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Guias e Dicas
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hermeneutica teologica para interpretação, Resumos de Hermenêutica Jurídica, Argumentação e Lógica

com os meios interprativos necessário apra poder fazer uma hermeneutica aceitável

Tipologia: Resumos

2020

Compartilhado em 31/01/2022

joaz-viana-1
joaz-viana-1 🇧🇷

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HERMENÊUTICA
BÍBLICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
LIVRO DIDÁTICO INSTRUCIONAL
EURÍPEDES PEREIRA DE BRITO
FASSEB VIRTUAL
FASSEB
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Baixe hermeneutica teologica para interpretação e outras Resumos em PDF para Hermenêutica Jurídica, Argumentação e Lógica, somente na Docsity!

HERMENÊUTICA

BÍBLICA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

LIVRO DIDÁTICO INSTRUCIONAL

EURÍPEDES PEREIRA DE BRITO

FASSEB VIRTUAL

FASSEB

EURÍPEDES PEREIRA DE BRITO

HERMENÊUTICA BÍBLICA

GOIÂNIA,GO

SUMÁRIO

  • APRESENTAÇÃO
  • MÓDULO I - COMPREENSÕES INICIAIS E HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA
  • UNIDADE I: COMPREENSÕES INICIAIS
  • AULA 1: DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA
  • AULA 2: A BUSCA POR SIGNIFICADO
  • CRISTÃOS UNIDADE II: A INTERPRETAÇÃO DOS GREGOS, DOS JUDEUS E DOS PRIMEIROS
  • AULA 3: A HERMENÊUTICA DOS FILÓSOFOS GREGOS E DOS JUDEUS
  • AULA 4: A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NO PERÍODO PÓS-APOSTÓLICO
  • MÓDULO II - INTERPRETAÇÃO: DO PERÍODO MEDIEVAL À PÓS-MODERNIDADE
  • CONTEMPORÂNEOS UNIDADE III: A INTERPRETAÇÃO: DO PERÍODO MEDIEVAL AOS MOVIMENTOS
  • AULA 5: INTERPRETAÇÃO NO PERÍODO MEDIEVAL E NO PERÍODO DA REFORMA
  • AULA 6: A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IDADE MODERNA
  • ASSEMBLÉIA DE DEUS UNIDADE IV: INTERPRETAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE E NA FORMAÇÃO DA IGREJA
  • AULA 7: A INTERPRETAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE
  • AULA 8: O LUGAR DA HERMENÊUTICA NA IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS
  • MÓDULO III - O MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO
  • UNIDADE V: O MÉTODO GRAMATICO-HISTÓRICO I
  • AULA 9: MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
  • AULA 10: PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO
  • UNIDADE VI: O MÉTODO GRAMÁTICO HISTÓRICO II
  • AULA 11: ASPECTOS GRAMATICAIS
  • AULA 12: ANÁLISE DOS ASPECTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS
  • MÓDULO IV - OS GÊNEROS LITERÁRIOS E AS FIGURAS DE LINGUAGEM
  • UNIDADE VII: GÊNEROS LITERÁRIOS
  • AULA 13: GÊNEROS: JURÍDICO, NARRATIVA, SABEDORIA E POESIA, PROFECIA
  • AULA 14: GÊNEROS: EVANGELHOS, ESPÍSTOLAS, PARÁBOLAS
  • UNIDADE VIII: FIGURAS DE LINGUAGEM E FERRAMENTAS PRÁTICAS
  • AULA 15: O USO DAS FIGURAS DE LÍNGUAGEM E OUTROS RECURSOS LITERÁRIOS
  • AULA 16: FERRAMENTAS PRÁTICAS PARA A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • REFERÊNCIAS
  • MINICURRÍCULO DO AUTOR

APRESENTAÇÃO

Acreditamos que a Bíblia é a Palavra de Deus e que o Senhor, de fato, fala

conosco de forma viva pelas Escrituras. Por isso, a interpretação e a compreensão

bíblica correta para nós é um fator imprescindível. Um dos aspectos mais desafiadores

para a leitura das Escrituras é que não existe compreensão de um texto sem que haja

interpretação. A Bíblia é Deus falando conosco por palavras humanas; ela deve ser

interpretada como qualquer outro livro em relação a diversas regras, ela não é um livro

como qualquer outro, ela é a palavra de Deus inspirada: “Mas, para fins de

interpretação, a Bíblia não apresenta um tipo especial de mágica que muda as normas

básicas de interpretação literária” (SPROUL, 2003, p. 67)

Além disto, a Bíblia está distante de nós em diversos aspectos, como veremos

adiante, o que faz com que nossa leitura dela exija um esforço consciente de

interpretação.

A Hermenêutica é geralmente estudada com o objetivo de interpretar as produções literárias do passado. Sua tarefa especial é mostrar o caminho pelo qual as diferenças ou a distância entre o autor e seus leitores podem ser removidas. Ela nos ensina que isso só é realizado adequadamente quando o leitor se transporta para o tempo e o espírito do autor. No estudo da Bíblia, não é suficiente entendermos o significado dos autores secundários (Moisés, Isaías, Paulo, João, etc.); devemos aprender a conhecer a mente do Espírito. (BERKHOF, 2004 p. 9)

Este curso propõe o estudo dos princípios de interpretação das Escrituras, com

coerência bíblica teológica e prática, na busca de contribuir com uma formação para

o exercício da reflexão teológica e do ministério cristão de forma consistente, viva e

cheia do temor do Senhor. O curso é dividido em quatro módulos, oito unidades e

dezesseis aulas, compondo oitenta horas de curso.

EMENTA

Visão geral sobre a hermenêutica como a arte e a ciência crítica da

interpretação dos textos bíblicos. Análise crítica das várias correntes hermenêuticas

apontando para o principal problema da interpretação pós-moderna com sua ênfase

subjetiva. A base da hermenêutica bíblica a partir da intenção autoral.

UNIDADE III: INTERPRETAÇÃO BÍBLICA DO PERÍODO MEDIEVAL AOS

MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS

AULA 5 : PERÍODO MEDIEVAL E PERÍODO DA REFORMA

AULA 6 : MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS

UNIDADE IV: INTERPRETAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE E NA

FORMAÇÃO DA IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS

AULA 7: INTERPRETAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE

AULA 8: HERMENÊUTICA E A FORMAÇÃO DA IGREJA

ASSEMBLEIA DE DEUS

MÓDULO III: O MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO

UNIDADE V: O MÉTODO GRAMATICO-HISTÓRICO I

AULA 9 : O MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO: ASPECTOS

INTRODUTÓRIOS

AULA 10 : PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MÉTODO GRAMÁTICO

HISTÓRICO

UNIDADE VI: O MÉTODO GRAMÁTICO HISTÓRICO II

AULA 11 : ASPECTOS GRAMATICAIS

AULA 12: ASPECTOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS

MÓDULO IV: OS GÊNEROS LITERÁRIOS E AS FIGURAS DE LINGUAGEM

UNIDADE VII: GÊNEROS LITERÁRIOS

AULA 13 : GÊNEROS LITERÁRIOS: NARRATIVA, SABEDORIA E

POESIA, PROFECIA

AULA 14 : GÊNEROS LITERÁRIOS: EVANGELHOS, ESPÍSTOLAS,

PARÁBOLAS

UNIDADE VIII: FIGURAS DE LINGUAGEM E FERRAMENTAS PRÁTICAS

AULA 1 5 : FIGURAS DE LINGUAGEM

AULA 1 6 : FERRAMENTAS PRÁTICAS.

MÓDULO I - COMPREENSÕES

INICIAIS E HISTÓRIA DA

HERMENÊUTICA

AULA 1: DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA

META

Refletir sobre a definição e importância da Hermenêutica.

OBJETIVOS

  • Compreender as definições secular e cristã de Hermenêutica;
  • Verificar a base bíblica para a Hermenêutica;
  • Discutir sobre a importância da Hermenêutica.

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Havia uma tendência entre crentes sinceros de acreditar que a Bíblia não seria um livro para ser estudado. Essa tendência era incorreta? Poderia o estudo sistemático e acadêmico das Escrituras levar o estudante a um esfriamento espiritual?

Um dos textos que foi usado para defender a tendência de que a Bíblia não

seria um livro para ser estudado foi o seguinte: “As coisas encobertas pertencem ao

Senhor, ao nosso Deus.” (Dt 29.29a). Afirmava-se que aquilo que não se compreende

de forma clara e simples nas Escrituras, pois seriam as realidades encobertas que

pertenceriam apenas a Deus; portanto, o estudo teológico acadêmico seria

completamente dispensado e até mesmo perigoso. No entanto, essa preocupação,

quase não existe hoje, embora ela não fosse, de todo sem sentido, pois muitos

estudantes de Teologia passaram a estudar a Bíblia apenas academicamente, sem

prestar atenção aos aspectos espirituais que levam a piedade, ao temor do Senhor, à

devoção, à necessidade de crescimento e transformação à semelhança de Cristo.

Alguns, por influência de teologias liberais e por descuidos, chegam mesmo a se

esfriar na fé e a abandonar os propósitos de Deus.

Eugene Peterson, em sua obra, “Espiritualidade subversiva”, conta sua

experiência dizendo que cresceu cercado por advertências quanto aos perigos dos

seminários (PETERSON, 2009, p. 75-76). A tradição sectária na qual foi formado não

via nenhuma vantagem no aprendizado. Pensar sobre Deus não o levaria a lugar

algum, a não ser a um problema. Insistiam para que ele somente cresse. Para aquelas

pessoas da tradição sectária que tentava mentoriar Peterson, o cérebro ficava

praticamente intocado enquanto o Espírito Santo enchia o coração que louvava com

sinceridade. Eles acreditavam que os seminários eram como cemitérios da

espiritualidade e da fé. Assim, ele recebia advertências de fim de mundo e juízo final

pelo simples desejo de ir a um seminário. O cérebro era considerado razoavelmente

inofensivo se usado para executar tarefas fáceis do cotidiano, mas, se o cérebro se

atrevesse a buscar a reflexão teológica sobre Deus e seus propósitos, a fazer

perguntas complicadas e a pesquisar os grandes tratados de teologia, certamente

desenvolveria uma malignidade que rapidamente contaminaria a alma.

Por isso os amigos de Peterson viam a busca acadêmica e teológica como um

câncer intelectual que era a maior causa conhecida de morte da alma. Muitas das

advertências vinham acompanhadas de exemplos históricos de pessoas que

naufragaram na fé. Segundo Peterson (2009, p.76): “A única coisa prudente a fazer

era evitar os seminários completamente, a qualquer preço, eles são perigosos demais

para se arriscar uma vocação”.

Mas, apesar das advertências e das histórias, Peterson conta-nos que foi para

o seminário. Levando consigo as advertências e temores, mas foi. Quarenta anos

depois, não tendo apenas frequentado, mas também lecionando em alguns deles,

pelo menos em parte, ele teve que concordar com aquelas pessoas, pois de fato há

um grande desafio em estudar sobre Deus e manter a intimidade com o Senhor.

PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO

Não encontrei nenhuma prova de que qualquer das advertências estivesse errada – ou mesmo fosse exagerada. A formação dos seminários é perigosa e muitos perderam a fé nas salas de aula e bibliotecas de seminários. Muitos outros, ainda que não tenham sido retirados num caixão, ficaram mutilados ou atrofiados, quer quase imperceptivelmente, quer escancaradamente. (PETERSON, 2009, p. 76)

Conquanto assuma o valor da advertência dos irmãos de oração da igreja,

Eugene Peterson se tornou um grande escritor, teólogo e conferencista, aliando o

estudo teológico e o temor do Senhor. Há um caminho melhor. Depois de afirmar que

as “coisas ocultas pertencem a Deus” Moisés continua explicando: “[...] mas as

o particípio presente médio de kaiomai , queimar. “Construção perifrástica enfatizando

a continuação da emoção.” (RIENEEKER; ROGERS, 1972, p. 159).

A intepretação e explicação, ou exposição das Escrituras, portanto, de acordo

com a própria Escritura, toca o mais profundo do nosso ser, desafiando-nos a atitudes

concretas. A interpretação, para a exposição correta das Escrituras, exige trabalho

árduo, e compromisso com o testemunho daquele que fala e faz os corações arder.

2 ORIGEM DE HERMENEUEIN

Os gregos tinham deuses para tudo. Hermes é o nome dado ao deus grego

considerado o porta-voz ou intérprete dos outros deuses. Há uma situação nas

Escrituras ligada ao apóstolo Paulo que demonstra como isso estava na cultura do

povo. Depois de Paulo haver ministrado a cura a um paralítico, as pessoas tomaram

esse fato como uma visitação dos deuses, identificando o apóstolo com o porta-voz

do panteão helênico (Hermes) por ser ele o portador da palavra. E queriam adorá-lo

(At 14.2).

PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO

O termo intepretação vem do verbo grego hermeneuein, que tem dois sentidos importantes: o termo designa, ao mesmo tempo, o processo (elocução, dizer, afirmar algo) e a interpretação (ou da tradução). Nos dois casos, estamos diante de uma transmissão de sentido, que pode se operar em duas direções; ela pode (1) ir do pensamento para o discurso, ou (2) remontar do discurso para o pensamento. Atualmente, só falamos de interpretação para caracterizar o segundo processo, que remonta do discurso para o pensamento que se encontra por trás, mas os gregos já pensavam a elocução como um processo ´hermenêutico´ de mediação de sentido, designado, então, pela expressão ou pela tradução do pensamento em palavras. O termo hermeneia serve, portanto, para nomear o enunciado que afirma algo. (GRONDIN, 2012, p. 18)

Hermenêutica é algo que se impõe às Escrituras, ou ela é um

fato bíblico?

3 HERMENÊUTICA É UM FATO BÍBLICO

No contexto acadêmico mais amplo, Hermenêutica passou a ser compreendida

como a ciência crítica da interpretação. Para nós, cristãos, Hermenêutica é a ciência

(princípios) e arte (tarefa) de apurar o sentido do texto bíblico (ZUCK, 2009, p. 22).

Contudo, deve-se lembrar que o termo, ainda que esteja no Novo Testamento,

vem da cultura grega e tem nas ciências um sentido mais amplo do que interpretação

bíblica. A Hermenêutica está presente no Direito, na Filosofia e outras disciplinas.

Mas, de fato, a interpretação é um fato bíblico, não apenas grego, não apenas

da academia secular. A definição de Hermenêutica nos aponta para as próprias

palavras de Cristo, que indicam um caminho melhor, do que aquele que poderia nos

conduzir para a frieza e dureza de coração: “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes:

Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” (Mt 22. 29 ) Um fato não

precisa eliminar o outro; antes pelo contrário, se quisermos ser fieis a Cristo

precisamos vivenciar tanto o estudo sério e comprometido com as Escrituras, como

precisamos buscar conhecer e experimentar o poder de Deus.

Nem mesmo, poderia se dizer que a Hermenêutica, como estudo sistemático e

exposição, ou explicação das Escrituras, nos esfriaria quanto ao evangelismo. O

compromisso sério com a exposição das Escrituras, como nos define a própria Bíblia,

convence os corações e estabelece as bases para uma fé segura e consistente.

Quando Filipe foi levado pelo Espírito Santo para se encontrar com o tesoureiro da

rainha dos etíopes, aquele ouviu o homem lendo o texto do profeta Isaias (At 8.26-

29). A pergunta de Filipe é de grande importância para entendermos Hermenêutica e

evangelização: “Entendes o que vens lendo?” (At 8.30). O homem respondeu: “Como

poderei entender, se alguém não me explicar?” (v. 31).

Conrad Kannhauer que, inclusive, usa o termo Hermenêutica como título de uma de

suas obras, Hermenêutica sacra sive methodus exponnendarum sacrum litterarum , de

No tempo de Schleiermacher já havia todo um processo hermenêutico, contudo

sua esperança era desenvolver uma “hermenêutica universal” que ainda não existia.

“E se a hermenêutica deve adquirir um estatuto universal, é enquanto arte geral do

entender, Kunst (frequentemente: kunstlehre ) des Verstehens .” (GONDIN, 2012, p.

26). Na sua busca de desenvolver uma Hermenêutica universal, com ênfase

psicológica, ele passou a ser considerado um grande expoente da tarefa

Hermenêutica na modernidade. Ele apresentou uma teoria coerente e plausível para

a interpretação dos textos, comunicação entre orador e receptor com uma base

voltada para um contexto social e linguístico em comum. O problema, para nós, em

relação à hermenêutica de Schleiermacher, está na medida em que ele rejeita a

autoridade das Escrituras e tudo o que nela está ligado à revelação e ao sobrenatural,

pois rejeitou o pressuposto de que a Bíblia é autoritativa, regra de fé e prática do

cristão.

5 A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA

Todas as pessoas que anseiam por um conhecimento melhor das Escrituras

deveriam aprender um pouco sobre regras de interpretação. Silva (2009, p. 15) coloca

alguns aspectos importantes, pelos quais leitores interessados em aprofundar o

conhecimento bíblico deveriam observar: 1. Há um grande distanciamento cultural

entre nós e os escritores e receptores do texto; 2. Ainda que as Escrituras não sejam

de leitura complexa no seu todo, o conhecimento na área da linguagem, do estilo

literário, do contexto histórico geográfico podem ajudar; 3. Além disso, o caráter divino

das Escrituras sugere que precisamos adotar alguns princípios especiais que não

seriam relevantes para o estudo de outros escritos.

Há vários ensinos das Escrituras que estão muito claros, e devemos nos

lembrar do esforço de Lutero e Calvino para ajudar o povo a ter a Bíblia nas mãos

para poder lê-la e interpretá-la. Contudo, a hermenêutica se coloca como fator

decisivo, para aquele que pretende se aprofundar nos assuntos que desafiam o

estudo mais diligente do teólogo.

COM A PALAVRA QUEM ENTENDE DO ASSUNTO

O que ocorre, na realidade, é que precisamos da hermenêutica não somente pelo fato de a Bíblia ser um livro divino, mas porque, além de ser divino, é um livro humano. Estranho como pode soar aos ouvidos, esta maneira de olhar nosso problema pode colocar-nos no caminho certo. [...] Quando nos aproximamos da Bíblia, todavia, encontramos um livro que não é escrito nem em nossa língua, nem em uma linguagem moderna que se relaciona intimamente com o português. Além disso, somos confrontados com um texto que está extremamente distante de nós quanto ao tempo e espaço. Então, percebemos que, com respeito tanto à linguagem quanto à história, a interpretação da Bíblia impõe um desafio para nós. (SILVA, 2009, p. 16,19)

A interpretação das Escrituras, seu estudo, ensino e explicação, como já foi

demonstrado, é um fator Bíblico, de onde encontramos incentivo e motivação para a

Hermenêutica, isso pode ser visto no próprio Antigo Testamento, no exemplo que

encontramos no livro de Neemias, quando Esdras e seus amigos, “Leram no livro, na

Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se

lia.” (Nm 8.8). No Novo Testamento, além de outros textos já citados, encontramos a

exortação de Pedro sobre o desafio de compreender textos difíceis, o cuidado de não

nos envolvermos com interpretações e aplicações maldosas, e o desafio de crescer

no conhecimento de Cristo.

[...] e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor Jesus Cristo, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada ao falar a cerca destes assuntos como, de fato, costuma fazer em todas as epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza, antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2 Pd 3.16)

AULA 2: A BUSCA POR SIGNIFICADO

META

Refletir sobre a busca por significado como discussão dos tempos pós-modernos que

exigem uma resposta do Cristianismo bíblico.

OBJETIVOS

  • Verificar as tendências mais comuns na atualidade da vida prática da igreja e

a busca por significado bíblico;

  • Compreender as respostas de autores cristãos comprometidos com as

Escrituras;

  • Discutir o compromisso com os pressupostos bíblicos.

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Existe algo como significado de um texto? Alguns representantes da

hermenêutica pós-moderna rejeitam a ideia de que há um significado no próprio

texto, pois o significado seria dado pelo leitor do texto.

PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO

Kevin Vanhoozer discute esse tema de forma exaustiva no seu livro Há um significado neste texto? Interpretação bíblica: os enfoques contemporâneos. O livro foi publicado no Brasil em 2010.

Como responder a essa questão nos dias atuais?

Na busca do significado de um texto, de forma especial, no texto bíblico,

encontramos propostas muitos simplistas que tentam retirar o texto de seu contexto

histórico para responder aos anseios existenciais de nossas vidas, ou aos anseios do

pregador pragmático na busca de satisfazer necessidades emotivas e imediatistas de

um público exigente de que seus anseios antropocêntricos sejam respondidos,

desejos como o de bem estar, prazer, consumo e outros. Encontramos também

propostas mais elaboradas que roubam corações e mentes do apego às Escrituras.

Essas propostas precisam ser analisadas e discutidas de forma séria. Nessa aula

procuramos desenvolver essa tarefa com a ajuda de estudiosos que têm se debruçado

sobre o assunto, sem medo de analisar as propostas, contudo firmados nos

pressupostos e axiomas das Escrituras.

No amplo contexto evangélico, na prática da vida cristã do dia a dia, algumas

possíveis atitudes básicas e práticas são encontradas, na busca de significado e

precisam ser evitadas: uma dessas atitudes é a de ler o texto e imediatamente fazer

aplicações, sem uma compreensão mais ampla do sentido real do mesmo no seu

contexto. É preciso, portanto, evitar esse tipo de posicionamento hermenêutico. Nessa

corrente, a pergunta que fazem de forma imediata é: “O que este texto significa para

mim?”

Veremos que o estudo das Escrituras comprometido com a vida cristã na

prática, sempre buscará as aplicações existenciais do texto estudado, mas antes,

sempre será necessário compreender o texto e suas implicações no seu contexto

histórico. Isso nós veremos de forma ampla nesse curso. Outra atitude a ser evitada

é aquela que pode nos tomar quando estamos ensinando as Escrituras e somos

tentados a dizer: “Numa interpretação livre, o que podemos entender deste texto é...”.

A pessoa que ama o Senhor, e acredita na autoridade das Escrituras sabe que não

há uma interpretação livre do texto. Na teologia conservadora, assumida por esse

curso, a interpretação sempre estará comprometida com os princípios teológicos da

cosmovisão cristã bíblica.

De acordo com o professor Gordon Fee (2011, p. 23 ), “Em especial,

concordamos com o argumento de que a Bíblia não precisa ser um livro de difícil

compreensão, se for corretamente lida e estudada.” Há espaço, portanto, para que

pessoas com pouco conhecimento teológico continuem estudando as Escrituras de

forma séria e buscando aplicá-las em suas vidas. Portanto, não se está desprezando

o estudo das Escrituras pelos membros comuns da igreja, nem o estudo aprofundado

das Escrituras pelos teólogos e interessados no assunto, e, sim, colocando as coisas

no lugar correto. As Escrituras podem ser lidas, cridas e obedecidas por todos aqueles

que receberem iluminação do Espírito Santo. No entanto, precisamos admitir que uma

busca de significado no texto bíblico ocorre quando somos desafiados pelo fato de