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Re- comendam, por isso, a exploração cirúrgica bilateral nas crianças, quando se diagnostica hérnia inguinal só num lado. CLASSIFICAÇÃO. Há três tipos de ...
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Assistente da 1* Clínica Cirúrgica (Prof. Alípio Correia Netto) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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INCIDÊNCIA
N o Hospital das Clínicas, n u m período de 10 anos (1951 a 1960), tive- mos a seguinte distribuição: 0 a 10 anos, 450 casos (17,2%); 11 a 20 anos, 317 casos (12,1%); 21 a 30 anos, 447 casos (17,1%); 31 a 40 anos, 324 casos (12,4%); 41 a 50 anos, 340 casos (13,0%); 51 a 60 anos, 355 casos (13,6%); 61 a 70 anos, 263 casos (10,1%); 71 a 80 anos, 89 casos (3,4%); 81 a 90 anos, 19 casos (0,7%); 91 a 100 anos, 1 caso (0,04%).
Comparando-se essas duas estatísticas, temos: a — incidência semelhan- te nas pessoas com menos de 30 anos (46,4% na estatística do H C e 50,4% na da S C ) ; b — leve predomínio no período dos 30 a 60 anos no grupo da S C (45,4%) sobre o H C (39,0%); c — evidente predomínio dos maiores de 61 anos no grupo do H C (14,2%) sobre o da S C (4,2%); os progressos enormes no campo da anestesia e do pré e pós-operatório permitiram, no Hospital das Clínicas, que se indicasse operação a u m número de pessoas idosas muito maior do que acontecia antes.
c) Tipos de hérnias — As hérnias oblíquas externas são mais freqüen- tes que as diretas, tanto nos homens como nas mulheres. Nestas, a dife- rença e m favor das oblíquas externas é muito maior, pois as hérnias di- retas são raras no sexo feminino. Dos 403 casos de hérnias inguinais e m homens que referimos, 275 (68,2%) correspondiam a hérnias oblíquas externas e 128 (31,8%) a dire- tas. Já na estatística do H C , que engloba casos dos dois sexos, a predo- minância das oblíquas externas é bem maior: dos 1.149 casos e m que se refere o tipo da hérnia, 945 eram de oblíquas externas (81,8%) e apenas 204 de hérnias diretas (18,2%). Quanto ao lado e m que surge a hérnia, na estatística da Santa Casa temos os seguintes dados: a) oblíquas externas: 56,7% à direita, 31,3% à esquerda e 12,0% bilaterais; b) diretas: 40,6% à direita, 32,2% 'à es- querda e 27,2% bilaterais. Quanto à maior freqüência à direita, nossos dados concordam com os de vários autores estrangeiros. Quanto à inci- dência das hérnias bilaterais, não. Várias estatísticas que compulsamos re- ferem serem mais freqüentes as hérnias oblíquas externas bilaterais do que as diretas bilaterais. Pinus^20 e Sparkman2 4^ encontraram freqüência de hérnias bilaterais na infância muito maior do que se podia prever. Re- comendam, por isso, a exploração cirúrgica bilateral nas crianças, quando se diagnostica hérnia inguinal só n u m lado.
CLASSIFICAÇÃO
Há três tipos de hérnias inguinais: oblíqua externa, direta e oblíqua interna (fig. 1). N a primeira, o saco herniário penetra no canal inguinal através do orifício interno, portanto para fora da artéria epigástrica. Nas hérnias pequenas, o saco não atinge o anel inguinal externo, ficando dentro do canal inguinal. Mais freqüentemente, costuma ultrapassá-lo, abaulando a parede a esse nível, ou pode mesmo descer até o escroto (hérnias ingui- noscrotais). Nesta eventualidade, a hérnia pode atingir volumes enormes, como o de u m a cabeça de criança.
Fig. 2 — Parede abdominal anterior, vista pela sua face peritoneal: 1, fosseta inguinal exter- na; 2, fosseta inguinal média; 3, arcada cru- ral; 4, ligamento de Gimbernat; 5, fosseta inguinal interna; 6, artéria e veia epigástri- cas; 7, saco de u m a hérnia crural (seccio- nado); 8, vaso anômalo, nascendo da artéria ilíaca externa, e formando a artéria obtura- dora. (Note-se que êle passa sobre o ligamento de Gimbernat).
implantadas por larga base. Chegam elas à região inguinoscrotal pelo re- laxamento de seus meios de fixação, deslizando ao longo da parede poste- rior da região inguinal. C o m o conseqüência, na parede anterior da hérnia encontramos pele, subcutâneo e peritônio, recobrindo as alças delgadas con- tidas na cavidade herniária, enquanto a parede posterior é constituída pelo intestino que deslizou (fig. 3). H á hérnias inguinais de crescimento bizarro, como no caso das intra- parietais, e m que o saco e seu conteúdo não acompanham o cordão esper- mático, mas caminham pelo subcutâneo da região inguinal ou pré-vesical^13.
ETIOLÓGIA
Devemos considerar, na etiológia das hérnias inguinais, as causas pre- disponentes e as desencadeantes^10. As causas predisponentes são represen- tadas por fraquezas, geralmente congênitas, da região inguinal. As desen- cadeantes consistem nos esforços violentos que, agindo sobre o local enfra- quecido, levam ao aparecimento do saco herniário. O problema varia, conforme se trate de hérnia oblíqua externa ou di- reta, e por isso as estudaremos e m separado.
C o m o sabemos da embriologia, os testículos formam-se nas regiões lom- bares, junto aos rins. Note-se que são irrigados pelas artérias espermáti- cas, ramos da aorta, as quais nascem próximo das artérias renais. Entre o 6.° e o 7.° mês de vida intra-uterina, os testículos descem ao longo da
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Fig. 3 — Hérnia por escorregamento.
tido dor ou sensação de rotura, mas terem encontrado casualmente a sa- liência junto ao púbis. C o m o tempo, a tumoração vai aumentando de volume, podendo ou não atingir o escroto. N o início, desaparece e m repouso e só surge aos esforços; posteriormente, ela persiste m e s m o e m repouso, sendo necessário reduzi-la com manobras manuais. Podem surgir dores ou sensação molesta de peso no local, irradiadas às vezes para o abdome. Quando penetram alças no interior do saco herniário, há tração sobre o meso e podem aparecer náuseas e vômitos.
Exame físico — a) Inspeção: as pequenas hérnias situam-se na região inguinal, junto ao púbis, abaulando a pele da região e assumindo aspecto globoso. Quando se manda o paciente fazer u m esforço, percebe-se que a tumoração aumenta nitidamente de tamanho. Nas pessoas gordas, as hérnias inguinais pequenas podem não ser visí- veis, percebendo-se apenas à palpação. As grandes hérnias invadem tam- b é m o escroto e t o m a m praticamente toda a região inguinal.
b) Palpação: É de grande valor, permitindo verificar: 1 — Consis- tência da tumoração (flácida, elástica, etc); 2 — Conteúdo: as alças são reveladas pelo ruído hidraéreo (gargarêjo); 3 — Redutibilidade pelas ma- nobras manuais; 4 — Exploração do canal inguinal: deprimimos, com o in- dicador, a pele do escroto a uns 2 c m abaixo da espinha do púbis e bus- camos o anel inguinal externo; pesquisamos os pilares e vemos se são flá- cidos ou tensos; verificamos se o anel é permeável apenas à ponta do dedo ou se o dedo nele penetra com folga; mantendo o dedo introduzido no canal inguinal, mandamos que o paciente contraia os músculos do abdome (geralmente ordenamos que sopre fortemente sobre o dorso da m ã o direita); quando há hérnia oblíqua externa, o saco herniário empurra a ponta do dedo e o envolve; nas hérnias diretas, sentimos o impulso sobre o lado do dedo; 5 — Nunca esquecer de palpar,.cuidadosamente, os elementos do cor- dão, pesquisando possível varicocele e quistos do cordão. Verificar ainda o aspecto e a sensibilidade do testículo e do epidídimo.
c) Percussão: Som timpânico, quando houver alças na hérnia; maciço, e m caso contrário.
d) Ausculta: Ouvem-se ruídos hidraéreos nas hérnias que apresentam alças intestinais.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
As pequenas hérnias podem ser confundidas com gânglios inguinais en- fartados, cistos do cordão, aneurismas da femoral ou com tumores benignos (lipomas, fibromas, neurinomas). O exame cuidadoso da região, principal- mente do anel inguinal, permite a fácil diferenciação.
As grandes hérnias inguinoscrotais devem ser distinguidas das hidroce- les e do linfedema do escroto, da infiltração urinosa das bolsas e dos tumo- res do testículo e epidídimo. Distinguem-se da hidrocele vaginal volumosa
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EVOLUÇÃO E COMPLICAÇÕES
esse processo não é adotado. A incisão abrange pele e subcutâneo e sec- ciona os vasos da região, os quais são pinçados e ligados com categute 0-0.
Abertura do canal inguinal — Exposta a aponeurose do grande oblíquo, é ela aberta com bisturi, na direção de suas fibras, a cerca de 2 c m para dentro da arcada. Abre-se o anel inguinal externo na altura das fibras arciformes, isto é, no vértice da fenda. Descolam-se os bordos mediai e lateral da aponeurose, expondo-se a arcada, o cordão espermático e os músculos pequeno oblíquo e transverso. Se se tratar de hérnia direta, encontraremos abaulamento da fascia transversalis. As grandes hérnias oblíquas externas distendem o cordão e praticamente tomam todo o campo cirúrgico. As pequenas, para serem vistas, precisam ser pesquisadas no meio do cordão, após termos aberto a túnica fibrosa comum. O saco her- niário é reconhecido pelo seu aspecto esbranquiçado e brilhante.
Libertação do saco herniário — O saco deve ser libertado disse- cando-se entre êle e os tecidos circunvizinhos, que não devem ser lesados; cuidados •especiais devem ser tomados com o deferente e os vasos do cordão espermático. Nas hérnias diretas, o descolamento do saco é bem mais fácil, porque, como vimos, elas são extraíuniculares; nas hérnias inguinais das crianças ou dos jovens, as paredes do saco, muito delgadas, são perfuradas com facilidade. A o isolar o saco das veias do cordão, quando estas são per- furadas, devemos fazer hemostasia cuidadosa, a fim de serem evitados os hematomas pós-operatórios; infectam-se com freqüência, determinam supu- rações, responsáveis por numerosas recidivas. O saco deve ser isolado até acima de seu colo.
Tratamento do conteúdo do saco herniário — O conteúdo mais freqüente é constituído de alças delgadas e epíploon; nas grandes hérnias, é c o m u m o epíploon achar-se aderido à parede interna do saco; deverá ser reseccado, seccionando-se sempre entre duas pinças; não havendo aderên- cias, repô-lo simplesmente na cavidade abdominal. Nas hérnias estrangula- das e m e s m o nas outras, jamais reduzir o conteúdo do saco antes de abri-lo e examinar a viabilidade das alças nele contidas. As alças que apresentarem aderências entre si e a parede do saco devem ser cuidadosamente libertadas, evitando-se lesão de sua parede. Pode surgir u m a dificuldade, nas hérnias enormes, cujas vísceras perderam o "di- reito de residência" na cavidade abdominal; sendo sua reintrodução absolu- tamente impossível, o cirurgião será obrigado a ressecar segmentos de alça. Os autores antigos relatam terem sido obrigados a isso numerosas vezes; hoje, com os progressos da técnica e principalmente com boa anestesia, que permite relaxamento muscular completo, praticamente não existe mais o problema, pois sempre se consegue reintroduzir as alças na cavidade ab- dominal.
Tratamento do saco herniário — Nas hérnias cujo colo não é muito largo, procede-se ao fechamento por transfixação simples (fig. 5). Deve-se tomar cuidado para não ser apanhada alguma alça durante a transfixação; verificar também se o saco herniário não apresenta a bexiga e m sua pa- rede, pois são muitos os casos referidos na literatura de lesão da bexiga,
durante o fechamento do saco. Nos casos e m que o colo é muito largo, o fechamento será feito com sutura contínua. E m nosso Serviço, não se usa a manobra de Barker (apud Christman e col.^6 ), no tratamento do saco das hérnias oblíquas externas; essa manobra consiste e m levar o local do colo amarrado para u m ponto situado acima, passando-se o fio da amar- radura através dos músculos pequeno oblíquo e transverso. Nas hérnias diretas, m e s m o nas volumosas, não é necessário abri-lo; faz-se sutura cir- cular e afundamento do peritônio; podem ser necessárias duas ou três su- turas de afundamento.
Fig. 5 — Fechamento do colo do saco herniá- rio, por transfixação.
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a fascia transversalis. Outros julgam que, no processo original, só são apanhados os músculos. D e qualquer forma, quando hoje se realiza a técnica de Bassini, apa- nha-se sempre a fascia, sob pena de permitirmos recidivas mais freqüentes.
Processo de Andrews V,^8 ,^22 ,^23 — É o melhor método para todas as hérnias diretas, sendo também recomendado para as grandes hérnias oblíquas externas dos adultos. É êle o processo mais empregado na 1* Clínica Cirúrgica. E. Willy Andrews (apud Ravitch e Hitzrot^21 ) contribuiu, e m 1895, com a idéia do imbricamento dos retalhos, no tratamento da hérnia. Acentua a importância da boa hemostasia: "para as suturas terem sucesso, deve haver contato de células vivas, não envoltas e m coágulos" O hematoma exige drenagem e favorece a supuração. Nas hérnias oblíquas externas, a primeira sutura é feita levando-se o tendão conjunto e a fascia transversalis à arcada (fig. 6). O anel inguinal interno deve ficar apenas permeável ao cordão; quando o saco hernário fôr volumoso, tendo dila- tado muito esse anel, é indispensável dar pontos, abaixo e acima do cordão esper- mático, de forma a estreitar o anel inguinal interno, evitando-se a recidiva por aí. A segunda sutura é feita entre o lábio mediai da aponeurose do grande oblíquo e a arcada, por trás do cordão, de modo a reforçar a parede posterior do canal inguinal. A terceira sutura é feita com imbricamento do lábio lateral da aponeurose do grande oblíquo, por cima do cordão. Dessa forma, o cordão caminha, e m certa extensão, e m u m trajeto inteiramente novo, forrado por aponeurose adiante e atrás.
Fig. 6 — Primeiro plano de sutura, segundo o método de Andrews, unindo a fascia trans- versalis à arcada, por trás do cordão.
E m 1924, outro autor, Edmond Andrews, após estudar o problema das suturas músculo-aponeuróticas, propôs que, na primeira sutura, não se apanhem os músculos pequeno oblíquo e transverso, mas só a fascia transversalis *. Essa modificação foi baseada e m numerosos estudos, os quais provaram que as suturas entre músculos e aponeuroses dão resultados nitidamente inferiores àqueles entre dois tecidos fibrosos. Nas hérnias inguinais diretas, há abaulamento, maior ou menor, do triângulo de Hessert e é necessário, antes de realizar a primeira sutura descrita, proceder ao afundamento do saco herniário. Êle se realiza, pelo processo de Andrews, mediante u m a ou duas suturas e m bolsa, com fio inabsorvível.
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E m certas circunstâncias, principalmente quando se trata de cordão espermático muito espesso, não conseguimos fazer o imbricamento como é recomendado no pro- cesso de Andrews, conservando o cordão entre os dois lábios da aponeurose. Pode-se, então, fazer u m imbricamento da aponeurose, por trás do cordão, que ficará, assim, e m situação subcutânea. É esse o processo de Finocchieto^6 , classificado entre os retrofuniculares.
Processo de Zimmermann^17 ,^25 ,^28 — Utiliza também imbricamento aponeurótico, porém de maneira diferente: faz-se u m a incisão no lábio externo da aponeurose do grande oblíquo, ao nível do anel inguinal interno e sutura-se esse lábio, assim mobilizado, à fascia transversalis, logo abaixo do bordo do pequeno oblíquo. A se- guir, sutura-se o lábio interno da aponeurose ã porção mais externa da m e s m a (quase na altura da arcada inguinal), por cima do cordão. T a m b é m neste processo o cordão passa a caminhar entre dois folhetos aponeuróticos.
Processo de McVay^1 ,^2 ,^9 ,^1 * — A característica primordial deste processo consiste e m utilizar o ligamento de Cooper para o reforço da parede. C o m o sabemos, este ligamento é constituído por fibras fortes, que recobrem o púbis, próximo ao anel crural, na vertente abdominal do osso. Quando se trata de hérnia inguinal direta, a fascia transversalis é aberta, pa- ralelamente à arcada, o peritônio afastado para cima e o ligamento de Cooper ex- posto. Após ressecar o excesso da fascia, geralmente exuberante nas hérnias dire- tas, é feita a sutura, com pontos separados de fio inabsorvível, do lábio superior da fascia transversalis ao ligamento de Cooper. M a s lateralmente, junto ao anel inguinal interno, a fascia é suturada à bainha dos vasos femorais. M c V a y visa, com esta sutura, não só a reforçar o triângulo de Hessert, como também a evitar o aparecimento posterior de u m a hérnia crural, ocorrência não rara e m pessoas sub- metidas à herniorrafia inguinal por u m dos processos que utilizam a arcada inguinal para a sutura. Segundo M c V a y e Anson 2 ,^14 , a tração exercida sobre a arcada crural, durante a contração dos músculos abdominais, faz com que o anel crural se alargue e assim se formando mais facilmente a hérnia crural. Apesar da base teórica que apresenta, a operação de McVay-Anson apresenta certa desvantagem: a sutura é feita e m local de mais difícil acesso e próxima a grandes vasos. Por isso, esse processo não é aconselhável senão aos cirurgiões bem experientes.
Processo de Halsted^21 ,^23 — De todos os processos ditos retrofuniculares, citare- mos apenas o de Halsted, por ter sido o primeiro descrito (publicado e m Baltimore, e m 1889). A característica dessa técnica é fazer u m a sutura, com fio de seda, por trás do cordão, "apanhando tudo entre a pele e o peritônio, desde a espinha do púbis até o ângulo superior" Trata-se de sutura, com 6 a 8 pontos, apanhando, de u m lado, a aponeurose do grande oblíquo, pequeno oblíquo e transverso e fascia transversalis e, do outro, a arcada inguinal. E m trabalho posterior, Halsted reco- menda a excisão das veias do cordão. C o m o vemos, nesse processo o cordão esper- mático fica situado no subcutâneo.
Herniorrafia nas hérnias por escorregamento — Como se trata de um tipo de hérnia e m que há, geralmente, grande extensão de colo extraperitoneal, formando a parede posterior do saco herniário, dificilmente este saco poderá ser tratado por via exclusivamente inguinal. Recomendam os autores^6 ,^23 proceder-se a u m a hernio- laparotomia, com os seguintes tempos: lc) Incisão maior que a habitual, porém na m e s m a direção, isto é, na bissetriz do ângulo formado pela arcada inguinal e pelo bordo lateral do músculo reto do abdome. Abertura da aponeurose do grande oblíquo e secção, junto ao anel inguinal interno, de fibras do pequeno oblíquo e transverso, e m extensão variável, conforme o tamanho da hérnia. Abertura do peritônio parietal, a esse nível. 2») Libertação da alça que escorregou. Para isso é necessário incisar verti- calmente o peritônio parietal posterior, ao lado do intestino herniado, caindo-se, assim, n u m plano de clivagem retrocólico (como se faz no descolamento do ceco ascendente nas hemicolectomias direitas). N a hérnia por escorregamento, o cuidado deve ser maior, para não lesarmos os vasos nutridores da alça.
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RESULTADOS DAS HERNIORRAFIAS
INCIDÊNCIA
a) Sexo — As hérnias crurais representam 32% do total das hérnias na mulher e 2 % apenas, no homem. E m conjunto, representam 5 a 1% do total das hérnias. São muito mais comuns na mulher do que no homem, na proporção de 4:1. N o período de 1951 a 1960 foram operados, no Hos- pital das Clínicas, 385 portadores de hérnias crurais (incluindo estrangula- das e encarceradas), das quais 86 ocorreram e m homens (22,3%) e 299 e m mulheres (77,7%).
b) Idade — São muito raras na criança e no jovem. Começam a aparecer geralmente depois da fase dos maiores esforços, isto é, depois dos 30 anos. A o contrário dos portadores de hérnias inguinais, que na maioria buscam tratamento cirúrgico antes dos 40 anos, é c o m u m portadores de hérnias crurais buscarem-no e m idades bem mais avançadas. A perda de resistência dos tecidos, que se faz notar nas idades madura e senil, permite grande crescimento desse tipo de hérnia, até então limitada e que não trazia grandes transtornos ao paciente. Os 385 casos de hérnias crurais operados entre 1951 a 1960, no Hos- pital das Clínicas, estavam assim distribuídos: 0 a 10 anos, 3 casos (0,7%); 11 a 20 anos, 6 casos (1,5%); 21 a 30 anos, 40 casos (10,3%); 31 a 40 anos, 77 casos (20,0%); 41 a 50 anos, 87 casos (22,6%); 51 a 60 anos, 90 casos (23,3%); 61 a 70 anos, 52 casos (13,5%); 71 a 80 anos, 18 casos (4,6%); 81 a 90 anos, 12 casos (3,1%). Analisando-se rapidamente esses dados, veremos confirmar-se o que foi dito pouco atrás: 1 — A incidência da hérnia crural abaixo dos 30 anos foi bem menor que a das hérnias inguinais (12,6% das crurais contra 46,6% das inguinais). 2 — Predomínio evidente das hérnias crurais no grupo etário dos 30 aos 60 anos (65,3% contra 3 9 % das inguinais). 3 — Predomínio ainda mais evidente das crurais nos pacientes com mais de 61 anos (21,27o contra 14,2%).
c) Lado — As hérnias crurais geralmente são unilaterais. São duas vezes mais freqüentes à direita do que à esquerda.
d) Recidivas — Os doentes operados de hérnia crural apresentam per- centagem de recidivas muito maior do que os operados de hérnias inguinais. Isto se explica por vários fatores: a) idade mais avançada e m que as ope- rações são realizadas, com piores possibilidades de reconstituição e de ci- catrização; b) dificuldades anatômicas impedindo u m reforço tão bom como o que se obtém na região inguinal; c) acesso difícil, proximidade dos vasos femorais, que atemorizam os neófitos, impedindo-os de realizarem u m fe- chamento satisfatório do anel crural. E m nosso Serviço, no período de 1958 a 1960 (3 anos), foram operados apenas 21 portadores de hérnias crurais, das quais 6 eram já recidivadas Í28,5%). Embora a casuística seja pequena e não se preste a conclusões definitivas, dá-nos u m a impressão da grande freqüência das recidivas.