Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Explorando o Existencialismo: Tomada de Decisões e Liberdade Humana, Notas de estudo de Tradução

Neste documento, exploramos o existencialismo, uma corrente filosófica que enfatiza a importância da tomada de decisões humanas e a busca por um sentido autêntico na vida. O autor discute a importância da liberdade humana, a finitude humana e a importância de se preocupar com a representação do mundo na mente humana, em vez de se preocupar com o mundo em si. O fenomenologia, uma abordagem filosófica relacionada, também é discutida.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Raimundo
Raimundo 🇧🇷

4.6

(212)

216 documentos

1 / 15

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
FILOSOFIA Capítulo 13
Existencialismo:
Heidegger e Sartre
A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL
02
MARTIN HEIDEGGER
03
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
11
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
11
SEÇÃO ENEM
12
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Explorando o Existencialismo: Tomada de Decisões e Liberdade Humana e outras Notas de estudo em PDF para Tradução, somente na Docsity!

FILOSOFIA – Capítulo 13

Existencialismo:

Heidegger e Sartre

A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL 02

MARTIN HEIDEGGER 03

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 11

EXERCÍCIOS PROPOSTOS 11

SEÇÃO ENEM 12

Existencialismo:

Heidegger e Sartre

A

A corrente filosófica que mais chamou a atenção após a Segunda Guerra Mundial foi o existencialismo, que tem suas raízes no pensamento de importantes filósofos do século XIX, como Kierkegaard^1 e Nietzsche. Nos anos de 1940 e 1950, o existencialismo surgiu como uma resposta às tragédias vivenciadas pela Europa durante a 2ª Guerra, consistindo em uma corrente filosófica que ultrapassou as grades das universidades, influenciando o jornalismo, as conversas e as produções dos intelectuais, a poesia, os romances, o teatro, as produções cinematográficas e as demais manifestações culturais daquela época.

Contrária ao positivismo e à sua crença de que todas as coisas poderiam ser apreendidas pelas experiências, a corrente existencialista considerava que não existiam determinações naturais ou de qualquer outra espécie que fizessem o homem seguir este ou aquele caminho, tampouco havendo uma essência predeterminada que direcionasse a vida humana a um destino imutável. Segundo o existencialismo, o homem necessitava de, devido à sua estrutura mental, atribuir sentido lógico ao mundo e a si mesmo, sendo que tal sentido não era previamente determinado por nada.

Neils Christian Kierkegaard Kierkegaard é considerado o fundador do existencialismo.

1 Soren Kierkegaard (1813-1855) é considerado, em geral, o fundador do existencialismo. A composição de seus escritos se deu em uma época na qual predominavam as ideias de Hegel, recém-falecido, o qual, segundo Kierkegaard, explicava tudo em termos de enormes ondas de ideias nas quais as coisas reais, as entidades individuais, não eram nem sequer mencionadas, apesar do fato de só existirem coisas individuais. Para Kierkegaard, as abstrações, as generalizações, igualmente não existem: elas são auxílios que os homens inventam para si mesmos a fim de poderem pensar e fazer conexões. Se quiserem entender o que de fato existe, os homens têm de encontrar um modo de se chegar a um acordo com as entidades exclusivamente individuais, porque elas são tudo o que existe. Isso vale especialmente para os seres humanos. Hegel via o indivíduo realizando-se apenas quando absorvido na entidade maior e mais abstrata do Estado orgânico, quando, de fato, para Kierkergaard, o próprio indivíduo é a entidade moral suprema e, portanto, os aspectos pessoais, subjetivos, da vida humana é que são os mais importantes. Devido ao valor transcendente das considerações morais, a atividade humana mais importante é a tomada de decisão: é por meio das opções feitas pelos homens que se constrói a vida humana e os homens se tornam eles mesmos. Kierkegaard acreditava que tudo isso tinha implicações religiosas, sendo que, pela tradição central do protestantismo cristão, o que importava mais que tudo era a relação da alma individual com Deus. MAGEE, Bryan. História da Filosofia_. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Loyola, 2001. p. 208-209._

FILOSOFIA

A fenomenologia pertenceu a uma corrente conhecida como filosofia da consciência ou filosofia da subjetividade, sendo que sua preocupação não era fundamentar o conhecimento científico, mas, sim, pensar a consciência reflexiva do homem sobre o mundo. Logo, de acordo com essa corrente filosófica, não haveria mais problemas para escolher entre o realismo (o ser tem uma realidade em si que deve ser apreendida pelo homem para o conhecimento do mundo) e o idealismo (o homem é quem determina a ideia do ser), uma vez que o conhecimento consistia em nada mais do que uma representação do mundo na mente do homem, ou seja, toda consciência é entendida como consciência de alguma coisa, a qual o homem traz à mente de acordo com sua intenção dirigida a um determinado objeto do mundo.

O método fenomenológico

O método fenomenológico baseia-se na observação e na descrição do fenômeno, fundamentando-se na observação e na descrição daquilo que aparece à consciência na mente humana. Constitui-se como uma investigação sistemática da consciência e de seus objetos, os quais se definem precisamente na relação que mantêm com os estados mentais, não havendo distinção possível entre aquilo que é percebido e a percepção humana. A experiência inclui, assim, não só a percepção sensorial, mas todo objeto do pensamento.

Fenomenologia:

  1. Termo criado no séc. XVIII pelo filósofo J.H. Lambert (1728-1777), designando o estudo puramente descritivo do fenômeno tal qual este se apresenta à nossa experiência. [...]
  2. Corrente filosófica fundada por Husserl, visando estabelecer um método de fundamentação da Ciência e de constituição da Filosofia como ciência rigorosa. O projeto fenomenológico se define como uma “volta às coisas mesmas’’, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência que se dá como seu objeto intencional. O conceito de intencionalidade ocupa um lugar central na fenomenologia, definindo a própria consciência como intencional, como voltada para o mundo: “toda consciência e consciência de alguma coisa” (Husserl). Dessa forma, a fenomenologia pretende ao mesmo tempo combater o empirismo e o psicologismo e superar a oposição tradicional entre realismo e idealismo. Fenomenologia pode ser considerada uma das principais correntes filosóficas deste século (XX), sobretudo na Alemanha e na França, tendo influenciado fortemente o pensamento de Heidegger e o existencialismo de Sartre, e dando origem a importantes desdobramentos na obra de autores como Merleau-Ponty e Ricouer. Fenomenologia_._ In : JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de janeiro: Zahar, 1996.

O método fenomenológico de Husserl serviu como uma das mais importantes bases para o existencialismo, uma vez que essa corrente filosófica se deteve não no mundo em si mesmo ou na crença de que existiriam essências anteriores ao homem e à sua consciência, mas, sim, na ideia de que era possível fazer uma análise fenomenológica do mundo moral, da vida social e de outros aspectos da vida e das experiências humanas sem que, para isso, fosse necessário prender o pensamento em algo preestabelecido ou com uma existência independente do homem. Nesse aspecto, encontra-se a ideia mais importante do existencialismo sartreano, a qual afirma que a existência precede a essência, ou seja, que o homem constrói, a partir de seu pensamento, a essência para a sua vida de acordo com as representações de sua existência. No campo do existencialismo, dois filósofos merecem destaque: Heidegger, um dos mais importantes filósofos do existencialismo, e Sartre, considerado o mais representativo pensador existencialista.

MARTIN HEIDEGGER

Heidegger nasceu em 1889, em Baden, Alemanha. Com a intenção de se tornar um religioso da ordem dos Jesuítas, estudou Filosofia e Teologia na Universidade de Freiburg, onde foi aluno do renomado Husserl, a quem sucedeu no cargo de reitor dessa mesma universidade. Sua eleição à reitoria deu-se pelo fato de ter aderido ao Partido Nazista. Uma vez participante do nazismo, entretanto, Heidegger buscou apagar seu passado de ligação com Husserl, que era judeu. Com a derrota dos alemães na 2ª Guerra Mundial, Heidegger teve sua reputação manchada e foi proibido de ensinar durante seis anos como pena por seu passado. Sua obra mais importante é Ser e tempo , publicada em 1927 e reconhecidamente um dos pilares do existencialismo. Além dessa obra, publicou, dentre outras, Kant e o problema da metafísica (1929), A doutrina de Platão sobre a verdade (1942) e Introdução à metafísica (1953). Heidegger morreu em 1976.

Fritz Eschen Martin Heidegger, um dos mais importantes filósofos alemães, defendia que o homem é um ser presente no mundo, mas que não pode se comportar simplesmente como um objeto.

O homem comodasein

Em sua principal obra, Ser e tempo , Heidegger preocupou-se com a elaboração do problema acerca da busca do sentido do ser, o que significava ir além da simples pergunta: “o que é o ser?”. O filósofo desenvolveu uma teoria analítica existencial quando se propôs a pensar no homem que busca investigar o sentido do ser, cujo referente é a linguagem. Embora aparentemente complicada, a ideia de Heidegger pode ser traduzida de forma mais simples na seguinte proposição: antes de buscar compreender o sentido do mundo e das coisas, o homem deve se preocupar em conhecer o sentido dele mesmo, do homem que busca o conhecimento. Para Heidegger, “elaborar a questão do ser significa, portanto, tornar transparente um ente – o que questiona em seu ser” 2. Por isso, a proposição do sentido do ser volta-se para o homem, uma vez que é ele quem procura tal sentido e deve, antes de mais nada, refletir sobre si mesmo, conduta que lhe é própria e que o diferencia dos outros entes.

Heidegger diferencia o ser dos entes (do latim ens , significa ser) para diferenciar o homem dos demais entes, já que o homem é o único que se coloca a pergunta sobre o sentido do ser. Colocar-se a perguntar sobre esse sentido é um modo de ser do homem, uma conduta que o diferencia dos demais entes. “O perguntar mesmo tem, enquanto conduta de um ente, daquele que pergunta, um peculiar caráter de ser” 3.

Buscando responder o que é o homem, qual o sentido do ser que procura respostas sobre o mundo, Heidegger afirmou que o homem era um dasein , neologismo criado na língua alemã que significa ser-aí (traduzido também como presença ou pre-sença). Ao usar esse termo, o filósofo quer dizer que o homem é um ser que está no mundo e em relação íntima com ele. O homem, assim, embora não tenha escolhido estar no mundo, nem tenha optado pelo espaço e tempo em que se encontra, encontra-se sempre em determinada situação dentro desse mundo, tendo sido lançado nele em um projeto existencial. Esse projeto refere-se à tentativa humana de encontrar, indo além da busca pelo sentido do ser, o sentido de sua própria existência, que, para Heidegger, não estava previamente determinada.

Para Heidegger, o homem não é uma simples presença no mundo, um simples objeto, como são os seres inanimados, mas ele é, mais do que ser, o ente para o qual as coisas são presentes, uma vez que, por não possuírem consciência, essas coisas não podem ser presentes para si mesmas, mas podem ser para o homem, que é o único capaz de refletir sobre a existência de tais coisas. O homem é, assim, existência, sendo que sua própria natureza, sua essência, consiste em sua existência. A essência da existência, por sua vez, é a possibilidade do homem de definir-se, de construir-se, de fazer-se da maneira que lhe aprouver, dependendo única e exclusivamente de si mesmo para fazer da sua existência o que achar melhor, podendo perder-se ou conquistar-se, ter uma vida autêntica ou uma vida inautêntica, de acordo apenas com suas escolhas.

Os existencialistas, tanto Heidegger quanto Sartre, consideram o homem um ser livre para fazer de si o que quiser, pois, ao contrário dos outros seres, ele é consciente, é capaz de refletir sobre sua existência, e tal consciência converte-se em total liberdade. Mesmo tendo nascido sem um sentido predefinido, sendo um ser-aí colocado no mundo em determinada situação com tempo, local, família e convivência não escolhidos por ele, o homem é um ser de possibilidades, podendo se definir de acordo com as suas escolhas.

O ser-no-mundo

Segundo Heidegger, o homem, enquanto ser-aí, estando no mundo, não é um objeto e, sim, possibilidade, encontrando-se, dessa forma, diante da necessidade de alcançar o que o filósofo chama de transcendência existencial: não basta existir, é necessário transcender a existência, ultrapassá-la, projetando-se e indo além do que está posto para se construir enquanto ser.

Nesse sentido, a existência é poder-ser, é possibilidade de ser. O homem possui a necessidade de se projetar, e, nesse aspecto, o mundo apresenta-se como uma ferramenta para que ele alcance seu objetivo, projetando-se e construindo-se no próprio mundo. Por essa razão, Heidegger afirmava que o homem é um ser-no-mundo, pois é diante do mundo e por meio dele que o homem precisa se construir. O mundo é, assim, uma construção humana: construindo-o e modificando-o, o homem constrói e modifica a si mesmo.

2 HEIDEGGER. Ser e tempo_. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 33. 3_ HEIDEGGER_._ El ser y el tiempo_. Tradução de José Gaos. México: FCE, 1971. p. 15 (Tradução nossa)._

Segundo Heidegger, existir de forma autêntica só é possível àquele que tem a coragem de encarar a possibilidade da morte e sentir a angústia do ser-para-a-morte, aceitando a própria finitude e não se iludindo ao pensar que a vida presa às coisas e aos fatos traria sentido para a existência humana.

O homem da vida inautêntica, por sua vez, teme a angústia, desviando o pensamento da finitude e se iludindo com as coisas do mundo, acreditando que elas podem trazer sentido à sua existência, inebriando-se com o agora.

Para Heidegger, a angústia é aquilo que

[...] abre, de maneira originária e direta, o mundo como mundo. Não é primeiro a reflexão que abstrai do ente intramundano para então só pensar o mundo e, em conseqüência, surgir a angústia nesse confronto. Ao contrário, enquanto modo de disposição, é a angústia que pela primeira vez abre o mundo como mundo. Isso, porém não significa que, na angústia se conceba a mundanidade do mundo. A angústia não é somente angústia com... mas é também angustiar-se por [...] o por que a angústia se angustia não é um modo determinado de ser e uma possibilidade da pré-sença. A própria ameaça é indeterminada [...] A angústia se angustia pelo próprio ser-no-mundo. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2002. p. 252.

Para Heidegger, o medo é diferente da angústia. Na vida inautêntica, tem-se o medo diante da morte, atitude esta que nega o fim, iludindo-se cegamente com os fatos. Já a angústia é uma atitude da vida autêntica, que assume a morte como possibilidade, aceitando-a como o fim inevitável, mas nem por isso prendendo-se às coisas e aos fatos do mundo como se pudessem trazer sentido à vida.

Sartre

Jean-Paul Sartre, considerado por muitos como o mais representativo de todos os pensadores existencialistas, nasceu em Paris, em 1905. Estudou na Escola Normal Superior de Paris e foi professor de Filosofia nos liceus de Le Havre e de Paris. Convocado para a Segunda Guerra Mundial, foi preso pelo Exército alemão e levado à Alemanha. Ao retornar para a França, fundou, juntamente com Merleau- Ponty, o grupo de resistência intelectual denominado ”Socialismo e Liberdade”.

O pensamento de Sartre ultrapassou os limites da França e se espalhou pelo mundo nas décadas de 1940 e 1950, influenciando consideravelmente a política, os movimentos sociais, as mentes dos intelectuais e a arte. Sartre viajou por todo o mundo, tendo sido recebido por políticos e ativistas famosos, como Che Guevara, em Cuba, e Khrushchev, na Rússia.

Creative Commons Sartre e sua esposa Simone de Beauvoir em visita a Che Guevara em Cuba. Publicou inúmeras obras em diversos campos, como na Filosofia e na Literatura, tendo escrito romances, ensaios, dramaturgia, roteiros cinematográficos, além de proferir conferências em diversas partes do mundo. Sartre faleceu em 1980. Suas obras podem ser divididas em: Romances: A náusea (1938); A idade da razão (1945); O adiamento (1945); A morte da alma (1949). Teatros: As moscas (1943); A portas fechadas (1945); A prostituta respeitosa (1946); Mãos sujas (1948); O diabo e o bom Deus (1951); Nekrassov (1956); Os seqüestradores de Altona (1960). Panfletos políticos: O anti-semitismo (1946); Os comunistas e a paz (1952). Filosofia: O ser e o nada : ensaio de uma ontologia fenomenológica (1943) (sua obra mais importante); A transcendência do ego (1936); A imaginação (1936); Ensaio de uma teoria das emoções (1939); O imaginário, Psicologia fenomenológica da imaginação (1940). Ensaios: O existencialismo é um humanismo (1946); Crítica da razão dialética (1960).

O “em-si” Uma das ideias mais importantes de Sartre era a de que não havia qualquer espécie de determinismo em relação à realidade humana, sendo que o homem era totalmente livre e nada poderia tirá-lo dessa condição de liberdade.

FILOSOFIA

Nesse sentido, não havia, para o filósofo, uma natureza humana predefinida ou anterior ao homem que o determinasse. Ao contrário dos animais, que nascem com uma determinação natural representada por seus instintos, o homem seria livre de qualquer determinação prévia e faria a si mesmo, a partir da liberdade que possuiria dentro de certo contexto, o que Sartre chamava de “liberdade situada”. O filósofo defendeu essa ideia ao afirmar que a existência precedia a essência.

O existencialismo ateu, que eu represento [...], declara que, se Deus não existe, há ao menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e que esse ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. O que significa aqui que a existência precede a essência? Isso significa que, primeiramente, existe o homem, ele se deixa encontrar, surge no mundo, e que ele só se define depois. O homem, tal como o concebe o existencialista, não é definível porque, inicialmente, ele nada é. Ele só será depois, e ele será tal como ele se fizer. Assim, não existe natureza humana, já que não há Deus para concebê-la. O homem é apenas não somente tal como ele se concebe, mas tal como ele se quer, e como ele se concebe após existir, como ele se quer depois dessa vontade de existir – o homem é apenas aquilo que ele faz de si mesmo. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte e Bento Prado Júnior.

  1. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 24.

Sartre defende que a consciência humana é sempre consciência de alguma coisa que está inserida no mundo e que, diferentemente dos homens, nenhum objeto tem a consciência em si mesmo. Para se referir a esses objetos, Sartre usa o termo “em-si”, que representa o mundo das coisas materiais e dos seres que não passam daquilo que eles aparentam ser, idênticos a si mesmos, esgotando-se naquilo que são, sem que possam ser nada além disso. Trata-se do simples ser-no-mundo, desprovido por completo de atividade reflexiva, sendo esta exclusividade do ser humano, capaz de ter consciência das coisas e de si mesmo. Dessa forma, a negação e a afirmação não se apresentam para o “em-si”, já que ambas são frutos da consciência e têm como pressuposto a presença do pensamento.

O ser não é relação a si, ele é ele mesmo. É uma imanência que não se pode realizar, uma afirmação que não se afirma, uma atividade que não pode agir, porque é empastado de si mesmo. BORNHEIM, Gerd. A. Sartre. São Paulo: Perspectiva, 1971. p. 34.

O “para-si” Sartre diferenciava o ser “em-si” e o ser “para-si”, dizendo que o primeiro era o “ser do fenômeno”, a coisa em si mesma, o objeto sem consciência que simplesmente está no mundo, enquanto o segundo, por oposição, era o “ser da consciência”.

O “em-si” é incriado e atemporal, o “para-si” autocria-se continuamente no tempo. Enquanto que o primeiro é sempre idêntico a si próprio, o segundo “não pode coincidir consigo” MORAIVA, João da. O que é existencialismo. 11. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 38.

O “para-si”, dessa forma, é a consciência do homem, a qual, por sua vez, está no mundo e no “ser-em-si”. Essa consciência, no entanto, é radicalmente diferente do mundo, não sendo dependente dele. A consciência, que consiste na própria existência do homem, é absolutamente livre e, sendo pura liberdade, o homem ou a consciência, entendidos como uma mesma coisa, ao contrário do “ser-em-si”, que está pronto e completo, é incompleta, podendo se constituir naquilo que quiser. Para Sartre, a “liberdade não é um ser, ela é o ser do homem, isto é, o seu nada de ser.^4 ”

A náusea Segundo Sartre, uma vez lançado no mundo de forma contingente, gratuita e desprovida de sentido, o homem experimenta a náusea, que consiste na constatação do absurdo da existência do homem, o qual não tem, em sua natureza, qualquer necessidade de existir ou qualquer sentido de vida. O homem existe absurdamente como um ser-aí, um ser-no-mundo, que, ao se dar conta de sua existência e, consequentemente, de sua falta de sentido, tem, então, o sentimento da náusea, que faz com que seu estômago se revire ao compreender que a existência humana é

4 REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga_. 2. ed. 7 v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume VI. p. 228._

FILOSOFIA

A corrente existencialista foi amplamente acusada de pessimista, devido à sua suposta visão decadente e precária acerca da existência humana. Porém, indo contra essa visão, Sartre defendia o existencialismo como a mais otimista das visões sobre o homem, já que era a única que lhe possibilitava fazer de sua vida o que quisesse, sem que houvesse desculpas ou predeterminações que pudessem impedir a sua realização. Segundo a corrente existencialista, como não existe nada de antemão realizado no homem, ele é o único responsável por sua felicidade ou infelicidade, construindo sua essência durante a sua existência.

Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva, ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior.

  1. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 9.

Neste sentido, Sartre afirmava que o existencialismo era um humanismo, “humanismo, porque recordamos ao homem que não existe outro legislador a não ser ele próprio.^6 ”

Em um primeiro momento, o homem simplesmente existe e, só depois de sua existência, ele se descobre, aparecendo no mundo e definindo-se segundo sua liberdade para escolher.

A liberdade Para Sartre, uma vez que a existência é anterior à essência, o homem deve então se construir de forma livre de toda e qualquer determinação. Apesar da aparente contradição, Sartre afirmava que a única determinação do homem é ser livre, ou seja, a sua única determinação é não ter determinação, sendo a liberdade o seu fundamento.

O homem, usando sua liberdade, escolhe o que projeta ser. Seus valores são aqueles que ele mesmo cria por livre escolha, sendo que a única coisa que o homem não pode escolher é deixar de ser livre, pois, ainda que ele decida abandonar a sua liberdade, para escolher isso, ele precisa ser livre. Nesse sentido, Sartre afirma que “a escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher.^7 ”

Javi Velazquez / Creative Commons Para o existencialismo, o homem é totalmente livre para escolher ser o que quiser, ou seja, o homem é o que ele faz de si mesmo. Porém, todas as consequências de suas escolhas são de sua inteira responsabilidade. A possibilidade do fracasso é inevitável quando se tem plena responsabilidade sobre a própria vida. Para o filósofo, não há meio termo para se pensar a liberdade: ou ela é absoluta ou ela não existe, sendo o seu fundamento o nada, o indeterminismo absoluto do homem e daquilo que ele fará de si mesmo.

Somos separados das coisas por nada, apenas por nossa liberdade; é ela que faz que haja coisas com toda sua indiferença, sua imprevisibilidade e sua adversidade, e que nós sejamos inelutavelmente separados delas, pois é sobre um fundo de nadificação que elas aparecem e que se revelam como ligadas umas às outras. A liberdade é o único fundamento dos valores e nada, absolutamente nada, me justifica ao adotar tal ou tal valor, tal ou tal escala de valores. Enquanto ser pelo qual os valores existem eu sou injustificável. E minha liberdade se angustia de ser o fundamento sem fundamento dos valores. SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada : ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de P. Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 591 e p. 76. A liberdade, no existencialismo sartreano, é diferente da ideia de liberdade entendida como simples livre- arbítrio ou como a capacidade de escolher coisas de forma descompromissada. Para Sartre, o conceito de liberdade traz consigo a responsabilidade incondicional pela própria vida e pelos erros e insucessos que possam ser decorrentes das escolhas feitas pelo homem. Nesse sentido, no existencialismo de Sartre, o conceito de liberdade refere-se

6 SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo_. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural,_

1987. p. 21. 7 SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo_. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural,

  1. p. 17._

a uma liberdade responsável, que não pode ser confundida com simples libertinagem, uma vez que a liberdade humana está situada na realidade e, por isso, é condicionada ao contexto histórico e limitada pelas regras da sociedade às quais todos devem se submeter. Por essa razão, a liberdade humana não é infinita. Sartre, em sua obra O ser e o nada , afirmou que “[...] eu sou responsável por tudo, salvo por minha própria responsabilidade, porque eu não sou o fundamento de meu ser. 8 ”

A submissão do homem à comunidade faz com que seus interesses muitas vezes entrem em conflito com os interesses da sociedade. No entanto, o homem, ao compreender que é totalmente livre, deve compreender que todos os outros homens também o são, sendo assim, ao desejar a sua liberdade, o homem se compromete também com a liberdade dos outros homens, e, assim, ser livre assume um caráter universal. Desse modo, Sartre afirma:

Sem dúvida, a liberdade enquanto definição do homem, não depende de outrem, mas, logo que existe um engajamento, sou forçado a querer, simultaneamente, a minha liberdade e a dos outros, não posso ter como objetivo a minha liberdade a não ser que meu objetivo seja também a liberdade dos outros. SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior.

  1. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 199.

A má-fé

Atualmente, entende-se por má-fé as atitudes inescrupulosas tomadas por determinado homem com o intuito de enganar e ludibriar outro homem. No entanto, para Sartre, o conceito de má-fé possuía um sentido diferente, referindo-se às atitudes do homem contra ele mesmo. Para o filósofo, quando o indivíduo mente para si, buscando justificar seus atos por meio de essências, naturezas ou determinações prévias, ele age de má-fé, pois não assume as responsabilidades sobre seus atos e dissimula sua vida ao considerar que suas ações seguem um caminho definido anteriormente às suas escolhas. Para Sartre, um homem que se esconde atrás de desculpas de suas paixões, baseado em um determinismo imaginado, é um sujeito dotado de má-fé, a qual, segundo o filósofo, “[...] é evidentemente uma mentira, pois dissimula a total liberdade do engajamento^9 ”.

Sartre considera a má-fé um pretexto dos homens que, por medo ou ignorância consciente, insistem em se esconder

sob o véu da mentira, afirmando que suas vidas já estão determinadas por um ser superior ou por uma natureza, sem assumir o risco de viver e de tomar decisões, inventando desculpas para si e para as suas ações.

Deus O existencialismo ateu de Sartre coloca o homem no centro da própria vida como único responsável por sua existência. De acordo com essa teoria, é impossível acreditar em um Deus anterior aos homens, pois, se ele existisse, haveria uma natureza original criada por esse Deus, o que não é admitido pela filosofia de Sartre. Para o filósofo, tornando-se responsável por sua existência e pela consequente construção de sua essência, o homem é também responsável pelos outros homens, “[...] portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade inteira^10 ”. Essa responsabilidade leva o homem ao sentimento de angústia, uma vez que, como Deus não existe, tudo é permitido e não existem regras essenciais a serem seguidas. Diante disso, o homem está só, sem o apoio de Deus ou de qualquer outra entidade para legitimar ou apontar as suas escolhas. Por essa razão, o homem está condenado à liberdade, já que não há paradigmas que legitimem as suas escolhas, podendo, por isso, escolher errado, tomando o pior por melhor. Nessa situação, como o único responsável por suas escolhas foi ele mesmo, não há culpados pelo seu fracasso e por seu insucesso, devendo o próprio homem assumir a responsabilidade pelos rumos de sua vida. É necessário ressaltar que o ateísmo do existencialismo não tem a intenção de provar a inexistência de Deus. Com essa teoria, Sartre está preocupado com a liberdade, buscando defender que o homem é livre de qualquer determinação e que, por isso, ele é o único responsável por si mesmo e pelo mundo. Essa responsabilidade defendida por Sartre foi um dos motivos para que o filósofo se tornasse um intelectual profundamente engajado em movimentos políticos, intelectuais e artísticos de contestação e busca pela liberdade.

8 SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de P. Perdigão. Petrópolis: Vozes,

2005. p. 641.

9 SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão zde método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 19 10 SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 7.

04. O homem é antes de mais nada um projeto que vive

subjetivamente, em vez de ser um creme, qualquer coisa podre ou uma couve-flor. Nada existe anteriormente a esse projeto; nada há no céu inteligível, e o homem, diz Sartre, será antes de mais nada o que tiver projetado ser. Se no homem a existência precede a essência, ele será aquilo que fizer de sua vida, não havendo nada, além dele mesmo, de sua vontade, que determine o seu destino. PENHA, J. O que é existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 45. REDIJA um texto explicando por que, para o existencialismo, não basta ao homem simplesmente ser.

05. A escolha é possível, em certo sentido, porém o que não

é possível é não escolher. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 17. Tendo como base a citação anterior, REDIJA um texto explicando a seguinte frase: “Somente a liberdade é determinante”.

06. [...] não encontramos, já prontos, valores ou ordens que

possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução de Rita Correira Guedes. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 9. REDIJA um texto posicionando-se contra ou a favor da seguinte afirmação: “Estamos sós, sem desculpas.”

07. A má-fé é evidentemente uma mentira, pois dissimula a

total liberdade do engajamento. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 19. De acordo com a citação anterior, EXPLIQUE o conceito de má-fé na filosofia sartreana.

08. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe; fica

o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele.

Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1978. De acordo com o trecho e com outros conhecimentos, REDIJA um texto explicando por que o homem está abandonado no mundo.

SEÇÃO ENEM

01. Leia com atenção a citação do filósofo existencialista

Jean-Paul Sartre: [...] o existencialismo afirma é que o covarde se faz covarde, que o herói se faz herói; existe sempre, para o covarde, uma possibilidade de não mais ser covarde, e para o herói, de deixar de o ser. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 14. De acordo com o texto anterior, o homem é A) fruto da sociedade e não pode fugir das limitações naturais dadas por ela, uma vez que é político por natureza. B) livre de qualquer determinação, seja de ordem natural ou cultural, pois, apesar de existirem forças contrárias, o homem é capaz de superar tais limites em um movimento de autoconstrução. C) r e l a t i va m e n t e l i v r e , u m a ve z q u e e x i s t e m determinações de ordem natural que impedem que o homem faça o que quiser de si. D) absolutamente livre, uma vez que ele é o único responsável pelo que faz de si mesmo, tendo em mente que sua vida é resultado de fatores externos e internos. E) totalmente livre na medida em que segue seus instintos, sendo que liberdade é possibilidade de escolha de acordo com a natureza própria e anterior que constitui o que o sujeito é.

FILOSOFIA

GABARITO

Fixação

  1. Segundo o positivismo, todas as coisas do mundo podem ser compreendidas por relações de causa e efeito encontradas por meio da experiência. Desse modo, a natureza e a sociedade funcionam a partir de uma lógica determinista, uma vez que, se há causa, sempre haverá um efeito certo. As leis da natureza são, assim, manifestações inteligíveis dessas normas da natureza. O existencialismo, indo em direção contrária a essa tese, defende que nada determina a vida e os comportamentos humanos. Segundo essa corrente, ao nascer plenamente livre, a essência, que para pensadores como Sócrates constitui a parte inata ao homem e a qual determina sua vida, é construída após a existência, não havendo nada previamente estabelecido. Por essa razão, para o existencialismo, o homem é o que ele fizer de si mesmo, sem qualquer determinação anterior às suas escolhas.
  2. Desde a Antiguidade Grega até o Período Moderno com pensadores como Descartes e Locke, acreditava-se que seria possível conhecer os seres do mundo de forma real e em si mesmos. Ao contrário dessa posição filosófica, a fenomenologia, corrente filosófica fundada por Husserl, defende que o conhecimento só é possível por meio de um processo intencional do homem que busca no objeto os seus fenômenos. Para a fenomenologia, o conhecimento é somente conhecimento do fenômeno, ou seja, daquilo que o homem percebe do ser, não sendo conhecimento do ser em si mesmo. Por isso o homem não deve buscar o objeto em si, pois esse não pode ser alcançado, nem mesmo é possível provar a sua existência. Para conhecer o mundo, o sujeito deve ater-se unicamente na consciência do objeto que está representado na sua mente. Desse modo, entende-se que a frase “voltar às coisas mesmas’’ significa voltar a atenção para os fenômenos sem se preocupar em buscar uma realidade dos seres impossível de ser conhecida.
  3. De acordo com a filosofia de Sartre, o homem é, ou seja, é ser. Nada existe anteriormente ao homem que possa lhe conferir uma essência prévia e que o determine substancialmente de uma forma ou de outra. Portanto, o ser simplesmente existe, é ser. A ideia de nada refere-se à afirmação de que não existe absolutamente nenhum ser que esteja além do homem, mas tão somente o vazio. Por isso, afirmar o nada é afirmar que só existe o ser e não existe uma essência humana previamente determinada. Porém, após constatar que o homem existe e é ser, esse homem deve sair

da simples existência através da transcendência existencial, que consiste em encontrar um sentido pessoal para sua vida. Cabe ao homem, portanto, construir para si, por sua própria conta, sua essência a partir de suas próprias experiências. Propostos

  1. O termo dasein , segundo o pensamento de Heidegger, significa, numa tradução pouco precisa do alemão para o português, ser-aí. Com essa ideia, o filósofo quer chamar a atenção para o fato de que o homem é um ser que simplesmente está lançado no mundo, mantendo uma relação íntima com a realidade na qual se encontra. O homem está sempre em uma situação real e determinada no mundo, e tal situação não foi objeto de sua escolha, pois ele não escolheu o tempo, o lugar, a família, a aparência, ou seja, ele não escolheu nada daquilo que ele é. Assim, o homem é simplesmente um ser-aí que, além de buscar o sentido do ser, ele é um ser que deve responder sobre o sentido dele mesmo, refletindo sobre sua existência.
  2. Para Heidegger, a vida inautêntica é aquela em que o sujeito resume sua vida ao apego às coisas em si mesmas, sem utilizá-las como instrumentos que poderiam levá-lo a um projeto maior. A inautenticidade caracteriza uma existência anônima, que o filósofo chama de dejeção, consistindo na queda do homem no plano das coisas do mundo, o que faz de sua existência algo vazio e sem sentido, sendo que, dessa forma, o homem vive cada dia preso às coisas e busca nelas algo que o satisfaça. A vida autêntica, por outro lado, é aquela em que o sujeito compreende que as coisas não podem ser vistas em si mesmas, devendo ser utilizadas como instrumentos que levam o homem além da simples materialidade das coisas. Para Heidegger, a vida autêntica só é possível quando o homem aceita a ideia de que ele é um ser-para-a-morte, sendo que essa consciência da finitude o impede de se fixar nos fatos, mostrando a nulidade do projeto de sua vida, que é em si passageira. A autenticidade da vida consiste, portanto, em reconhecer que qualquer projeto ou plano é em vão, pois tudo vai acabar com a morte, a impossibilidade da possibilidade.
  3. O existencialismo considera que os homens devem buscar um sentido pessoal para a sua existência, podendo levar erroneamente a uma concepção pessoal e individualista de existência humana. Contudo, o existencialismo não prescinde, em absoluto, dos outros homens na busca pela essência pessoal a ser construída. Pelo contrário,