Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Introdução Básica à Pesquisa Científica em Nutrição: Conceitos, Etapas e Estruturas, Notas de estudo de Nutrição

Conceitos básicos sobre pesquisa e informação científica, com exemplos na área de nutrição. Ele aborda conceitos gerais, tipos de pesquisa e etapas do processo de pesquisa, projeto de pesquisa, relatório de pesquisa e principais fontes de informação em nutrição. O texto visa fornecer um material didaticamente estruturado sobre a estrutura de um projeto e de um relatório de pesquisa, além de servir de guia para realizar levantamentos bibliográficos na área de nutrição.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Picapal_amarelo
Picapal_amarelo 🇧🇷

4.6

(169)

224 documentos

1 / 22

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO 15
Rev. Nutr., Campinas, 11(1): 15-36, jan./jun., 1998
ARTIGO DE REVISÃO
(1) Professora Assistente da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG), Doutoranda em Ciência dos Alimentos (área de Nutrição
Experimental), Departamento. de Alimentos e Nutrição Experimental/FCF/ USP. Endereço para correspondência Rua 227, Quadra 68, Setor
Leste Universitário, 74 605-080, Goiânia, GO, Tel (062) 202-3537 Fax (062) 202-1033.
INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA ÀINTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À
INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA ÀINTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À
INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À
NUTRIÇÃONUTRIÇÃO
NUTRIÇÃONUTRIÇÃO
NUTRIÇÃO
INTRODUCTION TO RESEARCH AND SCIENTIFIC INFORMAINTRODUCTION TO RESEARCH AND SCIENTIFIC INFORMA
INTRODUCTION TO RESEARCH AND SCIENTIFIC INFORMAINTRODUCTION TO RESEARCH AND SCIENTIFIC INFORMA
INTRODUCTION TO RESEARCH AND SCIENTIFIC INFORMATION ONTION ON
TION ONTION ON
TION ON
NUTRITIONNUTRITION
NUTRITIONNUTRITION
NUTRITION
Maria Margareth Veloso NAVES11
11
1
RESUMORESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
Esta revisão reúne material básico sobre pesquisa e informação científica, com exemplos na área
de nutrição. Conteúdo: conceitos gerais; tipos de pesquisa e etapas do processo de pesquisar;
projeto de pesquisa - etapas e estrutura; relatório de pesquisa - tipos, estrutura e redação; principais
fontes de informação em nutrição e pesquisa bibliográfica. É útil para quem quer se iniciar na
pesquisa ou rever formas e conteúdos pertinentes ao assunto. Visa contribuir para a capacitação
de pessoal da área e fornecer subsídios para a prática científica da Nutrição no meio acadêmico.
Termos de indexação: pesquisa científica, trabalho científico, técnicas de pesquisa, informação
científica, iniciação científica.
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
This work is a didactic review about research and scientific information, with examples in nutrition.
Contents: definitions; types of research and phases; research plan – phases and structure; scientific
reports – types, structure and writing; main scientific information on nutrition and bibliographic
research. It is useful for new researchers and for academic practice. Its objective is to improve the
capacity of the professionals in nutrition and to provide information for the academic cientific
practice.
Index terms: scientific research, scientific investigation, research techniques, scientific information,
scientific initiation.
INTRODUÇÃO
“Tomada num sentido amplo, pesquisa é
toda atividade voltada para a solução de
problemas; como atividade de busca, inda-
gação, inquirição da realidade, é a atividade
que vai nos permitir, no âmbito da ciência,
elaborar um conhecimento, ou um conjunto
de conhecimentos, que nos auxilie na compre-
ensão desta realidade e nos oriente em nossas
ações” (PÁDUA,1996).
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Introdução Básica à Pesquisa Científica em Nutrição: Conceitos, Etapas e Estruturas e outras Notas de estudo em PDF para Nutrição, somente na Docsity!

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 15

ARTIGO DE REVISÃO

(1) (^) Professora Assistente da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG), Doutoranda em Ciência dos Alimentos (área de Nutrição Experimental), Departamento. de Alimentos e Nutrição Experimental/FCF/ USP. Endereço para correspondência Rua 227, Quadra 68, Setor Leste Universitário, 74 605-080, Goiânia, GO, Tel (062) 202-3537 Fax (062) 202-1033.

INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO ÀÀÀÀÀ PESQUISAPESQUISAPESQUISAPESQUISAPESQUISA EEEEE INFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃO CIENTÍFICACIENTÍFICACIENTÍFICACIENTÍFICACIENTÍFICA APLICADAAPLICADAAPLICADAAPLICADAAPLICADA ÀÀÀÀÀ

NUTRIÇÃONUTRIÇÃONUTRIÇÃONUTRIÇÃONUTRIÇÃO

INTRODUCTIONINTRODUCTIONINTRODUCTIONINTRODUCTIONINTRODUCTION TOTOTOTOTO RESEARCHRESEARCHRESEARCHRESEARCHRESEARCH ANDANDANDANDAND SCIENTIFICSCIENTIFICSCIENTIFICSCIENTIFICSCIENTIFIC INFORMAINFORMAINFORMAINFORMAINFORMATIONTIONTIONTIONTION ONONONONON

NUTRITIONNUTRITIONNUTRITIONNUTRITIONNUTRITION

Maria Margareth Veloso NAVES 11111

R E S U M OR E S U M OR E S U M OR E S U M OR E S U M O

Esta revisão reúne material básico sobre pesquisa e informação científica, com exemplos na área de nutrição. Conteúdo: conceitos gerais; tipos de pesquisa e etapas do processo de pesquisar; projeto de pesquisa - etapas e estrutura; relatório de pesquisa - tipos, estrutura e redação; principais fontes de informação em nutrição e pesquisa bibliográfica. É útil para quem quer se iniciar na pesquisa ou rever formas e conteúdos pertinentes ao assunto. Visa contribuir para a capacitação de pessoal da área e fornecer subsídios para a prática científica da Nutrição no meio acadêmico. Termos de indexação: pesquisa científica, trabalho científico, técnicas de pesquisa, informação científica, iniciação científica.

A B S T R A C TA B S T R A C TA B S T R A C TA B S T R A C TA B S T R A C T

This work is a didactic review about research and scientific information, with examples in nutrition. Contents: definitions; types of research and phases; research plan – phases and structure; scientific reports – types, structure and writing; main scientific information on nutrition and bibliographic research. It is useful for new researchers and for academic practice. Its objective is to improve the capacity of the professionals in nutrition and to provide information for the academic cientific practice. Index terms: scientific research, scientific investigation, research techniques, scientific information, scientific initiation.

INTRODUÇÃO

“Tomada num sentido amplo, pesquisa é toda atividade voltada para a solução de problemas; como atividade de busca, inda- gação, inquirição da realidade, é a atividade

que vai nos permitir, no âmbito da ciência, elaborar um conhecimento, ou um conjunto de conhecimentos, que nos auxilie na compre- ensão desta realidade e nos oriente em nossas ações” (PÁDUA,1996).

16 M. M. V. NAVES

Assim, a pesquisa científica é fundamental enquanto meio de se garantir a construção do saber no interior das universidades, para que estas possam cumprir com o seu papel social de determinantes do bem-estar e soberania de um povo. E a função do professor de universidade, por sua vez, é a de cultivar o espírito científico (estado de espírito de confiança e entusiasmo pela ciência) no meio acadêmico, gerando uma atmosfera favorável ao saber.

A prática da ciência desenvolve o raciocínio lógico, a capacidade de criar, analisar, relacionar, elaborar, contribuindo para a formação do indivíduo capaz de fazer juízo próprio da realidade e de agir com eficácia para mudá-la, transformá-la. Favorece portanto, a formação de um profissional diferenciado e de um cidadão que participa efetivamente da sua história, não apenas teleguiado por dogmas, paradigmas, ceticismos, símbolos e informações massificantes.

Levando-se em consideração que a pesquisa é o meio para se chegar ao conhecimento e portanto, essencial para a formação do aluno universitário e para a garantia da universidade enquanto universo do saber, torna-se relevante a divulgação de conteúdos dessa natureza no meio acadêmico, e em particular, entre os graduandos em Nutrição.

Esta pesquisa visa fornecer um material básico, didaticamente estruturado, sobre forma e conteúdo relativos à estrutura de um projeto e de um relatório de pesquisa e um guia geral para realização de levantamentos bibliográficos na área de Nutrição. Esta iniciativa visa, em última análise, contribuir para a formação da mentalidade científica entre os acadêmicos.

A abordagem do assunto será estritamente elementar e genérica, devido a sua extensão e complexidade. Sendo assim, é necessário que o aluno, a partir destas diretrizes básicas, siga em busca da complementação dos conteúdos, ampliando seus horizontes, para melhor desempenho como acadêmico e futuro profissional - o nutricionista Cientista.

PESQUISA CIENTÍFICA

Generalidades

“Pesquisa científica é a realização concreta

de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência” (RUIZ, 1985). Ela visa, a partir de uma investigação empírica sistemática, dar uma resposta, uma solução satisfatória a um dado problema, fornecendo novas informações e gerando novos problemas, aumentando por fim, dia-a-dia, os conhecimentos da humanidade. A pesquisa cons- titui, portanto, um meio de se atingir o conhecimento científico e formular conclusões gerais e sistema- tizadas sobre a realidade. É através da pesquisa que as ciências se evoluem. Os cursos e seus docentes em Nutrição, em nosso país, se quiserem escrever no tempo, têm que ter espaços para a pesquisa, a fim de gerar novos conhecimentos e novos talentos, e assim contribuir de modo efetivo para a evolução da Ciência da Nutrição.

Características da pesquisa científica e do pesquisador

P e s q u i s aP e s q u i s aP e s q u i s aP e s q u i s aP e s q u i s a

  • Centra-se em torno de um problema: a razão de ser de uma pesquisa é a de estar encaixada, centrada em um problema e não necessariamente, resolver problemas ou ter uma aplicação prática imediata
  • Envolve trabalho criativo: todas as fases de uma pesquisa envolvem trabalho criativo. Para ser criativo implica em ter “curiosidade científica”.
  • Visa descobrir generalizações: toda pesquisa em ciências naturais, como a nutrição, tem a propriedade de generalização (indução), isto é, transferir a informação obtida a partir de uma amostra, para toda a população de origem. Deve-se tomar muito cuidado com as generalizações. Uma pesquisa permite fazer inferências somente quando apresenta dados de boa qualidade (confiáveis), analisados de forma cientificamente apropriada.
  • Visa “dominar” um fenômeno: a pesquisa procura “escancarar” um fenômeno, uma situação em particular, através da geração de novos conhe- cimentos e novos problemas, levando a um maior entendimento do fenômeno na sua generalidade, visando generalizações.

18 M. M. V. NAVES

Técnicas: sãos os meios ou mecanismos cor- retos de se executar as operações de interesse de uma ciência.

Variável: é toda característica (observável, contável, mensurável) de uma amostra ou de uma população, que varia entre seus membros, e que interessa estudar (que desperta a curiosidade do pesquisador).

Variável independente: corresponde a causa ou às condições que determinam a ocorrência de determinado evento. É a variável “ x ”.

Variável dependente: é o fato, o efeito, o even- to produzido, suspenso ou afetado pela presença, ausência ou variações das variáveis independentes. É a variável “ y ” (o valor de y depende do valor de x ).

Variáveis controláveis : variáveis cujos valores podem ser obtidos.

Variáveis não controláveis: variáveis cujos valores ficam desconhecidos.

Unidade experimental: corresponde às uni- dades ou repetições de um tratamento; por exemplo: um paciente, um animal de laboratório ou um frag- mento de tecido animal.

Bloco: conjunto de unidades experimentais tão similares quanto possível.

Tratamento: não significa necessariamente uma terapia e sim, uma intervenção. Pode ser uma droga, um procedimento de laboratório, uma técnica cirúrgica, uma dieta, um nutriente, etc. É a variável independente.

Grupo tratado (teste ou experimental): grupo que recebe o tratamento (ou um novo tratamento) e no qual será avaliado o efeito (variável dependente).

Grupo controle: grupo que não recebe o trata- mento - grupo “placebo” (simula o que aconteceria se o tratamento não fosse aplicado), ou aquele que recebe o tratamento padrão.

TiposTiposTiposTiposTipos dedededede pesquisapesquisapesquisapesquisapesquisa

Existem inúmeras classificações ou caracteri- zações de pesquisa em função do seu objetivo, tipo de abordagem, natureza, etc. De acordo com a nature- za, as pesquisas podem ser classificadas em dois grandes grupos:

  1. Pesquisa experimental (ou provocada): pressupõe uma ação intencional, uma intervenção sobre uma ou mais variáveis independentes, provocando eventos (causa) e medindo os efeitos sobre uma ou mais variáveis dependentes, em função de hipóteses claramente definidas. As variáveis independentes são manipuladas sob condições de controle. Deve haver pelo menos um grupo experimental e um grupo controle, e as unidades experimentais devem ter características semelhantes e serem designadas aos grupos por processo aleatório (ao acaso). Compreende sempre o uso de laboratórios, em modelos que utilizam tanto cultura de células ou de tecidos, animais experimentais ou indivíduos (nos dois últimos, incluem análises diversas do material biológico coletado). Exemplo: 1. Efeito de diferentes fontes e doses de vitamina A sobre o depósito no fígado de ratos, com hipovitaminose A e normais. Exemplo: 2. Influência de diferentes dietas sobre o desempenho de nadadores, durante as fases de treinamento e de competição.
  2. Pesquisa não experimental: (ou observacio- nal): estão incluídas aqui todas as demais pesquisas, tanto as que envolvem estudar causa e efeito (sem o controle da variável independente) quanto as pesquisas descritivas ou de levantamento de dados, que procuram estabelecer relações entre variáveis ou categoria de dados. Exemplo: 1 Influência da suplementação medicamen- tosa de ferro sobre a prevalência de anemia ferropriva entre gestantes de baixa renda. Exemplo: 2 Caracterização socioeconômica e dietética de trabalhadores da construção civil da cidade de Goiânia. De acordo com a finalidade , as pesquisas podem ser classificadas em três grandes categorias (RUIZ, 1985):
  1. Pesquisa exploratória: é utilizada quando um problema é pouco conhecido, ou seja, quando as hipóteses não foram definidas com clareza. Consiste numa caracterização inicial do problema, sua classificação e definição. Constitui o primeiro estágio de toda pesquisa científica. As variáveis ou categorias de dados são analisados de maneira qualitativa e narrativa. A coleta de dados é realizada através de observação e/ou de informações fornecidas pelos indivíduos (entrevista, formulário, questionário).

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 19

Exemplo: estudo descritivo; história narrativa; estudo de caso; levantamento de dados; estudos longitudinais e transversais^2 , etc.

  1. Pesquisa teórica (básica): tem por objetivo ampliar generalizações, definir leis mais amplas, estruturar sistemas e modelos teóricos, desenvolven- do teorias. Através de estudos que exigem grande capacidade de reflexão e de síntese, relaciona hipóteses, gerando novas hipóteses por força de dedução lógica. Sempre busca o fundamental, visando o avanço das ciências. A pesquisa básica não tem nacionalidade - é a contribuição para a ciência pura, para o saber universal.
  2. Pesquisa aplicada: busca usar os conhecimentos da básica para torná-la útil. Inclui grande parte das pesquisas realizadas em nosso meio, na área de Saúde. Tem por objetivo investigar, comprovar ou rejeitar hipóteses sugeridas pelos modelos teóricos, com o fim deresolver problemas, de ter uma aplicação prática imediata. Sua contribuição depende de cada local - é realizada em função das características e necessidades do local.

Exemplo: pesquisa experimental aplicada, estudos prospectivos e retrospectivos^3 , etc.

Etapas da pesquisa

Seleção de um tópico e identificação de um problema

A seleção de um tópico é necessária para posterior delimitação do assunto, pois quanto maior o tema, mais complexo se torna o estudo - maior o número de variáveis para se observar e controlar. Para esta escolha é importante consultar profissionais experientes, pesquisadores da área e fontes ricas como teses, monografias e anais de eventos científicos. Deve-se identificar um problema dentro do tópico selecionado, pensando sempre nos recursos locais disponíveis (físicos, materiais, humanos) para resolução deste problema. (CAMPANA 1995).

Pesquisa bibliográfica e delimitação do assunto

Através da pesquisa bibliográfica faz-se uma revisão na literatura para identificar o que já foi feito até aquele momento sobre o tema (conheci- mentos acumulados sobre o problema) e o que ainda necessita ser esclarecido. Após o levantamento, seleção, leitura e fichamento de documentos de interesse, deve-se analisar e sintetizar o assunto, para se chegar a uma caracterização clara do objeto de estudo. Esta etapa é fundamental para a estruturação de um projeto de pesquisa válido, evitando-se repetições e identificando-se a necessidade de replicação ou ampliação de estudos já realizados. Quando um assunto é bastante específico e atual, três a cinco anos de revisão são considerados suficientes para o levantamento bibliográfico. Quan- to mais interdisciplinar é a área, mais extensa e complexa se torna a revisão bibliográfica.

Formulação do projeto de pesquisa

O projeto de pesquisa constitui uma proposta de trabalho (científico) racional, viável, circunscrita dentro de um prazo (cronograma) e de um orçamento pré-estabelecidos. É importante definir com clareza os objetivos, as variáveis do estudo, os métodos de coleta e tratamento dos dados e de análise dos resultados. Para isto é necessário a realização de testes de metodologias, padronizações de métodos, estudos piloto ou pré-testes. Somente através deste estudo preliminar pode-se chegar a um projeto factível - adaptação do plano de trabalho ao contexto no qual a pesquisa será inserida.

Coleta de dados

Esta etapa compreende a escolha das unidades da amostra e a execução do estudo (obtenção dos dados). Deve-se ter controle sobre a qualidade da coleta (formas de registro e organização dos dados)

(2) (^) Estudos longitudinais e transversais são do tipo pesquisa exploratória (estudos observacionais não analíticos) que relacionam a variação de uma variável em função de outra (ex.: crescimento ponderal de crianças no primeiro ano de vida). Nos estudos longitudinais o pesquisador observa o mesmo grupo de indivíduos, ao longo do tempo; nos estudos transversais o pesquisador observa diferentes grupos de indivíduos ao mesmo tempo. (3) (^) Estudos prospectivos e retrospectivos constituem pesquisas aplicadas que estudam causa e efeito, sem controle da ariável independente (tipo “semi- experimental” ou observacional analítico). Os prospectivos seguem os indivíduos por determinado período (partem da “causa” para o “efeito” ) e ao final, compara-se os indivíduos casos (que apresentaram a doença) com os controles (indivíduos que não contrairam a doença). Nos estudos retrospectivos os indivíduos são estudados do “efeito” para a “causa”, ou seja, seleciona-se os indivíduos casos (que apresentam a doença) e investiga-se as possíveis causas no passado, anterior ao aparecimento da doença (Anexo 1).

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 21

quê ” será realizada a pesquisa.

d) Material e métodos

Neste item o pesquisador deve relatar, em detalhes, e com base científica (métodos e técnicas), “ como ” será operacionalizada a pesquisa para se alcançar os objetivos propostos.

e) Cronograma

O cronograma de execução da pesquisa deve conter a descrição detalhada das etapas (metas) que envolvem o plano de trabalho, com os respectivos prazos (em semanas ou meses), incluindo uma margem de segurança para a execução das mesmas. Os anexos 2 e 3 constituem exemplos de cronograma de pesquisa experimental e não experimental.

De uma forma geral, o cronograma deve incluir as seguintes metas:

· Revisão de literatura, teste de metodologias, formulação do projeto de pesquisa;

· Formação do pessoal da equipe e preparo do material necessário à coleta de dados;

· Coleta de dados; · Processamento dos dados e análise e interpretação dos resultados,

· Redação do relatório e divulgação da pesquisa.

f) Orçamento

Este item é fundamental para justificar a viabilidade da pesquisa com os recursos financeiros existentes, ou para solicitação de financiamento. Quando a pesquisa não necessita de um orçamento próprio, este item pode ser substituído por uma descrição dos recursos humanos e materiais necessários e disponíveis. Deve-se fazer uma estimativa dos gastos que serão realizados com a pesquisa (com margem de segurança), para os seguintes itens:

· Recursos humanos (coordenador, entrevistador, auxiliar de pesquisa, digitador, etc.);

· Equipamentos; · Material de consumo (material de escritório, xerox, material de audiovisual, reagentes, vidrarias,

animais, microorganismos, dietas, etc.), · Outras despesas pertinentes (passagens, diárias, assessorias técnicas, análises específicas, etc.). g) Referências bibliográficas e anexos A lista de referências bibliográficas deve estar localizada no final do projeto e ser apresentada conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O projeto pode conter ainda anexos - modelos de formulários para a coleta de dados (acompanhados das instruções de preen- chimento), figuras, mapas, símbolos, normas, que complementam ou esclarecem a proposta de trabalho.

RELATÓRIO DE PESQUISA

Finalidade e importância

A finalidade do relatório de pesquisa é informar, divulgar claramente, os resultados da pesquisa, incluindo as conclusões e novos problemas gerados a partir dos resultados alcançados. Este relato deve ser feito, de preferência, de modo que desperte a curiosidade e interesse do leitor e de acordo com as normas gerais e específicas, em função do tipo de documento a ser elaborado. Uma pesquisa publicada conforme as normas científicas, facilita sua recuperação e “consumo” no meio científico. Outros aspectos também influem para maior divulgação da pesquisa, tais como o tema, a linguagem empregada e a forma de apresentação dos resultados. O pesquisador tem um compromisso com sua ciência de, sempre que constatar, através de pesquisa, resultados válidos e confiáveis, divulgá- los na forma de um relatório. Além disso, a formação de um pesquisador é consolidada através da rica experiência de se relatar, de forma científica, todo o processo que envolve uma investigação em ciência.

Tipos de relatórios de pesquisa

Relatórios detalhados

Constituem os relatórios que trazem uma descrição minuciosa de todos os passos de uma pesquisa, indicados a seguir.

22 M. M. V. NAVES

a) Relatório técnico-científico

Relatório para prestação de contas ao Órgão ou Instituição onde trabalha o pesquisador ou que financiou a pesquisa. Pode-se incluir nesta classifica- ção os relatórios de trabalho de pesquisa acadêmica, realizada por alunos de graduação. Este tipo de relatório deve obedecer normas gerais de redação de uma pesquisa e, normas específicas, segundo as exigências do Órgão ou Instituição.

b) Dissertação e tese

Relatório de uma pesquisa original, reali- zada por alunos de pós-graduação stricto sensu com objetivo de se obter grau ou titulação acadê- mica. Em algumas áreas do conhecimento, usa-se o termo dissertação para pesquisa elaborada no nível de mestrado (quando está baseada mais em revisão de literatura) e tese, para pesquisa mais profunda (que apresenta algo de novo para discutir e provar), realizada no nível de doutorado.

c) Monografia

Relatório de uma pesquisa bibliográfica minu- ciosa sobre determinado tema, com a intenção de “explorar” em profundidade e sob diferentes ângulos e aspectos, as pesquisas e demais publicações sobre o assunto.

Artigos científicos

a) Memória científica original

Relatório de uma pesquisa (original ou que oferece algo de novo), redigido conforme normas da revista ( journal , periódico) na qual será publica- do.

b) Nota prévia (notas preliminares, paper )

Corresponde a um esboço da pesquisa (em andamento) contendo resultados preliminares. É publicada antes do término da pesquisa, para não perder a prioridade ou originalidade do trabalho (ga- rante os direitos autorais).

c) Registro de casos

Relatório de estudos de caso que oferecem uma contribuição nova; uma forma de abordagem original (quando contribui para esclarecer ou aumentar os conhecimentos que se tem sobre um assunto).

d) Revisão ou atualização bibliográfica ( review paper ) É u m a r e v i s ã o d a s p e s q u i s a s m a i s recentemente publicadas sobre um tema atual. Não constitui, portanto, o relatório de um trabalho ou pesquisa, mas uma síntese de achados importantes e interessantes, publicados na literatura.

Estrutura de relatório de pesquisa

A estrutura de relatório indicada neste item representa um esquema geral. A melhor divisão de um trabalho vai depender de sua própria natureza, finalidade e complexidade. A ABNT preconiza normas para apresentação de relatórios técnico- -científicos (NBR 10719/1989) e de artigos de periódicos (NBR 6022/1994). Estas e outras normas importantes da ABNT sobre documentação estão relacionadas no anexo 4.

Elementos preliminares

a) Capa A capa deve conter dados indispensáveis à identificação do trabalho. Não existem normas para apresentação da capa, pois esta não é obrigatória.

b) Folha de rosto A folha de rosto deve conter dados essenciais à identificação bibliográfica do trabalho: identificação da Instituição, Unidade, Departamen- to, Curso, Disciplina; título e subtítulo (se houver) da pesquisa; nomes dos autores com respectivas titulações e funções, e caracterização do trabalho, local (cidade) e ano de elaboração do relatório de pesquisa. O título deve expressar com exatidão o conteúdo do trabalho, ser claro e conciso e incluir as palavras-chave (unitermos, descritores) que permitam indexação e recuperação automáticas (fácil de ser encaixado em índices sistemáticos de obras de referência da área). Deve ser redigido na voz ativa e de forma atraente - deve ganhar leitores. Evitar títulos com mais de dez palavras e expressões que afirmam o óbvio, sem ter nenhum valor para a pesquisa bibliográfica, tais como: “Considerações sobre...”; “Análise de...”; “Relatório sobre...”; “Levantamento de...”; “Estudo sobre...”; etc. Títulos

24 M. M. V. NAVES

a) Introdução

A introdução deve dar ao leitor uma idéia clara e concisa do assunto, abordando-o em uma seqüência lógica, partindo-se de temas gerais para os mais específicos, afunilando o assunto até se chegar na justificativa do trabalho. Segundo esta perspectiva, a introdução pode ser comparada a um triângulo invertido (Figura 2).

Em geral, é mais fácil redigir a introdução após a redação das demais partes do relatório. Assim se consegue uma visão clara e precisa de todo o trabalho e a introdução flui naturalmente.

b) Material e métodos Nesta parte deve-se responder à pergunta “como a pesquisa foi executada?”, de forma clara e completamente, em ordem lógica e cronológica. Deve-se descrever os métodos e as técnicas (com as respectivas referências bibliográficas), os instrumentos, os materiais (indivíduos, animais, formulários, dietas, alimentos, etc.) e ainda, as condições sob as quais o trabalho foi realizado. A exposição do material e métodos empre- gados deve ser precisa e suficiente para permitir réplica e para que os leitores possam entender e inter- pretar os resultados alcançados. A exposição do processo de amostragem ou do delineamento (desenho) experimental fica mais simples e clara através de uma figura ou ilustração. No caso de pesquisa do tipo levantamento de dados, deve-se caracterizar bem a amostra e o processo de amostragem. Para as pesquisas experi- mentais, indicar a procedência e caracterizar clara e completamente os animais, microorganismos, tipo de células, alimentos, dietas, etc. Dados que caracterizam a amostra como peso médio, distribuição por sexo e faixa etária, etc., devem ser incluídos no material, pois não constituem resultados propriamente ditos. Deve-se indicar a metodologia empregada na coleta de dados e na análise do material coletado, de acordo com a natureza dos métodos (químicos, bioquímicos, biológicos, etc.) e a seguir, a metodologia para processamento dos dados até resultados (determinação de índices, avaliação de qualidade, metodologia estatística, etc.).

c) Resultados Correspondem aos fatos que levarão o leitor, direto e de forma convincente, à solução do problema e às conclusões propostas. Todos os dados que fundamentam as conclusões do trabalho devem ser apresentados de maneira objetiva e resumida, numa seqüência lógica. Deve-se limitar à descrição do que foi constatado com o trabalho (não fazer

EXPOSIÇÃO DO TEMA (PROBLEMÁTICA) HISTÓRICO RECENTE (Revisão de literatura) Do geral para o específico

Introdução do assunto

Aproximação do assunto Assunto a ser pesquisado

Figura 2. Estrutura de um texto em relatório de pesquisa.

De uma forma geral, deve-se abordar os seguintes pontos: importância do assunto; o que se sabe sobre o assunto; o que não se sabe sobre o assunto; as áreas controvertidas ou que necessitam de maior esclarecimento e a natureza e extensão da contribuição pretendida no trabalho. Em síntese, deve-se apresentar a identificação do problema e a justificativa do trabalho, isto é, o porquê de se realizar a pesquisa (amarração de tudo que foi exposto) (Grifo meu).

Em determinados relatórios a revisão de literatura é colocada em item separado da introdução. Dentro do possível, deve-se obedecer a uma ordem cronológica na referência dos trabalhos revisados na literatura, para dar uma idéia da evolução do conhecimento.

Os objetivos podem vir separados da introdução, para maior destaque da finalidade da pesquisa (é mais didático). Podem ser divididos em geral e específicos. Para a formulação dos objetivos deve-se usar frases diretas, curtas e com verbos de ação (avaliar, comparar, caracterizar, verificar, estimar) respondendo à pergunta para quê realizar a pesquisa?”

JUSTIFICA- TIVA

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 25

referência à literatura). A habilidade e criatividade do autor para apresentar os resultados alcançados contribuem para maior divulgação da pesquisa.

As tabelas, quadros e gráficos são necessários à apresentação dos resultados e devem estar localizados logo após ou bem próximo do texto a que se referem, obedecendo as normas estabelecidas para sua correta elaboração.

Toda tabela deve ter um número e um título, localizados na parte superior da mesma. O título deve informar a natureza do fato, as variáveis escolhidas para análise do fato, se necessário o local, data ou época em que os dados foram obtidos. Deve ser fechada no alto e embaixo por linhas horizontais, não sendo fechada à direita e à esquerda por linhas verticais. É facultativo o emprego de traços verticais para separação de colunas no corpo da tabela. Deve ser auto-explicativa, ou seja, conter informações

MARCONI & LAKATOS (1996) apresentam uma grande variedade de modelos de tabelas e gráficos, que podem ser úteis para exposição dos resultados de forma atrativa e requintada.

d) Discussão

Nos relatórios detalhados a discussão é apresentada em uma seção específica, e em artigos científicos, geralmente está junto aos resultados.

suficientes para ser entendida, através de legenda, notas, chamadas e fonte - quando não se referir a dados do próprio trabalho (GERMANO et al., 1983) (Tabela 1). Valores correspondentes a uma mesma variável devem estar apresentados com o mesmo número de casas decimais. Dados brutos e resultados individuais devem estar apresentados em quadros ou tabelas maiores, anexos ao trabalho, quando se tratar de relatórios detalhados. Os gráficos permitem ao leitor rápida visualização e interpolação dos dados em relação às tabelas. Estas, no entanto, permitem apresentação de valores mais aproximados. Da mesma forma que a tabela, todo gráfico deve ser auto-explicativo. O número da figura à que corresponde o gráfico, o título, as legendas, a fonte, aparecem na parte inferior do gráfico. Existem diferentes tipos de gráficos, sendo que os mais usados são os de barras e os de linhas (Figura 3).

Esta é a única seção do relatório de pesquisa em que o autor pode apresentar seu posicionamento científico frente ao problema, através de um comple- to exercício de análise, interpretação e síntese. De um modo geral, deve-se abordar na discussão: · Comparações mais complexas, relações, explicações de fatos que fundamentam as conclu- sões, utilizando-se dados preconizados e achados de literatura;

Tabela 1. Peso corpóreo e do fígado de ratos machos Wistar, submetidos ao modelo RH^1 modificado, e tratados com BC^2 ou óleo de milho, em diferentes fases do modelo. Grupo Ratos nº Peso corpóreo^ final (g) Peso do fígado^ (g) Peso relativo do fígado

(g fígado/100g peso corpóreo) Estudo em todas as fases^3 A, com BC (^12) 309,3 ± 30,9 **^ 12,24 ± 1,21 3,95 ± 0, B, com óleo (^10) 264,0 ± 30,0 12,35 ± 2,98 4,67 ± 0, Estudo de iniciação^4 C, com BC 11 315,8 ± 20,1 10,91 ± 1,38 3,44 ± 0,29 ** D, com óleo 7 291,0 ± 45,9 12,82 ± 2,75 4,38 ± 0, Estudo de seleção/promoção 5 E, com BC (^11) 345,2 ± 29,4 12,21 ± 1,47 3,54 ± 0, F, com óleo (^11) 338,5 ± 24,8 13,94 ± 3,89 4,08 ± 0,

(1) (^) Hepatócito Resistente. (2) (^) Beta-caroteno. (3) (^) Durante todo experimento. (4) (^) Antes da indução à formação de lesões pré – neoplásicas. (5) (^) Após a indução.

(*) Média ± desvio padrão.

(**) (^) Diferença significativa em relação ao grupo controle - óleo (Teste t , p < 0,005). Fonte : MORENO et al. (1991).

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 27

b) Referências bibliográficas

Este item compreende a lista de documentos consultados e referidos no texto, que serviram de referência para a realização do trabalho de pesquisa. O tipo, a quantidade e qualidade dos documentos usados como referência teórica da pesquisa, indicam o grau de inserção do trabalho na área em estudo. Devem ser apresentadas de acordo com as normas da ABNT/NBR 6023 (ASSOCIAÇÃO..., 1989a), no caso de relatórios acadêmicos, ou segundo normas específicas de instituições ou de periódicos (no caso de artigo científico).

c) Anexo (apêndice)

Usado para esclarecer ou completar as informações contidas em relatórios de pesquisa detalhados. Podem conter modelos de formulários com instruções de preenchimento, ilustrações, t a b e l a s c o n t e n d o d a d o s i n d i v i d u a i s o u complementares, etc. Os anexos devem estar numerados (anexo 1, anexo 2, etc.) e com título.

Redação do texto

Linguagem e estilos científicos

a) Linguagem científica

A linguagem científica é objetiva, clara e precisa - não pode admitir várias interpretações. Não é coloquial (corrente, popular); não é literária (linguagem retórica); é didática e acadêmica (informa, transmite conhecimentos). Deve-se redigir o texto de forma a tornar a leitura interessante, deve- -se escrever para o leitor.

A seguir estão descritas algumas regras básicas para redação de um relatório.

· Utilizar frases simples e curtas pois tornam o estilo mais enérgico, mais expressivo. Evitar sentenças com mais de vinte palavras. Evitar frases soltas, sem nexo. O texto deve ser denso, consistente.

· Evitar frases subordinadas, pois dificultam a clareza e objetividade.

· Evitar palavras ou expressões em outro idioma. Traduzir o que for possível para o português e quando não, redigir entre aspas ou grifado (em geral usa-se o itálico).

· Não colocar excesso de parágrafos ou pará-

grafos muito longos. Cada parágrafo deve conter a idéia principal com as justificativas dessa idéia (até 12 linhas ou 150 palavras). · Não usar termos impróprios, inexatos, expressões ambíguas, metáforas, figuras de linguagem. Trata-se de emitir informações exatas, sem omitir nem acrescentar, sem repetir nem florear. Buscar nas fontes apropriadas os termos atualizados, as expressões corretas. · Observar o tempo do verbo: no passado para experiências já realizadas, e no presente, para questões gerais e conclusões. · Não usar o verbo na sua forma indireta - dizer “o que é” e não “o que não é” - ser positivo.

b) Estilo científico Para tornar o trabalho atraente e interessante, o estilo de redação de um trabalho científico deve ter: · Fluência: esta é conseguida através do domínio da gramática, regência e concordância. Ligar cada trecho do trabalho ao trecho anterior com palavras ou frases de transição, mantendo a narração contínua. · Frescor: o texto deve ter sabor de novidades, ser atualizado (destacar aspectos novos e fora do comum). Evitar chavões, estereotipias. · Consistência: omitir detalhes tediosos, não essenciais à exatidão e integridade do trabalho. Evitar a repetição de dados representados em tabelas e gráficos. · Impessoalidade: para conseguir isto, usar o verbo na primeira pessoa do plural ou terceira do singular, subentendendo participação de outras pessoas com os verbos na voz passiva. · Naturalidade: dizer as coisas de forma simples; usar, sempre que possível, palavras no lugar de frases. Não forçar uma eloqüência através de uma linguagem suntuosa. Após a redação do relatório de pesquisa é importante solicitar que outras pessoas o leiam, pois o autor fica tão familiarizado com o texto que não percebe erros óbvios. Em relatórios detalhados como tese, se recomenda fazer uma revisão de português.

28 M. M. V. NAVES

NormasNormasNormasNormasNormas diversasdiversasdiversasdiversasdiversas

a) Símbolos, siglas, abreviaturas, iniciais

Devem ser colocados por extenso quando surgirem pela primeira vez no texto. Ex.: Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN).

b) Números

São redigidos por extenso , de um a dez quando não estiverem em um contexto matemático, exceto para datas, endereços, telefones, telex, fax. Em início de frase os números devem ser redigidos sempre por extenso.

c) Grifo

Quando se quer destacar no texto, sublinhar, negritar , mudar o tipo de letra ou usar o itálico. Quando se grifa texto alheio usar a expressão “ (grifo nosso) ”.

d) Citação de fontes bibliográficas

Para citações no texto, segundo a ABNT/NBR 10520, indica-se o sobrenome do autor seguido do ano de publicação, separados por vírgula e entre parênteses, após a citação, que pode ser textual (texto entre aspas) ou livre (quando reproduz a idéia central do documento de origem). Quando o sobrenome do autor estiver incluído na frase, indica- se apenas a data entre parênteses. Ex.: Segundo Pouchet-Campos (1985)... Quando houver duas publicações de um mesmo autor, segue-se a ordem cronológica. Duas ou mais obras do mesmo autor, publicadas no mesmo ano, serão identificadas por letras. Ex.:...(Olson,1996 a ); ...(Olson,1996 b ) (ASSOCIAÇÃO..., 1988).

As normas de citações de revistas científicas correspondem, em geral, ao número da referência bibliográfica, entre parênteses, sobreposto ou não.

OrganizaçãoOrganizaçãoOrganizaçãoOrganizaçãoOrganização dododododo textotextotextotextotexto

O texto deve ser dividido de maneira lógica, em matérias afins. Divide-se em seções primárias (ou capítulos) que resultam em secundárias, estas em terciárias, e assim por diante. A numeração progressiva de um relatório tem por objetivo organi- zar as informações, reunindo-as em seções, facilitan- do a exposição do trabalho e a localização dos diver- sos tópicos nele tratados. Exemplo :

Usa-se letras minúsculas (ou alíneas) após seção terciária ou quaternária, evitando-se assim o uso de subdivisões maiores nas seções. Ex.: a)...; b)...; etc.

Digitação

a) Folha para digitação do relatório Usar folha tamanho convencional ( A4 - 21 x 29,7cm), que compreende cerca de 32 linhas, em espaço 1,5 linhas; e as margens, à esquerda e superior

  • 3,0 ou 3,5cm - e à direita e inferior - 2 ou 2,5cm, ou segundo normas específicas de publicação. b) Paginação As páginas devem ser numeradas com al- garismos arábicos, colocados no canto superior externo da página, exceto nas páginas que iniciam seções primárias. A paginação é iniciada na página de rosto que não é numerada, apenas contada, como no caso das páginas que iniciam as seções primárias. c) Uso dos tipos A ABNT/NBR 6024 preconiza que as seções primárias têm que estar em maior destaque que as secundárias, e estas, em relação às terciárias. (ASSOCIAÇÃO... (1989b).

d) Folha de rosto

  • Parte superior da folha: área destinada aos dados de identificação da instituição, que devem ser digitados em letras versais (ou caixa alta) à margem esquerda da folha.
  • Terço médio da folha: área destinada ao título do trabalho (em letras versais), à autoria e à caracterização do trabalho.
  • Parte inferior da folha: área onde se coloca a data e local da apresentação. e) Sumário Traz a divisão do texto com respectiva numeração progressiva e paginação. Inclui os elementos pré-textuais, como o resumo, e pós- textuais (referências bibliográficas, anexos), os quais não são numerados, e devem estar alinhados na
  1. RELATÓRIO DE PESQUISA Æ seção primária 3.4 Redação do texto Æ seção secundária 3.4.2 Normas diversas Æ seção terciária

30 M. M. V. NAVES

Centros de documentação

Os Centros de Documentação realizam levan- tamentos bibliográficos via computador, através de base de dados. Também fornecem cópias de documentos.

Devido à velocidade de publicação de trabalhos científicos, a indexação e recuperação manual de documentos é impraticável. Para facilitar este serviço surgiram as bases de dados, que armazenam informações por área do conhecimento. A consulta à base de dados agiliza a pesquisa bibliográfica e pode ser feita por qualquer pessoa ou instituição, por assinatura ou convênio:

  1. On-line : Acesso possível 24 horas por dia, através de um microcomputador, uma linha telefônica e um modem (equipamento que liga um microcomputador a um computador central via linha telefônica). Se a resposta for satisfatória pode-se imprimir (através de impressora) os dados acessados.
  2. Off-line : Consulta via correio eletrônico (BITNET, INTERNET). O resultado da pesquisa também é transmitido via correio eletrônico.
  3. CD-ROM : Atualmente a maioria das bases de dados armazenam suas informações, periodica- mente, em discos compactos (semelhantes ao disco laser ) com grande capacidade de memória (só para leitura) - cada disco pode armazenar cerca de 250 mil páginas. A aquisição destes discos é feita através de assinatura anual, como a de uma revista e seu conteúdo é acessado através de um microcomputador com drive para CD-ROM.

O centro de documentação no Brasil que abrange a Área de Nutrição é o Centro Latino- -Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME) , originalmente denominada Biblioteca Regional de Medicina. Foi criado em 1967, sobretudo para desenvolver o programa de informação em Ciências da Saúde da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) na região (América Latina e Caribe), através de convênio com o MEC, Ministério da Saúde e Escola Paulista de Medicina (atual UNIFESP), onde está sediado. Além de realizar levantamentos bibliográficos, é uma unidade de vendas de publicações da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Este centro opera as bases de dados:

LILACS: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. Contém referências bibliográficas e resumos de documentos como teses, livros, artigos de periódicos, etc., publicados na região desde 1982. Está disponível também em CD- -ROM. MEDLINE: Armazena informações (referên- cias bibliográficas e resumos) de mais de 3700 revis- tas biomédicas, publicadas em mais de 70 países, desde 1966 (também editada em CD-ROM ).

Outras fontes

Documentos como monografia, dissertação e tese são fontes ricas de informações, pois pressupõem uma pesquisa bibliográfica minuciosa e criteriosa, que pode ser conferida através de suas referências bibliográficas. Além disso, a lista bibliográfica de artigos científicos pode indicar documentos impor- tantes e essenciais à área em estudo.

Pesquisa bibliográfica

Pesquisa bibliográfica compreende a busca de documentos sobre determinado assunto. Correspon- de ao levantamento bibliográfico dentro de um tema específico, abrangendo um determinado espaço de tempo e, às vezes, limitado a uma região.

Etapas do levantamento Após a seleção do tema a ser pesquisado e delimitação precisa do assunto, deve-se obedecer a seqüência de tarefas relacionadas a seguir. a) Selecionar os termos que identificam o assunto (palavras-chave) Os termos de indexação vão variar conforme a obra de referência. Se for um tema geral, a indexação será através de palavras mais gerais. Neste caso deverá se fazer hierarquização. Ex.: Usar “leguminosas” para pesquisar sobre “feijão”. Ao contrário, se for uma obra de referência específica da área, usar unitermos mais específicos, fazendo subordinação. Ex.: procurar em “feijão roxinho” para “feijão”. Relacionar o maior número possível de descritores do assunto. Para facilitar, pode-se consultar lista de descritores, como a da BIREME (DeCS ) ou em obras de referência, como a do Index Medicus.

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 31

b) Selecionar o material a ser consultado (obras de referência, teses, monografias, revistas, bases de dados especializadas).

c) Determinar o período que abrangerá a pesquisa, âmbito lingüístico e geográfico.

d) Identificar e transcrever as referências bibliográficas de interesse ( por subtemas).

e) Localizar e adquirir os documentos mais relevantes para a pesquisa.

Os documentos não localizados podem ser adquiridos através de comutação bibliográfica (COMUT) entre bibliotecas e centros de docu- mentação. Ao se fazer a cópia de um documento, verificar se todos os dados referenciais estão indicados no material. Nunca fotocopiar um documento sem anotar os dados da fonte de origem, necessários à sua identificação bibliográfica.

Leitura e apontamentos

Após aquisição e leitura, os documentos devem ser reunidos por subtemas para facilitar a organização de um catálogo do pesquisador. Deve- -se fazer o fichamento de todos os documentos de interesse, a partir de unitermos, acompanhados da referência bibliográfica do documento e de anotações sobre seu conteúdo, facilitando assim consultas posteriores e o pronto resgate da informa- ção desejada. O fichamento através de microcom- putador simplifica o manuseio e introdução de novas informações.

Existem vários tipos de arranjo de catálogos. É usual organizar o catálogo por ordem alfabética de assunto (palavras-chave) e, dentro de cada assunto, deverá obedecer nova ordem alfabética por sobrenomes de autores. Pesquisadores bastante expe- rientes em temas específicos podem organizar o catálogo por ordem alfabética de autor, em um único tema. Modelos de fichas catalográficas podem ser encontrados em várias obras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conteúdo sobre referências bibliográficas (conceito, regras gerais e específicas) não foi incluído neste trabalho por estar descrito no folheto Referências bibliográficas : manual de instruções (NAVES & BARBOSA, 1994), editado pela

Universidade Federal de Goiás (CEGRAF/UFG). Este manual apresenta as principais regras, segundo a ABNT/NBR 6023, de forma didática e com exemplos da área de Nutrição, facilitando a consulta e aplicação das mesmas (ASSOCIAÇÃO..., (1989a). Todos os assuntos abordados neste texto não representam fórmulas únicas e acabadas. Fazer pesquisa é exercitar a dialética dos conteúdos. O trabalho científico envolve uma série de normas; contudo, não se pode prescindir do bom senso, criati- vidade e emoção. Estes conteúdos aguardam complementa- ção, detalhamentos, outros conceitos e perspectivas. Ter experiência em pesquisa científica certamente abrirá novos horizontes aos alunos universitários, que poderão adquirir, além de uma prática acadêmica e profissional eficaz, elementos fundamentais para o exercício de uma cidadania plena.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023 : referências bibliográficas. Rio de Janeiro, 1989a. 19p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6024 : numeração progressiva das seções de um documento. Rio de Janeiro, 1989b. 3p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6027 : sumários. Rio de Janeiro, 1989c. 2p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028 : resumos. Rio de Janeiro, 1980. 4p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520 : apresentação de cita- ções em documentos. Rio de Janeiro, 1988. 3p. CAMPANA, A.O. Introdução à investigação clí- nica. São Paulo : Trianon, 1995. 158p.

ESPÍRITO SANTO, A. do. Iniciação à investiga- ção científica. Ribeirão Preto, 1982. Material didático do curso de Especialização em Nutrição Humana do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ USP. 25p.

INTRODUÇÃO À PESQUISA E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA À NUTRIÇÃO (^) 33

ANEXOS

ANEXO 1

ESQUEMA GERAL E EXEMPLO DE ESTUDO PROSPECTIVO E ESTUDO RETROSPECTIVO

CAUSA EFEITO SIM NÃO

Prospectivo (^) PROPORÇÃO

PROPORÇÃO Retrospectivo^ SIM NÃO

Associação entre consumo de gordura saturada e doenças cardiovasculares ESTUDO PROSPECTIVO “CASOS” Ï consumo de gordura saturada -------> Proporção de casos com doenças cardio- CONTROLE consumo normal -------> vasculares

ESTUDO RETROSPECTIVO “CASOS” pacientes com doenças cardiovasculares ---------> Proporção de indivíduos com Ï consumo CONTROLE indivíduos “normais” ---------> de gordura saturada

Fonte: adaptado de VIEIRA (1984).

34 M. M. V. NAVES

ANEXO 2

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DE UMA PESQUISA DO TIPO EXPERIMENTAL

PRAZO DE EXECUÇÃO 1994 1995 ETAPAS (^) JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR

  1. Revisão de literatura
  2. Elaboração e apreciação do projeto de pesquisa
  3. Teste de metodologias químicas
  4. Aquisição e preparo do material necessário à coleta de dados, análises químicas nos alimentos e dietas, elaboração de dietas experimentais, material de biotério
  5. Implantação e execução do ensaio biológico
  6. Análises químicas e bioquímicas dos materiais biológicos (urina, sangue e músculo)
  7. Tabulação, organização e análise dos dados e interpretação dos resultados
  8. Redação do relatório da pesquisa
  9. Divulgação dos resultados Fonte: NAVES (1995).