Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Evolução da Eficiência de Mercados: Desafios e Perspectiva das Finanças Comportamentais, Provas de Finanças

A evolução da hipótese de eficiência de mercados na teoria de finanças, abordando o surgimento de evidências de comportamentos anormais nos retornos de ativos financeiros e a teoria de finanças comportamentais. O texto discute as formas de eficiência de mercados, os estudos de eventos e anomalias, e a importância de considerar o comportamento humano na economia e finanças.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Botafogo
Botafogo 🇧🇷

4.5

(118)

218 documentos

1 / 13

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
1
HIPÓTESE DE MERCADOS EFICIENTES E FINANÇAS
COMPORTAMENTAIS – AS DISCUSSÕES PERSISTEM
Adriano Mussa Edward Yang Ricardo Trovão Rubens Famá
Pontificia Universidade de São Paulo - PUC-SP
RESUMO
A hipótese de mercados eficientes é um dos assuntos mais importantes dentro da teoria de finanças.
Porém, nos últimos anos, com a intensificação dos estudos e o surgimento de evidências da existência
de comportamentos anormais nos retornos dos ativos financeiros (anomalias), esta teoria passou a
ser questionada no meio acadêmico. A discussão do tema é ainda incipiente e objeto de muita
polêmica, tendo, de um lado, os defensores da hipótese de eficiência e, de outro, os adeptos da
corrente das finanças comportamentais. O objetivo do presente trabalho é mostrar a evolução do
estudo e testes da hipótese de eficiência de mercado, abordando o surgimento das finanças
comportamentais, e apresentar evidências favoráveis e contrárias à eficiência de mercado.
Palavras-Chave: Finanças Comportamentais. Hipótese de Mercados Eficientes. Anomalias.
1. INTRODUÇÃO
Para muitos leigos, uma das impressões que se têm quando se pensa em finanças é a
de que se trata de uma área do conhecimento cujo processo decisório é extremamente
racional. Isto é, parte-se da premissa de que é uma ciência exata, baseada em números e que,
portanto, não espaço para a irracionalidade e, sendo assim, as decisões baseadas neles são
acertadas. Isso parece ser uma falácia.
Um dos assuntos mais importantes dentro da teoria de finanças, a hipótese de
mercados eficientes é um dos tópicos que mais se destaca em abrir a polêmica. De acordo com
esta hipótese, o mercado seria considerado eficiente se refletisse rapidamente qualquer
informação disponível nos preços dos ativos, impossibilitando ganhos anormais. Isto
significaria que a posse de informações sobre este mercado não alteraria o retorno esperado.
Este conceito foi proposto por FAMA (1970), e os trabalhos realizados nas décadas de 70 e 80
tentavam comprová-lo. E a conclusão a que se chegava era que o mercado se mostrava
eficiente.
Porém, em meados dos anos 80, o desenvolvimento da computação permitiu aos
pesquisadores a intensificação dos estudos, evidenciando a existência de comportamentos
anormais nos retornos dos ativos financeiros. Estes comportamentos anormais começaram a
tornar alguns aspectos elementares da hipótese de mercados eficientes questionáveis.
Neste contexto, onde diversos estudos mostravam a existência de anomalias, surgiu a
teoria de finanças comportamentais, que, segundo MILANEZ (2003), incorpora conceitos da
Psicologia, da Sociologia e de outras ciências, visando a aproximação da teoria de finanças à
realidade dos mercados financeiros. “As finanças comportamentais consideram que os
investidores podem agir de maneira não racional, impactando consistentemente o
comportamento do mercado.” (KIMURA, 2003, p.03).
Ressalta-se, porém, que o tema é ainda incipiente e objeto de muita discussão no meio
acadêmico, tendo, de um lado, os defensores da hipótese de eficiência e, de outro, os adeptos
da corrente das finanças comportamentais. O principal argumento dos primeiros é que as
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Evolução da Eficiência de Mercados: Desafios e Perspectiva das Finanças Comportamentais e outras Provas em PDF para Finanças, somente na Docsity!

1

HIPÓTESE DE MERCADOS EFICIENTES E FINANÇAS

COMPORTAMENTAIS – AS DISCUSSÕES PERSISTEM

Adriano Mussa Edward Yang Ricardo Trovão Rubens Famá Pontificia Universidade de São Paulo - PUC-SP

RESUMO

A hipótese de mercados eficientes é um dos assuntos mais importantes dentro da teoria de finanças. Porém, nos últimos anos, com a intensificação dos estudos e o surgimento de evidências da existência de comportamentos anormais nos retornos dos ativos financeiros (anomalias), esta teoria passou a ser questionada no meio acadêmico. A discussão do tema é ainda incipiente e objeto de muita polêmica, tendo, de um lado, os defensores da hipótese de eficiência e, de outro, os adeptos da corrente das finanças comportamentais. O objetivo do presente trabalho é mostrar a evolução do estudo e testes da hipótese de eficiência de mercado, abordando o surgimento das finanças comportamentais, e apresentar evidências favoráveis e contrárias à eficiência de mercado.

Palavras-Chave: Finanças Comportamentais. Hipótese de Mercados Eficientes. Anomalias.

1. INTRODUÇÃO

Para muitos leigos, uma das impressões que se têm quando se pensa em finanças é a de que se trata de uma área do conhecimento cujo processo decisório é extremamente racional. Isto é, parte-se da premissa de que é uma ciência exata, baseada em números e que, portanto, não há espaço para a irracionalidade e, sendo assim, as decisões baseadas neles são acertadas. Isso parece ser uma falácia.

Um dos assuntos mais importantes dentro da teoria de finanças, a hipótese de mercados eficientes é um dos tópicos que mais se destaca em abrir a polêmica. De acordo com esta hipótese, o mercado seria considerado eficiente se refletisse rapidamente qualquer informação disponível nos preços dos ativos, impossibilitando ganhos anormais. Isto significaria que a posse de informações sobre este mercado não alteraria o retorno esperado. Este conceito foi proposto por FAMA (1970), e os trabalhos realizados nas décadas de 70 e 80 tentavam comprová-lo. E a conclusão a que se chegava era que o mercado se mostrava eficiente.

Porém, em meados dos anos 80, o desenvolvimento da computação permitiu aos pesquisadores a intensificação dos estudos, evidenciando a existência de comportamentos anormais nos retornos dos ativos financeiros. Estes comportamentos anormais começaram a tornar alguns aspectos elementares da hipótese de mercados eficientes questionáveis.

Neste contexto, onde diversos estudos mostravam a existência de anomalias, surgiu a teoria de finanças comportamentais, que, segundo MILANEZ (2003), incorpora conceitos da Psicologia, da Sociologia e de outras ciências, visando a aproximação da teoria de finanças à realidade dos mercados financeiros. “As finanças comportamentais consideram que os investidores podem agir de maneira não racional, impactando consistentemente o comportamento do mercado.” (KIMURA, 2003, p.03).

Ressalta-se, porém, que o tema é ainda incipiente e objeto de muita discussão no meio acadêmico, tendo, de um lado, os defensores da hipótese de eficiência e, de outro, os adeptos da corrente das finanças comportamentais. O principal argumento dos primeiros é que as

anomalias identificadas não podem ser generalizadas e não são consistentes ao longo do tempo.

Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho é contribuir com o tema, mostrando a evolução do estudo e testes da hipótese de eficiência de mercado, abordando o surgimento das finanças comportamentais, e apresentar evidências favoráveis e contrárias à eficiência de mercado.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A seguir faremos uma apresentação dos pontos mais relevantes no estudo da evolução da teoria da Hipótese de Eficiência de Mercado. Utilizaremos a figura 1 como um instrumento facilitador da exposição. A figura 1 retrata a evolução da teoria em foco e suas imbicações com a psicologia.

Figura 1. Evolução da Teoria em foco e suas imbicações com a psicologia.

3. HIPÓTESE DE MERCADOS EFICIENTES

A base da Hipótese da Eficiência de Mercado (HEM) está na afirmativa de que o preço de um ativo reflete as informações disponíveis sobre a instituição emissora, impossibilitando aos investidores qualquer ganho anormal (retornos superiores ao retorno ajustado ao risco de determinado ativo). O preço deste ativo seria afetado de maneira mais lenta ou mais rapidamente pelo conteúdo informacional disponível no mercado.

FAMA (1970) afirma que nenhuma informação poderia possibilitar aos investidores alguma possibilidade de ganho anormal (retornos superiores ao retorno ajustado ao risco de determinado ativo). De acordo com BREALEY E MYERS (1996), se os mercados forem eficientes, a compra ou a venda de qualquer título ao preço vigente no mercado nunca será

70: Fama

91: Fama 93: Fama; French

52: Markowitz

64: Sharpe

73: Fama; Macbeth

Evolução da Teoria em Finanças

Evolução da Teoria em Psicologia aplicada às Finanças

96: Fama; French

1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Aproximação das Teorias, 1980

92: Fama; French

81: Banz

86: Lakonishok; Shapiro

89: Jaffe; Keim; Westerfield

93: Jegadeesh; Titman

98: Rowenhorst

79: Kahnemann; Tiversky

i.Fornece base conceitual

iii.Detectamanomalias e sugerem novasvariáveis

ii Cria CAPM, modelo de uma variável = beta iv.Criam um novo modelo de 3 variáveis

v. Pesquisam sobre o efeito momento

vi. Corroboram o efeito momento

01:Jegadeesh; Titman x. Corroboram o fator momento

viii. Corrobora o efeito momento Europa

99: Rowenhorst ix. Corrobora o efeito momento Brasil Brasil

a. Cria a Hipótese de Eficiência de Mercado vii.Cria um novo modelo de 4 variáveis

b. Alteração na denominação das três formas de eficiência de mercado

Desenvolvem estudos psicológicos e psicanalísticos sobre tomada de decisão; e criação da Teoria da perspectiva financeira

A Segunda-feiratestam Efeito 80: French

88: Lakonishok e Smidt (Dow Jones);Lembruger, Becker e Chaves (Canadá, Austrália, Inglaterra e Japão)

90: Kato

Atesta Efeito Janeiro^ 83: Keim

97: Carhart

4. MODELOS DE PRECIFICAÇÃO: OS PASSOS FUNDAMENTAIS PARA AS

FINANÇAS MODERNAS

Os modelos de precificação de ativos são um dos assuntos mais discutidos e pesquisados em Finanças. DAMODARAN (1997) recorda que a previsão de retornos, questões relativas sobre como o risco é mensurado, suas recompensas e quanto risco assumir, são fundamentais em decisões de investimento, do momento da alocação de ativos até sua posterior avaliação. Ou seja, o tema é essencial para empresas, administradores e investidores, sejam eles individuais ou pessoas jurídicas.

O trabalho de MARKOWITZ (1952), item “i”, da figura 1, sobre a teoria de carteiras foi um dos mais importantes legados para o desenvolvimento dos modelos de precificação de ativos. Conforme essa teoria, dois termos, a média e a variância dos ativos, formam a base para a tomada de decisão dos investidores racionais, que são sempre avessos ao risco. Assim, se os investidores optarem por aceitar mais risco, exigirão um retorno maior correspondente.

SHARPE (1964), item “ii”, da figura 1, baseado no trabalho de MARKOWITZ (1952), desenvolveu o modelo denominado Capital Asset Pricing Model - CAPM. O CAPM é um dos modelos mais utilizados no mundo até hoje, sendo que seus estudos praticamente dominaram os trabalhos acadêmicos durante mais de três décadas. Por este modelo, o retorno de qualquer ativo é determinado pelo retorno do ativo livre de risco e pelo prêmio de mercado multiplicado pelo fator beta, que mede a sensibilidade dos retornos do ativo em relação à carteira de mercado. Trata-se, portanto, de um modelo de fator único, o beta, que seria o fator que explicaria a diferença de retorno exigido entre os ativos, numa relação linear.

Os dois autores citados são fortes referências dentro do que se denomina as Finanças Modernas e têm suas publicações e estudos anteriores à HME.

Diversos autores do mundo inteiro passaram então a testar empiricamente a validade do CAPM. Muitos pesquisadores encontraram evidências no sentido de validação do modelo. Porém, o desenvolvimento dos testes trouxe o debate sobre suas deficiências, principalmente por tratar-se de um modelo no qual apenas uma variável é responsável pela determinação do retorno dos ativos. Dentre os estudos que identificaram tais ineficiências e terminaram por caracterizar algumas anomalias de mercado, pode-se citar BANZ (1981), JAFFE, KEIM E WESTERFIELD (1989) e FAMA E FRENCH (1992), grupo de pesquisadores cuja referência na figura 1 apontam para o item “iii”. Muitos destes autores passaram então a sugerir que novas variáveis fossem agregadas ao CAPM.

Na busca por fatores que pudessem melhorar o poder explicativo do CAPM e capturar anomalias do mercado, FAMA E FRENCH (1993), formularam o modelo dos três fatores, vide item “iv” na figura 1.. Este modelo, segundo os autores, poderia explicar significativamente os retornos das ações. Os fatores de risco do modelo são o mercado, conforme definido pelo CAPM original, o tamanho da empresa, definido pelo valor de mercado do patrimônio líquido e o índice Book-to-Market ou B/M, que por definição é a relação entre o valor contábil e de mercado do patrimônio líquido.

Segundo os próprios pesquisadores FAMA E FRENCH (1996), o modelo de três fatores captura a maior parte das anomalias não assimiladas pelo fator mercado, exceto a anomalia denominada momento. Um grande número de estudos, iniciados por JEGADEESH E TITMAN (1993), item “v” da figura 1, demonstrou que estratégias de momento, que envolvem a compra (venda) de ações de tiveram um bom (mau) desempenho nos últimos doze meses, tendem a produzir retornos anormais positivos durante o ano subseqüente.

Uma vez identificado o fator momento, alguns estudos, sendo pioneiro o trabalho de CARHART (1997), item “vii”, da figura 1, passaram a adicioná-lo ao modelo dos três fatores

de FAMA E FRENCH (1993), construindo o que ficou conhecido como modelo dos quatro fatores. Em seu estudo, CARHART (1997) encontrou evidências empíricas para afirmar a superioridade do modelo dos quatro fatores em relação ao modelo dos três fatores, na explicação dos retornos.

Desta maneira, podemos inferir que, principalmente sobre MARKOWITZ (1952) e FAMA (1970), está estruturada uma das premissas fundamentais das finanças modernas, que, segundo HALFELD E TORRES (2001), é a idéia de que o homem é um ser perfeitamente racional que, no processo de tomada de decisão, é capaz de analisar todas as informações disponíveis e considerar todas as hipóteses para a solução do problema.

A hipótese de racionalidade ilimitada é colocada em cheque por estudos psicológicos e psicanalíticos. Um dos primeiros estudos a questionar esse pressuposto foi realizado por KAHNEMAN E TVERSKY (1979), vide setas apontadas para baixo no eixo da teoria em psicologia aplicada às finanças, na figura 1. Tal trabalho mostrou evidências de que, em uma série de escolhas proporcionadas a diversas pessoas, a teoria da utilidade esperada era desrespeitada, dependendo da forma como o problema era abordado. Assim, os autores elaboraram um modelo alternativo, chamado de teoria da perspectiva, segundo a qual o indivíduo é avesso ao risco para ganhos, mas propenso ao risco para perdas.

5. FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

A teoria de finanças comportamentais surgiu neste cenário, como uma tentativa de aperfeiçoar o modelo moderno de finanças, introduzindo estudos sobre o comportamento e irracionalidade do homem e aplicando conceitos de outras áreas (como Psicologia e Sociologia) à economia para explicar as decisões financeiras dos indivíduos e aproximar as teorias econômicas e das finanças à realidade dos mercados financeiros. Esta linha de pesquisa tenta identificar como as emoções e os erros cognitivos podem influenciar as decisões de investidores e como esses padrões de comportamento podem determinar mudanças no mercado. Não se espera por uma série de razões comportamentais e limites à arbitragem, que os mercados sejam eficientes. De acordo com BRAV E HEALTON (2002), para as finanças comportamentais, os mercados podem ser ineficientes, porque investidores irracionais podem levar os preços além dos níveis racionais por algum tempo.

KAHNEMAN E TVERSKY (1979) elaboraram a Teoria da Perspectiva, segundo a qual o indivíduo é avesso ao risco para ganhos, mas propenso ao risco para perdas. De acordo com CASTRO JÚNIOR E FAMA (2002), uma pessoa avessa ao risco é aquela que prefere a certeza de um ganho x a qualquer prospecto de risco cujo ganho esperado seja x. No que se refere a perdas, as pessoas preferem até correr o risco de perder uma quantia maior do que x, se tiverem, ainda, a possibilidade de não perder nada, ao invés da certeza de perder x. Em outras palavras, KAHNEMAN E TVERSKY (1979) constataram que as pessoas sentem muito mais a dor da perda do que o prazer obtido, com um ganho equivalente. Esta proposição contraria o preceito microeconômico da Teoria da Utilidade, que supõe, que o investidor avalia o risco de um investimento de acordo com a mudança que este proporciona em sua riqueza. Isto levou os dois pesquisadores a propor uma nova função de valor, conforme o gráfico 1, que mostra o comportamento avesso ao risco para ganhos e propenso ao risco para perdas. Esta nova curva tem como principais características a descontinuidade na origem (é geralmente côncava para ganhos e convexa para perdas) e o declínio da curva após este ponto (é mais íngreme para perdas do que para ganhos).

permitiu a averiguação de algumas anomalias nos retornos dos ativos. Essas anomalias significavam que havia possibilidade de obtenção de ganho ou perdas anormais pelos agentes do mercado, fato que ia de encontro à HEM. Os defensores da teoria neoclássica afirmam, entretanto, que tais anomalias acontecem de maneira aleatória e não provocam resultados capazes de, quando somados, contrapor-se àqueles previstos pelos modelos baseados em expectativas racionais. Vários estudiosos, entre eles Fama, contestam os resultados encontrados pelos pesquisadores das Finanças Comportamentais alegando a falta de generalidade. As chamadas anomalias nada mais seriam do que resultados aleatórios, ou então ocorrem por problemas de especificação dos testes (MILANEZ, 2003).

A seguir, apresentamos as principais anomalias já estudadas e testadas empiricamente por estudiosos das Finanças Comportamentais, na figura 1 podemos verificar a posição da publicação na evolução da teoria da psicologia aplicada às finanças pela flechas posicionadas na parte inferior da figura.

6.1. O EFEITO DIA DA SEMANA

O efeito segunda-feira é caracterizado pelos diferentes retornos diários dos ativos ao longo dos dias da semana. Estudos feitos no mercado americano nos anos 70 e 80 mostram que os retornos nas segundas-feiras são, na média, menores do que os retornos nos outros dias.

FRENCH (1980) estudou a distribuição dos retornos diários do Standard and Poor’s (S&P), índice composto pelas ações das 500 maiores empresas negociadas na Bolsa de Nova York. O período estudado foi de 1953 a 1977. Os resultados permitiram concluir que os retornos das segundas-feiras foram significativamente negativos, os retornos das terças-feiras ficaram próximos a zero e os das quartas, quintas e sextas-feiras foram significativamente positivos.

LAKONISHOK E SMIDT (1988) realizaram um estudo utilizando retornos diários do índice Dow Jones Industrial Average , no período de 1897 a 1986. Os resultados demonstraram que, nas segundas-feiras, as taxas de retorno tendem a ser significativamente negativas.

LEMGRUBER, BECKER E CHAVES (2000) afirmam que, além dos estudos no mercado norte-americano, foram realizadas pesquisas em outros mercados de capitais, como Canadá, Inglaterra, Japão e Austrália. Os resultados mostraram que, para os mercados canadense e inglês, os retornos médios nas segundas-feiras são significativamente negativos. Já nos mercados australiano e japonês, o retorno médio negativo ocorre nas terças-feiras, sendo que nas segundas-feiras o retorno esperado é praticamente nulo. Nestes dois mercados, no último dia de negociação, sexta-feira para Austrália e sábado para o Japão, os retornos médios são significativamente positivos.

KATO (1990), realizou um estudo no mercado de ações do Japão, com retornos diários do índice TOPIX , abrangendo o período 1978 a 1987. Como conclusão, tanto as segundas quanto as terças-feiras apresentaram retornos negativos. O efeito segunda-feira é observado até mesmo quando o último dia de negociação da semana anterior é a sexta-feira.

6.2. O EFEITO MÊS-DO-ANO OU EFEITO JANEIRO

A partir do final dos anos 70, recursos computacionais cada vez mais poderosos permitiram aos pesquisadores aplicar diferentes tipos de testes estatísticos e matemáticos na análise dos mercados financeiros. Diversos trabalhos, desde então, vêm apontando evidências contrárias à eficiência de mercado. Entre tais evidências destaca-se o chamado efeito janeiro

que, segundo HAUGEN E JORION (1996), é, talvez, o exemplo mais conhecido de comportamento anormal no mercado de ações em todo o mundo. A INVESTOR HOME (2007) destaca que o mês de janeiro tem sido, historicamente, o melhor mês para se investir em ações. O efeito janeiro é particularmente intrigante porque não desapareceu mesmo após ter sido detectado e difundido por quase duas décadas. KEIM (1983) examinou, mês a mês, a relação entre retornos anormais e tamanho das empresas, representado pelo valor de mercado das ações. A análise compreendeu o período de 1963 a 1979, envolveu empresas listadas na NYSE e AMEX e permitiu concluir que janeiro apresentou médias de retorno anormais maiores do que os outros onze meses.

No Brasil, DA COSTA JR (1990), procurou evidências da anomalia estudando cotações mensais do Ibovespa, deflacionadas e não deflacionadas, durante o período de 1969 a

  1. Os resultados não permitiram detectar nenhum efeito mês-do-ano, seja com retornos deflacionados ou não.

Algumas hipóteses são sugeridas para explicar o efeito janeiro. De acordo com DA COSTA JR (1990), a primeira delas, tax loss selling, sugere que os investidores são motivados a vender, em dezembro, as ações que sofreram perdas de valor ao longo do ano. Isso ocorre em mercados onde existe taxação sobre ganho de capital. Em janeiro seguinte, as ações que tiveram declínio no fim do exercício anterior, apresentam retorno acima do esperado.

Estudos foram feitos em diversos mercados no intuito de investigar a hipótese de taxação e, ainda, se o efeito janeiro era meramente um fenômeno estatístico. THALER (1987) observa que as evidências internacionais sugerem que, apesar das taxas parecem relevantes para o efeito janeiro, elas não conseguem explicá-lo inteiramente. Por exemplo, foi observado o efeito janeiro no Japão e no Canadá, em períodos quando não havia a taxação.

Outra, chamada hipótese da informação, diz que o mês de janeiro marca o início e o fim de vários eventos financeiros e informacionais potencialmente importantes. Para a maioria das empresas, janeiro significa o início do ano contábil, quando são feitos os anúncios preliminares dos resultados do próximo ano. De acordo com KEIM (1983), este é um período de grande incerteza acompanhado por tentativas de antecipação, devido à eminente liberação de informações importantes.

Por fim, o meio acadêmico aponta como possível causa do efeito mês-do-ano a prática da estratégia window dressing , que consiste no processo de tornar suas carteiras mais atraentes. De acordo com LAKONISHOK ET AL (1991), os investidores institucionais se mostram mais agressivos em se livrar das ações perdedoras, especialmente no período imediatamente anterior ao fim do ano, quando devem tornar públicas suas carteiras.

Segundo NG E WANG (2004), as duas hipóteses, tax loss selling e window dressing , são as mais populares entre os acadêmicos. Ambas produzem comportamentos sazonais de retornos similares, tornando difícil a distinção entre as duas explicações e a elaboração de conclusões definitivas.

6.3. O EFEITO MOMENTO

Uma das principais anomalias evidenciadas em mercados acionários de todo o mundo é o chamado efeito momento, já citado na seção anterior sobre precificação de ativos. De acordo com este estudo, a estratégia de venda de ativos que tiveram um mau desempenho passado e a compra de ativos que tiveram um bom desempenho passado, leva a retornos anormais positivos, durante os 12 meses subsequentes.

sua habilidade em vencer o mercado está acima da média. Isto, provavelmente, ajuda a explicar o excesso de negociações dos títulos.

6.5. AVERSÃO À PERDA

A aversão à perda é um dos principais conceitos trabalhados pelas Finanças Comportamentais e foi proposto pela primeira vez pelo anteriormente citado estudo de KAHNEMAN E TVERSKY (1979) no final dos anos 70. O fato das pessoas em geral sentirem mais a dor da perda de determinada quantia do que o prazer proporcionado pelo mesmo ganho, faz surgir, no mercado financeiro, um fenômeno conhecido como a aversão à realização das perdas, também chamado de efeito disposição. Segundo ODEAN (1998) esse efeito pode ser definido como a realização dos investimentos lucrativos numa velocidade maior do que a realização dos investimentos não-lucrativos, exceto no mês de Dezembro. Para BARBERIS E HUANG (2001) as evidências sugerem que o grau de aversão à perda depende de ganhos e perdas ocorridas anteriormente. Uma perda que vem após um ganho é menos dolorosa do que o normal, porque é abrandada pelo ganho. Por outro lado, uma perda que ocorre após outras perdas é mais dolorosa do que o normal. Os investidores podem, racional ou irracionalmente, escolher manter suas posições perdedoras e vender as vencedoras. De acordo com ODEAN (1998) se os retornos esperados futuros para as posições perdedoras forem maiores os das vencedoras, os investidores estariam agindo de maneira racional ao segurar as primeiras e se desfazer das últimas. Entretanto, se a expectativa de retorno futuro das ações hoje em baixa for menor do que a das ações em alta e, mesmo assim, os investidores estiverem relutantes em se desfazer das perdedoras, eles estarão agindo de forma irracional.

6.6. A MALDIÇÃO DO GANHADOR

A maldição do ganhador foi discutida na literatura pela primeira vez por três engenheiros da Atlantic Richfiel no início dos anos 70. Estudos comprovaram que em fusões, aquisições e leilões, o desempenho posterior da ação da empresa compradora é bastante inferior ao desempenho das ações da empresa adquirida. ROSS (2002) analisa vários estudos dos efeitos de fusões e aquisições sobre os preços das ações e conclui que os resultados dos estudos de eventos sugerem que os acionistas de empresas adquiridas obtém ganhos substanciais a curto prazo, quando a operação é bem sucedida. Os acionistas das empresas compradoras, por sua vez, obtêm ganhos bem menores. De acordo com THIEL (1988), a maldição do vencedor, claramente, não é consistente com as noções recebidas de racionalidade e equilíbrio econômico.

ROLL (1986) propõe uma explicação para as empresas estarem dispostas a pagar prêmios substanciais acima do valor de mercado para adquirir outra firma. As empresas compradoras, na maioria das vezes com abundância de capital, identificam potencias empresas para compra e fazem suas próprias avaliações, que incluem os benefícios da sinergia entre as empresas. Em seguida o valor é comparado ao preço de mercado da empresa alvo. Se a avaliação levar a um valor menor do que o de mercado, a oferta é abandonada. Caso a avaliação aponte para um valor acima do preço de mercado da empresa a oferta é feita. MILANEZ (2003) assevera que esse tipo de negociação, geralmente, leva à maldição do vencedor porque, normalmente, as estimativas do valor da sinergia superam o que acontece de fato após a aquisição.

6.7. EFEITO TAMANHO DA EMPRESA.

As ações de empresas menores apresentariam retornos maiores do que as ações de empresas grandes. De acordo com FAMA E BRUNI (1998), possivelmente, a associação

entre retornos e tamanho (valor de mercado) da empresa foi detectada pela primeira vez por BANZ em 1981. Desde então, outros autores têm encontrado evidências sobre a importância do tamanho na predição dos retornos das ações.

No Brasil, um estudo realizado por Halfeld Alves nos anos 90, quando foi feita uma análise comparativa do desempenho entre as ações mais valorizadas e as menos valorizadas do mercado brasileiro, permitiu concluir o mesmo que pesquisas de outros países. Ou seja, ações menos valorizadas value (menor relação Preço/Valor Patrimonial), têm, em média, um desempenho melhor do que ações mais valorizadas growth (maior relação Preço/Valor Patrimonial). Alguns autores argumentam que as ações de empresas menores não possuem liquidez suficiente para possibilitar retornos anormais, assim a anomalia simplesmente não existiria.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta breve revisão histórica, podem-se apresentar os principais conceitos desenvolvidos a partir da metade do último século passado. Tais conceitos deram início ao desencadeamento de teorias, modelos, contradições e acertos. Pode-se dizer que graças à aproximação das ciências sociais, da psicologia e a antropologia ao estudo de finanças, esta última ganhou a possibilidade de ampliar seu foco de estudo infinitamente e um caráter mais “humano” ao perder um pouco de seu rótulo de ciências exatas. Pelo menos até que se prove que o processo de tomada de decisão segue um padrão lógico, coerente e consistente como a de um cálculo aritmético.

Constata-se que, de um lado existem os defensores da idéia das Finanças Modernas e que as anomalias tratam-se apenas de pequenos ajustes nos modelos teóricos, e, do outro lado, uma vertente que levanta a bandeira da necessidade de aproximação da teoria à prática dos mercados financeiros, cujo estandarte dá força para que as Finanças Comportamentais ganhem ao menos um status de uma linha de pesquisa paralela e legítima.

Porém, como sempre aconteceu, o mercado não escolhe um modelo para usufruto por questões ideológicas. Ela escolhe por resultado. E, seja qual for as finanças que estiver vencendo o embate, ganha o mercado, pois terá mais modelos e teorias cujo intento sempre foi e sempre será a diminuição de riscos e a otimização das escolhas para a geração de riqueza.

8. REFERÊNCIAS

BARBERIS, N.; HUANG, M., Mental Accounting, Loss Aversion, and Individual Stock Returns, The Journal of Finance, v.56, n. 4, 1246-1292, 2001.

BANZ, Rolf W., The relation between return and market value of common stocks, Journal of Financial Economics, v.9, 3—18, 1981.

BLACK, F. Noise. The Journal of Finance. Cambridge, v. 41, p.529-543, jul, 1986.

BRAV, A.; GECZY, C.; GOMPERS, P. A. Is the abnormal return following equity issuance anomalous? Journal of Financial Economics, v. 56, n. 2, p.209-249, 2000.

BRAV, A.; HEALTON, J.B. Competing theories of financial anomalies. The Review of Financial Studies., v. 15, n. 2 Special Issue: Conference on market frictions and behavioral finance. p.575-606, 2002.

BREALEY, R. A.; MYERS, S. C. Princípios de finanças empresariais. 3.ed. Lisboa: McGraw-Hill, 1996.

Kato, K. Weekly Patterns in Japanese Stock Returns, Management Science, 36, 1031-1043,

KEIM, D. B., Size-related anomalies and stock return seasonality: further empirical evidence, Journal of Financial Economics 12, 13-32, 1983.

KIMURA, H. Aspectos comportamentais associados às reações do mercado de capitais. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 2, n. 1, 2003.

LAKONISHOK, J. et al. Fundamentals and stock returns in Japan. The Journal of Finance, v. 46, n.5, p.1739-1765, 1991.

FRENCH, K. R. Stock returns and the weekend effect. Journal of Financial Economics, V. 8, n. 1, 55-70, 1980.

LAKONISHOK, J., SMIDT, S. Are seasonal anomalies real? A ninety-year perspective: The Review of Financial Studies, v. 1, 403-425, 1988.

LEMGRUBER, E.F.; BECKER, J.L.; CHAVES, T.B. O efeito de fim de semana no comportamento de retornos diários de índices de ações. In: Costa Jr., N.; Leal, R.; Lemgruber, F. (Organizadores). Mercado de capitais: análise empírica no Brasil. São Paulo: Atlas, 2000

LIEW, J.; VASSALOU, M. Can book-to-market, size and momentum be risk factors that predict economic growth? Journal of Financial Economics, v. 57, n. 2, p.221-245, 2000.

MARKOWITZ, H. M. Portfolio Selection. Journal of Finance, v. 7, n. 1, p. 77-91, 1952.

MILANEZ, D.Y. Finanças comportamentais no Brasil. 2003. 92 f. Dissertação (Mestrado em Economia das Instituições e do Desenvolvimento) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

NG, L., WANG, Q, Institutional Trading and the Turn-of-the-year Effect, Journal of Financial Economics, v. 74, n. 2, 343-366, 2004.

ODEAN, T. Are investors reluctant to realize their losses? The Journal of Finance. Cambridge, v. 53, n. 5 p.1775-1798, oct, 1998.

ROLL. R. The hubris hypothesis of corporate takeovers. The Journal of Business. v. 59, n. 2, p.197-216, apr, 1986.

ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. Administração Financeira: Corporate Finance. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

ROUWENHORST, K. G. International momentum estrategies. Journal of Finance, v. 53, n. 1, p.267-284, 1998.

ROUWENHORST, K. G. Local return factors and turnover in emerging stock markets. Journal of Finance, v. 54, n. 4, p.1439-1464, 1999.

THALER. R.H. Anomalies: The January effect. The Journal of Economic Perspectives. v. 1, n. 1, p.197-201, 1987.

THIEL, S.E. Some evidence on the winner’s curse. The American Economic Review. v.78, n. 5, p. 884-895, dec, 1988

SHARPE, W. F. Capital Asset Prices: A Theory of Market Equilibrium under Conditions of Risk. Journal of Finance, v.19, n. 3, p. 425-442, 1964.

Link: INVESTOR HOME, Calendar Anomalies. http://www.investorhome.com/anomcal.htm