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Introdução à economia by Gregory Mankiw, Notas de aula de Introdução à Economia

Produto interno bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país em dado período. Essa definição pode parecer bem ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Vinicius20
Vinicius20 🇧🇷

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CAPÍTULO
Medindo
a
renda
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Quando
você concluir os estudos e começar a procurar por
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tempo integral,
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será moldada,
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grande medida, pelas condições econômicas
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Em alguns períodos, as empre-
sas
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toda a economia expandem sua produção
de
bens e serviços, o nível
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emprego aumenta e as pes-
soas encont
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facilmente trabalho. Em outros períodos, as empresas reduzem a produção, o nível
de
emprego está
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queda e as pessoas
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portanto,
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qualquer estudante recém-formado prefira entrar
no
mercado
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um
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expansão econômica a ingressar
em
um
ano
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contração econômica.
Como a saúde geral
da
economia afeta profundamente todos nós, as mudanças das condições econômi-
cas são muito
no
ticiadas pela mídia.
Os
jornais, a internet e a
TV
apresentam frequentemente alguma nova
estatística sobre a economia. A estatística pode medir a renda total
de
todas as pessoas
da
economia
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ou
caindo (a inflação/deflação), a
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CAPÍTULO

Medindo a renda nacional

Quando você concluir os estudos e começar a procurar por um emprego em tempo integral, sua experiência

será moldada, em grande medida, pelas condições econômicas do momento. Em alguns períodos, as empre-

sas de toda a economia expandem sua produção de bens e serviços, o nível de emprego aumenta e as pes-

soas encontram facilmente trabalho. Em outros períodos, as empresas reduzem a produção, o nível de

emprego está em queda e as pessoas têm dificuldade para encontrar um bom trabalho. Não nos surpreende,

portanto, que qualquer estudante recém-formado prefira entrar no mercado de trabalho em um ano de

expansão econômica a ingressar em um ano de contração econômica.

Como a saúde geral da economia afeta profundamente todos nós, as mudanças das condições econômi-

cas são muito noticiadas pela mídia. Os jornais, a internet e a TV apresentam frequentemente alguma nova

estatística sobre a economia. A estatística pode medir a renda total de todas as pessoas da economia

(o produto interno bruto - PIB), a taxa a que os preços estão aumentando ou caindo (a inflação/deflação), a

porcentagem da força de trabalho que está sem emprego (a taxa de desemprego), a despesa total nas lojas

(vendas no varejo) ou o desequihbrio do comércio entre os Estados Unidos e o restante do mundo (o déficit

466 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS

comercial). Todas essas estatísticas são macroeconômicas. Em vez de dizerem algo sobre uma família, uma

empresa específica ou um mercado, indicam algo sobre toda a economia. m1croeconom1a^ •^ • o estudo de como famílias e empresas tomam decisões e de como interagem nos mercados macroeconomia^ • o estudo de fenômenos queafetam aeconomia como um todo, incluindo inflação, desemprego e crescimento econômico Como vimos no Capítulo 2, a ciência econômica se divide em dois ramos: microeco-

nomia e macroeconomia A microeconomia é o estudo de como as famílias e as empre-

sas individuais tomam decisões e interagem umas com as outras nos mercados. A

macroeconomia é o estudo da economia como um todo. O objetivo da macroeconomia

é explicar as mudanças econômicas que afetam muitas famílias, empresas e mercados simultaneamente. Os macroeconomistas abordam diversas questões: Por que a renda média é elevada em alguns países e baixa em outros? Por que os preços sobem rapida- mente em algumas épocas e permanecem mais estáveis em outras? Por que a produção e o emprego aumentam em alguns anos e se contraem em outros? O que o governo pode fazer para promover o crescimento acelerado da renda, a baixa inflação e um nível de emprego estável? Estas perguntas são todas de natureza macroeconômica porque se referem ao funcionamento da economia como um todo. Como a economia nada mais é que um conjunto de muitas famílias e muitas empre- sas que interagem em muitos mercados, a microeconomia e a macroeconomia estão intimamente associadas. As ferramentas básicas de oferta e demanda, por exemplo, são tão cruciais para a análise macroeconômica quanto para a microeconômica. Mas estudar a economia levanta alguns desafios novos e intrigantes. Neste capítulo e no próximo, abordaremos alguns dos dados que os economistas e os formuladores de políticas usam para monitorar o desempenho da economia. Esses dados refletem as mudanças econômicas

que os macroeconomistas procuram explicar. Este capítulo trata do produto interno bruto, ou simplesmente

PIB, que mede a renda total de um país. O PIB é a estatística econômica acompanhada com mais atenção porque é considerada a melhor medida do bem-estar econômico de uma sociedade. RENDA EDESPESA DA ECONOMIA Se você fosse julgar a situação econômica de uma pessoa, olharia primeiramente para sua renda. Uma pes- soa com renda elevada tem mais facilidade para pagar pelos bens necessários e supérfluos que existem. Não é de surpreender que pessoas de renda elevada desfrutem de melhor padrão de vida - melhor moradia,

melhor atendimento à saúde, carros mais luxuosos, férias mais opulentas, e assim por diante.

A mesma lógica se aplica à economia de um país. Ao julgar se uma economia vai bem ou mal, é natural exa-

minar a renda total obtida por todos os membros da economia. Essa é a função do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB mede duas coisas ao mesmo tempo: a renda total de todas as pessoas da economia e a despesa total com os bens e serviços produzidos na economia. O PIB consegue medir tanto a renda total quanto

a despesa total porque, na verdade, as duas são a mesma coisa. Para a economia como um todo, a renda deve

ser igual à despesa.

Por que isso é verdadeiro? A renda de uma economia é igual à despesa porque cada transação envolve

duas partes: um comprador e um vendedor. Cada dólar de despesa de algum comprador corresponde a um dólar de renda para um vendedor. Suponha, por exemplo, que Karen pague a Doug $ 100 para que corte seu gramado. Nesse caso, Doug é um vendedor de um serviço e Karen é uma compradora. Doug ganha $100 e Karen gasta$ 100. Assim, a transação contribui igualmente para a renda da economia e para a despesa do país. O PIB, independentemente de ser medido pela renda ou pela despesa, aumenta em $ 100. Outra maneira de enxergar a igualdade entre renda e despesa é por meio do diagrama de fluxo circular representado na Figura 1. Como vimos no Capítulo 2, esse diagrama descreve todas as transações que envol- vem as famílias e as empresas de uma economia simples. Podemos simplificar as coisas supondo que todos os bens e serviços são comprados por famílias e que elas gastam toda a sua renda. Nessa economia, as famílias compram bens e serviços das empresas; essas despesas fluem através dos mercados de bens e ser-

468 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS produto interno bruto (PIB) o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país, em dado período

  • Produto interno bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país em dado período. Essa definição pode parecer bem simples, mas, na verdade, surgem muitas questões sutis quando calculamos o PIB de uma economia. Vamos, portanto, considerar cada frase dessa definição com atenção. "PIB é o valor de mercado..:' Você provavelmente já ouviu o adágio que diz "Não se pode somar maçãs com laranjas". Mas é exata- mente o que o PIB faz. O PIB soma vários tipos diferentes de produtos em uma única medida de valor da atividade econômica. Para isso, usa os preços de mercado. Como os preços de mercado medem o mon- tante que as pessoas estão dispostas a pagar por diferentes bens, eles refletem o valor desses bens. Se o preço de uma maçã for o dobro do preço de uma laranja, então a maçã contribuirá duas vezes mais para o PIB que a laranja. "dtd,, ... e o os ... O PIB tenta ser abrangente. Inclui todos os itens produzidos na economia e vendidos legalmente nos mer- cados. Mede o valor de mercado não só das maçãs e das laranjas, mas também das peras e das uvas, dos livros e dos ingressos de cinemas, dos cortes de cabelo e dos serviços de saúde, e assim por diante. O PIB também inclui o valor de mercado dos serviços de moradia prestados pelo estoque de moradias

da economia. No caso das moradias alugadas, é fácil calcular esse valor - o aluguel é igual à despesa do

inquilino e à renda do proprietário. Entretanto, muitas pessoas são donas do lugar em que vivem e, por isso,

não pagam aluguel. O governo inclui a moradia própria no PIB estimando o valor de aluguel. Ou seja, o PIB se baseia na hipótese de que o proprietário pague o valor imputado do aluguel a si próprio, de modo que o aluguel esteja incluído tanto em suas despesas quanto em sua renda.

Há, entretanto, alguns produtos que o PIB exclui por serem de difícil mensuração. O PIB desconsidera

todos os itens produzidos e vendidos ilegalmente, como as drogas ilegais. Exclui também itens produzidos e consumidos em casa e que, portanto, nunca entram no mercado. As verduras que você compra na quitan- da fazem parte do PIB, o que não ocorre com as verduras que você cultiva em casa. Essas exclusões do PIB podem, por vezes, levar a resultados paradoxais. Por exemplo, quando Karen paga a Doug para que corte seu gramado, a transação faz parte do PIB. Se ela se casasse com Doug, a situação mudaria. Embora Doug possa continuar a cortar o gramado de Karen, o valor do serviço deixa de ser in- cluído no PIB porque o serviço de Doug não está mais sendo vendido em um mercado. Assim, quando Karen e Doug se casam, o PIB se reduz. li ... (^) bens (^) e serviços. (^) ... li O PIB inclui tanto os bens tangíveis (alimento, vestuário, carros) quanto os serviços intangíveis (cortes de cabelo, faxina, consultas médicas). Quando você compra um CD de sua banda predileta, está comprando um bem, e o preço de compra faz parte do PIB. Quando você paga para assistir a um show da mesma banda, está comprando um serviço, e o preço do ingresso também faz parte do PIB. "fi. ... 1na 1 s ... li Quando a International Paper produz papel que a Hallmark usa para fazer um cartão, o papel é chamado

bem intermediário, e o cartão, bem final. O PIB inclui somente o valor dos bens finais. A razão é que o valor

CAP ÍT U LO 23 MEDINDO A RENDA NACIONAL 469 dos bens intermediários já está incluído no preço dos bens finais. Somar o valor de mercado do papel ao valor de mercado do cartão seria uma dupla contagem, ou seja, contar duas vezes (incorretamente) o papel. Uma exceção importante a esse princípio surge quando um bem intermediário é produzido e, em vez de ser usado, é acrescentado ao estoque de bens de uma empresa para ser usado ou vendido em uma data posterior. Nesse caso, o bem intermediário é considerado^11 final", nesse momento, e seu valor como inves- timento em estoque é incluído como parte do PIB. Portanto, os acréscimos ao estoque são somados ao PIB; quando o bem em estoque for, mais tarde, utilizado ou vendido, as reduções do estoque serão subtraídas do PIB. li ... (^) prod UZI 'd os ... " O PIB inclui os bens e serviços produzidos no presente. Não inclui transações que envolvam itens produzi- dos no passado. Quando a Ford produz e vende um carro novo, o valor do carro é incluído no PIB. Quando uma pessoa vende a outra um carro usado, o valor do carro usado não é incluído no PIB. li ... (^) em um pai , (^) s... " O PIB mede o valor da produção dentro dos limites geográficos de um país. Quando um cidadão canaden- se trabalha temporariamente nos Estados Unidos, sua produção faz parte do PIB dos Estados Unidos. Quando um cidadão norte-americano é dono de uma fábrica no Haiti, a produção de sua fábrica não faz parte do PIB dos Estados Unidos (mas, sim, do Haiti). Assim, os itens criados serão incluídos no PIB de um país se forem produzidos internamente, independentemente da nacionalidade do produtor. .. em um dado período" O PIB mede o valor da produção que tem lugar em um intervalo de tempo específico. Geralmente esse inter- valo costuma ser de um ano ou um trimestre. O PIB mede o fluxo de renda e despesa durante esse intervalo. Quando o governo divulga o PIB de um trimestre, geralmente o apresenta /1 a uma taxa anual", ou anualizado. Isso significa que o valor relatado do PIB é o montante de renda e despesa durante o trimes- tre multiplicado por 4. O governo usa essa convenção para facilitar a comparação entre os valores trimes- trais e anuais do PIB. Além disso, quando o governo divulga o PIB trimestral, apresenta os dados depois de terem sido modi-

ficados por um procedimento estatístico chamado ajustamento sazonal. Os dados não ajustados normalmen-

te mostram com clareza que a economia produz mais bens e serviços em algumas épocas do ano que em outras (como você pode imaginar, dezembro, com suas compras de fim de ano, é um dos pontos altos). Quando monitoram as condições da economia, economistas e legisladores frequentemente preferem olhar além dessas variações sazonais. Assim, os estatísticos do governo ajustam os dados trimestrais de maneira a excluir o ciclo sazonal. Os dados sobre o PIB divulgados nos noticiários são sempre ajustados sazonalmente. Vamos agora repetir a definição de PIB:

  • Produto interno bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país, em um dado período. Essa definição enfoca o PIB como gastos totais na economia, mas não se esqueça que cada dólar gasto pelo comprador de um bem ou serviço se torna um dólar para a renda do vendedor desse bem ou serviço. Portanto, além de aplicar essa definição, o governo também acrescenta a renda total na economia. As duas formas de calcular o PIB fornecem quase a mesma resposta. (Por que /1 quase"? Embora as duas medidas devam ser precisamente as mesmas, as fontes dos dados não são perfeitas. A diferença entre os dois cálcu-

los do PIB chama-se discrepância estatística.)

CAP ÍTULO 23 MEDINDO A RENDA NACIONAL 471 · · · · · · · · · · · · · · · · · Saiba mais sobre ... OUTRAS MEDIDAS DE RENDA Quando o Departamento de Comércio dos Estados Unidos calcula o PIB do país, acada três meses, calcula também várias outras medi- das de renda para obter um panorama maiscompleto sobre o que está acontecendo na economia. Essas outras medidas diferem do PIB porque incluem ou excluem certas categorias de renda. O que se segue é uma breve descrição de cinco dessas medidas de renda, ordenadas da maior para a menor.

  • Produto nacional bruto (PNB) é a renda total dos residentes permanentes de um país. Difere do PIB por incluir a renda que nossos cidadãos ganham no exterior e por excluir a renda que os estrangeiros ganham aqui. Por exemplo, quan- do um cidadão do Canadá trabalha temporariamente nos Estados Unidos, sua produção é parte do PIB norte-america- no, mas não é parte do PNB norte-americano (sua produção é parte do PNB canadense). Para a maioria dos países, incluindo Estados Unidos, residentes domésticos são responsáveis pela maior parte da produção interna, de modo que o PIB e o PNB são muito próximos.
  • Produto nacional líquido (PNL) é a renda total dos residen- tes de uma nação (PNB) menos as perdas decorrentes da depreciação. Depreciação é o desgaste do estoque de equipamentos e estruturas da economia, como a ferrugem dos caminhões e a obsolescência dos computadores. Nas contas da renda nacional preparadas pelo Departamento de Comércio, a depreciação é denominada "consumo de capital fixo''.
  • Rendo nacional é a renda total ganha pelos residentes de uma nação na produção de bens e serviços. Trata-se de uma medida quase idêntica ao PNL.^1 A renda nacional e PNL diferem por causa da discrepância estatístico que surge de problemas decorrentes da coleta de dados
  • Rendo pessoal é a renda recebida pelas famílias e pelas empresas que não são sociedades por ações. Ao contrário da renda nacional, a renda pessoal não inclui os lucros retidos, que são a renda obtida pelas empresas, mas não distribuída a seus proprietários. A renda pessoal também subtrai os impostos indiretos (tais como impostos sobre vendas), impostos de renda das pessoas jurídicas e as contri- buições para a previdência social (principalmente impostos para Seguridade Social). Além disso, a renda pessoal inclui a renda de juros que as famílias recebem sobre os emprésti- mos que fazem ao governo e a renda que recebem de pro- gramas de transferência governamental, tais como os de bem-estar e a Seguridade Social.
  • Rendo pessoal disponível é a renda que resta às famílias e empresas que não são sociedades por ações depois de satis- feitas todas as suas obrigações perante o governo. Éigual à renda pessoal menos impostos pessoais e certos pagamen- tos que não são impostos (como multas de trânsito). Embora as diversas medidas de renda difiram em detalhes, qua- se sempre nos dizem a mesma coisa sobre as condições econômi- cas. Quando o PIB está crescendo rapidamente, essas outras med idas de renda costumam crescer rapidamente. Quando o PIB está em queda, essas outras medidas costumam cair também. Para monitorar as flutuações da economia global, não importa muito qual medida de renda utilizamos. (^1) À exceção das pequenas discrepâncias estatísticas, a renda nacional é igual ao PNL a custo de fatores, ou seja, pela remuneração dos recursos produtivos. (NRT)

medir o valor da produção da economia, e os bens acrescentados aos estoques são parte da produção do

período em questão.

Observe que a contabilidade do PIB emprega a palavra investimento com sentido diferente do que é

geralmente usado. Quando ouvir a palavra investimento, você poderá pensar em investimentos financeiros,

como ações, debêntures e fundos mútuos - assuntos que estudaremos mais adiante. No entanto, como o

PIB mede os gastos com bens e serviços, aqui a palavra investimento se refere à compra de bens (como

equipamentos de capital, estruturas e estoques) utilizados para produzir outros bens.

472 PARTE V III DADOS MACROECONÔMICOS Compras do governo compras do governo gastos em bens e serviços pelos governos mun1c1pa1s,•^ •^ • estaduais e federal

As compras do governo incluem os gastos em bens e serviços dos governos municipais,

estaduais e federal. Isso inclui os salários dos funcionários do governo e as despesas em

obras públicas. Recentemente, as contas de renda nacional dos Estados Unidos passa-

ram a ser chamadas pelo nome mais longo de despesa de consumo e investimento bruto

do governo, mas neste livro usaremos a expressão mais tradicional e mais breve, com-

pras do governo.

O significado das "compras do governo" exige algum esclarecimento. Quando o

governo paga o salário de um general do Exército ou de um professor, o salário faz parte das compras

do governo. Quando o governo paga um benefício da Seguridade Social a um idoso ou benefícios de

seguro-desemprego a um trabalhador demitido recentemente, a história é bem diferente: esse tipo de dis-

pêndio é denominado pagamento de transferência porque não é feito em troca de um bem ou serviço produ-

zido correntemente na economia. Os pagamentos de transferência afetam a renda das famílias, mas não

refletem a produção da economia (do ponto de vista macroeconômico, os pagamentos de transferência são

como impostos negativos). Como o PIB tem por objetivo medir a renda e as despesas ligadas à produção de

bens e serviços, os pagamentos de transferências não são contados como parte das compras do governo.

Exportações líquidas exportações líquidas despesas, por parte de estrangeiros, em bens produzidos internamente (exportações) menos despesas em bens estrangeiros por parte de residentes internos (importações)

As exportações líquidas são iguais às compras, por parte dos estrangeiros, de bens

produzidos internamente (exportações) menos as compras internas de bens estrangeiros

(importações). Uma venda feita por uma empresa nacional a um comprador de outro

país, como a venda pela Boeing à British Airways, aumenta as exportações líquidas.

A palavra líquida na expressão exportações líquidas refere-se ao fato de que as impor-

tações são subtraídas das exportações. Essa subtração é feita porque outros componen-

tes do PIB incluem as importações de bens e serviços. Por exemplo, suponha que uma

família compre um carro de$ 30 mil da Volvo, a fabricante sueca. Essa transação aumen-

ta o consumo em $ 30 mil porque as compras de carros fazem parte das despesas de

consumo. E também reduz as exportações líquidas em$ 30 mil porque o carro é uma

importação. Em outras palavras, as exportações líquidas incluem os bens e serviços pro-

duzidos no exterior (com sinal negativo) porque esses bens e serviços já estão incluídos

no consumo, no investimento e nas compras do governo (com sinal positivo). Assim sendo, quando uma

família, empresa ou governo adquire um bem ou serviço do exterior, a compra reduz as exportações líquidas,

mas, como também aumenta o consumo, o investimento ou as compras do governo, não afeta o PIB.

TABELA 1

O PIB e seus componentes Esta tabela mostra o PIB total da economia norte-americana em 2009 e sua divisão entre os quatro componentes. Ao ler a tabela, lembre-se da identidade Y =C+ I + G+ EL. Total Per capita Porcentagem (bilhões de dólares) (em dólares) do total Produto interno bruto, Y $ 14 .259 $46.372 100% Consumo, C 1 0.093 32.823 71 Investimento, I 1. 623 5.278 11 Compras do governo, G 2.933 9.540 21 Exportação líquida, EL -390 -1.269 - Fonte: U. S. Department of Commerce. A soma das partes que não correspondam ao total deve-se aos arredon- damentos feitos.

474 PARTE VIII DADOS MACROECONÔMICOS

TABELA

PIB real e PIB nominal

Esta tabela mostra como calcu- lar o PIB real, o PIB nominal e o deftator do PIB para uma eco- nomia hipotética que só produz cachorros-quentes e hambúrgueres. Preços e quantidades Ano (^) cachorros-quentesPreço^ dos^ Quantidade^ de^ Preço^ dos^ Quantidade^ de cachorros-quentes hambúrgueres hambúrgueres 2010 s 1 100 s 2 50 2011 2012 s 2 150 s 3 100 s 3 200 s 4 150 Cálculo do PIB nominal 201 O ($ 1 por cachorro-quente x 100 cachorros-quentes}+($ 2 por hambúrguer x 50 hambúrgueres} = S 200 2011 ($ 2 por cachorro-quente x 150 cachorros-quentes}+($ 3 por hambúrguer x 100 hambúrgueres} = S 600 2012 ($ 3 por cachorro-quente x 200 cachorros-quentes}+($ 4 por hambúrguer x 150 hambúrgueres} = S1. Cálculo do PIB real (ano-base 2010) 201 O ($ 1 por cachorro-quente x 100 cachorros-quentes}+($ 2 por hambúrguer x 50 hambúrgueres) = S 200 2011 ($ 1 por cachorro-quente x 150 cachorros-quentes}+($ 2 por hambúrguer x 100 hambúrgueres) = S 350 2012 ($ 1 por cachorro-quente x 200 cachorros-quentes}+($ 2 por hambúrguer x 150 hambúrgueres) = S 500 Cálculo do deflator do PIB 2010 ($200/$200}X 100 = 100 2011 ($ 600 / $ 350} X 100 = 171 2012 ($ 1. 200 / $ 500} X 100 = 240 PIB real

a produção de bens e

serviços avaliada a

preços constantes

Para obter uma medida do montante produzido que não seja afetada pelas variações

nos preços, usamos o PIB real, que é a produção dos bens e serviços avaliada a preços

constantes. Para calcular o PIB real, determinamos primeiro um ano como ano-base.

Utilizamos, então, os preços dos cachorros-quentes e hambúrgueres no ano-base para

calcular o valor dos bens e serviços em todos os anos. Em outras palavras, os preços do

ano-base fornecem a base para comparar quantidades em diferentes anos.

Suponha que, em nosso exemplo, 2010 seja o ano-base. Podemos, então, utilizar os preços dos cachor-

ros-quentes e dos hambúrgueres em 2010 para calcular o valor dos bens e serviços produzidos em 2010,

2011 e 2012. A Tabela 2 mostra esses cálculos. Para calcular o PIB real de 2010, usamos os preços dos

cachorros-quentes e hambúrgueres em 2010 (o ano-base) e as quantidades de cachorros-quentes e ham-

búrgueres produzidas em 2010 (assim, para o ano-base, o PIB real será sempre igual ao PIB nominal). Para

calcular o PIB real de 2011 , usamos os preços dos cachorros-quentes e hambúrgueres em 2010 (o ano-base)

e as quantidades de cachorros-quentes e hambúrgueres produzidas em 2011. Da mesma forma, para calcu-

lar o PIB real para 2012, utilizamos os preços em 2010 e as quantidades em 2012. Ao constatarmos que o

PIB real aumentou de $ 200, em 201 0, para $ 350, em 2011 , e $ 500, em 2012, sabemos que o aumento é

atribuído a uma elevação nas quantidades produzidas porque os preços estão sendo mantidos fixos nos

níveis do ano-base.

Em suma: o PIB nominal usa os preços correntes para atribuir um valor à produção de bens e serviços da econo-

mia. O PIB real usa preços constantes do ano-base para atribuir um valor à produção de bens e serviços da

CAP ÍTULO 23 MEDINDO A RENDA NACIONAL 475

economia. Como o PIB real não é afetado pela variação nos preços, as variações do PIB real refletem somen-

te as mudanças nas quantidades produzidas. Assim, o PIB real é uma medida da produção de bens e servi- ços da economia. Ao calcularmos o PIB, nosso objetivo é medir o desempenho da economia como um todo. Como o PIB real mede a produção de bens e serviços da economia, ele reflete a capacidade da economia em satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas. Assim, o PIB real é uma medida melhor do bem-estar econômico que o PIB nominal. Quando os economistas falam do PIB da economia, geralmente estão se referindo ao PIB real, não ao nominal. E, quando falam do crescimento da economia, eles medem esse crescimento como a variação percentual do PIB real de um período para outro. Odeflator do PIB Como acabamos de ver, o PIB nominal reflete tanto as quantidades de bens e serviços produzidas na economia quanto os preços destes. Entretanto, mantendo os preços cons- tantes nos níveis do ano-base, o PIB real reflete somente as quantidades produzidas. A partir dessas duas estatísticas, podemos calcular uma terceira, chamada deflator do PIB, que reflete apenas os preços dos bens e serviços.

O deflator do PIB é calculado da seguinte maneira:

Deflator do PIB = PIB nominal PIB real

X 100

deflator do PIB uma medida do nível de preços calculada como a razão entre o PIB nominal e o PIB real multiplicada por 100 Como o PIB nominal e o PIB real devem ser iguais no ano-base, o deflator do PIB para o ano-base é sempre igual a 100. O deflator do PIB para os anos subsequentes mede a variação do PIB nominal a partir do ano-base que não pode ser atribuída a uma variação do PIB real. O deflator do PIB mede o nível de preços corrente em relação ao nível de preços do ano-base. Para veri- ficar por que isso é verdade, vamos considerar dois exemplos simples. Primeiro, imagine que as quantidades produzidas na economia aumentem com o tempo, mas os preços permaneçam os mesmos. Nesse caso, tanto o PIB nominal quanto o PIB real aumentam juntos, de modo que o deflator do PIB é constante. Suponha agora que os preços aumentem com o tempo, mas as quantidades produzidas permaneçam as mesmas. Nesse segundo caso, o PIB nominal aumenta, mas o PIB real se mantém inalterado, de modo que o deflator do PIB também aumenta. Observe que, em ambos os casos, o deflator do PIB reflete o que está acontecendo com os preços, não com as quantidades. Vamos examinar novamente o exemplo numérico da Tabela 2. O deflator do PIB é calculado na parte inferior da tabela. Em 201 0, o PIB nominal é $ 200 e o PIB real também é $ 200, então o deflator é 100. (O deflator é sempre 100 no ano-base.) Em 201 1, o PIB nominal é$ 600, e o PIB real,$ 350, portanto o deflator do PIB é 171.

Os economistas usam o termo inflação para descrever uma situação em que o nível geral de preços da

economia aumenta. A taxa de inflação é a mudança na porcentagem, em alguma medida, do nível de preços

de um período para o outro. Quando se emprega o deflator, a taxa de inflação entre dois anos consecutivos é calculada da seguinte forma: Taxa de inflação no ano 2 = Deflator do PIB no ano 2 - deflator do PIB no ano 1 Deflator do PIB no ano 1

X 100

Como o deflator do PIB aumentou em 2011 de100 para 171, a taxa de inflação é 100 x (171-100) / 1 00, ou 71 %. Em 2012, o deflator do PIB aumentou de 171 , no ano anterior, para 240, portanto a taxa de inflação é 100 X (240 -171) / 171, OU 40%.

CAPÍTULO 23 MEDINDO A RENDA NACIONAL 477 Grande parte da macroeconomia tem por objetivo explicar o crescimento de longo prazo e as flutuações de curto prazo do PIB real. Como veremos nos próximos capítulos, precisamos de modelos diferentes para esses dois propósitos. Como as flutuações de curto prazo representam

desvios em relação à tendência de longo prazo, examinaremos, primeiro, o comportamento das

variáveis macroeconômicas fundamentais, incluindo o PIB, no longo prazo. Então, em capítulos posteriores, vamos nos basear nessa análise para explicar as flutuações de curto prazo. •

TESTE RÁPIDO Defina PIB rea l e PIB nominal. Qual dos dois é a melhor medida do bem-estar econômico? Por quê?

PIB EBEM-ESTAR ECONÔMICO No início do capítulo, dissemos que o PIB é a melhor medida do bem-estar econômico de uma sociedade. Agora que sabemos o que é PIB, podemos avaliar essa afirmação. Como vimos, o PIB mede tanto a renda total quanto a despesa total da economia em bens e serviços.

Assim, o PIB per capita nos fala da renda e das despesas do indivíduo médio na economia. Como a maioria

das pessoas preferiria ter maior renda e desfrutar de uma despesa maior, o PIB per capita parece ser uma

medida natural do bem-estar econômico do indivíduo médio. Algumas pessoas, entretanto, contestam a validade do PIB como medida do bem-estar. Quando o

senador Robert Kennedy concorreu à presidência, em 1 968, fez uma comovente crítica a respeito dessas

medidas econômicas: [O produto interno bruto] não leva em consideração a saúde de nossas crianças, a qualidade de sua educa- ção ou a felicidade de suas brincadeiras. Não inclui a beleza de nossa poesia nem a solidez de nossos casa- mentos, a inteligência do nosso debate público ou a integridade dos funcionários públicos. Não mede nem nossa coragem, nem nossa sabedoria, nem nossa devoção ao país. Em resumo, mede tudo, exceto aquilo que faz a vida valer a pena, e pode nos dizer tudo sobre a América, exceto a razão pela qual nos orgulhamos de ser norte-americanos. Muito do que Robert Kennedy disse está correto. Então, por que nos preocupamos com o PIB? A resposta é que um PIB elevado nos ajuda, de fato, a levar uma vida confortável. O PIB não mede a saúde das crianças, mas países com PIBs maiores podem arcar com o custo de um melhor atendimento de saúde para suas crianças. O PIB não mede a qualidade da educação, mas países com PIBs maiores podem ter sistemas educacionais melhores. Ele não mede a beleza da nossa poesia, mas países com PIBs maiores podem ensinar mais cidadãos a ler e a apreciar a poesia. O PIB não leva em consideração nossa inteligência, integridade, coragem, sabedoria ou devoção ao país, mas todos esses louváveis atributos são mais fáceis de desenvolver quando as pessoas estão menos preocupadas em garantir as necessidades materiais da vida. Em suma, o PIB não mede diretamente as coisas que fazem a vida valer a pena, mas mede nossa capacidade de obter os insumos para uma vida que valha a pena. O PIB, entretanto, não é uma medida perfeita do bem-estar. Algumas coisas que contribuem para uma boa vida ficam de fora dele. Uma delas é o lazer. Suponha, por exemplo, que todas as pessoas da economia subitamente começassem a trabalhar todos os dias da semana, em vez de desfrutar de lazer nos fins de semana. Mais bens e serviços seriam produzidos e o PIB aumentaria. Mas, apesar do aumento do PIB, não poderíamos concluir que todos estariam em melhor situação. A perda de bem-estar decorrente da redução do lazer seria compensada pelos ganhos de bem-estar decorrentes da produção e do consumo de uma maior quantidade de bens e serviços. Como o PIB usa os preços de mercado para avaliar bens e serviços, ele desconsidera o valor de quase todas as atividades que ocorrem fora dos mercados. Mais especificamente, o PIB omite o valor dos bens e

serviços produzidos em casa. Quando um chef de cozinha prepara uma deliciosa refeição e a vende em seu

478 PARTE V III DADOS MACROECONÔMICOS · · · · · · · · · · · · · · · · · Notícias

A ECONOMIA SUBTERRÂNEA

O produto interno bruto perde muitos operações que têm lugar no

economia subterrâneo.

Em busca da economia oculta

Por Doug Campbell Este é um relato breve e notável de como recentemente participei da economia subterrânea: no meio da tarde do dia mais frio, no inverno passado, um homem

bateu à minha porta e perguntou: "Quer

que limpe a neve da entrada por apenas

$ 5?''. Lá fora, a temperatura congelante

chegava a 15 graus negativos. "Feito''. res- pondi. Meia hora depois, dei a ele uma nota de 5 dólares e agradeci por ter me poupado o trabalho. Oficialmente, foi uma transação não oficial - sem registros, sem pagamento de impostos e sem seguir normas de segu- rança. (Pelo menos, presumo que ele não se incomodaria em declarar essa renda ou registrá-la nos órgãos competentes.) Portanto, era tecnicamente ilegal. E, claro, esse tipo de atividade acontece o tempo todo. Diferenças internacionais na economia subterrânea País Economia subterrânea como uma porcentagem do PIB Bolívia 68% Zimbábue 63 Peru 61 Tailândia 54 México 33 Argentina 29 Suécia 18 Austrália 13 Reino Unido 12 Japão 11 Suíça 9 Estados Unidos 8 Fonte: Friedrich Schneider. Valores referentes a 2002. O tamanho da economia oficial dos Estados Unidos, medido pelo PIB, era de

quase $ 12 trilhões em 2004. A medida da

economia informal - sem incluir atividades ilegais como tráfico de drogas e prostituição

  • difere substancialmente. Contudo, geral- mente é considerada significativa entre 6% e 20% do PIB. Isso corresponde, em média, a

$ 1,5 trilhão por ano.

Quando definida de modo mais com- pleto, a economia subterrânea, informal ou das sombras, envolve, sob outros aspectos, transações legaisque não são declaradas ou registradas. Trata-se de uma rede amplaque inclui tudo: pagamento de serviços de babás, troca de reparos domésticos com vizinhos ou mesmo o fato de não declarar

um passeio de barco à luz da lua. O rótulo

"economia subterrânea" tende a fazer com que ela pareça mais sinistra que real- mente é. As atividades criminosas compõem grande parte do que se poderia chamar restaurante, o valor dessa refeição faz parte do PIB. Mas, se ele preparar a mesma refeição para a farm1ia, o valor que agregou aos ingredientes não entrará para o PIB. De forma similar, o serviço de cuidar das crianças oferecido em creches faz parte do PIB, enquanto o serviço de cuidar das crianças realizado pelos pais em casa não faz parte do PIB. O trabalho voluntário contribui para o bem -estar dos membros da sociedade, mas o PIB não reflete essas contribuições. Outra coisa que o PIB exclui é a qualidade do meio ambiente. Imagine que o governo elimine todas as regulamentações ambientais. As empresas poderiam, então, produzir bens e serviços sem levar em consideração a poluição que criam, e o PIB poderia aumentar. Mas o bem-estar provavelmente dimi- nuiria. A deterioração da qualidade do ar e da água mais que contrabalançaria os ganhos decorrentes da m aior produção. O PIB também não diz nada a respeito da distribuição da renda. Uma sociedade em que 100 pessoas

tenham renda anual de $ 50 mil tem um PIB de $ 5 milhões e, o que não é surpreendente, um PIB per

capita de$ 50 mil. O mesmo se dá em uma sociedade em que 10 pessoas ganhem$ 500 mil cada e 90

sofram sem ganhar nada. Poucas pessoas olhariam para essas duas situações e diriam que são equivalentes.

480 PARTE V III DADOS MACROECONÔMICOS · · · · · · · · · · · · · · · · · Notícias

ALÉM DO PRODUTO INTERNO BRUTO

Com o incentivo do presidente francês, alguns economistas já consideram o uso de medidas mais eficazes para avaliar o bem-estar econômico.

O PIB como medida inadequada

de saúde econômica

Por David Jolly PARIS - Na segunda-feira, o presidente

Nicolas Sarkozy declarou à agência nacional

francesa de estatística a necessidade de considerar com mais ênfase fatores como qualidade de vida e meio ambiente na men- suração da saúde econômica de um país. Sarkozy fez essa declaração após aceitar um relatório de um painel de economistas renomados, encarregados da revisão da adequação do atual padrão de bem-estar fiscal: o produto interno bruto. O painel, presidido por Joseph E. Sen, da Harvard University - ambos agra- ciados com o Prêmio Nobel -, concluiu que o PIB era insuficiente e que medidas de sustentabilidade e bem-estar humano devem ser incluídas. Um "foco exagerado na métrica do PIB" também contribuiu para o início da crise financeira atual de acordo com o relatório. Os formadores de políticas brindaram o aumento do crescimento econômico, en- quanto outros dados, como os que indicavam o aumento do endividamento insustentável de famílias e das empresas, foram ignora- dos, conforme apontou o relatório. "A mensagem principal é afastar-se da obsessão pelo PIBe entender seus limites", "Há muitos aspectos de nossa sociedade que não são cobertos pelo PIB:'[...] OPIBé a medida do valor de mercado de todos os bens eserviços produzidos na econo- mia. Seu desenvolvimento na década de 1930, quando o governo norte-americano estava procurando novas ferramentas para mensu- rar com maior exatidão a renda e o produto nacionais, foi considerado um dos avanços mais importantes na macroeconomia. No entanto, há uma forte crítica pelo fato do PIB, apesar de capturar o cresci- mento ou a contração da economiaglobal, ser uma ferramenta imperfeita para descre- ver a saúde social. Os Estados Unidos, por exemplo, com a Stiglitz, da Columbia University, e Amartya argumentou^ Stig^ litz^ em^ uma^ entrevista.^ maior^ economia^ do^ mundo,^ naturalmente

TABELA

O PIBe a qualidade

de vida

Esta tabela mostra o PIB per capita e outras três medidas de qualidade de vida para 12 países destacados.

PIB real per capita Expedativa Alfabetização^ Uso de internet

País de adultos (2007) devida (^) (% da população) (% da população) Estados Unidos s45.592 79 anos 99% 63% Alemanha 34.40^1 80 99 Japão (^) 33.632 83 99 67 Rússia 14.690 66 99 15 México 14.^104 76 93 Brasil 9.567 (^72 90 ) China 5.383 73 93 9 Indonésia 3.843 71 92 7 rndia 2.753 63 66 3 Paquistão 2.496 66 54 7 Nigéria 1. 969 48 72 4 Bangladesh 1. 241 66 54 0, Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano de 2009, Nações Unidas. Dados sobre o PIBreal, expectativa de vida ealfabetização são de 2007. Os dados sobre uso da internet são de 2005.

estão no topo dos ronkings do PIB, mas o país tem classificação baixa em outros crité- rios. Oíndice de desenvolvimento humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, que incorpora o PIB como apenas um de vários critérios, classificou a Islândia, a Noruega e o Canadá nas três primeiras posições em 2008, e os Estados Unidos, em 15° lugar. Os índices de desen- volvimento humano também procuram incorporar a importância de uma vida lon- ga e saudável, o acesso ao conhecimento e um nível de vida satisfatório. Como alternativa para a perseguição do PIBpelo mundo desenvolvido, o Butão, um pequeno reino no Himalaia, criou uma nova medida: a "felicidade nacional bruta", composta de 4 pilares, 9 domínios e 72 indicadores de felicidade. [...] De acordo com o relatório da comissão de Stiglitz, conhecido formalmente como "The measurement of economic per- formance and social progress revisited" Fonte: New York Times, 15 set. 2009. CAP ÍTULO 23 MEDINDO A RENDA NACIONAL 481 ["A medição do desempenho econômico e do progresso social revisitados"], um dos problemas mais evidentes era usar o cresci- mento econômico como um substituto de bem-estar, devido ao fato de que essa ação

excluía o dano à sociedade e, principal-

mente, à economia de atividades ambien-

  • .,. I o tais nao sustentave1s. Por exemplo, "existe a possibilidade de países em desenvolvimento permitirem as atividades de uma empresa de mineração estrangei^ '^ ra em seu terntono,•^ I^ ' mesmo que o país receba royalties baixos, o ambiente seja degradado eos mineiros estejam expostos a riscos para a saúde", cita o relatório, "porque, dessa maneira, o PIB será aumentado''. A comissão de Stiglitz também identifi- ca outro problema com a dependência em relação ao PIB e a outras medidas "padrão": a defasagem entre o que os números dizem e o que realmente as pessoas estão vivendo. Ao longo das últimas décadas, constatou-se um crescimento do PIB na maior parte do mundo, apesar da queda da renda disponível mediana - renda do "indi- víduo representativo em muitos países". Como resultado desse processo, verificou-
  • se que grande parte dos lucros provenien- tes do crescimento econômico estava nas mãos dos mais ricos em detrimento do restante da sociedade. Com base nas recomendações específi- cas, o PIB deve ser mensurado da mesma maneira em todos os países, já que os órgãos estatísticos o calculam diferente- mente de um país para o outro, em alguns casos resultando em grandes variações na forma como os serviços governamentais são avaliados. Isso tem o potencial para conduzir a erros de política, advertiu acomissão. Segundo aquela comissão, "O que men- suramos afeta o que fazemos; e se há falhas em nossas medidas, as decisões podem ser distorcidas. As políticas devem focar a melhoria do bem-estar da socieda- de, e não o PIB". mente. Em países pobres, como a Nigéria, Bangladesh e o Paquistão, as pessoas geralmente morrem 10 ou 20 anos mais cedo, grande parte da população é analfabeta e o uso da internet é raro. Os dados sobre outros aspectos da qualidade de vida contam uma história semelhante. Os

países com baixo PIB per capita tendem a ter mais crianças com peso baixo ao nascer, altas taxas

de mortalidade infantil, altas taxas de mortalidade materna, altas taxas de desnutrição infantil e

menos acesso a água tratada. Nos países de baixo PIB per capita, menos crianças em idade esco-

lar frequentam efetivamente a escola e aquelas que o fazem dispõem de menos professores por aluno. Esses países também tendem a ter menos televisores, menos telefones, menos ruas pavi- mentadas e menos casas com eletricidade. Os dados internacionais não deixam dúvida de que o

PIB per capita de um país está estreitamente relacionado ao padrão de vida de seus cidadãos. •

TESTE RÁPIDO Por que os formuladores de políticas devem se preocupar com o PIB? CONCLUSÃO Este capítulo discutiu como os economistas medem a renda total de um país. A medição, naturalmente, é somente um ponto de partida. Grande parte da macroeconomia tem por objetivo revelar os determinantes de longo e curto prazo do produto interno bruto de um país. Por exemplo, por que o PIB é mais elevado nos ,. Estados Unidos e no Japão que na India e na Nigéria? O que os governos dos países mais pobres podem fazer para promover o crescimento mais rápido do PIB? Por que o PIB dos Estados Unidos aumenta rapida-