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A Missão de Zael e Brynne: Um Romance Proibido na Ordem, Manuais, Projetos, Pesquisas de Energia

Zael e brynne, aliados da ordem, são forçados a escolher entre o dever e o amor quando sua missão os leva a um relacionamento proibido. Enquanto lutam contra um inimigo comum, eles devem esconder sua paixão crescente, que é ameaçada por revelações sobre o passado de zael e as expectativas de seu povo.

O que você vai aprender

  • Quais são os desafios que Zael e Brynne enfrentam em sua missão?
  • Quais são as revelações do passado de Zael que afetam sua relação com Brynne?
  • Como Zael e Brynne lidam com as pressões de seu dever enquanto desenvolvem sentimentos um pelo outro?
  • Como a Ordem reage ao relacionamento de Zael e Brynne?
  • Como o conflito entre os dois povos é resolvido no final?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Kaka88
Kaka88 🇧🇷

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Midnight Breed 14
LARA ADRIAN
DESAFIO O AMANHECER
Um guerreiro imortal deve decidir entre lealdade à sua gente ou o desejo por uma bela Companheira
de raça determinada a trazer um poderoso inimigo à justiça a qualquer custo.
A Caminhante do Dia Brynne Kirkland sobreviveu a uma criação infernal como o produto de
laboratório de um louco. Resistente, impulsionada e dedicada a seu trabalho na Agência de Lei, Brynne
nunca se atreveu a arriscar abrir seu coração ara ninguém muito menos para um belo imortal de um
mundo à beira da guerra contra o mundo dela.
O guerreiro Atlante Zael deixou a intriga do seu reino muito tempo atrás, junto com as batalhas que
ele lutou como um dos da legião da rainha. Como um solitário de espírito livre caminhando à margem dos
dois mundos o de seu povo secreto e poderoso, e o do mundo exterior pertencente à humanidade e à
Raça — nunca foi sua intenção voltar ao combate e derramamento de sangue. Nem tinha imaginado que
ele pudesse algum dia ser tentado a entrar em qualquer coisa mais forte que desejo... até que ele conhece
Brynne.
Empurrados juntos como aliados da Ordem na luta contra um inimigo diabólico, Zael e Brynne
embarcam numa missão que acabará por forçá-los a decidir entre o dever de seu povo e uma paixão que
desafia todos os limites.
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Baixe A Missão de Zael e Brynne: Um Romance Proibido na Ordem e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Energia, somente na Docsity!

LARA ADRIAN

DESAFIO O AMANHECER

Um guerreiro imortal deve decidir entre lealdade à sua gente ou o desejo por uma bela Companheira de raça determinada a trazer um poderoso inimigo à justiça a qualquer custo. A Caminhante do Dia Brynne Kirkland sobreviveu a uma criação infernal como o produto de laboratório de um louco. Resistente, impulsionada e dedicada a seu trabalho na Agência de Lei, Brynne nunca se atreveu a arriscar abrir seu coração ara ninguém — muito menos para um belo imortal de um mundo à beira da guerra contra o mundo dela. O guerreiro Atlante Zael deixou a intriga do seu reino muito tempo atrás, junto com as batalhas que ele lutou como um dos da legião da rainha. Como um solitário de espírito livre caminhando à margem dos dois mundos — o de seu povo secreto e poderoso, e o do mundo exterior pertencente à humanidade e à Raça — nunca foi sua intenção voltar ao combate e derramamento de sangue. Nem tinha imaginado que ele pudesse algum dia ser tentado a entrar em qualquer coisa mais forte que desejo... até que ele conhece Brynne. Empurrados juntos como aliados da Ordem na luta contra um inimigo diabólico, Zael e Brynne embarcam numa missão que acabará por forçá-los a decidir entre o dever de seu povo e uma paixão que desafia todos os limites.

CAPÍTULO 1

Londres, Inglaterra Brynne Kirkland jogou a cabeça para trás e bebeu a dose de uísque premium em um gole de queimar a garganta. Sendo Raça, álcool não era a sua escolha típica. Este bar barulhento e a pista de dança com uma iluminação estroboscópica em Cheapside também não era o local costumeiro que frequentava depois do trabalho. Nas raras ocasiões em que socializava, as tavernas tranquilas e clubes sociais do outro lado do Tâmisa faziam mais a sua linha. Por outro lado, era precisamente por isso que estava aqui. Ela precisava descontrair, liberar um pouco de estresse. Ser um pouco louca uma vez na vida. Ah, pro inferno com a pretensão de decoro. Depois do dia horrível que ela teve, o que realmente precisava era se embebedar e transar. Preferivelmente nessa ordem. Ela também precisava se alimentar. Embora saciar essa outra seca autoinfligida fosse um problema com o qual dificilmente estava preparada para lidar em um bom dia, quem dirá agora. Colocando o copo na superfície espelhada do bar, ela lambeu os lábios e soltou um pesado suspiro. O bartender já estava na sua frente com uma garrafa de Glenmorangie assim que ela levantou o dedo para chamá-lo. Ruivo, ombros largos, com um par de covinhas fofas pondo um parênteses em seu sorriso amigável, o humano de vinte e poucos anos não era nem de longe feio. E considerando seu corpo firme e musculoso, obviamente adquirido com anos de academia, ele parecia razoavelmente capaz de suportar a maratona cardiovascular que era levar uma fêmea da Raça pra cama. O que era mais do que podia dizer da maior parte dos outros humanos no local aquela noite. Ela já tinha avaliado e descartado mentalmente uma dúzia de candidatos por uma variedade de razões, uma delas sendo o medo de que o sexo com a sua espécie seria capaz de matar um mero mortal de pura exaustão. Ela já tinha um humano morto em sua ficha esta semana; realmente não precisava acrescentar mais um. O bartender analisou sua conservadora camisa de seda branca de botões de cima até embaixo e a calça azul escuro enquanto colocava sua dose. Ela tinha vindo direto do trabalho, sem se importar em soltar o cabelo do seu coque firme na nuca. — Dia difícil no trabalho, amor? — O bartender perguntou acima do batimento da música club. Brynne arqueou uma sobrancelha ante sua observação involuntária. — Não faz ideia. Ela passou a última década construindo sua carreira como investigadora na filial londrina da JUSTIS — a organização Raça/humana de oficiais da lei mais conhecida formalmente como Joint Urban Security Taskforce Initiative Squad. Ela se esforçava, devotada à vida ao trabalho. Inferno, o trabalho era sua vida. Ou melhor, foi até algumas horas atrás. Tudo pelo qual trabalhou tinha se acabado em chamas — e o pior era que não tinha a quem culpar além de si mesma. Duas noites atrás, ela tinha auxiliado secretamente uma missão encoberta com Lucan Thorne e a Ordem, deliberadamente ocultando informações sobre a missão de seus colegas e superiores na JUSTIS, bem ciente que ao fazê-lo estava arriscando sua carreira. Felizmente a missão da Ordem foi bem sucedida. Eles atacaram e deram o maior golpe contra o grupo terrorista Opus Nostrum, eliminando um elemento chave em Dublin e desmascarando outro em Londres. A cooperação de Brynne foi providencial para que isso ocorresse. Infelizmente, JUSTIS não via dessa maneira. Seus superiores não gostaram de ter a Ordem exterminando o macho da Raça na Irlanda. Fineas Riordan era um criminoso conhecido e uma figura do submundo, mas o conselheiro humano que se matou em Londres para evitar cair nas mãos da Ordem foi um escândalo com o qual a JUSTIS não poderia arcar.

Com o bartender ocupado com outros fregueses distribuindo doses, Brynne bebericou a dose e tentou se convencer de que estava ali pra se divertir. Pode ser que não tivesse muita experiência com paquera ou sedução — e ok, talvez dizer isso fosse um exagero — mas ela podia fazer isso. Ela queria. Deus sabia, ela precisava de algum tipo de escape naquela noite ou acabaria enlouquecendo. Ainda bebericando a bebida, girou no banco para ver a multidão. Não muito tempo depois, uma garçonete levando um martini em uma taça enorme se aproximou dela do outro lado do clube. O coquetel azul vibrante brilhava como neon e tinha uma espécie de bengala de açúcar dentro. Brynne enrugou a testa quando a funcionária parou bem na sua frente. — Isto é do cavalheiro do outro lado. A garçonete gesticulou para um grupo de jovens — alguns deles com glifos visíveis nos braços. Os jovens da Raça eram civis dos Darkhavens da área, sem dúvida à espreita de anfitriãs de sangue humano antes que o toque de recolher da alimentação noturna entrasse em vigor. Embora a maior parte do pequeno bando estivesse conversando com mulheres, um deles olhava diretamente para Brynne. Cabelo escuro, sério, o macho da Raça acenou quando a garçonete começou a entregar o coquetel cheio de fru-fru para ela. Brynne negou com a cabeça. — Por favor, agradeça ao cavalheiro, mas não, obrigada. Prefiro uísque e prefiro beber sozinha. A garçonete deu de ombros. — Tudo bem. Brilhante, Kirkland. Essa é sua segunda falha na tentativa de arrumar alguém. Não era surpresa que fosse péssima no sexo. Ficando cada vez mais frustrada consigo mesma, ela se virou no banco e virou a dose — sua quarta esta noite, mas quem estava contando? — e colocou o copo na mesa do bar. É isso. Nada de adiar mais. Ela tinha vindo aqui para se automedicar e esquecer a bagunça vazia que estava fazendo de sua vida, e isso significava que não sairia sozinha deste clube. Hora de colocar suas desculpas e consciência na calcinha. Enquanto o Glenmorangie incendiava uma trilha garganta abaixo, Brynne fez uma promessa para si mesma. Aliviaria seu incômodo com o primeiro homem viável que a abordasse. Não demorou muito. Pouco depois de fazer aquele voto ridículo, uma onda de calor se moveu ao seu lado no bar. Seus terminais nervosos reconheceram a presença como uma onda de eletricidade, arrepiando os pelos dos seus braços e da nuca, endurecendo seus mamilos em uma resposta imediata. — Esse lugar está ocupado? A voz baixa e irritantemente confiante era familiar para ela. Como era o par de olhos de um azul celeste de outro mundo que prendeu o seu olhar e não o soltou quando ela virou a cabeça para ver o homem que acabava de chegar. Não, não um homem. Um homem imortal. Atlante. Cabelo dourado. Lindo. Incomparavelmente arrogante. Facilmente a última pessoa que ela gostaria de ver, principalmente hoje. Ele sorriu para ela, aquela boca larga e sensual dele enviando uma dose de ultraje — e de algo bem mais problemático — pelas suas veias. — Olá, Brynne. — Zael — ela quase rosnou. — O que diabos está fazendo aqui? CAPÍTULO 2

Ekizael andava por esta terra há milhares de anos, cada um deles vividos com a ciência plena do que o seu rosto que não mostrava a idade, corpo esculpido, bem definido e beijado pelo sol faziam com a sensibilidade do sexo frágil. Sua aparência impecável Atlântida e sensualidade sobrenatural sempre fizeram parte do seu charme. Ou assim ele pensava. Até conhecer Brynne Kirkland. Como há vários dias atrás em D.C., na primeira vez que colocaram os olhos um no outro, a bela, mas lamentavelmente tensa fêmea da Raça parecia completamente não impressionada. Ela o olhou com raiva quando ele deslizou no banco ao seu lado. Um assento que ele garantiu que estaria desocupado quando mentalmente mandou seu prévio ocupante embora um minuto atrás. — O que está bebendo, linda? Ela não respondeu, e ele soube que o nome carinhoso casual a irritava tanto quanto sua presença. Seus olhos verdes cor de floresta se estreitaram incisivamente quando ele pegou o seu copo vazio. Ele cheirou a fragrância defumada com um toque de turfa do uísque de primeira que ela vinha virando como se fossem doses de tequila barata. — Sabe, o verdadeiro prazer de um puro malte está em suas nuances. Como em muitas outras buscas prazerosas, se for com pressa, perde a melhor parte — ele sorriu. — Ninguém nunca te disse isso? Franzindo a testa, ela tirou o copo dele e o colocou na bancada espelhada à sua frente. — Prefiro fazer o que tenho vontade. Zael deu risada. — Sim, estou notando. É por isso que está sentada aqui, completamente sozinha esta noite, vertendo doses e deixando todos os homens com sangue nas veias do local malucos? Ele saberia; era um deles. Foi preciso cada grama de seu controle para se impedir de vir até aqui e declarar sua pretensão até agora. Não que ele tivesse algum direito de declarar algo no que dizia respeito a ela. Brynne podia ter escolhido qualquer homem, embora se ela entendia isso ou não, ele não tinha certeza. Ela garantiu que ele soubesse em D.C. que nunca estaria à altura. E maldição se isso não deixou Zael ainda mais determinado a descobrir o motivo. Ela soltou um ruído indignado ao girar no banco para encará-lo. — Não estou completamente sozinha. Eu estava tentando me divertir. Isto é, até você aparecer. Há quanto tempo está aqui? — O bastante para ver que você ficou por um triz de tomar duas péssimas decisões. Ela zombou. — Me espionando, você quer dizer? Zael sorriu. — O quanto isso é diferente de quando você saiu escondida pelo terraço no centro de operações da Ordem para se espreitar no mato e me olhar enquanto eu fazia o meu treino do nascer do sol? Ela o olhou de um jeito ultrajado. — Eu não saí escondida, e com certeza não espreitei. — Mas admite que estava dando uma conferida no meu material? — Só nos seus sonhos de ilusão, Atlante. Seu tom era defensivo, embora ele não soubesse se por costume ou pelo efeito do álcool que ela devia estar sentindo. Ela cruzou os braços, atraindo sua atenção para os mamilos endurecidos sob o tecido de cetim da sua camisa de botões empertigada. Sua cara de raiva e linguagem corporal fechada podia lhe dizer que não estava interessada, mas o belo rubor em suas bochechas — e o sangue que ele podia ouvir correndo pelas suas veias — diziam algo muito diferente. Bem como as faíscas âmbar que ardiam em sua tempestuosa íris. A prática agente da lei podia querer fingir que a atração entre eles não existia, do mesmo jeito que fingiu quando se encontraram pela primeira vez na semana passada, mas ele não foi enganado antes nem agora. Brynne querendo admitir ou não, a verdade estava bem na sua frente.

— Vamos, Brynne. Ela ficou onde estava, franzindo o cenho para a mão que ele oferecia. — Vamos para onde? Ele pegou sua mão e ficou surpreso por ela sair do banco sem lutar. Um ponto para o Glenmorangie. Segurando a oportunidade e a ela com o punho firme, levou Brynne para longe do bar e através do clube lotado. — Está perdendo seu tempo comigo — ela disse enquanto andavam por entre os grupos de clientes humanos e Raça. — Não prefere ir atrás de uma mulher que possa apreciar esses seus ditos charmes? — Não especialmente. Prefiro um desafio — ele parou com ela à beira da pista de dança lotada. Música vibrava as paredes e o piso, latejando com uma batida enérgica que ele sentiu ressonar em seu peito. Luzes a laser de múltiplos tons giravam em todas as direções, as cores vibrantes iluminando a expressão desconfiada de Brynne. — O que está fazendo? Ele gesticulou para a pista. — Te ajudando a se divertir. É o que disse que estava tentando fazer antes de eu aparecer, certo? Ela juntou os lábios no começo de um protesto. — Não estou interessada em dançar, Zael. — Então está interessada em quê? Ela ficou calada, o olhar prendendo o dele enquanto mais corpos passavam por eles seguindo para a pista. O baixo pesado martelava em volta deles, pontuando as marteladas da pulsação de Zael enquanto esperava que Brynne o rechaçasse, que negasse a atração que ele sentia estalando como um raio entre eles. Droga, ela era linda. Suas bochechas ficaram rosadas. Enquanto ele assistia, o rubor se espalhou pela sua bela garganta e pela maciez pálida do seu peito. As brasas em sua íris de Raça brilharam com mais fogo — quietas, mas em chamas. E mesmo que ela tivesse cuidado ao falar com ele, mais de uma vez ele tinha visto as pontas delicadas de suas presas brilharem por trás da suculenta linha rosada da sua boca. Finalmente, ela deu um suspiro resignado. — Certo, tudo bem. Se você insiste, então vamos acabar logo com isso. Zael deu uma risada. — Esta é a primeira vez que uma mulher me diz isso. Brynne apertou os lábios. — Fico feliz em saber que me destaco no meio da multidão. Oh, sim. O eufemismo do século. — Isso você faz, Senhorita Kirkland. Isso você faz. Ele a trouxe até o centro da pista onde encontrou um pequeno espaço para eles entre os casais, grupos e pessoas sozinhas que enchiam o clube. Ela ficou lá na sua frente, sem se mexer. A normalmente fria e confiante fêmea da Raça de repente parecia tão perdida e incerta quanto uma criança. — Qual é o problema? — Você deveria saber que eu não… — Suas palavras calaram e ela lentamente sacudiu a cabeça. Então se inclinou mais perto para falar acima do ruído. — Normalmente eu não faço… isso. — A confissão subiu morna pela sua pele, o fôlego com o toque da doçura do uísque que ela tinha bebido. — Não sou muito boa nisso, Zael. Não na frente de uma audiência. E nunca com um parceiro. Porra. Ela estava falando em dançar? Por um segundo ele não teve certeza. Sua mente tinha queimado um circuito enquanto ela explicava, e agora todo o seu sangue corria para baixo num instante. Ele engoliu saliva com a garganta seca se perguntando se ela tinha alguma ideia do que suas palavras sussurradas fizeram. Ele teve que se forçar a permanecer quieto, no controle, quando ela vacilou um pouco nos calcanhares, uma mão vindo descansar em seu ombro para se equilibrar. O corpo dela roçou no seu, inflamando-o tão poderosamente como se ele fosse um adolescente, não um guerreiro imortal de longa vida cujo apetite por beleza e prazer era praticamente uma lenda entre os de sua espécie. — Você fazer qualquer coisa que seja sozinha é uma pena por uma centena de razões distintas — ele murmurou, a voz rouca de desejo que não conseguia esconder.

Para choque dele, ela não resistiu quando a tomou nos braços para dançar. Não enrijeceu nem o empurrou quando começou a se mover com ela no seu próprio ritmo, ignorando a batida frenética da música e as acotoveladas e empurrões dos outros corpos em movimento em volta deles. Para seu completo assombro, ela também o segurou. Ela balançava com ele, os seios roçando em seu peito, as coxas se entrelaçando de leve entre as dele. A cabeça dela veio descansar no seu peito. Ela estava tão morna em seus braços. Mais macia do que imaginava. Cada respiração que dava enchia seus sentidos com o aroma único de Brynne — baunilha, chuva e uma doçura elusiva que parecia contrastar com a fachada durona que ela parecia tão determinada a apresentar para o resto do mundo. Ou talvez só para ele. Zael não sabia. No momento, não se importava. O tempo passou devagar. A música explodindo pelo sistema de som era alta e contínua, mas a cacofonia da música e das centenas de outras pessoas em volta deles ficou em segundo plano enquanto Zael tinha Brynne nos braços. Ele não tinha vindo a Londres esperando por isso. Mas por outro lado, Brynne Kirkland não era nada senão inesperada. Imprevisível. Inesquecível. E agora ele tinha que adicionar outro superlativo à lista crescente no que dizia respeito a ela. Irresistível. Ele queria beijá-la. Queria sentir o corpo colado ao seu sem a barreira das roupas. Ele a desejava tanto que gemeu ante a força de sua necessidade. Ela tinha que saber como o afetava. Inferno, tinha que sentir. E ela soube. Ele a viu ficar ciente quando seus olhos se arregalaram ao levantar a cabeça de seu peito. Uma pequena ruga se formou entre suas sobrancelhas. Mas ao invés de empurrá-lo ou correr até a porta mais próxima, a bela e embriagada Brynne fez algo do qual ele não estava esperando. Levantando os braços para prender os dedos em sua nuca, ela o puxou para um beijo de língua chocante e aterrador. CAPÍTULO 3 Ela não sabia o que deu nela. Com a boca colada na de Zael em um beijo que parecia abalar os dois, Brynne queria culpar o seu imprudente — sem mencionar humilhante — impulso no uísque. Isso era por causa do uísque. Tinha que ser. De que outra forma poderia explicar o fato daquele encontro não desejado com o Atlante ter sido a melhor coisa que lhe aconteceu o dia inteiro? Que outra desculpa poderia encontrar para o fato de atualmente estar envolvida pelos braços de um homem que não tinha feito nada além de perturbá-la e irritá-la desde o momento em que se conheceram, e gostar disso? Que Deus a ajudasse, mais do que gostar. Gemendo, ela enfiou os dedos mais fundo em seu cabelo cheio e dourado ao puxá-lo mais perto e mergulhar a boca mais dentro de sua boca. Suas presas surgiram, alongando enquanto seu desejo se intensificava. Por trás de suas pálpebras fechadas sua visão ardia vermelho-sangue, e por baixo de sua blusa de seda e calça sob medida, sua pele vibrava com o despertar dos seus dermaglifos. Estava dominada pelo desejo, sem dúvida por fazer tanto tempo desde que havia cedido às exigências de seu corpo — carnais ou não. Claro que esse tinha que ser o motivo. Cada célula em seu corpo se acendeu com uma repentina e espantosa corrente de eletricidade ao acariciar a língua de Zael. Seus sentidos esquentaram, suas veias, a cada passar dos lábios dele sobre os seus.

— Posso ter qualquer mulher sob os termos que acabou de descrever. E as tenho. — Então, qual é o problema? Ele não respondeu, só começou a caminhar para longe dela. Brynne foi atrás dele, correndo para acompanhá-lo enquanto ele repartia a multidão. Ela não o alcançou até eles passarem do bar e se dirigirem à saída. — Zael, espere. Por favor. Ele parou bem no vestíbulo do clube. — Eu não deveria ter vindo — ele a fitou como se fosse dizer mais alguma coisa, mas mudou de ideia. Sacudiu a cabeça. — Quer ir ara casa, eu te levo para casa. Até a coloco na cama, Brynne. Mas não vou te comer. Não desse jeito. Não importa o quanto eu queira. Sua resposta sem tom a pegou tão de surpresa que ele poderia muito bem ter lhe dado um tapa. Ela engoliu a humilhação, mas essa se instalou atrás de sua garganta, amarga como ácido. — Vamos — ele disse rigidamente. — Vou chamar um táxi. Ao saírem do prédio, um pedido de desculpa de Brynne estava bem na ponta da língua. Todo o álcool em sua corrente sanguínea pareceu se dissolver sob o peso da sua vergonha, deixando-a se sentindo fria e tola. E mais sozinha do que nunca. — Zael, eu... Ela não sabia o que dizer para consertar as coisas. Não tinha nem certeza se sabia como. Mas então algo claro à distância chamou sua atenção — algo perturbador, deixando a linha do horizonte do outro lado do Tamisa iluminada. Um incêndio. Não, era mais que um incêndio. Era uma bola massiva de chamas e uma fumaça grossa cinza. Do lado de fora do clube, uma multidão se juntava para olhar o espetáculo. Enquanto assistiam em um horror calado, um ruído baixo veio pela água… seguido pela colisão e estrondo inacreditável de metal, vidro e cimento. — Oh, meu Deus — murmurou Brynne. Ela olhou para Zael, sentindo todo o sangue sair de seu rosto. — Aquela é a quadra do governo na Vauxhall Cross. Esse prédio que acabou de desabar? Zael… era o centro de operações da JUSTIS. CAPÍTULO 4 Centro de Operações da Ordem Washington, D.C. Lucan Thorne era um guerreiro há tempo demais e já tinha visto muito para que alguma coisa o pegasse de surpresa. Ainda assim, ele estava em pé diante de uma parede de monitores na sala do centro de comando do centro de operações, assistindo com a maioria dos seus tenentes e respectivas companheiras enquanto o coração do distrito do governo de Londres queimava, ele não podia negar a sensação fria de descrença que o dominava. O prédio branco que era um ícone e que já abrigou o famoso MI6 britânico e, nos últimos vinte anos, o centro de operações global da JUSTIS… destruído. Nada além de destroços. A fortaleza altamente segura, moderna e impenetrável, e todos que estavam nela esta noite, consumidos pela gigante fumaça de cinza escura e fogo intenso que iluminava o horizonte londrino como um vulcão. — Opus Nostrum não esperou para alegar responsabilidade — Gideon disse com raiva ao lado de Lucan. — Está em todo lugar na Internet.

O especialista em tecnologia da Ordem tinha um tablet na mão, escaneando sites do submundo onde desajustados sociais gostavam de se gabar e envaidecer uns aos outros. Gideon era tão guerreiro quanto seus camaradas, mas ele também possuía habilidades que passariam qualquer hacker gênio pra trás. Lucan soltou um palavrão. — Devíamos ter previsto. — Ninguém previu — disse Gideon. — Não houve conversa, nada postado. Nenhuma ameaça. Nada a não ser silêncio até a ocorrência desse ataque. — Mesmo assim, devíamos saber que eles não nos deixariam eliminar dois dos seus sem algum tipo de reposta. Sterling Chase, líder do centro de comando de Boston, balançou a cabeça ao considerar. — Este tipo de ataque leva tempo. Requer planejamento e coordenação. Você não simplesmente aparece em uma instalação altamente segura do governo com explosivos suficientes para demolir o local. Dante, outro dos membros de muitos anos, grunhiu em concordância. — Não sem que explodam o seu traseiro assim que cruzar o limite da propriedade. — Não houve relatos de atividade incomum próximo à área — acrescentou Tegan. O macho enorme era da primeira geração da Raça, como Lucan — ambos poderosos Gen Um, ambos membros centenários fundadores da Ordem. Eles foram de amigos a inimigos e de volta a amigos no longo tempo em que se conheciam. Agora que os dois estavam com duas extraordinárias mulheres que lhes deram bravos filhos que partilhavam do comprometimento que os pais tinham pela Ordem, Lucan e Tegan se tornaram tão próximos quanto parentes. — Ninguém pôde prever — disse Tegan — muito menos teve tempo de impedir. Por mais que Lucan quisesse acreditar que era verdade, o líder nele não sentia o peso da culpa em seus ombros diminuir. — É isso que diremos ao público quando perguntarem como foi permitido que algo assim acontecesse? Que fomos todos pegos de surpresa e agora estamos com os paus nas mãos? — JUSTIS nunca quis nossa ajuda, Pai. — O filho de Lucan, Darion, olhava pra ele do outro lado da sala. O macho da Raça adulto estava ao lado de outros filhos crescidos dos demais guerreiros que se reuniram na sala assim que as primeiras notícias chegaram de Londres. Enquanto ele falava, várias cabeças dos jovens recrutas assentiam. — Pergunte a qualquer um na JUSTIS ou no Conselho Global das Nações — Dare prosseguiu. — Eles não confiam em nós e não aprovam os nossos métodos. Desde o começo. — Nem a velha guarda da conhecidamente ineficaz Agência da Raça — Rio assinalou. — Mas sobrevivemos a ela também. A declaração do guerreiro espanhol extraiu comentários de concordância de seus companheiros Brock e Kade. Até Hunter, o formidável ex-assassino, verbalizou sua concordância. Lucan voltou a olhar a destruição que ainda enchia os monitores. — Não dou a mínima para a aprovação da JUSTIS, da CGN ou de qualquer outra organização que joga limpo até que surge uma ameaça real e explode a merda toda. Eu me importo com a paz. Eu me importo em proteger as vidas dos inocentes que não podem se proteger sozinhos. — Todos nos importamos, Lucan — sua Companheira de Raça, Gabrielle, veio para perto e se aninhou nele, a voz calma e racional, mesmo em face do terror do tipo que lidavam hoje. Essa constância era uma das coisas que ele sempre tinha admirado nela. Mas ela o agarrava com força ao falar. Lucan não tinha certeza se ela pretendia que o contato físico fosse um suporte para ele ou para si mesma. Gabrielle olhou para Mathias Rowan que comandava o centro de comando da Ordem em Londres. — Sabemos quantas pessoas estavam no prédio esta noite? Mathias podia estar em casa na Inglaterra esta noite, mas recentemente esteve nos Estados Unidos com sua Companheira de Raça grávida há pouco tempo, Nova, para visitar seu amigo Sterling Chase em Boston. Mathias deu uma sacudida vaga da cabeça, o braço em volta dos ombros de Nova enquanto o casal assistia o horror se desenrolar nos monitores.

CAPÍTULO 5

Brynne queria fingir que a humilhação de ter se oferecido para Zael — e de ser rejeitada — não tivesse realmente acontecido. Queria fingir que muitas coisas não tinham acontecido esta noite, a primeira da lista sendo o ataque odioso aos seus colegas da JUSTIS. Mas era impossível ignorar algo que tinha acontecido nas últimas horas quando estava sentada com Zael na cabine luxuosa de um jatinho particular da Ordem em direção a Washington, D.C. Opus Nostrum tinha destruído todo o centro de operações de Londres com um único golpe. Sem sobreviventes. Quase cem oficiais e funcionários da JUSTIS incinerados na explosão, todas menos uma dúzia ou mais de vítimas da Raça. Homens e mulheres com quem Brynne trabalhou na maior parte de sua carreira na organização. Pessoas de quem gostava, simplesmente mortas em um instante. Os escombros da explosão estavam queimando quando o jato decolou de fora da cidade. Provavelmente levaria dias antes que a pira de perímetro de duas quadras finalmente esfriasse. Sua cidade nunca mais seria a mesma. No mundo inteiro, nada mais seria o mesmo agora. Opus tinha deixado isso claro hoje. Brynne mexeu o gelo em seu copo e então bebeu um farto gole do líquido frio. Água desta vez, mesmo que seu pesar e fúria pedissem por algo mais forte. Testemunhar o inferno que devorou o seu local de trabalho de tantos anos — ex-local de trabalho , ela se lembrou com raiva — foi o suficiente para deixá-la imediatamente sóbria. Do jeito que se sentia depois desta noite, pode ser que nunca mais bebesse outra gota. Zael a olhava do seu assento do lado oposto da cabine. Ele ficou atipicamente reservado desde que embarcaram no jato. Ainda agora, ele se mantinha calado e distante, permitindo-lhe o mais que necessário espaço para processar e refletir. Ela colocou o copo vazio no console a seu lado. — Continuo me imaginando caminhando por aquela rede de corredores — murmurou baixinho. — Fico vendo seus rostos, os outros oficiais e investigadores com quem trabalhei todos os dias naquele edifício. Não posso evitar recitar seus nomes na minha cabeça, fazendo uma contagem de corpos mental. Zael assentiu gravemente, mas não falou nada. Ele levantou e caminhou devagar para tomar o assento de couro em frente ao seu. Seu cabelo loiro com fios cobre tinha ficado desgrenhado da corrida que fizeram por Londres para ver a destruição em primeira mão. Ele tirou as ondas grossas da testa e se inclinou para frente, descansando os cotovelos nos joelhos ao lhe dar tempo para dizer tudo o que queria dizer. Os olhos de um azul oceano prendiam os seus, solenes em seu rosto esculpido e bronzeado de sol. E enquanto ela tinha certeza que deveria estar fedendo a fumaça e a morte, o cheiro dele era limpo e fresco, tão revigorante quanto a brisa do mar. Sua presença a acalmava. Neste momento, com tudo que conhecia agora detonado em pedacinhos a milhares de quilômetros atrás deles, ele a acalmava. Mais do que ela se dignaria a admitir. — Eu ficava até tarde no HQ na maioria das noites — ela disse. — Às vezes, se eu terminasse um caso mais cedo que o esperado, começava logo outro. Às vezes eu trabalhava a noite inteira. Sendo uma Caminhante do Dia, uma coisa muito rara entre sua espécie, ela não tinha que trabalhar à noite como seus colegas da Raça. Porém, mais vezes do que não, era o que ela escolhia. Por que não trabalharia? Não era como se tivesse alguém a esperando em casa. E ela amava seu trabalho. Ele era a única constante em sua vida, seu propósito. A única coisa que podia chamar de sua. Até hoje. — JUSTIS era tudo o que eu tinha, Zael.

Ela praticamente se encolheu quando a confissão deixou seus lábios. Mas estava cansada e vazia demais para se conter. E o peso do terror e da violência dos cem mortos e da organização a qual dedicou a vida era quase demais para suportar. Olhando para longe dele, fitou a janela retangular ao seu lado. Na distância, o sol estava começando a aparecer no horizonte distante. Ela o olhou como se o visse pela primeira vez, ciente demais da sorte que tinha de estar vida e testemunhar aquilo. A compreensão a rasgava, colocando um ardor ácido em sua garganta. — Se eu não tivesse sido dispensada hoje, estaria lá com o resto deles no HQ. — E se sente culpada por que não estava. Ela virou o olhar de volta para ele, espantada que ele entendesse. — Muitas daquelas pessoas deixaram filhos e companheiros. Eles tinham vidas esperando por eles. — Está dizendo que não tem? Oh, Deus. Ela foi longe demais por um caminho que não tinha intenção de partilhar com ele. Sobretudo com ele. — JUSTIS era importante pra você, eu entendo. Mas não é tudo o que tem. Primeiramente, você tem uma irmã bem preocupada vindo nos encontrar quando aterrissarmos em D.C. Brynne não podia negar a pontada tenra em seu peito com a menção de Tavia. Elas só conseguiram trocar algumas palavras quando Zael havia ligado para a Ordem para informar sua localização. Tavia estava fora de si de preocupação — uma noção com a qual Brynne ainda se ajustava. Embora sua conexão com Tavia fosse forte, ela e a outra Caminhante do Dia da Raça nem sabiam uma da outra até já serem adultas. — Tavia e eu somos meias-irmãs — disse Brynne, meio que desdenhosamente, esperando fechar a porta dessa linha de conversa antes que permitisse que o Atlante rastejasse mais para dentro de sua mente. — Tinham a mesma mãe ou o mesmo pai? Brynne o encarou. Ele não sabia a história dela e de Tavia? O laboratório do louco. O programa de procriação que gerou anomalias genéticas como Caminhantes do Dia e fêmeas da Raça que antes nunca foram sido vistas no mundo. As experiências e os abusos brutais. A teia de traição de décadas que foi usada para manter a prole do programa sob controle até que eles pudessem ser utilizados como armas de guerra. Se Zael não sabia desses fatos lamentáveis a respeito dela, não seria Brynne que lhe contaria. Assombrada pelas lembranças que manteve trancadas a vida inteira, ela sacudiu a cabeça. — Estou cansada. Não quero mais falar. Mas havia outro fato lamentável que ela preferia que nunca viesse à tona. Um que precisava ser discutido, não importava o quanto temesse. — Falando em Tavia e no resto da Ordem, gostaria que você desse sua palavra em não mencionar o que aconteceu entre nós hoje. Zael se recostou, o olhar fixo nela debaixo da curva das sobrancelhas. — Está falando da dança? Ela olhou com raiva. — Estou falando de tudo. Gostaria que prometesse que vai manter nossa indiscrição pra si mesmo. — Nossa indiscrição — um divertimento sombrio iluminou os olhos dele. — Se me lembro corretamente, não fui eu que meti a língua na garganta de alguém em uma pista de dança lotada e depois por embriaguez sugeriu que deveríamos arrancar nossas roupas e ficarmos na horizontal o mais rápido possível. Se ela pudesse escorregar para dentro do assento de couro, ela teria feito isso de bom grado. Graças a Deus ela não foi pra cama com ele. Já era insuportável pensar que podia ter ido. Bochechas ardendo de ultraje, ela levantou o queixo. — Como você apontou tão precisamente, bebi muito uísque e isso afetou a minha cabeça. Eu não era eu mesma. Não tinha ideia do que falava e com toda certeza não era essa minha verdadeira intenção. Zael sorriu. — Não me entenda mal. Gostei de quem você era naquela pista, Brynne. Espero que eu veja aquela mulher outra vez, mas preferivelmente quando ela estiver sóbria.

Só que o grupo de machos da Raça na sala com ele não era de assassinos. Não animais brutais como os antigos pais de sua raça tinham sido. Não assassinos covardes como os membros sorrateiros e anônimos da Opus Nostrum. Os homens da Ordem eram guerreiros, como Zael uma vez foi — antes de desertar do reinado vingativo de Selene para traçar um caminho diferente, bem longe da corte Atlântida. Há poucos dias, a Ordem quis que ele retornasse a campo — desta vez lutando do lado deles. Contra a sua gente se chegasse a este ponto. Ele tinha ido embora achando que tinham lhe pedido muito. Ainda não tinha decidido se estava pronto para se opor à sua rainha, mas não podia negar que hoje a Opus Nostrum fez nele mais um inimigo. — É um alívio ver que os dois estão a salvo — disse Lucan, estendendo a mão para Zael em um cumprimento. Ele assentiu para Brynne, que vigilantemente mantinha posição próxima a Tavia do outro lado da sala enorme. — Ainda estamos coletando informação dos nossos meios secretos e das equipes no local, mas até agora parece que a JUSTIS foi o único alvo. Eles queriam mandar uma mensagem. — E foi o que fizeram — concordou Zael. — Mas criminosos assim prosperam quando enviam mensagens ousadas. É assim que constroem seus impérios. É assim que garantem a lealdade dos seus membros fiéis. Na tela de Montreal, Nikolai murmurou um palavrão. — Sem falar a garantia de haver caos e medo suficientes para que um público aterrorizado esteja disposto a fazer qualquer coisa para impedir outro ataque. Sterling Chase bateu com o punho na mesa de reunião. — Não enquanto estamos aqui. Maldição, essa merda com a Opus já foi longe demais. Assassinatos múltiplos. A tentativa de detonar a cúpula de paz da CGN algumas semanas atrás. Produção e distribuição de tecnologia UV que assassina Raças e narcóticos que transformam qualquer Raça cumpridor da lei em um monstro sedento de sangue. A lista de atos criminosos é do tamanho da porra do meu braço. — A fúria do comandante de Boston só diminuiu quando ele olhou para Tavia. — E depois, umas duas noites atrás, os bastardos levaram a nossa filha. — Nós recuperamos Carys — falou Tavia, prendendo seu olhar atormentado. — Ela e Rune estão a salvo e festejando seu laço sanguíneo. Graças a todos nesta sala. Especialmente a Brynne. Brynne levantou a cabeça de súbito com a menção de seu nome. — Eu? Tavia sorriu. — Se não fosse seu raciocínio rápido, podíamos não ter percebido que Cary tinha sido levada da festa de Neville Fielding. A Ordem poderia ter chegado tarde demais para ajudar Rune e ela a escaparem de Riordan e de seus homens. Brynne parecia desconfortável com o elogio. Seus olhos se moveram pela sala — contudo, Zael notou, ainda cuidadosamente o evitavam — antes dela olhar para o chão. — Eu só estava fazendo o meu trabalho. — E você é muito boa nele — disse Lucan. — Seus instintos sobre Fielding ser corrupto foram precisos. Sem a sua desconfiança e cooperação em nos colocar dentro daquela festa para recolher informação, estaríamos muito mais atrás da Opus do que estamos agora. Chase limpou a garganta. — Sinto muito que a cooperação tenha sido um problema para os seus colegas na JUSTIS. Tavia mencionou mais cedo que você foi dispensada. Brynne deu de ombros. — Acho que nada disso importa mais, certo? — Seu tom era direto, mas Zael ouviu a nota de arrependimento em sua voz firme. — Eu faria tudo de novo, sem hesitar. Mesmo sabendo o que me custaria. Como todos vocês, também quero deter a Opus Nostrum. Quero isso agora mais do que nunca. Custe o que custar. Em volta da sala da central de comando, cabeças assentiam. Brynne olhou para Gideon.

— Sinto por não ter conseguido fornecer o HD do computador de Fielding nem seus arquivos pra você. Assim que seu corpo foi descoberto junto com o veneno que ele ingeriu, JUSTIS apareceu para limpar a casa e selar o local para investigação. — Tudo bem — Gideon sacudiu a cabeça. — Ao menos temos os arquivos de Riordan. Bem, nós teremos. Eventualmente. — Ainda sem sorte em decodificar a criptografia? — A pergunta de Lucan parecia incrédula. — Você está nisso há mais de 48 horas. Odeio dizer, mas esse deve ser um novo recorde seu. E não é algo que eu queira ouvir agora. — A criptografia é… complicada. Na verdade é mais do que impressionante. — Também não é algo que eu queira ouvir — murmurou Lucan de um modo sombrio. — Acredite, fiquei tão perplexo quanto todos por não conseguir quebrá-la ainda — Gideon passou a mão pelos cabelos loiros espetados. — Eu invadi o disco rígido de Riordan e as senhas, isso foi moleza. Mas além de ficar sabendo que ele tem um péssimo gosto musical e um fraco para pornô de animais de fazenda que me deixou com vontade de limpar as córneas com uma lâmina de barbear, o HD de Riordan foi um fiasco. Lucan franziu a testa. — Temos quase certeza que os membros da Opus entram em contato eletronicamente. Está dizendo que não há traço de programas de comunicação nem de arquivos com os logs das conversas no computador? — Eles são cuidadosos demais para isso. O processo de deletar diretórios e arquivos foi programado para rodar todas as noites como um relógio. Fui capaz de interrompê-lo antes que fosse ativado uma última vez. Nos arquivos deletados de Riordan, encontrei o fragmento de uma ID de uma rede pessoal protegida. — Gideon soltou um suspiro forte. — E foi aí que os meus problemas começaram. Tem um cadeado na rede, um programa muito sofisticado que age como uma armadilha explosiva na coisa toda. Quase caí nela hoje antes de perceber com o que me deparei. Quem quer que tenha programado isso sabe o que faz. Estamos falando de mais que habilidades profissionais. — Você vai conseguir decifrar? Zael não conhecia Lucan há muito tempo, mas duvidava que qualquer homem ou mulher na sala agora já tinha ouvido a nota de dúvida que rastejou na voz grave do líder da Ordem. Gideon ficou calado por um bom tempo, e aquele silêncio dizia muito. — Vou decifrar. Não vou descansar até conseguir. Lucan assentiu de um modo amedrontador. — Boa resposta. Então ele voltou o olhar sério para Zael. — Não acho que preciso te dizer que tudo que ouvir nesta sala hoje é para ser guardado no mais estrito segredo. Zael inclinou a cabeça. — Claro. Tem a minha palavra. Agora que Lucan e os outros guerreiros o olhavam, Zael sentiu o peso de sua curiosidade — até suspeita — vir descansar em cima dele. — Nunca mencionou o que fazia em Londres ontem à noite, Zael. Estava lá a negócios? — Lucan o estudou, os perspicazes olhos cinza avaliando. — Não — admitiu Zael. — Não fui lá a negócios. — Prazer, então? — O líder da Ordem perguntou casualmente, mas não havia dúvida de que era um teste de confiança. Lucan podia não saber com certeza o que levou Zael até a cidade onde a Opus Nostrum tinha acabado de fazer o pior, mas saberia muito bem se Zael tentasse enganá-lo. E se isso acontecesse, qualquer aliança que eles forjaram estaria enfraquecida praticamente antes de começar. — Não fui a Londres a negócios nem a prazer. Fui até lá para ver Brynne. Do outro lado da sala, a tensa antecipação dela era uma palpável corrente de ar. Zael olhou na direção dela agora, e ao invés de ver seus olhos se desviarem ou o evitarem, ela o olhava em resignação. Em uma angústia e um desprezo não verbalizados.

Ela escolheu aquele momento para olhar na direção de Zael, e ele soube que ele não foi rápido o bastante para esconder seu aceno de concordância. Não que ele quisesse vê-la infeliz, mas também não queria vê-la perto das ruínas em chamas da JUSTIS ou da porra dos sádicos que executaram o ataque. Ela estaria mais segura com a Ordem, quer quisesse acreditar nisso ou não. — Eles estão certos — disse Zael. — Você pode não ter estado no edifício quando ele explodiu ontem, mas isso não quer dizer que a Opus sabia que não estava. Ela cruzou os braços, claramente ultrajada por sua interferência. — Tudo aponta para um ataque muito bem planejado. Levou tempo para a Opus executá-lo. Muito mais do que a semana e alguns dias que venho trabalhando com a Ordem. — Sim — ele concordou. — Mas o que diz que você não tinha um alvo nas costas há muito tempo antes? Se não simplesmente por fazer parte da JUSTIS, então por ser parente de um dos comandantes chave da Ordem? — Jesus Cristo — isso veio de Sterling Chase. O olhar grave do comandante de Boston foi de Tavia à sua irmã. — Achávamos que a conexão entres vocês ainda era confidencial, mas e se alguém na Opus sabe? Um pouco do ultraje de Brynne drenou de seu rosto quando considerou a possibilidade. — Está segura agora — Zael disse a ela. — Isso é o que importa. Ela piscou e desviou os olhos dele, recusando-se a erguê-los novamente. Já que sua presença não estava ajudando, ele decidiu tornar as coisas mais fáceis para ela — e paras as pessoas que tentavam convencê-la. — Tenho certeza que há muitas coisas que a Ordem precisa discutir — disse já dando um passo em direção à porta. — Se não necessitam mais de mim por ora, acho que é o momento de ir embora. Lucan limpou a garganta. — Não tão rápido, Zael. Sim, há coisas que precisam ser discutidas, incluindo assuntos recentes que dizem respeito ao seu povo e a rainha deles. CAPÍTULO 7 Depois que a Ordem levou Zael para uma reunião a portas fechadas na sala de reunião, Tavia levou Brynne para conhecer a Companheira de Raça de Lucan na seção residencial da vasta propriedade em D.C. — Estamos com uma casa anormalmente cheia no momento — Gabrielle Thorne disse enquanto a régia Companheira de Raça de cabelos castanho-avermelhados guiava Tavia e Brynne por um elegante corredor no terceiro andar do gigante centro de operações da Ordem. — Esta ala não é muito usada ultimamente. Todo o terceiro andar foi reservado para dignitários estrangeiros em visita na época em que a casa velha era usada como embaixada. Velha casa? O lugar era um palácio. Brynne tinha visto residências da realeza na Inglaterra menos impressionantes. Um trabalho de entalhamento complexo de madeira revestia as paredes da passagem e grossos tapetes persas de cores ricas cobriam o lustroso chão de madeira escura. Seguindo suas duas companheiras pelo meio do longo corredor, Brynne não pôde evitar admirar os vários bustos esculpidos e esculturas neoclássicas que ficavam em pedestais polidos pelo caminho, ou as antigas fotografias de pontos conhecidos e maravilhas naturais que competiam com pinturas de artistas notórios nas paredes forradas de seda. Sua caminhada terminou em frente às portas abertas de uma suntuosa biblioteca que tinha um cheiro maravilhoso de livros com capa de couro envelhecido e madeira antiga encerada com cera de limão. Em outra época, sob diferentes circunstâncias, podia ver a si mesma se perdendo entre todos aqueles livros por dias sem fim. — Sinto que tenham se dado ao trabalho de me encontrar um lugar. Imagino que as duas têm coisas mais importantes a fazer, especialmente esta semana. Gabrielle deu um sorriso sincero e acolhedor para ela. — Não é problema algum. Mesmo que não fosse irmã de Tavia, depois de tudo que fez por nós naquela noite, já faz parte da família da Ordem, Brynne.

Tavia assentiu. — Sei que ia preferir ficar em casa, mas espero que se sinta confortável aqui por ora. Quando falou, Gabrielle se virou para abrir uma porta bem em frente à biblioteca. O quarto era grande, mas aconchegante, com uma pequena área de estar de um lado e uma cama de colunas do outro. As cortinas na janela alta estavam abertas para deixar que a luz da manhã entrasse e para deixar a vista da bem cuidada propriedade visível. Em uma escrivaninha próxima à porta aberta, um vaso de flores recém- colhidas perfumavam o ar. — O quarto é lindo — disse Brynne ao entrar. — Obrigada as duas. — Sinta-se em casa — Gabrielle disse. — Isso vale para toda a propriedade. E é bem-vinda para permanecer o tempo que quiser. — Ou o tempo que minha irmã e a Ordem insistirem? Tavia deu um leve suspiro. — Não é para ser um castigo, você sabe. Só estamos preocupados com seu bem-estar. Brynne sabia que não. Ela balançou a mão, desconsiderando. — Tudo bem. Eu entendo. Até concordo que Londres pode não ser a melhor escolha para mim no momento. Acho que pode dizer que sou um pouco cabeça dura, principalmente quando me dizem o que devo ou não fazer. Tavia e Gabrielle trocaram um olhar divertido. — Acho que definitivamente encontrou a sua tribo — disse Gabrielle, dando risada. — E quanto a Zael? — A pergunta saiu de sua boca antes que conseguisse pensar em contê-la. — O que tem ele? — perguntou Tavia. Uma faísca de curiosidade iluminou seu olhar. — E por que eu tenho a impressão de que há mais entre vocês dois do que estão dispostos a admitir? — Não há nada entre nós. Talvez sua negação fosse imediata demais, muito insistente. Certamente não pareceu convencer sua esperta meia-irmã se a expressão de Tavia fosse uma indicação. Brynne deu de ombros. — Você mesma ouviu. Zael apareceu em Londres ontem com a ideia equivocada de que eu cairia aos seus pés do jeito que todas as outras mulheres provavelmente caem. Não, não tinha caído aos pés dele. Ela o atacou como uma mulher faminta de sexo. O que, tecnicamente falando, ela era. Estava com fome de muitas coisas, mas tinha sido uma idiota em deixar que Zael vislumbrasse uma parte dessa sua fraqueza. Agora, ele provavelmente nunca mais a deixaria em paz. O que ele faria se soubesse algo da sua outra vergonha secreta? A perigosa que se escondia em seu DNA misturado em laboratório. A que vinha escondendo desde que se libertou da coleira da sua criação. Nem mesmo Tavia a olharia da mesma forma se soubesse. Ninguém olharia, e com razão. Brynne tirou os pensamentos do seu início monstruoso e voltou à fonte da sua irritação mais recente. — No que diz respeito ao Atlante, não tenho interesse em um relacionamento romântico nem em qualquer outro. — Hum-hum — respondeu Tavia. — E é por isso que está tentando tanto ignorá-lo desde que chegou? Deus, tinha dado pra notar? Ainda dava? Tentou evitar olhar para Zael hoje por que toda vez que seu olhar caía nele só conseguia pensar na sensação dos lábios dele. E quando se lembrava do quanto sua boca era quente e controladora — como seus corpos se colaram gostoso, juntinhos e se movendo sensualmente na pista de dança — tudo o que queria era sentir aquilo tudo de novo. Por que não fez o mais sensato ontem e deixou que aquele bartender bonitinho, claramente disponível e inofensivo a levasse pra casa? Por que não conseguiu dizer sim para qualquer um dos outros homens — humanos ou Raça — que ou a circularam no bar ou propuseram diretamente? Sabia a resposta e infelizmente tudo voltava a Zael. Não queria nenhum daqueles homens. Teria jurado que também não queria Zael, mas seu corpo parecia ter outras ideias. Sem dúvida, beijá-lo foi um erro colossal. Um que não podia consertar e que, infelizmente, nunca esqueceria.