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Neste ensaio filosófico de cunho narrativo, a personagem Ale questiona as dinâmicas de poder e a manipulação informacional nas redes sociais, ilustrando de forma vívida o fenômeno das “bolhas informacionais”. Por meio de diálogos entre Ale, seu colega Nad e o professor, a história explora como algoritmos privilegiam o engajamento em detrimento da verdade, “silenciando” vozes diversas e contribuindo para a desconfiança generalizada nas instituições. O conflito central gira em torno da capacidade (ou incapacidade) de estudantes de quebrar barreiras educacionais e participarem criticamente do processo democrático — um exemplo concreto dos conceitos de injustiça epistêmica de Miranda Fricker, especialmente da forma como certos grupos são privados de credibilidade e voz. Esse cenário denuncia a injustiça epistêmica de Miranda Fricker, ao expor como comunidades marginadas têm sua autoridade intelectual questionada e seus relatos deslegitimados.
Tipologia: Trabalhos
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UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina CFH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas Teoria do Conhecimento II
. Curso: Filosofia
Ensaio Filosófico
Florianópolis 2024
Ale no país das injustiças Ale anota em seu caderno: "Quem tem poder, te manda. Quem tem poder, te molda.". O verso ecoava em sua mente, como um lembrete incômodo do quanto era refém das regras que não havia escolhido. Já cansada da passividade, e como quem sabe que precisa disputar espaço para ser ouvida, sua mão se ergue depressa para ser vista.
Ale: Professor, lembra da ideia que compartilhei na semana passada sobre as redes sociais? Estive matutando…Você acha que existe algo fora da ‘bolha’? Os algoritmos sequer diferenciam o que é falso do que é verdadeiro. Tem tanta desinformação sendo disseminada, na maldade ou não, os “números” nos manipulam, e nem damos conta...
Professor: Muito bem colocado, Ale, mas deixa eu te perguntar: o que acha que pode ser feito para escapar da manipulação?
Ale: Não acho que seja possível. É um poço sem fundo. As plataformas formam ‘bolhas’ e “barreiras” (‘preconceitos’).
Nad: Só vemos o que "eles" querem que a gente veja. Ale: Marionetes. É isso que todos somos; quer dizer, todos não. Ainda tem gente que está fora do digital.
Professor: Vocês têm razão, não podemos tirar os pés do chão e esquecer que aqui é o Brasil. No entanto, será mesmo que o problema está nos “números” ou em como usamos as redes?
O silêncio toma a sala por um tempo considerável. Os demais alunos, antes dispersos, agora estavam atentos. Ela estava ansiosa para aprender, esperando que o professor retomasse sua fala. (Quando escrevo sobre essa pausa após a pergunta, penso num cenário em que, de forma paralela, estivessem acontecendo outras conversas entre alunos)
Nad: Fico frustrado; eu acho que nós nem tem escolha. Lá na minha área, professor, não é muita gente que sabe o que é essa tal ‘bolha informacional’. Quem tem celular mal sabe
Professor: Admiro essa busca por parte dos alunos em entender além do que é ensinado, aliás, vocês acham que esses papos aqui na sala de aula podem realmente fazer diferença? Sentem que contribuem de verdade para enxergarem as coisas de outra forma? Nad: Acho que ajuda... “tamo” pensando diferente, né? Já é um começo. Só que eu ainda não vejo como suficiente, precisamos de mais. Infelizmente, nossas ideias ficam aqui dentro, entre a gente, e não chegam a quem mais precisa. Há muitos que nunca vão ouvir essas reflexões, que nunca terão chance de questionar as coisas como estamos fazendo agora. A escola deveria encontrar um jeito de romper essa barreira e levar essas discussões para além desse prédio, onde o Estado ignora!
Ale: Estamos numa ‘bolha’, de que adianta entender as coisas daqui, se lá fora ninguém te escuta? Mesmo assim, conseguir abrir os olhos de quem está por perto de fato pode ser um começo, já que ninguém muda o mundo sozinha.
Professor: É compreensível cair na desesperança, quando nossas ideias parecem não ter impacto no “mundo real” ao ficarem confinadas ao campo teórico. Entretanto, quem ganha quando vocês sentem que nada muda? Quem se beneficia quando deixamos de se importar ou se envolver?
Professor: Sem uma base educacional sólida, as pessoas são mais passíveis de acreditarem que são menos capazes. Sentem-se "pequenas" diante do sistema político distante e complexo, como se fosse algo impossível de entender ou mudar. Alienados e impotentes, muitos deixam de participar do processo democrático, convencidos de que suas escolhas não possuem nenhuma significância, logo, nem farão diferença.
Ale: Já não consigo mais acreditar em algo, alguém, quem dirá em políticos. Prefiro não participar desse jogo sujo; nem vejo razão. Votar é escolher em qual mentiroso acreditar.
Nad: Também não sou do tipo que "bota fé" em tudo que vê por aí; parece que a democracia é apenas uma “brisa”. De onde eu vim, o pessoal também não vê sentido em
votar. Não é bom acreditar no que vem de cima; nós "achemo" que é tudo para beneficiar quem tem dinheiro.
Professor: Não acha que foi longe demais, Ale? Se não confiarmos em ninguém, como vamos construir algo juntos? É preciso acreditar nos outros, nos livros, nos nossos pais, em nós professores…
Ale: Professor, mas vamos confiar em quem numa eleição? É difícil demais acreditar que alguém de cima está pensando na gente. Candidatos gastam milhões de reais, que é dinheiro público, em campanhas eleitorais. Tudo parece ser feito para manter as coisas do “jeitinho” que estão, para quem já tem tudo, é claro.
Professor: Por enquanto, observas o “jogo” de fora (como quem diz, ainda não é sua hora), mas em algum tempo estará nele. Acredite, a forma como vê as coisas vai se transformar. Eu sei que o sistema político está longe de ser perfeito, mas o voto é uma das poucas ferramentas que temos para tentar mudá-lo. Desistir nunca vai ser uma solução. (Ver seus alunos céticos quanto ao processo eleitoral o incomodou significativamente. Como educador, seu papel não era apenas ensinar conceitos, mas também formar cidadãos ativos.)
Ale no país das injustiças?
É um convite para raciocinar sobre como as dinâmicas de poder podem silenciar vozes e moldar percepções. Ale questiona a manipulação presente nas redes sociais e o impacto das bolhas informacionais na opinião popular. Nad enfatiza a falta de acesso a uma educação crítica, que impede muitos de notarem toda essa ilusão. O professor, por sua vez, incentiva os alunos a pensar criticamente, mas reproduz preconceitos sobre a capacidade dos jovens de compreenderem problemas complicados. Bem, o enredo permite uma exploração dos conceitos filosóficos abordados por Miranda Fricker.