiosidade, pois várias vezes eles voaram ao seu encontro ou os perseguiram. Mas também voaram à frente deles. Não se poderia afirmar que seus vôos estejam baseados num sistema reconhecível. Eles se comportam mais como grupos de turistas que observam o lugar sem sistemática alguma, e ficam aqui ou acolá, seguindo logo, errantes, um ou outro objeto de seu interesse, e que por motivos desconhecidos flutuam em grandes alturas ou
(^3) As esferas de luz verdes, freqüentemente observadas no sudoeste dos Estados Unidos, merecem um destaque especial.
realizam evoluções acrobáticas diante de pilotos irritados. Às vezes, aparecem grandes, com tamanhos de até 500 metros de diâmetro; outras, pequenos como luminárias elétricas de rua. Existem grandes naves-mãe, das quais saem pequenos OVNIs, ou nas quais eles buscam proteção. São tidos como tripulados ou não; neste caso, são dirigidos por controle remoto. O boato diz que os tripulantes são ou de um tamanho aproximado de um metro de altura e parecidos com o ser humano; ou, ao contrário, totalmente diferentes dele. Outros relatórios falam de gigantes, de aproximadamente quinze metros de altura. São seres que ou querem orientar-se na Terra com todo cuidado, e que, respeitosamente, evitam qualquer contato com os seres humanos; ou, que andam espionando de forma ameaçadora, à procura de campos de pouso, para povoar a Terra à força, com uma população planetária que se encontra em apuros. A insegurança em relação às condições físicas existentes na Terra e o medo das possibilidades desconhecidas de contaminação teriam evitado, até o momento, encontros drásticos ou mesmo tentativas de aterrissagem, apesar desses seres possuírem armas terríveis que lhes permitiriam exterminar a humanidade. Além da sua evidente superioridade tecnológica, lhes é atribuída uma sabedoria superior e uma benevolência moral que os capacitaria a realizar atos de salvação da humanidade. Naturalmente, circulam também estórias sobre aterrissagens, onde os pequenos seres não só foram vistos de perto como também tentaram o seqüestro de um homem. Um homem confiável como KEYHOE dá a entender que nos arredores das Bahamas uma esquadrilha de cinco aviões militares, junto com um grande hidroavião da Marinha, teriam sido engolidos e transportados por uma espaçonave-mãe. É de arrepiar os cabelos quando se examinam relatórios deste tipo e suas respectivas fontes de documentação. E se, além do mais, for considerada a possibilidade de se localizar os OVNIs por meio de radar, então obteremos uma "estória de ficção científica", que nada deixa a desejar. É claro, qualquer pessoa de bom senso sente-se numa posição extremamente incômoda. Por este motivo, não quero entrar aqui nas diferentes tentativas de explicação que fazem parte do boato. Enquanto me encontrava ocupado com a redação deste ensaio, quis o acaso que em dois importantes jornais americanos fossem publicados,
acompanhados por todas as possíveis circunstâncias externas, mas a sua existência baseia-se essencialmente num fundamento emocional presente em todo lugar; neste caso, então, fundamenta-se numa situação psicológica geral. O fundamento para este tipo de boato é uma tensão emocional que tem sua origem numa situação de calamidade coletiva, ou seja, de perigo; ou numa necessidade psíquica vital. Esta condição está dada, hoje em dia, pela pressão da política russa e suas conseqüências ainda incalculáveis que assolam o mundo inteiro. Tais tipos de sintomas como convicções anormais, visões, ilusões, etc., aparecem também no indivíduo somente quando este está psiquicamente dissociado, isto é, quando aconteceu uma divisão entre a atitude da consciência e os respectivos conteúdos opostos do inconsciente. Ignorando a consciência a existência destes conteúdos, vê-se diante de uma situação aparentemente sem saída. Os conteúdos estranhos não podem ser integrados de forma direta e consciente, mas procuram expressar-se indiretamente, produzindo opiniões, convicções, ilusões e visões inesperadas e, por enquanto, inexplicáveis. Acontecimentos extraordinários da natureza como meteoros, cometas, chuva de sangue, um bezerro com duas cabeças, e outras criaturas disformes, são interpretados no sentido de anunciarem acontecimentos ameaçadores, ou são vistos como "sinais no céu". Finalmente, coisas que fisicamente não são reais podem ser vistas por muitas pessoas, independentes umas das outras, ou até ao mesmo tempo. Também os processos de associação de muitas pessoas têm os seus paralelismos de tempo e espaço, de forma que, por exemplo, várias cabeças, uma independente da outra, produzem ao mesmo tempo as mesmas novas idéias, como demonstra nitidamente a história, no campo intelectual. A estes podem ser acrescentados os casos onde a mesma causa coletiva produz os referidos, ou pelo menos, parecidos efeitos psíquicos, isto é, as mesmas interpretações ou quadros visionários, justamente naquelas pessoas que menos preparadas estão para encarar tais fenômenos, ou menos dispostas a acreditar neles.^4 Este é, então, por sua vez, o mesmo fator que proporciona uma especial credibilidade aos relatórios de
(^4) AIMÉ MICHEL observa que, ao que parece, os OVNIs são vistos geralmente por aqueles que não acreditam neles, ou não se importam com o problema.
testemunhas oculares: costuma-se salientar que esta ou aquela testemunha é livre de qualquer suspeita por nunca ter-se destacado pela sua viva fantasia ou credulidade, mas pelo contrário, por sempre ter-se distinguido pelo seu juízo e raciocínio crítico. Justamente nestes casos, o inconsciente tem que tomar medidas particularmente drásticas para que os seus conteúdos se tornem perceptíveis. Isto acontece de forma mais impressionante através da projeção, isto é, da transferência para um objeto, no qual, então, aparece aquilo que, anteriormente, era o segredo do inconsciente. O processo da projeção pode ser observado em todo lugar: nas doenças mentais, nas idéias de perseguição e nas alucinações dos assim chamados normais, que reparam no cisco no olho do irmão, mas não enxergam a trave no próprio olho; e finalmente, em medida mais elevada, na propaganda política. As projeções têm um alcance que varia de acordo com a sua procedência: se apenas pessoais e íntimas, ou mais profundamente coletivas. Repressões e outros fatores inconscientes de caráter pessoal revelam-se no nosso meio mais próximo, no âmbito da nossa família e dos amigos. Os conteúdos coletivos, como por exemplo conflitos religiosos, filosóficos e político-sociais, selecionam os respectivos portadores de projeções, como os maçons, jesuítas, judeus, capitalistas, bolchevistas, imperialistas, etc. Na atual situação de ameaça no mundo, em que se começa a perceber que tudo pode estar em jogo, a fantasia produtora de projeções amplia seu espaço para além do âmbito das organizações e potências terrestres, para o céu, isto é, para o espaço cósmico dos astros, onde outrora os senhores do destino, os deuses, tinham sua sede nos planetas. Nosso mundo terrestre está dividido em duas partes e não se pode ver de onde poderiam vir decisões e ajuda. Até mesmo pessoas que ainda há trinta anos jamais teriam pensado que um problema religioso poderia vir a se tornar um assunto sério, a atingi-los pessoalmente, começam a levantar questões básicas. Nestas circunstâncias, não seria nenhum milagre que aquelas partes da população que nada questionam fossem assoladas por "aparições", ou seja, por um mito propagado por toda parte, em que muitos seriamente acreditam e que outros rejeitam como ridículo. Testemunhas oculares de notória honestidade e livres de qualquer suspeita anunciam os "sinais no céu" que viram "com os próprios olhos", e
apresentações nos nossos céus há séculos, ou até mesmo milênios. Estariam aparecendo desde a Segunda Guerra Mundial, em massa, por terem certamente planejado uma aterrissagem em breve. Seu caráter inofensivo já é contestado devido a certas experiências. Existem também relatos das assim chamadas "testemunhas oculares", que afirmam ter visto a aterrissagem de OVNIs, com tripulantes que falavam fluentemente inglês. Estes visitantes do espaço são, em parte, figuras idealizadas como anjos racionais que temem pelo nosso bem-estar; em parte, como anões com cabeças grandes, que abrigam uma inteligência fora do comum, e também como monstros-anões, em forma de insetos lemurianos, cobertos de pêlos, com garras e couraças. Sim, há também "testemunhas", como o Sr. ADAMSKI, que conta ter voado com um OVNI e ter dado uma volta à Lua em poucas horas. Ele nos traz a admirável notícia de que o outro lado da Lua tem atmosfera, água, florestas e povoados, sem se incomodar minimamente com o estranho comportamento da Lua, em mostrar para a Terra o seu lado menos convidativo. Esta aberração física é engolida até por pessoas cultas e bem intencionadas, como EDGAR SIEVERS.^5 Considerando-se a paixão que têm os americanos de fotografar, parece estranho existirem tão poucas fotografias "autênticas" de OVNIs. Eles foram observados tantas vezes, durante horas, em relativa proximidade. Casualmente, conheço uma pessoa na Guatemala que, juntamente com centenas de outras, observou um OVNI. Tinha consigo uma máquina fotográfica mas, no alvoroço, curiosamente esqueceu-se de fotografá-lo, apesar de ser dia e o OVNI ter sido observado durante uma hora. Não tenho motivo algum para duvidar da honestidade deste relato, mas ele contribuiu para aumentar a minha impressão de que os OVNIs não são especialmente "fotogênicos". Como se pode deduzir do exposto, a observação e a interpretação de OVNIs já têm levado, por toda parte, a uma verdadeira criação de lendas. Sem contar os milhares de artigos e notícias que aparecem nos jornais, hoje já existe também uma série de livros sobre este assunto; uns a favor, outros contra; uns com objetivos fraudulentos, outros escritos com seriedade. Como mostram as mais recentes observações, o fenômeno, em
(^5) Flying Saucers über Südafrika.
si, não se deixou impressionar por isso. Pelo que parece, continua indo firme, em frente. Seja o que for, uma coisa é certa: transformou-se num mito vivo. Aqui, temos a oportunidade de ver como nasce uma saga e como se forma um conto milagroso sobre uma tentativa de interferência, ou pelo menos de aproximação de poderes extraterrestres "celestiais", numa época difícil e obscura da humanidade; ao mesmo tempo, numa época em que a fantasia humana se prepara para discutir seriamente a possibilidade de empreender viagens espaciais, de visitar, e, até mesmo, de invadir outros planetas. Nós, do nosso lado, queremos ir para a Lua ou Marte, e do outro lado, os. habitantes de outros planetas do nosso sistema solar, ou de planetas da esfera das estrelas fixas, querem vir para cá. Nossas aspirações espaciais são conscientes, mas a respectiva tendência extraterrestre é conjetura mitológica, ou seja, projeção. É certo que sensacionalismo, busca de aventuras, desafios tecnológicos e curiosidade intelectual são motivos aparentemente suficientes para a nossa fantasia que gosta de construir suas imagens antecipadamente. Mas, como geralmente é o caso, os impulsos para tecer fantasias deste gênero, especialmente quando aparecem de forma tão séria - lembro os satélites artificiais da Terra - baseiam-se numa causa subjacente, precisamente uma situação aflitiva de perigo de vida e necessidade vital correspondente. Podemos facilmente supor que a humanidade se sinta apertada na Terra e queira fugir da sua prisão, onde não só pesa sobre ela a ameaça da bomba de hidrogênio como também - mais profundamente - a explosão demográfica que cresce como uma avalanche e é motivo de sérias preocupações. Este é um problema sobre o qual as pessoas não gostam de falar ou, se o fazem, é só com sugestões otimistas sobre as intermináveis possibilidades de uma produção intensiva de alimentos. Para estas isso representa mesmo algo mais do que um simples adiamento da solução definitiva! Previdentemente, o governo indiano liberou 500.000 libras para limitar os índices de natalidade, e a Rússia utiliza-se dos campos de trabalho forçado para esterilização e redução dos temidos índices de natalidade. É certo que os países altamente civilizados do Ocidente sabem encontrar soluções diferentes, mas o perigo imediato não parte deles e sim das populações subdesenvolvidas da Ásia e da África. Não nos compete aqui examinar a fundo até que ponto as duas guerras mundiais foram
Neste sentido, existe uma insegurança crescente. Até para a nossa historiografia, os meios tradicionais tornaram-se insuficientes para poder avaliar e explicar os acontecimentos que atingiram a Europa nos últimos séculos, devendo reconhecer que fatores psicológicos e psicopatológicos começam a ampliar assustadoramente o horizonte da historiografia. O conseqüente e constante interesse pela psicologia, despertado no público intelectual, já provoca a indignação das academias e dos especialistas em outras áreas. Apesar da sensível resistência que parte desses meios contra a psicologia, uma psicologia ciente da sua responsabilidade não pode desistir de focalizar criticamente um fenômeno de massa como o dos OVNIs, porque perante a evidente impossibilidade de tais relatos sobre os OVNIs a suposição de que se trate de um distúrbio psíquico condiz melhor com o senso comum. 618 De acordo com o nosso programa, vamos nos dedicar, então, à questão da natureza psíquica do fenômeno. Para este propósito, vamos focalizar novamente as afirmações centrais do boato: em nosso espaço aéreo são observados, de dia e de noite, objetos que não podem ser comparados a fenômenos meteóricos conhecidos. Não são meteoros, nem confusões com estrelas fixas, nem espelhamentos provocados por inversão térmica, nem configurações de nuvens, nem aves migratórias, nem balões, nem raios esféricos e - last not least - não são delírios de embriaguez, nem de febre, nem mentiras de testemunhas oculares. O que é visto regularmente são corpos aparentemente incandescentes ou de brilho candente multicolorido, de formato redondo, em forma de discos ou esferas, e mais raramente em forma de charutos, ou seja, cilíndricos, de vários tamanhos.^7 Estes corpos, dizem as testemunhas, são, às vezes, invisíveis para o olho humano. Em compensação, porém, deixariam um "blip" (mancha) na tela do radar. Particularmente, os corpos redondos são formas semelhantes às que o inconsciente traz à tona através dos sonhos, das visões, etc. Neste caso, devem ser encarados como símbolos, que representam de forma visível um pensamento não pensado conscientemente, mas só potencialmente, isto é, no inconsciente ele se encontra disponível de forma não visível, e só através do processo de conscientização alcança um estado visível. Porém, a forma reconhecível
(^7) A forma mais raramente mencionada de charuto tem, talvez, o Zepelim como exemplo.
exprime só aproximadamente o conteúdo do sentido, em si inconsciente. No caso prático, este ainda tem que se tornar "completo", através da interpretação complementar. As causas de erro que a partir daí inevitavelmente resultam só podem ser eliminadas pelo princípio do "eventus docet" (o acontecimento ensina). Isto significa que pela comparação de séries extensas de sonhos de diferentes indivíduos se mantém um texto continuamente legível. Também as figuras de um boato estão sujeitas aos princípios da interpretação dos sonhos. Se aplicarmos estes princípios ao objeto redondo percebido - independentemente de ser um disco ou uma esfera - obteremos tranqüilamente a analogia com o símbolo da totalidade, a mandala (sânscrito: círculo), muito familiar entre os peritos em psicologia profunda. Este símbolo não representa de modo algum uma nova invenção, pois, por assim dizer, sempre foi onipresente e existiu em todos os tempos com o mesmo significado. Sem ter uma tradição externa, aparece também repetidamente entre os homens modernos ora como um círculo apotropéico que delimita e protege, ora como a chamada "roda solar" pré-histórica, ora como círculo mágico, ora como microcosmo alquimista, ou como símbolo moderno, encerrando a totalidade anímica e ordenando-a. Como já demonstrei em outro lugar^8 , a mandala desenvolveu-se ao longo dos últimos séculos, cada vez mais como um verdadeiro símbolo de totalidade psíquica, como prova a história da alquimia. Através do sonho de uma menina de seis anos mostrarei como a mandala se revela nos homens modernos. A sonhadora está na entrada de um grande edifício desconhecido. Aí a espera uma fada que logo a conduz ao interior do prédio, através de um longo corredor de colunas até uma espécie de sala central, para a qual convergem muitos corredores parecidos. A fada vai ao centro da sala e lá se transforma numa grande chama de fogo. Três cobras rastejam circulando ao redor do fogo. Trata-se de um sonho infantil clássico, arquetípico. Não é só freqüentemente sonhado, mas às vezes é também desenhado sem influência externa. Tem a intenção declarada de afastar influências antipáticas e desnorteantes, provenientes de um meio familiar perturbado, e também de manter o equilíbrio interno.
(^8) Cf. Uber Mandalasymbolik.
lado do já mencionado símbolo da alma. A antiga afirmação diz: "Deus est circulus cuius centrum est ubique, cuius circumferentia vero nusquam"^10 (Deus é um círculo cujo centro está em todo lugar, cuja circunferência, porém, em nenhum lugar). "Deus" e sua "omniscientia", "omnipotentia" e "omnipraesentia", um έν τò παν (Uno, o cosmo) é o símbolo da totalidade por excelência, um redondo, um completo, um absoluto. Epifanias deste tipo estão, na tradição, muitas vezes ligadas ao fogo e à luz. Por isso, ao nível da Antigüidade, os OVNIs podem ser facilmente entendidos como "deuses". Eles são manifestações de impressionante totalidade, cuja simples "circularidade" representa propriamente aquele arquétipo que, conforme a experiência, desempenha o papel principal na Unificação de opostos, aparentemente incompatíveis, e que por esse mesmo motivo corresponde, da melhor forma, a uma compensação da dissociação mental da nossa época. Além disso, ele desempenha, entre outros arquétipos, um papel especialmente significativo, sendo ele, principalmente, o ordenador de situações caóticas e o que proporciona à personalidade a maior unidade e totalidade possíveis. Ele cria a imagem da grande personalidade do homem-deus, do homem primordial ou anthropos, de um chen-yen^11 , de um Elias que invoca o fogo do céu, que sobe ao céu num carro de fogo^12 e é um predecessor do Messias, a figura dogmaticamente definida de Cristo e - last not least - do cádi islâmico, o esverdeante^13 , que por sua vez é um paralelo de Elias, a peregrinar como o cádi pela terra como personificação de Alá. A atual situação mundial está mais do que nunca propícia para despertar a expectativa de um acontecimento libertador extraterrestre. Se uma tal expectativa não tem força para despontar mais nitidamente, é porque ninguém mais está tão firmemente enraizado na cosmovisão dos séculos anteriores para poder considerar como natural uma intervenção do céu. De fato, o nosso desenvolvimento nos tem afastado consideravelmente da segurança metafísica do mundo na Idade Média; mas não tanto que as nossas bases histórico-psicológicas tenham se esvaziado de qualquer
(^10) Cf. BAUMGARTNER, Die Philosophie des Alanus de Insulis 11, p. 118. (^11) O homem verdadeiro, ou completo. (^12) Elias aparece de forma significativa, também, como a águi a, que do alto observa, à procura de injustiças na Terra. (^13) [Cf. JUNG, U ber Wiedergeburt, parágrafo 240s].
esperança metafísica.^14 No consciente prevalece o esclarecimento racionalista que tem horror a todas as tendências "ocultas". É verdade que existem esforços desesperados de volta às origens cristãs, mas sem chegar novamente àquela imagem limitada do mundo que - como antigamente - deixaria espaço suficiente para uma intervenção metafísica, ou ajudaria a reviver uma fé no além, verdadeiramente cristã, e uma igual esperança num "fim do mundo" próximo, que pusesse um fim definitivo ao erro da criação. A fé que se tem no nosso mundo e no poder do ser humano tomou-se - apesar de afirmações em contrário - a verdade prática e, por enquanto, inabalável. Esta atitude de uma maioria esmagadora é a base mais favorável para a realização de uma projeção, ou seja, para uma manifestação dos subestratos inconscientes. Apesar da crítica racionalista, estes emergem em forma de boato simbólico, acompanhados e apoiados pelas respectivas visões, que neste momento se apoderam de um arquétipo que desde sempre expressou aquilo que ordena, resolve, cura e integra. É certamente uma característica do nosso tempo que o arquétipo, ao contrário de suas formações antigas, tenha adquirido uma forma objetiva e, até mesmo, tecnológica, para esquivar-se do incômodo de uma personificação mitológica. Aquilo que parece ser de natureza tecnológica é muito fácil de ser aceito pelo homem moderno. A idéia impopular de uma intervenção metafísica torna-se sensivelmente mais aceitável diante da possibilidade de viagens espaciais. A aparente ausência de força gravitacional nos OVNIs é verdadeiramente um assunto algo difícil de ser digerido, mas a nossa física tem, ultimamente, feito tantas descobertas que chegam à beira do milagre por que, então, os habitantes estelares mais desenvolvidos não poderiam já ter achado o meio de desativar a força gravitacional e atingir a velocidade da luz, ou mais? A física nuclear tem provocado nas mentes dos leigos uma insegurança de julgamento que supera em muito a dos físicos, tomando aparentemente possíveis coisas que até pouco tempo atrás seriam consideradas absurdas. Por isso, os OVNIs podem ser facilmente considerados como um dos milagres da física e como tais admitidos. Lembro-me, porém, com certo (^14) Existe um constante mal-entendido, injustificado, porém, entre os eruditos de formação científica, quando alegam que eu entendo os subestratos psíquicos como se fossem "metafísicos", enquanto que os teólogos me acusam de "psicologizar" a metafísica. Ambos estão errados. Sou um empirista que se mantém dentro dos limites estabelecidos da teoria do conhecimento.