Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Heitor Leal Machado TERAPIA MIDIÁTICA: um estudo ..., Exercícios de Cultura

por meio de uma análise do seriado Sessão de Terapia, o qual narra a vida e o trabalho do terapeuta Theo Cecatto.

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Agua_de_coco
Agua_de_coco 🇧🇷

4.6

(326)

768 documentos

1 / 146

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
HEITOR LEAL MACHADO
TERAPIA MIDIÁTICA: um estudo do seriado Sessão de Terapia
RIO DE JANEIRO
2016
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Heitor Leal Machado TERAPIA MIDIÁTICA: um estudo ... e outras Exercícios em PDF para Cultura, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS ESCOLA DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA

HEITOR LEAL MACHADO

TERAPIA MIDIÁTICA: um estudo do seriado Sessão de Terapia

RIO DE JANEIRO

Heitor Leal Machado

TERAPIA MIDIÁTICA: um estudo do seriado Sessão de Terapia

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Comunicação.

Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Becker

Rio de Janeiro 2016

Heitor Leal Machado

TERAPIA MIDIÁTICA: um estudo do seriado Sessão de Terapia

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Comunicação.

Aprovada em 23 de fevereiro de 2016

_____________________________________________________

Profa. Dra. Beatriz Becker – Orientadora Doutora em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura – UFRJ

_____________________________________________________

Prof. Dr. Bruno Campanella Doutor em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFF

_____________________________________________________

Profa. Dra. Marialva Carlos Barbosa Doutora em História pelo PPGH/UFF Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura – UFRJ

Em memória da minha avó, Estella Leal.

RESUMO

MACHADO, Heitor Leal. Terapia Midiática : um estudo do seriado Sessão de Terapia. Rio de Janeiro, 2016. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

Considerando a mídia uma parte irredutível da sociedade, da cultura e da experiência moderna assume-se nesta pesquisa que até mesmo as mais íntimas emoções e desejos das audiências podem ser vivenciados no ambiente midiático. Tal interação entre a obra e sua audiência resulta na criação de fortes vínculos emocionais, inclusive em um processo aqui chamado de Terapia Midiática, capaz de alterar as maneiras de sentir e perceber a vida. Esta dissertação propõe uma reflexão crítica sobre as formas de organização dos sentimentos nas relações estabelecidas entre a produção e o consumo de conteúdos e formatos audiovisuais televisivos, por meio de uma análise do seriado Sessão de Terapia , o qual narra a vida e o trabalho do terapeuta Theo Cecatto. A narrativa da série é constituída por diálogos entre o especialista e seus pacientes permeados por elementos do ethos terapêutico, mas foi bastante elogiada pelo público e crítica por subverter o rápido fluxo televisivo ao proporcionar momentos de reflexão à audiência sobre as suas próprias experiências no cotidiano doméstico e social. Esta dissertação reflete sobre as principais características de linguagem em Sessão de Terapia e como o seriado interage com seus telespectadores, utilizando como inspiração as dimensões teórico-metodológicas da Análise Televisual associadas a um estudo de recepção.

Palavras-chave: Sessão de Terapia; Análise Televisual; Televisão; Cultura Terapêutica; Audiências.

ABSTRACT

MACHADO, Heitor Leal. Media Therapy : an analysis of the TV series Sessão de Terapia. Rio de Janeiro, 2016. Dissertation (Masters in Communication and Culture) – School of Communication, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

Considering the media as an irreducible part of society, culture and modern experience it is assumed in this research that even the most intimate emotions and desires of the audiences can be experienced on the media environment. Such interaction between a TV show and its audience results in the creation of strong affective bonds, including the process addressed here as Media Therapy, since it can shift the ways of feeling and perceiving life. This dissertation proposes a critical reflection about the forms to arrange the feelings in the relationships established between the production and the consumption of television contents and audiovisual formats through an analysis of the TV series Sessão de Terapia , which narrates the life and work of the therapist Theo Cecatto. The show’s narrative is constituted by the dialogues between the specialist and its patients pervaded by elements from the therapeutic ethos, but was fairly praised by the public and the critics for subvert the fast television flow by providing moments of reflection to its audience about their own experiences on the social and domestic daily routine. This dissertation reflects about the main language characteristics of Sessão de Terapia and how the series interacts with its viewers, using as inspiration the theoretic-methodological dimensions of the Televisual Analysis associated with a reception study.

Keywords: Sessão de Terapia; Televisual Analysis; Television; Media; Therapeutic Culture.

Uma de minhas palestras é chamada de “O mito da normalidade”. É como se acreditássemos que existem pessoas “normais” de um lado, e que do outro lado existem aqueles com patologias como depressão, ansiedade, vício, esquizofrenia, ou transtorno bipolar, déficit de atenção e diversas outras condições. Mas o que eu vejo é um espectro. Existe um espectro e traços de personalidade de cada um ou presente em quase todos e é um mito pensar que há o normal e o anormal. De acordo com a pesquisa, o melhor lugar para ser esquizofrênico não é nos Estados Unidos, com sua indústria farmacológica. É, na verdade, uma aldeia na África ou na Índia, onde existe aceitação. Onde as pessoas dão espaço para as suas diferenças, onde conexões não são quebradas, mas sim mantidas. Onde você não é excluído da sociedade, mas sim acolhido. E onde existe espaço para você agir da maneira que você age ou expressar seja o que for que você tem necessidade de expressar. E onde talvez todas as pessoas da comunidade vão cantar com você, ou conversar com você. E talvez encontrem um significado para sua chamada “loucura”. Então é contextual. Cultural. Uma doença não é um fenômeno isolado em um indivíduo, é uma construção cultural, um paradigma fabricado.

Gabor Maté

INTRODUÇÃO

Mesmo com o incremento da participação das audiências e dos usos das tecnologias digitais, observa-se, cada vez com mais frequência, críticas a respeito do poder das mediações das mídias tradicionais e emergentes no cotidiano social (MARTÍN-BARBERO; REY, 2002). Assim, a vida no mundo offline é reafirmada como uma experiência mais saudável do que no ambiente “virtual”. No entanto, tais críticas parecem não considerar que, na atualidade, é quase impossível viver sem a mídia, principalmente nos grandes centros urbanos, por influir na configuração de novas práticas socioculturais que compõem a experiência contemporânea. Hoje, autores como Sodré (2002, 2006), Deuze (2012, 2013), Deuze, Speers e Blank (2010) e Couldry (2012) já assumem a presença ubíqua da mídia na vida e na sociedade. Contudo, quando se discute a mídia discute-se também determinados contextos sociais e práticas culturais que se organizam ao redor dos artefatos e dispositivos tecnológicos (LIEVROUW; LIVINGSTONE, 2004). Por isso, podemos afirmar que, além de produzir e manter determinados padrões de leituras de mundo e tecer subjetividades nem sempre visíveis e conservadoras, a mídia também permite que o sujeito se manifeste através de múltiplos processos comunicativos, os quais se conformam como parte “irredutível dos processos sociais” (COULDRY, 2012, p. 137). Se antes existia apenas televisão, rádio e mídia impressa, as chamadas “novas mídias” criaram uma infinidade de possibilidades de interação entre os meios, as audiências e os próprios indivíduos. Uma produção veiculada originalmente na televisão, por exemplo, pode ser disponibilizada em inúmeras plataformas^1 (DVDs, downloads ilegais ou streaming^2 , através de computadores e dispositivos móveis). E as audiências podem constituir grupos e interagir através da web. Enfim, são muitas as possibilidades de produção, circulação e consumo dos textos midiáticos, o que torna necessário compreender como são estabelecidas relações entre produção e consumo de produtos da mídia e por meio dos usos e apropriações de tecnologias digitais. Nesse contexto, apesar da fragmentação e expansão do espaço e dos processos de comunicação midiáticos, a televisão permanece, até hoje, como o alvo mais frequente de críticas negativas, que a consideram um instrumento de alienação nocivo ao espectador

(^1) De acordo com Pratten (2011, p. 28 apud FECHINE et al., 2013, p. 28) as plataformas designam a união de uma certa mídia com determinada tecnologia. 2 Streaming é uma forma de transmissão de dados para conteúdos multimídia. O usuário reproduz o arquivo à medida que o conteúdo é carregado, sem necessidade de haver transferência do arquivo para o HD do dispositivo. Mais informações em: http://migre.me/sUQwY. Acesso em: 6 fev. 2016.

cultura participativa (JENKINS, 2008)^4 , observar a configuração de modelos híbridos de produção, circulação e consumo da informação faz com que a análise de tais processos identifique como os produtos, articulando diferentes meios e linguagens, estão conectados no ambiente midiático e interagem com as mais diversas audiências (BECKER, 2013, 2014). Sessão de Terapia é a adaptação brasileira do seriado israelense BeTipul , e foi exibida entre 2012 e 2014, totalizando 115 episódios organizados em três temporadas, sendo a terceira e última destas o nosso objeto de análise. O programa foi ao ar diariamente, de segunda à sexta-feira, às 22h30, com reprises aos sábados e domingos, durante 7 ou 9 semanas, dependendo da temporada nesse período. O enredo buscava retratar a vida e o trabalho do terapeuta paulistano Theo Cecatto (Zécarlos Machado), cujo atendimento dos clientes, um em cada dia da semana, acontecia em seu consultório, onde também residia. Nas sextas-feiras, porém, Theo era o próprio paciente, ao realizar sessões de terapia com sua supervisora Dora (Selma Egrei). O formato do programa foi adaptado com sucesso em muitos países, como Canadá, Argentina e Itália. Aqui no Brasil, a série utilizou o star system^5 das grandes emissoras de televisão aberta do país e foi exibida no canal pago GNT, pertencente à Globosat e ao Grupo Globo, também dono da maior emissora do Brasil e uma das maiores do mundo, a TV Globo (NEWCOMB, 2014, p. 312). Durante o período de broadcast , o público podia interagir com a obra através das páginas oficiais criadas nas redes sociais Facebook^6 , Twitter^7 e Instagram^8. E, embora apenas as duas primeiras temporadas estejam disponíveis em DVD, é possível acessar a série completa na plataforma online oficial do canal, o GNT Play^9. Fora das telas, o seriado também deu origem ao livro Sessão de Terapia, uma reprodução do diário de Theo durante os acontecimentos da 1a^ temporada, escrito pela roteirista Jaqueline Vargas. A série poderia estar relacionada à “massa amorfa da trivialidade” televisiva (MACHADO, 2001, p. 19), pois a televisão produz uma infinidade de conteúdos, de gêneros e matrizes diversificadas, mas sua escolha se justifica porque o público^10 e a crítica^11

(^4) Em síntese, o que Jenkins (2008) chama de convergência e cultura participativa são os processos de interação entre múltiplas mídias com grande circulação de conteúdo suportada pelos usuários e consumidores, que agora se deslocam de um papel mais passivo para outro mais participativo. 5 Termo muito utilizado no passado para designar o grupo de atores e atrizes de cinema empregados por um determinado estúdio. Hoje, o termo é capaz de adereçar os profissionais que atuam nas emissoras de televisão. Os atores e atrizes das novelas da Rede Globo são, muitas vezes, rec 6 onhecidos como “globais”. 7 Disponível em: https://pt-br.facebook.com/SessaoDeTerapia. 8 Disponível em: https://twitter.com/canalgnt. 9 Disponível em: https://www.instagram.com/canalgnt/. 10 Disponível em: http://globosatplay.globo.com/gnt/. Sessão de Terapia dobrou ibope do GNT. Disponível em: http://migre.me/ooo2R. Acesso em: 29 jan. 2015.

costumam apontá-la como um produto de qualidade^12. Porém, é necessário refletir sobre a capacidade da televisão de representar e contribuir na construção dos imaginários e identidades e seus modos de dizer, assim como sobre as demandas do público. Na sinopse de Sessão de Terapia , há uma clara intenção de mimetizar uma sessão terapêutica, pois a série é descrita como “ambientada num consultório de psicanálise”^13. Isso nos leva a crer que o seriado busca oferecer ao seu telespectador um programa que, supostamente, questiona e “reorganiza” a consciência e identidade do sujeito através de uma experiência de ordem sensível, como propõe a própria psicanálise (SODRÉ, 2006, p. 37). Sob esta perspectiva, nossa hipótese é de que, na contemporaneidade, mídia e vida estão interligadas de maneira tão expressiva que até mesmo algumas das experiências emocionais mais íntimas dos indivíduos, como sessões de terapia, podem ser realizadas no ambiente midiático. Tal jogo envolve poder e afeto, assim como expectativas e demandas de produtores e receptores, dois agentes dispostos a afetar um ao outro e que estabelecem um processo comunicativo capaz de influenciar as formas de perceber e sentir a vida cotidiana, o qual chamamos de Terapia Midiática. Considerando que diversas experiências sociais, culturais e afetivas são vivenciadas na mídia, podemos também crer em um espaço midiático que privilegia as práticas terapêuticas, corroborando com as percepções de Furedi (2004) e Illouz (2003, 2008, 2011) sobre a cultura terapêutica, característica da contemporaneidade que reflete a influência do ethos terapêutico na formação de uma imaginação cultural que prioriza certas formas de trabalhar a emoção e a subjetividade em prol de um bem-estar individual em diferentes esferas da atividade humana. Se antes o terapêutico era circunscrito apenas aos consultórios especializados, hoje esta prática discursiva se encontra presente e diluída no trabalho, na família, nas escolas e em muitas outras áreas da ação humana. Se colocando entre o científico e a cultura de elite e popular, a ordem terapêutica conformou um léxico capaz de significar e organizar a experiência de indivíduos, de maneira que expressões como stress, trauma, autoestima e ansiedade já são corriqueiras e utilizadas para designar inúmeras perturbações de ordem psíquica (FUREDI, 2004).

(^11) CRÍTICA: “Sessão de terapia”: muitos acertos. Disponível em: http://migre.me/oomzc. Acesso em: 29 jan.

  1. 12 Nesta pesquisa, consideramos que televisão de qualidade é aquela que oferece inventividade em suas experiências estéticas ou narrativas (MACHADO, 2001, p. 25). 13 Sobre a série: Ambientada num consultório de psicanálise, a série de ficção acompanha o dia a dia profissional e pessoal do terapeuta Theo, interpretado por Zécarlos Machado. Disponível em: http://migre.me/ooSz0. Acesso em: 29 jan. 2015.

positiva frente às audiências^19 , como discutiremos adiante. Ou seja, não são apenas as formas de produzir e circular que variam e se transformam, mas também as formas de ler o conteúdo televisivo. Desse modo, acreditamos que Sessão de Terapia é capaz de estabelecer uma relação mais estreita com sua audiência, a qual, por sua vez, busca outras experiências para interagir com a TV. Certamente, a série também se propõe a entreter o espectador, porém, além disso, oferece à sua audiência um ambiente para solucionar conflitos internos, embora sempre em sintonia com a cultura terapêutica que permeia a experiência contemporânea. Assim, através do consumo de um produto televisivo e de diferentes processos de interação, estes indivíduos estabelecem um tipo de contato afetivo que os ajuda na resolução de questões de foro íntimo. Ao longo de seu desenvolvimento, o seriado explora o cotidiano e problematiza a vida comum através da representação de um momento de grande singularidade e intimidade, isto é, a sessão entre um terapeuta e seu cliente. Sessão de Terapia articula, ainda, diferentes arcos narrativos que refletem conflitos familiares e individuais, como a reconciliação entre pai e filho, a busca da felicidade e, até mesmo, a cura para algum grave transtorno psiquiátrico. Theo, o protagonista do seriado, é um especialista construído através da singular linguagem da teledramaturgia, em uma estrutura narrativa linear que organiza todo o texto em diálogos. Esse jogo entre as posições discursivas do terapeuta e seus pacientes se assemelha às técnicas aplicadas pelas práticas terapêuticas na realidade social, legitimando ainda mais a voz e a autoridade da personagem. Enquanto isso, os enquadramentos e outros recursos visuais conferem aos episódios características que aproximam a obra de outras expressões artísticas, como o cinema. Inserida no ambiente midiático contemporâneo, Sessão de Terapia articula o terapêutico para promover o consumo da série pelas audiências por meio de fortes vínculos afetivos. Para investigar tal processo, também referido aqui como Terapia Midiática, estabelecemos dois objetivos principais:

  1. Identificar as características de linguagem de Sessão de Terapia e seus modos de construir sentidos sobre a vida social contemporânea, assim como sobre problemas individuais e suas possíveis soluções;
  2. Investigar os processos de comunicação que se estabelecem a partir das interações entre a obra e as audiências, observando as trocas simbólicas entre produção e consumo, ou

(^19) A página de memes Dr. Theo Deselegante (MASSAROLO et al., 2015, p. 174-175) , por exemplo, já nem existe mais. ( Dr. Theo, da série “Sessão de Terapia”, vira meme no Facebook. Disponível em: http://migre.me/s4H7T. Acesso em: 22 out. 2015.

seja, como os sentidos da série são produzidos, circulam e são interpretados no ambiente transmidiático. Em síntese, a intenção desta pesquisa é investigar os processos de comunicação estabelecidos entre Sessão de Terapia e sua audiência durante a 3a^ temporada, exibida entre 4 de agosto e 21 de setembro de 2014. A análise crítica permitirá identificar as características estéticas e enunciativas do seriado e como o discurso da ordem terapêutica é construído e consumido. Afinal, os sentidos atribuídos à serie também dependem da maneira como o leitor interpreta o texto midiático, o que demanda investigar a produção textual e as respostas das audiências às estratégias de enunciação articuladas pela obra audiovisual. Desta forma, para entender de maneira mais aprofundada como se firmam tais vínculos, é necessário apresentar um referencial teórico sólido e que dialogue com contribuições de campos distintos. Assim, considerando que o contexto dos atuais processos comunicativos deve ser priorizado nos estudos de televisão (MORLEY, 2015, p. 21), buscamos identificar, ainda no primeiro capítulo, as diretrizes que representam o ethos terapêutico com o auxílio de autores como Bauman (1998, 2000, 2003), Furedi (2004), Illouz (2003, 2008, 2011), Freire Filho (2010, 2011), Campanella e Castellano (2015). Para discutir a mídia e a televisão aproveitamos as contribuições de Hall (2003), Machado (2001), Becker (1992, 2005, 2012, 2014), Mittell (2013), Orozco Gómez (2014), e Esquenazi (2014). Questões narrativas e estéticas relacionadas à teledramaturgia também são relevantes para este trabalho, especialmente os modos como Sessão de Terapia incorpora elementos tanto das telenovelas quanto dos seriados, o que reflete, em acordo com Bakhtin (2010), a instabilidade inerente aos gêneros discursivos^20. No segundo capítulo, a fim de compreender as características de linguagem do seriado, buscamos inspiração nas dimensões teórico-metodológicas da Análise Televisual, desenvolvida pela professora e pesquisadora Beatriz Becker (1992, 2005, 2012, 2014), por nos permitir realizar uma leitura crítica das obras audiovisuais. Este capítulo consiste em um estudo das características estéticas e enunciativas de Sessão de Terapia , e é composto por uma análise televisual quantitativa e qualitativa das construções de sentidos da 3a^ e última temporada do seriado, produzida de forma original e exibida entre 4 de agosto e 21 de setembro de 2014, por meio de um estudo das combinações de códigos verbais e não verbais

(^20) Como lembra o autor, “a riqueza e diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo” (BAKHTIN, 2010, p. 262).