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Literatura Portuguesa Medieval – Poesia Palaciana - Cancioneiro Geral de Garcia de Resende: antologia. 1. 1. Vossa grande crueldade (Francisco da Silveira).
Tipologia: Notas de estudo
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Desta copra do coudel moor atrás escrita se fa zē muytas copras & foe feyta sobre aposta com álvaro de brito porque disse que nam na farya nynguē tal como a sua & apostarã capoões pe ra a páscoa
PORTUGAL, MATOU EM COIMBRA por o príncipe D. Pedro, seu filho, a ter como mulher, e, polo bem que lhe queria, nam queria casar. Enderençadas às damas. Senhoras, s'algum senhor vos quiser bem ou servir, quem tomar tal servidor, eu lhe quero descobrir o galardam do amor. Por Sua Mercê saber o que deve de fazer vej'o que fez esta dama, que de si vos dará fama, s'estas trovas quereis ler. Fala D. Inês Qual será o coraçam tam cru e sem piadade, que lhe nam cause paixam úa tam gram crueldade e morte tam sem rezam? Triste de mim, inocente, que, por ter muito fervente lealdade, fé, amor ó príncepe, meu senhor, me mataram cruamente! A minha desaventura nam contente d'acabar‐me, por me dar maior tristura me foi pôr em tant'altura, para d'alto derribar‐me; que, se me matara alguém, antes de ter tanto bem, em tais chamas nam ardera, pai, filhos nam conhecera, nem me chorara ninguém. Eu era moça, menina, per nome Dona Inês de Castro, e de tal doutrina e vertudes, qu'era dina de meu mal ser ó revés. Vivia sem me lembrar que paixam podia dar nem dá‐la ninguém a mim: foi‐m'o príncepe olhar, por seu nojo e minha fim. Começou‐m'a desejar, trabalhou por me servir; Fortuna foi ordenar dous corações conformar a úa vontade vir. Conheceu‐me, conheci‐o, quis‐me bem e eu a ele, perdeu‐me, também perdi‐o; nunca té morte foi frio o bem que, triste, pus nele. Dei‐lhe minha liberdade, nam senti perda de fama; pus nele minha verdade quis fazer sua vontade, sendo mui fremosa dama. Por m'estas obras pagar nunca jamais quis casar; polo qual aconselhado foi el‐rei qu'era forçado, polo seu, de me matar. Estava mui acatada, como princesa servida, em meus paços mui honrada, de tudo mui abastada, de meu senhor mui querida. Estando mui de vagar, bem fora de tal cuidar, em Coimbra, d'assessego, polos campos de Mondego cavaleiros vi somar. Como as cousas qu'ham de ser logo dam no coraçam, comecei entrestecer e comigo só dizer: "Estes homens donde iram? E tanto que que preguntei, soube logo qu'era el‐rei. Quando o vi tam apressado meu coraçam trespassado foi, que nunca mais falei. E quando vi que^ decia, saí à porta da sala, devinhando o que queria; com gram choro e cortesia lhe fiz úa triste fala. Meus filhos pus de redor de mim com gram homildade; mui cortada de temor
Desejava dar‐me vida, por lhe nam ter merecida a morte nem nenhum mal; sentia pena mortal por ter feito tal partida. E vendo que se lhe dava a ele tod'esta culpa, e que tanto o apertava, disse àquele que bradava: ‐"Minha tençam me desculpa. Se o vós quereis fazer, fazei‐o sem mo dizer, qu'eu nisso nam mando nada, nem vejo essa coitada por que deva de morrer." Fim Dous cavaleiros irosos, que tais palavras lh'ouviram, mui crus e nam piadosos, perversos, desamorosos, contra mim rijo se viram; com as espadas na mam m'atravessam o coraçam, a confissam me tolheram: este é o galardam que meus amores me deram. Garcia de Resende às damas Senhoras, não hajais medo, não receeis fazer bem, tende o coração mui quedo e vossas mercês verão cedo quão grandes bens do bem vem. Não torvem vosso sentido as cousas qu’haveis ouvido, porqu’é lei de deus d’Amor nem virtude nem primor nunca jamais ser perdido. Per verdes o galardão que do amor recebeu, porque por ele morreu, nestas trovas saberão o que ganhou ou perdeu. Não perdeu senão a vida, que pudera ser perdida sem na ninguém conhecer, e ganhou por bem querer ser su’morte tão sentida. Ganhou mais que, sendo d’antes não mais que fermosa dama, serem seus filhos infantes, seus amores abastantes de deixerem tanta fama. Outra mor honra direi: como o príncipe foi rei, sem tardar, mas mui asinha a fez alçar por rainha, sendo morta o fez por lei. Os principais reis d’Espanha, de Portugal e Castela, e imperador d’Alemanha, olhai, que honra tamanha, que todos descendem dela. Rei de Nápoles também, duque de Borgonha, a quem tod’(a) França medo havia, e em campo el‐Rei vencia, todos estes dela vem. Por verdes como vingou a morte que lh’ordenaram, como foi re, trabalhou, e fez tanto, que tomou aqueles que a mataram. A um fez espedaçar, e ò outro fez tirar por detrás o coração. Pois amor dá galardão, não deixe ninguém d’amar. Cabo Em todos seus testamentos a declarou por mulher, e por s’isto melhor crer, fez dois ricos moimentos, em qu’ambos vereis jazer rei, rainha, coronados, mui juntos, não apartados no cruzeiro d’Alcobaça. Quem puder fazer bem, faça, pois por bem se dão tais grados.