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A Origem do Universo e da Humanidade: Perspectivas Criacionistas e Científicas, Notas de estudo de Evolução

Este artigo explora a origem do universo e da humanidade a partir da perspectiva criacionista, enfatizando a participação de deus na criação do universo e como o criacionismo se relaciona com o discurso científico. O texto apresenta uma análise bibliográfica de autores contemporâneos criacionistas, discutindo diferentes perspectivas cosmológicas e as constantes antrópicas que sugerem a necessidade de um agente inteligente.

O que você vai aprender

  • Como Francis Collins, ex-diretor do Projeto Genoma Humano, interpreta a criação?
  • Como a ciência trata a participação de Deus na criação do universo?
  • Quais são as principais teorias sobre a origem do universo e como as diferentes perspectivas se relacionam?
  • Quais são as constantes antrópicas que sugerem a necessidade de um agente inteligente?
  • Qual é a origem do universo de acordo com a perspectiva criacionista?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Havaianas81
Havaianas81 🇧🇷

4.6

(34)

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1O artigo foi recebido em 27 de agosto de 2017 e aprovado em 22 de setembro de
2017 com base na avaliação dos pareceristas ad hoc.
2Bacharel em Teologia pela Faculdade Refidim, Joinville/SC.
3Doutor em Teologia pelo Instituto de Pós-Graduação das Faculdades EST, São
Leopoldo, RS. Professor de Teologia Sistemática na Faculdade Refidim, Joinville, SC
e coordenador da Equipe de Pesquisa da Faculdade Refidim, Joinville, SC.
INTERPRETAÇÕES
DA CRIAÇÃO: EM
BUSCA DAS ORIGENS
Interpretations of Creation: in search of origins1
Vinicius Matzenbacher Rodrigues2
Fernando Albano3
RESUMO
O artigo em questão procura discorrer acerca da origem do universo e da humanidade
a partir do ato criativo de Deus. A partir disso, apresenta reflexões sobre a participação
de Deus na criação do universo e como o criacionismo pode se relacionar com o discur-
so científico. Também, aborda as diferentes interpretações da criação, bem como as
outras possíveis teorias da origem do mundo e da humanidade e a problemática que as
envolve. Ainda, trata a respeito da possibilidade de se reconhecer a narrativa bíblica
como alternativa simbólica viável e coerente do ponto de vista da fé cristã.
Palavras-Chave: Criacionismo; Discurso científico; Deus; Gênesis.
ABSTRACT
The article in question seeks to discuss the origin of the universe and of humanity from
the creative act of God. From this, he presents reflections on God’s participation in the
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Baixe A Origem do Universo e da Humanidade: Perspectivas Criacionistas e Científicas e outras Notas de estudo em PDF para Evolução, somente na Docsity!

(^1) O artigo foi recebido em 27 de agosto de 2017 e aprovado em 22 de setembro de 2017 com base na avaliação dos pareceristas 2 ad hoc.

3 Bacharel em Teologia pela Faculdade Refidim, Joinville/SC. Doutor em Teologia pelo Instituto de Pós-Graduação das Faculdades EST, São Leopoldo, RS. Professor de Teologia Sistemática na Faculdade Refidim, Joinville, SC e coordenador da Equipe de Pesquisa da Faculdade Refidim, Joinville, SC.

INTERPRETAÇÕES

DA CRIAÇÃO: EM

BUSCA DAS ORIGENS

Interpretations of Creation: in search of origins 1

Vinicius Matzenbacher Rodrigues 2 Fernando Albano^3

RESUMO

O artigo em questão procura discorrer acerca da origem do universo e da humanidade a partir do ato criativo de Deus. A partir disso, apresenta reflexões sobre a participação de Deus na criação do universo e como o criacionismo pode se relacionar com o discur- so científico. Também, aborda as diferentes interpretações da criação, bem como as outras possíveis teorias da origem do mundo e da humanidade e a problemática que as envolve. Ainda, trata a respeito da possibilidade de se reconhecer a narrativa bíblica como alternativa simbólica viável e coerente do ponto de vista da fé cristã.

Palavras-Chave: Criacionismo; Discurso científico; Deus; Gênesis.

ABSTRACT

The article in question seeks to discuss the origin of the universe and of humanity from the creative act of God. From this, he presents reflections on God’s participation in the

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creation of the universe and how creationism can relate to scientific discourse. It also addresses the different interpretations of creation, as well as the other possible theories of the origin of the world and humanity and the problematic that surrounds them. It also deals with the possibility of recognizing the biblical narrative as a viable and coherent symbolic alternative from the point of view of the Christian faith.

Key-words : Creationism; Scientific discourse; God; Genesis.

INTRODUÇÃO

Devido aos inúmeros questionamentos da nossa época, acerca da origem da vida e do universo e em face do grande número de teorias existentes, este artigo procura esclarecer as diferentes perspectivas de cosmovisões sobre origem do universo, dando atenção especial às criacionistas, trazendo conceitos básicos e principais problemas encon- trados em cada teoria através de uma análise bibliográfica de autores criacionistas contemporâneos. O artigo procura por último, demonstrar que o criacionismo pode ser considerado coerente para a atualidade com base em argumentos e análises feitas por cientistas criacionistas atuais.

1 DEUS E A ORIGEM DO UNIVERSO

Desde os primórdios da humanidade e da formação das primeiras civilizações, tem se questionado acerca da origem do universo e do ser humano. A partir disso, sobretudo nas eras da modernidade e pós- modernidade, na tentativa de encontrar uma cosmovisão correta que res- ponda a tais questionamentos, diferentes teorias surgiram com alicerces fundamentados na fé de diferentes religiões e na ciência. As pessoas, en- tão, têm divido as suas crenças e visões acerca das origens na fé ou na ciência, como dois contextos totalmente opostos, não sendo, portanto,

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(^7) MCDOWELL, 2012, p. 61. (^8) MCDOWELL, 2012, p. 62. (^9) AQUINO, Felipe. Você conhece o testemunho do Dr. Francis Collins? 2017. Dis- ponível em: http://cleofas.com.br/voce-conhece-o-testemunho-dr-francis-collins/. Acesso em: 17 jun. 2017. 10 GEISLER, N.; TUREK, N. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2006.

verso, sua ênfase na racionalidade humana e seu ensino de que compreende- mos Deus quando compreendemos sua criação - que fundamentou a revolu- ção científica moderna.^7 Prova disso é que a maioria dos primeiros cientistas reconhecidos foram teístas, incluindo nomes como: Francis Bacon (1561- 1626), Johannes Kepler (1571-1630), Blaise Pascal (1623-1662), Robert Boyle (1627-1691), Isaac Newton (1642-1727) e Louis Pasteur (1822-1895). Afi- nal, foi Kepler quem disse: “O alvo principal de toda investigação no mundo externo deve ser a descoberta da ordem e da harmonia racional que lhe foram impostas por Deus e que ele nos revelou na linguagem da matemática”.^8 Francis Collins, ex-diretor do Projeta Genoma Humano - onde foi responsável pelo descobrimento espetacular da ciência moderna: o mapeamento do DNA humano em 2001 - e Diretor do Instituto Nacional da Saúde dos EUA (National Institutes of Health) desde de 2009, foi ateu até os 27 anos quando se converteu ao cristianismo, após começar a se questionar acerca da moralidade e a ordem do Universo ao estudar a Bí- blia e as obras de C.S. Lewis. Foi ele quem afirmou: “O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investi- ga o mundo natural. Deus pertence à outra esfera”.^9 Por isso, fé e ciência não devem ser vistas como duas vertentes in- compatíveis e rivais, mas, ao contrário, como aliadas e complementares. O nanocientista James Tour também afirmou: “Somente um principiante que não sabe nada sobre ciência diria que a ciência descarta a fé. Se você real- mente estudar a ciência, ela certamente o levará para mais perto de Deus”.^10

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(^11) Tradução própria: “a systematic approach to understanding that uses observable, testable, repeatable, and falsifiable experimentation to understand how nature commonly behaves”. PATTERSON, 2014. 12 Tradução própria: “ interpreting evidence from past events based on a presupposed philosophical point of view”. PATTERSON, 2014.

1.2 Ciência Observacional e Ciência Histórica

Faz-se necessário fazer a distinção entre dois tipos de linhas de estudo da ciência, que muitas pessoas ignoram, para que se possa com- preender as limitações da ciência no que se refere às interpretações natu- ralistas das cosmovisões. De acordo com Roger Patterson, a ciência se divide em ciência operacional (ou observacional) e ciência histórica (de origem). A ciência operacional, segundo ele, pode ser definida como uma “abordagem siste- mática que se utiliza de experimentos observáveis, testáveis, repetíveis e confirmáveis para entender como a natureza comumente se comporta”. 11 Esse é o tipo de ciência que, por exemplo, através de experimentos per- mite a compreensão de como o DNA se codifica para formar os aminoácidos nas células, que permitiu que o tratamento para a cura de doenças se desenvolvesse, e que determinou as leis da física conhecidas hoje. Já, como Patterson ainda define, a ciência histórica, consiste em “interpretar evidências do passado baseado em um ponto de vista filosó- fico já pressuposto”. 12 O passado na história não pode ser diretamente observado, testa- do, repetido ou confirmado; por isso interpretações de eventos do passa- do apresentam maiores desafios do que interpretações envolvendo a ci- ência operacional. Por isso, a arqueologia, a paleontologia, a geologia, e os demais estudos sobre os povos, pessoas, eventos, guerras e realizações do passado se tratam de ciência histórica, pois a partir da análise de regis- tros históricos, achados arqueológicos e paleontológicos e descobertas

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(^17) ZACHARIAS, R.; GEISLER, N. Quem criou Deus? São Paulo: Reflexão, 2014. (^18) GEISLER; TUREK, 2006. (^19) GEISLER; TUREK, 2006. (^20) MCDOWELL, 2012, p. 67.

1.3 Ação de Deus na Origem do Universo

Entende-se por design inteligente, a ideia que o design de sistemas vivos e, até mesmo, de todas as coisas do universo, sugerem a necessidade de um agente inteligente.^17 A precisão para qual o universo veio a surgir, para muitos, indica evidencias persuasivas para a existência de Deus. Se- gundo Norman Geisler e Frank Turek, esse conjunto de evidências podem ser compreendidas dentro do argumento teleológico (nome derivado do grego telos, que significa “plano”), que se apresenta da seguinte forma:

  1. Todo projeto tem um projetista;
  2. O Universo possui um projeto altamente complexo;
  3. Portanto, o Universo teve um projetista.^18 Foi o próprio Isaac Newton (1642-1727) que ratificou a validade des- se argumento ao se maravilhar do projeto do sistema solar, afirmando: “Este belíssimo sistema no qual estão o Sol, os planetas e os cometas somente poderia proceder do desígnio e do poder absoluto de um Ser inteligente e poderoso”.^19 As condições ambientais do universo e da terra que permitem que haja vida e tudo o que enxergamos, da maneira que enxergamos, são altamente precisas e interdependentes (conhecidas como constantes antrópicas) e isso é conhecido como princípio antrópico. Vejamos alguns exemplos des- sas chamadas constantes antrópicas nos parágrafos seguintes. É de comum consenso que se a lei da gravidade variasse o míni- mo que fosse, o universo não seria habitável, de forma que a força da gravidade precisa estar afinada na proporção de 10^40 , isto é, uma parte em 1040 , de forma que se essa força fosse alterada em 1/10^40 nosso Sol não existiria. 20 Além disso, o nível de oxigênio na terra corresponde a 21% da

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atmosfera e esse número preciso é uma outra constante antrópica que permite que haja vida na terra, visto que se o oxigênio tivesse numa con- centração de 25%, poderia haver incêndios espontâneos devido à com- bustão espontânea; se fosse de 15%, os seres humanos ficariam sufoca- dos. De fato, a composição da atmosfera pode ser considerada uma cons- tante antrópica devido a seus níveis precisos de nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono e ozônio. Outra constante, ainda, é o grau de transpa- rência da atmosfera, pois se fosse menos transparente, não seria possível se ter radiação solar suficiente sobre a superfície da Terra; se fosse mais transparente a superfície da terra seria bombardeada com muito mais ra- diação solar para que possibilitasse a vida.^21 Há, ainda, outros fatores interessantes que podem ser considera- dos como constantes antrópicas, como o fato de a inclinação do eixo da terra de 23° ser exata, pois se essa inclinação fosse minimamente alterada a variação da temperatura da superfície da Terra seria muito extrema para permitir vida. O fato de que se a rotação durasse mais que 24 horas, a variação de temperatura entre o dia e a noite seriam grandes demais e se fosse menor, a velocidade dos ventos atmosféricos seria grande demais. Por último, sabe-se que qualquer uma das leis da física pode ser descrita em função da velocidade da luz (299,792,458 m por segundo) e uma mí- nima variação nessa velocidade alteraria as outras constantes e impossi- bilitaria a vida na Terra.^22 O astrofísico Hugh Ross, após calcular a proba- bilidade de que essas e outras constantes (122 ao todo) pudessem existir hoje em qualquer outro planeta no universo por acaso, isto é, sem um projeto divino, e partindo do pressuposto de que existam 10^23 planetas no Universo, chegou à conclusão de que existe apenas uma chance em 10^138 , sendo que o número de átomos no universo inteiro é de 10^70! Em outras

(^21) GEISLER; TUREK, 2006. (^22) GEISLER; TUREK, 2006.

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existiam mais de 50 organizações criacionistas nos Estados Unidos, ou- tras muitas no Canadá, e hoje, uma breve pesquisa na Internet revela mais de 338 websites de organizações, ministérios e preletores criacionistas no mundo inteiro. O criacionismo se apresenta em diferentes e distintas po- sições no que se refere à interpretação do relato de Gênesis, com traços comuns, ou não. Cabe ressaltar em uma abordagem geral, envolvendo os questionamentos de cada interpretação, as características de dois princi- pais grupos: Criacionismo da Terra Antiga (CTA) e o Criacionismo da Terra Jovem (CTJ).^24

2.1.1 Criacionismo da Terra Antiga

O Criacionismo da Terra Antiga defende que a Terra foi criada no mesmo período que a cosmologia naturalista defende, onde as eras geo- lógicas e a idade do planeta Terra (atualmente calculada em aproximada- mente 4,6 bilhões de anos) são aceitas, mas afirma que a evolução bioló- gica conforme descrita por Charles Darwin não ocorreu.^25 Tem como maior defensor contemporâneo dessa teoria o astrônomo Dr. Hugh Ross, do Instituto Reasons to Believe, e sua origem remonta do final século XVIII, quando a teoria de que a Terra era muito antiga já era tida como verdade pela geologia moderna, em contraposição a anterior cronologia do arce- bispo anglicano James Ussher, que, no séc. XVII havia calculado a idade da Terra a partir de uma leitura literal das genealogias bíblicas. Já que muitos geólogos que estudavam a idade da Terra eram cristãos, de acordo com Garros, 26 foram propostas algumas soluções e interpretações alter-

(^24) GARROS, Tiago Valentim. A s origens segundo o Gênesis: ciência ou mito****? 2012. Dissertação de Mestrado em Teologia, Instituto de Pós-Graduação da Faculdades EST, São Leopoldo, 2012. (^25) GARROS, 2012. (^26) GARROS, 2012.

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nativas para harmonizar um relato literal da criação com uma Terra extre- mamente antiga. Dentre essas interpretações, as duas mais famosas e mais mencionadas hoje são a da Teoria da Lacuna (Gap Theory) e a Teoria do Dia-Era (Day-Age Theory).

2.1.1.1 Teoria da Lacuna (Ruína e Reconstrução)

A Teoria da Lacuna, também conhecida como Teoria da Ruína- Restauração ou Ruína e Reconstrução, defende uma leitura alternativa dos primeiros versos do livro de Gênesis da Bíblia, assumindo que entre os versos 1 e 2 do capítulo 1 do livro há uma lacuna de tempo indeterminado. Para isso, entendem que o verbo hebraico normalmente traduzido como “era” no versículo 2 desse capítulo ( “E a Terra era sem forma e vazia”) deve ser, na verdade, traduzido e interpretado como “tornou-se”.^27 O teólo- go escocês e primeiro moderador da Igreja Livre da Escócia Thomas Chalmer (1780-1847), foi, provavelmente, o responsável pelo surgimento dessa teo- ria, contudo, foi o geólogo e paleontólogo Rev. William Buckland (1784- 1856), que popularizou a ideia.^28 Essa concepção, conforme Garros aborda em seu trabalho, poderia ser ilustrada com a seguinte lógica: Gêneses 1.1 – No princípio criou Deus os céus e a terra.

Lacuna (Gap) – possíveis milhões de anos

Gênesis 1.2 - E a terra tornou-se sem forma e vazia.^29

Portanto Deus, segundo esse raciocínio, teria criado a Terra e cria-

(^27) GARROS, 2012. (^28) LOURENÇO, 2011. (^29) GARROS, 2012, p.8.

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G. H. Pember, autor do livro As Eras mais Primitivas da Terra , que foi o escritor mais notavelmente influente do século XIX na popularização dessa teoria, entendia esse conflito ao afirmar: “Pois, con- forme os restos fósseis claramente demonstram, não só a doença e a mor- te – companhias inseparáveis do pecado – eram prevalentes entre as cria- turas vivas da terra, mas também ferocidade e homicídio”. Em outras palavras, ele reconhecia que o registro fóssil da morte, da deterioração, da doença e de espinhos nas plantas – já que muitos fósseis de dinossauros foram encontrados com vestígios de tumores,^31 doenças, e, ainda, fósseis de plantas com espinhos foram achados - antes do pecado entrar no mun- do era, de certa forma, inconsistente com o ensinamento da Bíblia. Por- tanto, seguindo essa lógica, não pode ter havido morte de nenhum animal ( nephesh – animais com alma), sofrimento e doenças antes do pecado de Adão.^32 Para isso, os teoristas da lacuna alegam que Romanos 5.12 e Genesis 3.3 se referem unicamente à morte espiritual, mas, isso não é abordado de maneira clara e poderia entrar em conflito com outras escri- turas como Gênesis 3.22-23 e 1 Coríntios 15. De acordo com Lourenço, o sem forma e vazia do verso 2 de Gênesis 1, simplesmente refere-se a um estado inicial da Terra e não a um estado final ou posterior. De acordo com ele, não existe razão dentro do contexto da narrativa, pela qual o verbo hayetah (forma do verbo hebraico hayah que tem o sentido de “ser”) deva ser traduzido como tornar-se , pois, o estado inicial não havia se tornado sem forma e vazio, mas era ou estava sem forma e vazio. 33 Ken Ham ainda afirma que essa teoria seria inconsistente com a escritura de Êxodo 20.11, que diz: “Porque em seis

(^31) TANKE, D. H. et al. Paleopathology_. Encyclopedia od dinosaurs_. San Diego: Academic Press, 1997. p. 525-530. 32

33 HAM, K.^ Criacionismo: verdade ou mito?. CPAD, 2011. p. 388. LOURENÇO, 2011.

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(^34) HAM, 2011, p. 388. (^35) GARROS, 2012.

dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou [...]”; onde a criação dos céus e da terra (Gênesis 1.1) e do mar e tudo o que neles há (todo restante da criação) foi completada em seis dias. 34

2.1.1.2 Teoria do Dia-Era (Criacionismo Progressivo)

Existe ainda a chamada Teoria do Dia-Era, que se apresenta como uma outra harmonização que leva em conta uma Terra extremamente an- tiga. Essa interpretação alega que os dias mencionados no capítulo 1 do livro de Gênesis não se referem a dias literais de 24 horas, mas sim lon- gos períodos de milhares ou milhões de anos, podendo corresponder aos períodos geológicos e, até mesmo, como alguns defendem, à evolução das espécies (abordado na seção 3.2). Foi Agostinho, no Séc. V, que trouxe os primeiros registros a res- peito desse tipo de interpretação. Em sua obra De Genesi ad Litteram (Sobre a Interpretação literal do Gênesis), aponta que uma vez que o dia solar de 24 horas só poderia ter existido após da criação do sol, no quarto dia de criação, os dias de Gênesis não poderiam ser dias literais. Apoia-se, ainda, segundo essa lógica, conforme abordado por Garros em seu trabalho, 35 que a interpretação da palavra hebraica yom (dia, em Gênesis 1), pode se referir a longas eras de tempos (milênios, eras geológicas) visto que ela é usada na Bíblia de diferentes formas, às vezes significando dias de 24 horas, dias de 12 horas ou uma certa quan- tidade indefinida de tempo. Referem-se também, como base para sua in- terpretação, ao texto da carta de 2 Pedro 3.8, que diz: “ Para Deus, um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia ”.

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do nos registros fósseis), antes de Adão ser criado e, portanto, de o peca- do ter entrado no mundo. Dessa forma, seria estranho pensar que ao final dos dias (ou eras, como defende a teoria) Deus havia declarado “e viu Deus que tudo o que havia feito era muito bom” mesmo com um mundo contendo morte e doenças.^39 Ainda, segundo Lourenço, o argumento, segundo a teoria do Dia- Era, de 2 Pedro 3.8 (mencionado acima) trata especificamente de Deus, pois Deus está na dimensão de tempo humana. De acordo com ele, é exata- mente isso que esse verso nos ensina, que para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia, de forma que o tempo não atua em Deus, apenas em nós. Deve-se refletir, então, se em Gênesis 1 teríamos uma exce- ção a esse sentido, significando, de fato, longas eras ou períodos.^40

2.1.2 Criacionismo da Terra Jovem (Interpretação Literal de Gênesis 1)

Essas propostas, que buscaram acomodar os “milhões de anos” ao relato Bíblico soaram para alguns como um comprometimento do sentido real e verdadeiro da escritura sagrada. Estes sustentam que uma leitura adequada e rígida dos textos bíblicos de Gênesis 1 levam inevi- tavelmente à conclusão de que os dias da criação são dias literais de 24 horas, e, portanto, não houve criação/recriação. Assumem, a partir da soma das genealogias encontradas em Gênesis até Adão, de que a Terra (e o universo também) é jovem, tendo cerca de 6 mil anos (10 mil anos para os teólogos que assumem que há intervalos nas genealogias bíbli- cas). Este é o grupo dos denominados Criacionistas da Terra Jovem, que atualmente são o maior e mais bem financiado grupo criacionista.^41

(^39) HAM, 2011. (^40) LOURENÇO, 2011. (^41) GARROS, 2012.

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Henry Morris, autor da publicação de 1961 “The Genesis Flodd”, foi um dos principais defensores e originadores dessa teoria. Morris enfatiza a explicação dos fósseis e da geologia do planeta através do dilúvio global de Gênesis: Parece não haver maneira possível de se evitar a conclusão de que, se afinal de contas a Bíblia e o Cristianismo são verdadei- ros, as eras geológicas precisam ser completamente rejeitadas. Nem a teoria dia-era, nem a teoria da lacuna nem outra teoria qualquer será capaz de conciliá-las com o Gênesis. Em seu lugar, como forma apropriada de entender a história da Terra da forma como é registrada nas rochas sedimentares que con- tém fósseis em toda a crosta terrestre, o grande dilúvio mundi- al descrito tão claramente na Bíblia precisa ser aceito como mecanismo básico.^42 Conforme abordado, este grupo rejeita o consenso científico his- tórico secular da evolução cosmológica (Teoria do Big Bang), geológica (rejeita o uniformitarianismo e defende o catastrofismo) e biológica (Neodarwinismo), devido ao comprometimento com a literalidade dos capítulos iniciais de Gênesis. Essa proposta será mais amplamente abordada na seção seguinte.

2.1.2.1 Problemas

O problema da interpretação literal criacionista, em geral, não se considera teológico, como alguns problemas das visões citadas anterior- mente; mas sim, em conciliar a narrativa de Gênesis e a data recente de criação da Terra e do Universo (cerca de 6 mil anos atrás) com as ciências naturalistas (evolucionismo), que atribuem 4,6 bilhões de anos e 13, bilhões de anos aproximadamente para a origem da Terra e do Universo, respectivamente. Também, as ciências e cosmovisões naturalistas, atri-

(^42) GARROS, 2012, p. 10.

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de Darwin do que o próprio Darwin, que apontou as inconsistências de reinterpretar a Bíblia, a fim de que se ajuste ao pensamento científico popular. Ao citar 1 Coríntios 15.21,22, ele disse: “Se Adão pode ser determinado como um personagem mais verdadeiro que Prometeu, e se a história da Queda é apenas um ‘protótipo’ instrutivo, comparável aos profundos mitos prometéicos, que valor tem a dialética de Paulo?” 44 Portanto, tal interpretação apresenta problemas teológicos no que se refere à parcialidade da interpretação literal das escrituras. Além disso, do ponto de vista teológico, Gênesis refere-se a uma criação de Deus considerada perfeita e acabada e não a uma evolução inacabada a im- perfeita como a teoria postulada por Darwin. Segundo o bispo John Shelby Spong, bispo aposentado da Diocese Episcopal de Newark: “A Bíblia começa com a pressuposição de que Deus criou um mundo ter- minado e perfeito que os seres humanos abandonaram em um ato de rebelião cósmica. Darwin, ao contrário, postulou uma criação inacabada e, portanto, imperfeita”. 45 Por último, encontra-se problema na explicação do surgimento da morte, doenças e sofrimento no mundo antes do pecado de Adão, visto que o principio básico para a evolução é a morte, sofrimento e desorganização. Inclusive estas fariam parte da seleção natural dos se- res vivos muito antes da criação do ser humano.

2.2 Evolucionismo Naturalista

Entende-se por evolucionismo a teoria naturalista que propõe que as mudanças das características hereditárias de uma população através de sucessivas gerações, por longos períodos de tempo e através de processos

(^44) HAM, 2011, p. 38. (^45) HAM, 2011, p. 40.

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seletivos naturais causados pelo meio, teriam sido responsáveis por vari- ações adaptativas nas espécies. Assim, os indivíduos da próxima geração herdam as características mais vantajosas, e pelo aparecimento de novas espécies. Essa teoria, também conhecida como Darwinismo, foi inicial- mente desenvolvida por Charles Darwin (e Alfred Russel Wallace), no século XIX, que propõe a seleção natural do meio como a causa principal para a explicação da evolução, e foi popularizada através de seu livro, “A Origem das Espécies”, publicado 1859. O Neodarwinismo, ou Teoria Sin- tética da Evolução, é a teoria evolucionista que reconhece como princi- pais fatores evolutivos a teoria da seleção natural e da hereditariedade, proposta por Darwin, e as teorias da ancestralidade comum, mutação e recombinação genética.^46 Segundo a teoria da ancestralidade comum, todas as formas de vida evoluíram de um único ancestral primordial, e a favor dessa teoria está o fato de quase todos os seres vivos compartilharem de um código genético, ou DNA, semelhante. Já, de acordo com a teoria da mutação gênica e da seleção natural, o desenvolvimento evolucionário ocorre porque mutações aleatórias, ou recombinações genéticas, produzem novas características nos seres vivos, e as características que apresenta- rem maior vantagem para sobrevivências são preservadas e reproduzidas.^47 Quanto à origem da vida, essa teoria sustenta que a primeira vida foi gerada espontaneamente (macroevolução) através de processos naturais em elementos químicos (aminoácidos), chamados de sopa primordial, que for- mariam a primeira proteína e, então, originariam a primeira célula.^48

(^46) LOURENÇO, Adauto J. B. Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo_._ São José dos Campos: Fiel, 2007. (^47) GEISLER; TUREK, 2006. (^48) GEISLER; TUREK, 2006.

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