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Estéticas de Meireles, Mendes e Moraes: Musicalidade e Unidade na Poesia Modernista, Notas de estudo de Literatura

Nesta aula, aprenda sobre as propostas estéticas de cecília meireles, murilo mendes e vinícius de moraes, poetas que se destacam pela musicalidade e busca de unidade na poesia modernista brasileira. Explore as características líricas e temáticas de cada um, além de suas influências e contribuições para a literatura brasileira.

O que você vai aprender

  • Como a busca de unidade se manifesta na poesia de Murilo Mendes?
  • Como a musicalidade se manifesta na poesia de Cecília Meireles?
  • Quais são as características líricas de Murilo Mendes?
  • Qual é a proposta estética de Cecília Meireles na poesia modernista?
  • Quais são as temáticas principais da poesia de Vinícius de Moraes?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Mauricio_90
Mauricio_90 🇧🇷

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MODERNISMO E A SEGUNDA
GERAÇÃO LÍRICA
META
Apresentar as propostas estéticas da poesia de Cecília Meireles, Murilo
Mendes e Vinícius de Moraes.
OBJETIVOS
Ao fi nal desta aula, o aluno deverá:
Identifi car as propostas estéticas da segunda geração modernista;
comparar a proposta estética de Cecília Meireles e Vinícius de Moraes;
Compreendar as características líricas de Murilo Mendes.
PRÉ-REQUISITOS
Conhecimento sobre o Modernismo brasileiro.
Aula
7
Capa do livro Antologia poêtica
(Fotes:http://www.raquelletras.
blogspot.com/2010/02/vinicius-
de-moraes.html).
Capa do livro O Pânico da Poesia
(Fontes:http://www.divinews.com/
images/stories/2008/11/18/Capa).
Capa do livro Literatura Comentada
(Fontes:http://www.img2.mlstatic.
com).
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MODERNISMO E A SEGUNDA

GERAÇÃO LÍRICA

META

Apresentar as propostas estéticas da poesia de Cecília Meireles, Murilo Mendes e Vinícius de Moraes.

OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: Identificar as propostas estéticas da segunda geração modernista; comparar a proposta estética de Cecília Meireles e Vinícius de Moraes; Compreendar as características líricas de Murilo Mendes.

PRÉ-REQUISITOS Conhecimento sobre o Modernismo brasileiro.

Aula

Capa do livro Antologia poÍtica (Fotes:http://www.raquelletras. blogspot.com/2010/02/vinicius- de-moraes.html).

Capa do livro O P‚nico da Poesia (Fontes:http://www.divinews.com/ images/stories/2008/11/18/Capa).

Capa do livro Literatura Comentada (Fontes:http://www.img2.mlstatic. com).

Literatura Brasileira Iii

DESAFIOS DA SEGUNDA GERA«√O ROM¬NTICA

A segunda geraÁ„o poÈtica apresenta suas peculiaridades e v·rios des- dobramentos conforme a proposta de cada autor. A forÁa poÈtica de Carlos Drummond de Andrade se destaca pelo debate filosÛfico e o amadureci- mento das concepÁıes modernistas. Seguindo essa trilha, destacamos as propostas de CecÌlia Meireles, Murilo Mendes e VinÌcius de Moraes, poeta que tÍm v·rios pontos em comum com a poesia intimista. A musicalidade de CecÌlia Meireles se destaca por sua pesquisa na tradiÁ„o lÌrica de lÌngua portuguesa. A forÁa da poesia religiosa de Murilo Mendes È fundamental para entendermos sua proposta metafÌsica de busca do entendimento dos problemas sociais no encontro do homem com sua divindade. Jorge de Lima, poeta analisado na aula anterior, tambÈm apresenta essa tem·tica. J· VinÌcius de Moraes pertence ‡ geraÁ„o de poetas preocupados com uma estÈtica intimista e um modo pessoal de debater os problemas da poesia modernista com seus rumos tem·ticos e estÈticos. Assim, esse grupo de artistas traz um olhar amadurecido para as inovaÁıes modernistas. Vale destacar que a extens„o da lÌrica produzida por esse grupo extrapola os limites e preconceitos impostos pelas vanguardas, pois todos v„o buscar na tradiÁ„o novas formas para um fazer poÈtico moderno e personalizado.

O IMAGIN¡RIO SIMB”LICO

DE CECÕLIA MEIRELES

CecÌlia Meireles (1901-1964) È uma carioca que estudou na Escola Nor- mal (Instituto de EducaÁ„o) e exerceu a profiss„o de professora prim·ria. Esse imagin·rio da escola e do universo infantil vai estar presente em suas baladas e na musicalidade de sua poesia. Aos 18 anos, publicou Espectros e n„o mais parou, produzindo uma poesia extremamente lÌrica e musical, marcada pelo ritmo doce, com uma preocupaÁ„o modernista de discutir os prÛprios limites da poesia. Para muitos, ela È a maior herdeira da poesia simbolista brasileira no sÈculo XX. Uma mulher que buscou na tradiÁ„o lÌrica de lÌngua portuguesa uma forma de renovar o fazer poÈtico. Sua obra È marcada ìpelo verso curto de ritmo leve e ligeiro, que acompanha a fluÍncia das impressıes vagas, esbatidas. Rica de imagens a sua linguagem È, contudo, demasiado clara, conduzindo-nos a uma visualizaÁ„o r·pida e f·cil (CANDIDO; CASTELLO, 2006, p. 137). AlÈm de poetisa (ou ìpoetaî, como ela dizia ser) e professora, foi pedagoga, conferencista, jornalista, tradutora (inglÍs, espanhol, hindu e hebraico), cronista (publicou assiduamente no Correio Paulistano) e autora de obras dedicadas ao p˙blico infantil. CecÌlia, ao publicar seu primeiro livro, ainda seguia o padr„o parnasiano de composiÁ„o. Contudo, a partir de seu envolvimento com o grupo ligado ‡ Revista Festa (1927) e sua ades„o

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do poema) e a ata (estrofe menor, semelhante ao ofertÛrio das baladas). ./... c) Rom‚nticas ou modernas: A partir do romantismo a canÁ„o se revestiu de mais ampla liberdade forma e conceitual. Tornou-se um poema simples, expressivo, e comportando diversos assuntos. No ‚mbito tem·tico, encontramos: expressiva presenÁa da morte, da solid„o, da desesperanÁa, do amor, do tempo e da criaÁ„o lÌrica, em abor- dagens intimistas, de teor filosÛfico-simbÛlico, marcadas pela associaÁ„o constante com sememas como ·gua, mar, m˙sica, flores, noite, memÛria, alÈm de diversos animais e alusıes ao Oriente. TambÈm aspectos histÛricos foram contemplados em sua poesia, principalmente em Espectros (ali en- contramos poemas sobre personagens como CleÛpatra, Sans„o , Judite , entre outros) e Romanceiro da InconfidÍncia. J· obras como Pequeno OratÛrio de Santa Clara (1955), Romance de Santa CecÌlia (1957) e OratÛrio de Santa Maria Egip- cÌaca (1966, obra pÛstuma) foram baseados em narrativas crist„s medievais. Para uma melhor compreens„o da proposta lÌrica dessa escritora, vamos comentar alguns poemas quanto ‡ sua tÈcnica e seu imagin·rio. Comecemos por Motivo , poema consagrado da autora, que alÈm de revelar sua musicali- dade e a busca do tempo perdido traz a metalinguagem poÈtica, na qual o eu lÌrico se coloca de forma problem·tica diante do tempo.

Motivo

Eu canto porque o instante existe E a minha vida est· completa. N„o sou alegre nem sou triste: Sou poeta.

Irm„o das coisas fugidias, n„o sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento.

Se desmorono ou se edifico, se permaneÁo ou me desfaÁo, ó n„o sei, n„o sei. N„o sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canÁ„o È tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo:

  • mais nada.

(CecÌlia Meireles, 2001)

Modernismo e a segunda geração lírica Aula

A consciÍncia da necessidade de cantar remete ao uso da canÁ„o como 7 base formal para suas composiÁıes lÌricas. Esse poema, ao trazer, em cada estrofe, trÍs versos octassÌlabos seguidos de um dissÌlabo, promove um jogo de palavras marcado por um fecho contundente, o que nos reporta ao conceito de ìataî. ìSou poetaî, por exemplo, sintetiza e explica os versos anteriores. ìNo ventoî apresenta o vento como um sÌmbolo da consciÍncia da fugacidade das coisas. E ìou passoî mostra, ainda no campo sem‚ntico de ìventoî a impossibilidade de afirmar certezas. No final, o verso ìmais nadaî apresenta, bem no estilo ceciliano, uma conclus„o seca, que indica o fim contundente, n„o aberto a polÍmicas ou divagaÁıes. O verso ìIrm„o das coisas fugidiasî pode muito bem se relacionar ao gosto pelos conte˙- dos simbolistas. E o n„o sentir ìgozo nem tormentoî afirma uma postura aparentemente ap·tica, que a crÌtica muitas vezes apontou como traÁos de ìestoicismoî na lÌrica ceciliana. Vejamos, o poema abaixo tirado do livro Mar absoluto (1945), considerado pela crÌtica uma obra-prima.

Sugest„o

Sede assim ñ qualquer coisa serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre, sem pergunta.

Onda que se esforÁa, por exercÌcio desinteressado.

Lua que envolve igualmente os noivos abraÁados e os soldados j· frios.

TambÈm como este ar da noite; sussurrante de silÍncios, cheio de nascimentos e pÈtalas.

Igual ‡ pedra detida, sustentando seu demorado destino. E ‡ nuvem, leve e bela, vivendo de nunca chegar a ser.

¿ cigarra, queimando-se em m˙sica, ao camelo que mastiga sua longa solid„o, ao p·ssaro que procura o fim do mundo, ao boi que vai com inocÍncia para a morte.

Modernismo e a segunda geração lírica Aula

Eu, que a contemplo, vejo um fim que n„o tem fim. 7 Dunas da noite que se amontoam.

(CecÌlia Meireles, 2001)

A imagem da flor continua presente na sugest„o do pÛlen, acrescida de outros elementos constantes na lÌrica ceciliana, como o mar, a noite, o vento e o espelho. Em uma leitura possÌvel, temos a metalinguagem e um novo exercÌcio de reflex„o sobre o fazer poÈtico. A beleza, com B mai˙sculo, de- nuncia o tom simbolista, assim como a impregnaÁ„o surrealista da imagem que se cria. Muitas s„o as an·lises possÌveis. O que fizemos aqui foi mostrar como È possÌvel encontrar unidade na obra de CecÌlia Meireles, tomando poemas de diferentes livros e compreendendo a natureza de sua criaÁ„o. Para concluirmos deixamos a perspectiva de sua poesia histÛrica que encontramos em Romanceiro da inconfidÍncia, uma obra fenomenal dessa escritora que valoriza a perspectiva Èpica para fazer uma poesia social de reflex„o sobre a liberdade. Ao revisitar os dramas vividos pelos inconfidentes, CecÌlia Meireles produz uma poesia modernista que busca no passado elementos para a con- struÁ„o de uma proposta inovadora. Sem deixar de lado sua musicalidade, seu verso sereno, ela constrÛi um painel dos acontecimentos por meio de versos repletos de historicidade e consciÍncia crÌtica do passado brasileiro. Assim, ela busca no passado um tema para refletir sobre as lutas do homem do presente. Composto de cinco falas, quatro cen·rios, uma serenata, um retrato e oitenta e cinco romances, Romanceiro da inconfidÍncia traz, como plano histÛrico, o episÛdio da InconfidÍncia Mineira, seus antecedentes e suas conseq¸Íncias na vida dos envolvidos. … uma epopÈia moderna, com carac- terÌsticas particulares, entre elas, a prÛpria estrutura poem·tica, que suprime os cantos e propıe uma leitura esp·cio-temporal, em que as falas traduzem a proposiÁ„o temporal e os cen·rios, a proposiÁ„o espacial. Os romances fazem o preenchimento do tempo-espaÁo histÛrico e Retrato de MarÌlia e Imagin·ria Serenata promovem uma quebra na estrutura, abrindo espaÁo para a voz de MarÌlia, a musa de Tom·s AntÙnio Gonzaga. Na parte formal, o uso do it·lico relaciona-se ‡s elaboraÁıes poÈticas de valor dram·ticos e o tipo redondo, o valor Èpico-lÌrico. O uso dos travessıes, dos parÍnteses e das aspas tambÈm faz parte da intencionalidade discursiva programada de CecÌlia. J· a preocupaÁ„o em montar uma epopÈia de feiÁ„o popular percebe-se pela opÁ„o por ìromancesî em lugar de ìcantosî. CecÌlia parte do herÛi, Tiradentes, tomado a partir de sua condiÁ„o mÌtica ó visto ser um mito vivo na memÛria do brasileiro ó para tentar buscar o homem e sua verdadeira ideologia, como forma de resgate ou de inauguraÁ„o de uma vis„o brasileira do fato histÛrico e do herÛi nele envolvido. Tiradentes È o herÛi nacional, cuja morte, sem a realizaÁ„o do feito, transforma-o numa espÈcie de redentor. A presenÁa de um Tiraden- tes humanizado, ainda que equiparado a Cristo, cercado de depoimentos,

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testemunhas, vozes e informaÁıes histÛrico-culturais, integra o poema ‡ cultura brasileira e mineira, constituindo um relato liter·rio impregnado pelo olhar Ìntimo, prÛprio de quem compartilhou a prÛpria experiÍncia individual com o evento histÛrico, polÌtico, estÈtico e filosÛfico.

A PO…TICA RELIGIOSA DE MURILO MENDES

Murilo Monteiro Mendes È mineiro de Juiz de Fora. (1901-1975). Apesar de ter poemas publicados com os poetas da primeira fase do Modernismo, sÛ publicou sua primeira obra em 1930, Poemas. Depois de se converter ao Catolicismo, publica em 1935, Tempo e eternidade, junto com Jorge de Lima. Essa obsess„o pelo metafÌsico abrange temas mÌsticos e gosto pelo insÛlito. Sua poÈtica tambÈm se destaca pela forma como in- corpora elementos das artes pl·sticas ao fazer poÈtico. Por essa diversidade de abordagens, Murilo Mendes apresenta ìliberdade criadora, a ausÍncia de preconceitos liter·rios e a forÁa experimentadora do lirismo. Embora tenha percorrido mais de um caminho, È notÛria a unidade da sua vis„o, que tende a reordenar o mundo segundo uma espÈcie de agressiva lÛgica poÈticaî (CANDIDO, CASTELLO, 2006, p. 203). Assim, podemos dizer que a trajetÛria de Murilo Mendes no Mod- ernismo brasileiro parece curiosa, se n„o paradoxal, pois, das s·tiras e dos poemas-piadas ao estilo oswaldiano, partiu para uma poesia religiosa, que n„o deixava, contudo, de lado, a realidade social. Acompanhando, pela veia do misticismo religioso, as transformaÁıes, nos campos econÙmico e polÌtico, vividas pelo sÈculo XX, quer no campo econÙmico, polÌtico e artÌstico, Murilo Mendes foi o poeta modernista brasileiro que mais se identificou com o Surrealismo europeu, pois ìsua poesia vinha formal- mente preparada para a express„o do sobrenatural, graÁas a um acentuado pendor surrealista, manifestado de um modo livre, apropriado ‡ sua norma poÈticaî (CANDIDO, CASTELLO, 2006, p. 203). Veja como sua tem·tica metafÌsica est· construÌda na poesia abaixo.

O homem, a luta e a eternidade

Adivinho nos planos da consciÍncia dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem desequilÌbrio de forÁas, matÈria em convuls„o ardendo pra se definir. ” alma que n„o conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda È pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade,

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Nossas flores s„o mais bonitas Nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil rÈis a d˙zia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade. e ouvir um sabia com certid„o de idade!

(Murilo Mendes, 1930)

Esse texto tem uma ironia muito comum nos poemas da primeira ge- raÁ„o modernista. O contexto italiano ganha um tom l˙dico e humorÌstico, que mostra o quanto È caro ser brasileiro fora do Brasil. Portanto, Murilo Mendes apresenta a maturidade do poeta da segunda geraÁ„o, que parte das propostas dos primeiros modernistas para uma obra particularizada na busca do equilÌbrio do homem catÛlico. Podemos dizer que sua obra È irregular por ser abundante, todavia, ìo leitor deve confiar no seu canto, aceit·-lo como express„o de um universo refeito contra a ordem natural pela ordem da poesiaî (CANDIDO, CASTELLO, 2006, p. 203).

A POESIA DE VINÕCIUS DE MORAES

Marcos VinÌcius de Melo Moraes (1913-1980) faz parte dos poetas da segunda geraÁ„o por seus envolvimentos com a lÌrica metafÌsica e religiosa, mas sem sombra de d˙vidas È um dos poetas mais populares e queridos devido ‡ forÁa de sua contribuiÁ„o para a M˙sica Popular Brasileira. Ele È mais um exemplo de poeta modernista cuja obra quase sempre È com- preendida a partir de um olhar restrito e centrado em sua conhecida faceta de poeta boÍmio e em seus laÁos com a m˙sica. Como ele transitou da poesia para a m˙sica popular, acabou ficando marcado como o cantador de sentimentos como o amor, a saudade, a fidelidade, alÈm da beleza e, claro, da mulher. De igual forma, em relaÁ„o ao aspecto formal, È comum associarmos sua produÁ„o ao soneto. Todavia, muito mais vasta foi sua contribuiÁ„o para a literatura brasileira no decorrer de sua vida e dos 47 anos dedicados ‡ poesia, ‡ m˙sica e ‡ crÙnica. Antecipando os crÌticos, VinÌcius de Morais, em AdvertÍncia , texto que antecede os poemas de sua Antologia PoÈtica (1955), define e nomeia as duas fases de sua poesia: a primeira inclui o livro de estrÈia (posteriormente recolhido pelo autor, O Caminho para a Dist‚ncia , de 1933), Forma e Exegese (1935), Ariana, a Mulher (1936) e algumas composiÁıes de Novos Poemas (1938). A segunda fase re˙ne os outros poemas de Novos poemas , as Cinco Elegias (1943), os Poemas, Sonetos e Baladas (1946) e P·tria Minha (1949). Ele nomeia a primeira fase de transcendental. Nela h· a marca freq¸ente do misticismo e, como assinalou Manuel Bandeira, um debate constante entre as solicitaÁıes da carne e as do espÌrito. A segunda j· reflete uma

Modernismo e a segunda geração lírica Aula

aproximaÁ„o com o mundo material. Segundo o poeta, em Cinco Elegias , 7 ele teria alcanÁado a libertaÁ„o contra os ìpreconceitos e enjoamentos de sua classe e do seu meioî. Seguindo a orientaÁ„o de leitura fornecida pelo prÛprio VinÌcius, podemos observar, no primeiro grupo de poemas, o uso do verso longo, difuso e de conte˙dos melancÛlicos, surrealistas, apocalÌpticos e mesmo dram·ticos e de tom pessoal, em alguns casos. O Neo-Simbolismo e sua impregnaÁ„o religiosa vinda da ìcorrente espiritualistaî e da renovaÁ„o catÛlica v„o definir a tÙnica dessa fase, em que a intensa ang˙stia, a constante oposiÁ„o entre matÈria e espÌrito e a sensaÁ„o de pecado estar„o presentes. O poema A Legi„o dos Urias , de Forma e exegese , exemplifica essas caracterÌsticas. Vejamos alguns trechos do longo poema, em que a lua È a princesa que escraviza e amaldiÁoa os lend·rios cavaleiros ⁄rias, que sofrem o domÌnio da figura feminina da lua, uma verdadeira Lilith. Vejamos um fragmento desse poema:

A legi„o dos ⁄rias

Quando a meia-noite surge nas estradas vertiginosas das montanhas Uns apÛs outros, beirando os grotıes enluarados sobre cavalos lÌvidos Passam olhos brilhantes de rostos invisÌveis na noite Que fixam o vento gelado sem estremecimento.

S„o os prisioneiros da Lua. ¿s vezes, se a tempestade Apaga no cÈu a languidez imÛvel da grande princesa Dizem os camponeses ouvir os uivos tÈtricos e distantes Dos Cavaleiros ⁄rias que pingam sangue das partes amaldiÁoadas.

A densidade e o impacto das imagens do poema permitem uma relaÁ„o entre a estÈtica modernista e a barroca. VinÌcius cria um imagin·rio cheio de tens„o e contrastes, com valorizaÁ„o da escurid„o e do mistÈrio. Na segunda fase, esse verso longo, que merece mesmo o adjetivo de ìcaudalosoî n„o desaparece; mas outra forma se faz mais presente: o soneto, tanto em versos curtos, quanto em redondilhas, decassÌlabos e alexandrinos. O tom sorumb·tico e obscuro da fase anterior comeÁa a ser substituÌdo por uma express„o colorida afinada com realidade. O livro que via marcar essa transformaÁ„o È Novos Poemas , no qual ainda encontramos poemas ligados ‡ primeira fase. Soneto da devoÁ„o È um marco do ingresso do poeta nesse novo momento. Nele, a imagem da mulher j· perde a aura da maldiÁ„o.

Essa mulher que se arremessa, fria E l˙brica aos meus braÁos, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios.

Modernismo e a segunda geração lírica Aula

Fez-se de triste o que se fez amante 7 E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo prÛximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, n„o mais que de repente.

Entretanto, apesar de Vinicius n„o ter se referido a uma terceira fase, podemos encontrar, a partir do inÌcio dos aos 50, no pÛs-guerra, um novo movimento em sua obra. Nessa Època, VinÌcius faz amizade com escritores ìengajadosî, como Neruda e GuillÈn, colabora para o cinema, escrevendo textos crÌticos (e tornando-se respeitado crÌtico), e, em 1953, escreve seu primeiro samba, ìQuando tu passas por mimî, em parceria com Antonio Maria. Em 1955 Vinicius È chamado pelo produtor francÍs Sasha Gordine a escrever o roteiro do filme Orfeu Negro , que se tornaria a peÁa Orfeu da ConceiÁ„o , e no ano seguinte convida Tom Jobim para fazer a m˙sica do es- pet·culo. A Bossa Nova seria lanÁada dois anos depois, e ao lado de Tom, VinÌcius faria suas melhores canÁıes. Outras parcerias surgiriam (Baden Powell, Edu Lobo, Francis Hime, Toquinho) e o envolvimento de VinÌcius com a MPB se manteria atÈ o fim de sua vida. De certo modo, se considerarmos especificamente apenas a produÁ„o liter·ria, temos o perÌodo de 1933 a 1946 como aquele em que a produÁ„o lÌrica de VinÌcius se concentrou. Duas colet‚neas, uma em 1954 ( Antologia poÈtica ) e outra em 1957 ( Livro de sonetos ) apenas reproduziriam os poemas j· publicados, atestando que o poeta j· n„o se interessava pela criaÁ„o lÌrica isolada da m˙sica, tornado-se, definitivamente, um importante letrista da MPB.

CONCLUS√O

Os pontos em comum entre os poetas da segunda geraÁ„o fortalecem o amadurecimento da lÌrica modernista. Ao mesmo tempo em que esse grupo parte de uma reflex„o intimista, seus integrantes propıem uma poesia que ajude o homem a vencer os grandes desafios da modernidade. Como foi visto, a estÈtica modernista n„o podia se prender a um espÌrito de ruptura como queriam os poetas da primeira geraÁ„o. Com a pesquisa no passado, a lÌrica de CecÌlia Meireles, Murilo Mendes e VinÌcius de Moraes nos ensina o quanto a tradiÁ„o pode ser usada como renovadora das novas propostas. No campo da poesia social, cabe destacar a pesquisa feita por CecÌlia Meireles com o Romanceiro da InconfidÍncia.

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RESUMO

Esta aula traÁou um quadro das principais caracterÌsticas da obra de CecÌlia Meireles, Murilo Mendes e VinÌcius de Moraes. Esses poetas partiram de um ponto em comum: resgatar a vis„o intimista da lÌrica. CecÌlia Meireles valorizou a musicalidade e a tradiÁ„o da lÌrica portuguesa com destaque para seu poema Èpico Romanceiro da InconfidÍncia , obra que retoma o debate sobre a liberdade a partir do episÛdio da InconfidÍncia Mineira. J· Murilo Mendes valoriza a poesia metafÌsica de princÌpios catÛlicos, e VinÌcius de Moraes canta a mulher e o amor de forma lÌrica e particularizada.

ATIVIDADES

1 Com base no estudo sobre a obra de CecÌlia Meireles, indique, no poema abaixo, trÍs caracterÌsticas modernistas e trÍs especÌficas de sua obra.

Retrato

Eu n„o tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos t„o vazios, nem o l·bio amargo

Eu n„o tinha estas m„os sem forÁa, t„o paradas e frias e mortas; eu n„o tinha este coraÁ„o que nem se mostra.

Eu n„o dei por esta mudanÁa, t„o simples, t„o certa, t„o f·cil:

  • em que espelho ficou perdida a minha face?
  1. Comente a perspectiva metafÌsica de Murilo a partir do poema abaixo extraÌdo da obra Tempo e Eternidade (1935 ñ com Jorge de Lima)

A GraÁa

Desaba uma chuva de pedras, uma enxurrada de est·tuas de Ìdolos caindo, manequins descoloridos, figuras vermelhas se desencarnando dos livros que encerram as aÁıes dos humanos.

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AUTO-AVALIA«√O

Nesta aula, que retoma a poesia da segunda fase do Modernismo brasileiro, destaque as caracterÌsticas prÛprias desse momento e, principal- mente, as que marcam a poÈtica de cada um dos escritores estudados aqui: CecÌlia Meireles, Murilo Mendes e VinÌcius de Moraes. Sua habilidade de comparar e contrastar a poÈtica desses escritores mostra que o conte˙do foi bem assimilado. Caso contr·rio, selecione as marcas estilÌsticas de cada um a partir das referÍncias aos textos lidos nesta aula.

PR”XIMA AULA

Na prÛxima aula, passaremos a estudar a prosa regionalista dos escri- tores nordestinos que despontaram no cen·rio da dÈcada de 30 como uma oposiÁ„o ao modernismo vanguardista da primeira geraÁ„o.

REFER NCIAS

BOSI, Alfredo. HistÛria Concisa da Literatura Brasileira. 46™. ediÁ„o. S„o Paulo: Cultrix, 2006. CANDIDO, Antonio e CASTELLO, JosÈ Aderaldo. PresenÁa da Litera- tura Brasileira : Modernismo ñ HistÛria e Antologia. 15™. EdiÁ„o. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. CANDIDO, Antonio. IniciaÁ„o ‡ literatura brasileira , 5™. EdiÁ„o. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2007. COUTINHO, Afr‚nio (direÁ„o), COUTINHO, Eduardo de Faria. A litera- tura no Brasil : Era modernista. V. 5. 6™. EdiÁ„o. S„o Paulo: Global, 2001. GALV√O, Walnice Nogueira. Roteiro da poesia brasileira. Modernismo. S„o Paulo: Global, 2008. MEIRELES, CecÌlia. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. RAMALHO, Christina. Vozes Èpicas; histÛria e mito segundo as mul- heres. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004. TAVARES, HÍnio. Teoria liter·ria. Belo Horizonte: Bernardo ¡lvares, 1967. TELES, Gilberto MendonÁa. Vanguarda europÈia e Modernismo brasileiro. 18™. EdiÁ„o. PetrÛpolis, 2009.

IndicaÁ„o de leitura: SILVA, Rosana Rodrigues da. A poesia religiosa de Vinicius de Moraes. In: http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol5/v5_7.pdf