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A realização do filme 'le soulier de satin' (1985) por manoel de oliveira, baseado na peça homónima de paul claudel. O texto detalha os créditos de produção, elenco, música e decorações do filme, além de suas estreias mundial e nacional. Ademais, há comentários sobre a fama crescente de oliveira na década de 1980 e a importância de sua escola lisboeta de cinema artesanal. O documento também discute a relação entre claudel e oliveira, descrevendo a peça de teatro como um teatro do mundo, divino e pagão, e o filme como uma consciência global do mundo.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Realização: Manoel de Oliveira Argumento: Manoel de Oliveira, baseado na peça homónima de Paul Claudel Conselheiro literário: Jacques Parsi Direção de Fotografia: Elso Roque Música: João Paes Décors: António Casimiro, Maria José Branco, José Luís Oliveira, Eduardo Filipe e Luís Monteiro Guarda-roupa: Jasmim de Matos Casting: Danielle Beracha Som: Jean Paul Loublier Assistentes de realização: Jaime Silva e Pedro Ruivo Anotação: Júlia Buísel Interpretação: Luís Miguel Cintra (D. Rodrigo e o Jesuíta), Patrícia Barzyk (Dona Prouhèze), Anne Consigny (Dona Sept-Epées), Jean-Pierre Bernard (D. Camillo), Anne Gautier (Dona Musique), Franck Oger (D. Pélage), Jean Badin (D. Balthazar), Manuela de Freitas (Dona Isabel), Henri Serre (1º Rei), Jean Yves Berteloot (2º Rei), Catherine Jarret (1ª atriz), Anny Romand (2ª atriz), Isabelle Weingarten (O Anjo da Guarda), Denise Gence (Santiago), Marie Christine Barrault (a Lua), Maria Barroso (a Voz dos Anjos), Marthe Moudiki-Moreau (a criada preta), Bernard Alane (o Vice-Rei de Nápoles), Yann Roussel (o chinês), Diogo Dória (Almagro), Berangere Jean (a talhante), Jorge Silva Melo (1º Chanceler e padre Lourenço Vivas), Paulo Rocha (frei João da Conceição), Yves Lobregart (o Irrepressível), Odete Barrois (Dona Honória), Takashi Kawahara (o japonês), etc. Produção: Paulo Branco para Les Filmes du Passage (Paris) - Metro e Tal (Lisboa), em associação com o Institut de la Communication et de L’audiovisuel (Paris), W.D.R. (Colónia), S.S.R. (Genebra) e com a participação do Instituto Português de Cinema e dos
Ministérios da Cultura de França e de Portugal Cópia: 35mm, cor Duração: 410 minutos Estreia mundial: Festival de Veneza, 3 de setembro de 1985 Primeira apresentação em Portugal: Cinemateca Portuguesa, a 24 de setembro de 1985 Inédito comercialmente em Portugal.
Descoberto pela Itália nos anos 70, lançado internacionalmente pela França nos princípios da nossa década [1980], a fama de Manoel de Oliveira cresce dia a dia. “O último dos grandes mestres do cinema”, disseram em tempos os jornais de Paris. “O mais jovem de todos, o futuro do cinema é ele”, diz agora o Corriere della Sera a propósito deste homem de 77 anos. Da Francisca , T. Kezich, e grande crítico de Roma, escreveu no La Republica : “há o filme da semana, há o filme do mês, há o filme do ano
E não é só a glória que escandaliza. É a juventude insolente que o leva a reinventar o cinema aos 75 anos, é o vigor desportivo de filmar uma maratona de 7 horas em 6 meses, sem um dia sequer doente.
E há mais: Manoel é perverso. Para fazer sofrer o público os seus filmes são cada vez mais difíceis e mais longos. E em paga disso, dão-lhe cada vez mais dinheiro, (dinheiro nosso!), somas e-n-o-r- -m-e-s. Não há dúvida. Há aqui uma conspiração universal... E agora por fim este Leão de Ouro, dado a uma sala às moscas! Ou é vigarice ou é bruxedo. Antes que lhe ponham velinhas e flores aos pés da campa, como ameaçam fazer os espíritas de Lisboa ao F. Pessoa dos Jerónimos, teremos ainda à nossa frente uns 15 ou 20 anos para lhe tentar fixar os traços verdadeiros, antes que a memória dos homens se desvaneça, e Oliveira e os seus filmes se não transformem em mais um mito tutelar do país, em meras imagens de retó- rica, para vazios discursos oficiais. Tentemos pois um retrato contraditório, um Oliveira “não maquilhado” pelos seus admiradores ou inimigos, devotos companheiros de trabalho ou rivais despeitados. Desde o Amor de Perdição , e para alguns de nós, de cá e de lá fora, ele foi, simplesmente, o maior realizador vivo. Graças a ele, Portugal estava pela primeira vez na fronteira da arte moderna; a vanguarda do cinema mundial fazia- -se aqui em Lisboa, não vinha enlatada de Paris, N. Iorque ou Tóquio. Era uma sensação vertigi- nosa, um álcool a subir às nossas cabeças. Para outros, Oliveira era “o Velho”, irascível, imperioso, desconfiado, um play-boy enve- lhecido, um patético pinga-amor, um egoísta disposto a sacrificar tudo e todos aos seus projetos megalómanos. Para os devotos foi um homem imprevisível, de uma invenção desmedida, um ser brejeiro, irónico, malicioso, sensual, o mais zombeteiro dos homens atrevidos. Para os outros foi um interminável sensaborão, um pretensioso pseu- do-místico, uma vergonha nacional, um símbolo do nosso provincianismo.
E que dizer do Sapato? Pelo menos numa coisa devíamos estar todos de acordo: gra- ças ao Soulier criou-se à volta da Tobis uma deslumbrante escola lisboeta de cinema arte- sanal: luzes, décors, telões pintados, “efeitos especiais”, todo um mundo mágico e visionário digno de Méliès e do Teatro Kabuki nasce plano a plano, para encantamento dos sonhadores e das crianças. Um turbilhão de imagens nunca vistas, impossível de criar nos estúdios mais industrializados dos grandes países, onde um “savoir faire” académico destrói no ovo os voos da imaginação. O Sapato e a enorme equipa técnica que o tor- nou possível abrem para o cinema português perspetivas imensas. São técnicos admiráveis, para os quais não há impossíveis, um verdadeiro tesouro nacional. Outra virtude deste filme é de ordem mais terra-a-terra: um mapa de trabalho e um plano orçamental cumpridos dia-a-dia, e durante seis meses, é uma coisa rara em qualquer país. Que dizer quando esta boa gestão se aplica a um programa em que tudo era novidade e risco, e com uma verba global apertadíssima? E que dizer de um produtor que consegue trazer lá de fora à volta de 150 mil contos, dos quais quase cem mil em vendas antecipadas? São quantias nunca vistas nem sonhadas entre nós. Do Soulier – obra de arte, teremos o resto das nossas vidas para o ver e meditar. Por agora só diria uma coisa: neste final de século em que os valores tecnológicos made-in-USA ameaçam calar todas as outras tradições do globo, é com a mais viva emoção que se ouve este tratamen- to derradeiro de um mundo latino e ibérico, quando o Mediterrâneo era o centro da Terra, e a tradição católica deixava passar ainda os ecos da antiguidade clássica. Teatro do Mundo, divino e pagão, humano e sobre-humano, cena cósmica criada por esses dinossauros de épocas passadas – Claudel e Oliveira – vozes cada vez mais apagadas pela opressão dos novos tempos, vozes proféticas de uma modernidade radical. Paulo Rocha (in Semanário , 21 de setembro de 1985, p. 45).
Temos de nos resignar a que, mesmo para o génio, haja uma certa lógica e que sejam os rea- lizadores muito grandes aqueles que têm mais fortes chances de fazer grandes filmes. Com O Sapato de Cetim , de que só vimos concluída a “Quarta Jornada”, aguardando-se o resto, Manoel de Oliveira fez algo que toca o sublime. Um sublime que não concederia à peça de teatro ela mesma – seguida palavra a palavra e interpretada admiravelmente – sem alguma re- sistência, moral ou estética, ou as duas coisas. Há uma expressão conhecida acerca da peça que pretende ser maliciosa: “Felizmente que não tem par”. Se Claudel a ouviu, não a terá levado a mal, ele que quis que o seu drama gigante preservasse, apesar das suas dimensões, algo de vacilante e de desequilibrado – à semelhança dos seus dois heróis, unidos e separados por um amor impossí- vel: a sua Dona Prouhèze, que confia à Virgem um dos seus sapatos, antes de correr para o “Mal” (ou seja, para o amado), e o seu Rodrigue, primo do Cid, que, em toda a quarta jornada, se vê munido de uma perna de pau. A peça foi escrita, como o Segundo Fausto, para ser irrepresentável (durante muito tempo, foi uma versão reduzida e adaptada que se levou à cena), nomeadamente no caso da imensa Quarta Jornada, povoada por cenas secundárias, mais ou menos humorísticas, cuja ligação com a ação principal é muito frouxa. Fotografias de rodagem do filme Le Soulier de Satin (1985) de Manoel de Oliveira