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Guias e Dicas
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Análise da Série Harry Potter: Dimensões Exterioridade, Interioridade e Serialização, Notas de estudo de Cultura

Este trabalho propõe uma análise da série de livros harry potter, considerando sua dimensão de exterioridade como objeto estratégico localizado na fronteira entre o campo literário e o mercado de bens simbólicos, sua dimensão de interioridade com base na narrativa singular de cada livro, e sua trajetória de serialização e migração para outras formas culturais. A pesquisa sobre a série harry potter encerrou-se em 2006, antes da publicação do sétimo livro e do lançamento do quinto filme.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Barros32
Barros32 🇧🇷

4.4

(399)

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HARRY POTTER
CAMPO LITERÁRIO E MERCADO,
LIVROS E MATRIZES CULTURAIS
Tese inédita apresentada como exigência
parcial para o Concurso de Livre-Docência
na área de Antropologia, Faculdade de
Ciências Sociais, Programa de Estudos
Pós-graduados em Ciências Sociais,
Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUCSP)
SILVIA HELENA SIMÕES BORELLI
SÃO PAULO
2006
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
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Baixe Análise da Série Harry Potter: Dimensões Exterioridade, Interioridade e Serialização e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity!

HARRY POTTER

CAMPO LITERÁRIO E MERCADO,

LIVROS E MATRIZES CULTURAIS

Tese inédita apresentada como exigência parcial para o Concurso de Livre-Docência na área de Antropologia, Faculdade de Ciências Sociais, Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)

SILVIA HELENA SIMÕES BORELLI

SÃO PAULO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

SILVIA HELENA SIMÕES BORELLI

HARRY POTTER

CAMPO LITERÁRIO E MERCADO, LIVROS E MATRIZES CULTURAIS

Tese inédita apresentada como exigência parcial para o Concurso de Livre-Docência na área de Antropologia, Faculdade de Ciências Sociais, Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)

SÃO PAULO

iii

Ao Zé, pela cumplicidade, alegria e tudo mais!

Para Tiago, Lucas, Fernanda, Sofi a: por estarem sempre perto, gracinhas e solidários.

E por termos armado, juntos, o espaço da Sapucaia. Nesse lugar, embalada pelo barulho dos ventos e das águas; pelo arrulhar dos cachorrinhos; pelo cheiro da hortelã e da cidreira; pelo sabor das amoras, acerolas e jabuticabas; por muito frio, mas também pelo brilho intenso do sol, escrevi este trabalho.

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Os agradecimentos são para:

Nydia, Velho e Batata, porque mantêm acesa a chama do inusitado; Gui, pelas queridas e densas interfaces na vida e na academia; Mônica, Juliana, João e a pequena Sofi a, pelo encadeamento dos fl uxos e saborosos momentos; Letícia, que aos nove anos me emprestou o primeiro livro de Harry Potter; Bubi e Tião, porque continuam sendo. A todos, obrigada pelo acolhimento nesta casa feliz, “canto do mundo, primeiro universo”^1_._

Ian, que, aos seis anos, me “contou” uma fantástica história de Harry Potter, depois de ter assistido ao primeiro fi lme da série.

Rose e Rita, pelo espaço da troca, leveza e cumplicidade; e porque pesquisamos, produzimos e partilhamos experiências; e, de resto, porque gosto muito de vocês; Josimey, Gislene, Rosana e Simone, pela convivência no trabalho já realizado. Aos “meninos” bolsistas das variadas etapas – Euzébio e Tais (pelo apoio muito especial), Mariana, Marina, Romero, Cyntia, Pedro, João Paulo; todos e todas, pesquisadores do grupo “jovens urbanos”.

Edgard, referência permanente; Lu, desde sempre e por todos os muiraquitãs; e, ainda, Margarida, Edmilson Felipe e Luiz (^1) (BACHELARD (1984). Rondini, queridos parceiros na PUCSP e também fora dela.

RESUMO

Este é um trabalho sobre Harry Potter , a série de livros da escritora britânica Joanne Kathleen Rowling, publicada originalmente pela editora Bloomsbury Publishing Plc, a partir de 1997; traduzidos para inúmeros idiomas e divulgados e consumidos, mundialmente, pelas estratégias de mercado de bens simbólicos, os livros chegam ao Brasil no ano de 2000, editados pela Rocco.

Os objetivos da reflexão são: 1) compreender o livro em sua dimensão de exterioridade e como parte inclusiva de um sistema mais geral de produção da cultura na contemporaneidade; encará-lo como objeto estratégico dentro do campo literário e do mercado de bens simbólicos;

  1. conceber o livro em sua dimensão de interioridade e considerá-lo pela narrativa singular da qual é suporte e portador: que histórias são essas; a que matrizes culturais pertencem; com quais territórios de ficcionalidade dialogam; e como se tornam capazes de reproduzir um espírito do tempo e produzir novas ordens imaginárias; 3) perscrutar o livro acompanhando sua trajetória de migração do campo literário em direção a outras formas culturais: da transformação das palavras escritas em imagens cinematográficas e digitalizadas.

PALAVRAS-CHAVE

Harry Potter best-seller , campo literário e mercado de bens simbólicos matrizes culturais, narrativas e territórios de ficcionalidade formas culturais, texto literário e imagens imagens e imaginários juvenilização e intergeracionalização

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ABSTRACT

This is an essay about Harry Potter, the series of books of the British writer Joanne Kathleen Rowling, published originally by the Bloomsbury Publishing Plc, since 1997, translated to countless idioms and divulged and consumed, world-widely, by the market strategies of symbolic goods, the books arrived in Brazil in the year 2000, edited by Rocco.

The aims of this refl ection are: 1) to understand the book in a di men sion of exteriority, which includes a more general system of cultural production in the contemporaneousness; to face it, as a strategic object inside the literary fi eld and the symbolic goods market; 2) to conceive the book in your dimension of interiority and consider it from its singular narrative in which it is support and porter: what stories are these; which cultural ma trix es they belong; which fi ctional territories they dialog; how they become capable of reproducing a time spirit and capable of producing new imaginary orders; 3) to scan the book following its trajectory of literary fi eld mi gra tion towards other cultural forms: from the transformation of the writ ten words in cinematographic or digitized images.

KEY-WORDS

Harry Potter best-seller, literary fi eld and symbolic goods market cultural matrixes, narratives and fi ctional territories cultural forms, literary text and digitized images images and imaginary juvenescence, inter-generation

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Não há, pois, razão de duvidar da efi cácia de certas práticas mágicas. Mas, vê-se, ao mesmo tempo, que a efi cácia da magia implica na crença da magia [...] sem essa efi cácia, os usos mágicos não teriam podido conhecer a vasta difusão que os caracteriza, no tempo e no espaço. (LÉVI-STRAUSS, 1973:194 e 208) Assim, feita de modo estético, a troca entre o real e o imaginário é, se bem que degradada (ou ainda que sublimada ou demasiado sutil), a mesma troca que se fazia entre o homem e o além, o homem e os espíritos ou os deuses, por intermédio do feiticeiro ou do culto. (MORIN, 1984:82)

LIMIARES

Esse universo imaginário adquire vida para o leitor... Há um desdobramento do leitor nos personagens, uma interiorização dos personagens no leitor, simultâneas e complementares, segundo transferências incessantes e variáveis. Essas transferências psíquicas que asseguram a participação estética nos universos imaginários, são ao mesmo tempo infra e supra-mágicas... Em outras palavras, não defi no estética como a qualidade própria das obras de arte, mas como um tipo de relação humana muito mais ampla e fundamental. (MORIN, 1984:82)

Este é um trabalho que versa sobre Harry Potter , a série de livros da escritora britânica Joanne Rowling (ou Joanne Kathleen Rowling, de acordo com a estratégia de marketing de seu editor), publicada originalmente pela editora inglesa Bloomsbury Publishing Plc, a partir de 1997^1.

Na verdade, Harry PotterHarry PotterHarry Potter serve como um bom pretextoserve como um bom pretexto para responder a objetivos previamente estruturados, e cuja explicitação se dará consecutivamente; nada mais instigante para um pesquisador que se defrontar com um objeto paradoxal e complexo, capaz de permitir entradas e recortes múltiplos e variados.

A priori , salta aos olhos a magnitude que envolve os processos de produção, divulgação e consumo ou, em outras palavras, a demanda pela análise de um cenário histórico propriamente voltado para as esferas das materialidades econômicas, compreendidas, sempre, como formas de produção e

(^1) O projeto original da série, em contrato estabelecido entre Rowling e Bloomsbury, supõe a produção de sete volumes. Já estão disponíveis no mercado, traduzidos nas mais variadas línguas e em todo o mundo, os seis primeiros episódios apresentados aqui de acordo com suas datas de lançamento, na Inglaterra e no Brasil: 1) Harry Potter and philosopher’s stone. London, Bloomsbury Publishing Plc, 1997 ( Harry Potter e a pedra filosofal. Rio de Janeiro, Rocco, 2000); 2) Harry Potter and the chamber of secrets. London, Bloomsbury Publishing Plc, 1998 ( Harry Potter e a câmara secreta. Rio de Janeiro, Rocco, 2000);

  1. Harry Potter and the prisioner of Azkaban. London, Bloomsbury Publishing Plc, 1999 ( Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban. Rio de Janeiro, Rocco, 2000); 4) Harry Potter and the globet of fire. London, Bloomsbury Publishing Plc, 2000 ( Harry Potter e o cálice de fogo. Rio de Janeiro, Rocco, 2001); 5) Harry Potter and the Order of the Phoenix. London, Bloomsbury Publishing Plc, 2003 ( Harry Potter e a Ordem da Fênix. Rio de Janeiro, Rocco, 2003); 6) Harry Potter and the half-blood prince. London, Bloomsbury Publishing Plc, 2005 ( Harry Potter e o enigma do príncipe. Rio de Janeiro, Rocco, 2005).

fundo, os fi os condutores do debate frankfurtiano, personalizados por Theodor W. Adorno e Walter Benjamin – presença marcante e imprescindível nesta trajetória acadêmica – e os conceitos de “indústria cultural”, “reprodutibilidade técnica, narrativa e narradores, história e memória”, entre outros; esses conceitos tornam-se fundamentais para tematizar as relações entre arte, estética e cultura inseridas num projeto contemporâneo de modernização. Gravitam, também, em torno das considerações mais gerais, autores como Italo Calvino e Jesús Martín-Barbero, fundamentais para a análise dos “territórios de fi ccionalidade” e “matrizes culturais”, além de Umberto Eco – a quem retomo, desde o doutorado, sem o rigor epistemológico, mas com o encantamento de sempre.

  1. Busca e análise de dados relacionados ao mercado editorial no Brasil e em outros países, particularmente aqueles referentes à série Harry Potter. Para tanto, alguns bancos de dados de produção e consumo foram sistematicamente acompanhados; entre os vários responsáveis, no Brasil, pela aferição da venda de exemplares de livros, foram selecionados: “+ livros Mais vendidos”, caderno Mais!, jornal Folha de S.Paulo ; “Os mais vendidos”, revista Veja ; e “Livros mais vendidos”, jornal O Estado de S. Paulo. O ponto de partida para uma proposta de análise comparativa do impacto da série Harry PotterHarry PotterHarry Potter em outros paísesem outros países está localizado em viagem realizada à França e à Itália, em janeiro e fevereiro de 2001; nas cidades de Paris, Florença e Roma, muitas imagens de Harry PotterHarry PotterHarry Potter tomavam contatomavam conta das ruas e inúmeras pessoas se mobilizavam nas proximidades das livrarias em torno do lançamento do quarto volume da série, ...o cálice de fogo ; dessa “primeira observação etnográfi ca” surge a idéia de retomar e adensar a refl exão sobre as singulares relações que se estabelecem entre mídias e vida cotidiana e transformar isso numa nova hipótese de pesquisa.

  2. Mapeamento do debate que envolveu a crítica e os críticos, além de educadores no Brasil e no exterior. Nota-se que a excessiva visibilidade de mercado (produção, divulgação,

consumo), aliada a uma quantidade desmedida de jovens (e não tão jovens) leitores em todo o mundo, mobilizou o debate crítico na mesma proporção. Para a coleta de dados referente aos dois últimos itens – mercado editorial e debate entre os críticos – foram fundamentais as informações contidas nas mídias impressa e digital, nos sites de busca e na bibliografia comentada já disponível sobre a série Harry Potter.

  1. Levantamento, leitura crítica e inserção das referências bibliográficas, nacionais e estrangeiras, especificamente voltadas para a análise da série Harry Potter.

  2. Leitura exaustiva dos seis volumes já publicados no Brasil^2 , além de algumas das versões em inglês (Inglaterra e EUA), francês, espanhol e italiano, adquiridas tanto durante a viagem de pesquisa para França e Itália, quanto posteriormente, em livrarias brasileiras^3. Resultam dessa leitura dois procedimentos analíticos básicos que se complementam, com o intuito de desvendar uma totalidade complexa. O primeiro deles, voltado para a compreensão do livro em sua dimensão de materialidade, como objeto palpável produzido, divulgado e veiculado com base nas condições e regras de mercado, mas também como elemento constitutivo e constituinte da dinâmica do campo editorial. O segundo procedimento privilegia a leitura da narrativa, a localização dos principais personagens e os vínculos e pertenças a diferentes matrizes culturais e territórios de ficcionalidade; o

(^2) Ver nota de rodapé número 1. (^3) Harry Potter and the chamber of secrets. London, Bloomsbury Publishing Plc, 1998; Harry Potter e la camera dei segreti. Milano, Salani Editore, 1999; Harry Potter y la cámara secreta. Barcelona, Salamandra, 2000; Harry Potter et la coupe de feu. Paris, Gallimard, 2000; Harry Potter and the globet of fire. New York, Scholastic Press, 2003; Harry Potter and the half-blood prince. London, Bloomsbury Publishing Plc, 2005.

a intenção é deixar afl orar, pela voz dos envolvidos na contenda, detalhes contidos nos relatos, supondo-se que, em uma disputa, o tom nem sempre é explícito e pequenos indícios, aparentemente pouco significativos, podem revelar traços encobertos nas entrelinhas. Nesse sentido, trata-se de um trecho recheado de citações e o texto apresenta-se entrecortado por múltiplas “falas”, numa estratégia assumida, de forma intencional, como parte inclusiva de um protocolo metodológico.

É importante esclarecer, em relação a esse mesmo tópico que envolve a leitura e a análise dos críticos e da crítica, que as atualizações constantes de informações, em especial aquelas coletadas via Internet, justifi cam-se, uma vez que havia sempre algo novo a ser divulgado: afi nal, Harry PotterHarry PotterHarry Potter tornou-se um objeto de pauta quase permanente, entre 2000 e 2005,tornou-se um objeto de pauta quase permanente, entre 2000 e 2005, sobretudo em períodos de lançamentos de um novo volume da série ou de um novo fi lme, no Brasil e no exterior; e a intermitência do tema deveu-se, em grande parte, ao debate público travado entre os agentes do campo, nas mídias impressa e digital. Algo como se críticos e mercado estivessem em perfeita simbiose quanto ao uso dos espaços midiáticos: o mercado, para a divulgação das qualidades desse produto de perfi l multifacetado, e os críticos, na defesa de seus princípios e pontos de vista dentro dos campos literário e educacional.

O segundo capítulo, “Era uma vez... conte outra vez! Produção da narrativa, migrações”, tematiza as complexas relações entre racionalidade, magia e mito, defi ne o que se entende por narrativas e narradores e, na seqüência, propõe um desdobramento com base em dois eixos complementares. O primeiro deles – “Matrizes culturais e territórios de ficcionalidade”

  • privilegia, como o próprio título indica, a leitura interna das narrativas e a busca pelas matrizes culturais e territórios de fi ccionalidade ali contidos. Destacam-se os padrões dos contos de fadas e das histórias maravilhosas, clássicos da literatura infantil e dos folhetins do século XIX, além dos modelos da aventura e das narrativas mágica e fantástica.

Ressalta-se que a magia se apresenta não apenas como recurso de construção da própria narrativa literária concebida por Rowling, mas também como variável analítica e elemento de mediação que intervém no imaginário dos leitores e colabora na constituição de um repertório compartilhado.

O segundo eixo, que encerra o capítulo dois – “Textos e imagens: formas em movimento” –, esclarece o sentido atribuído aos conceitos de série/serialidade (ECO, 1989) e amplia o diálogo com o de forma cultural preconizado por Williams (1997); ambos os conceitos colaboram para o acompanhamento dos variados trajetos de migração por que passa a série Harry Potter. A reflexão se consolida mediante a constatação de que boa parte das manifestações culturais na modernidade – e dos produtos delas resultantes – está imersa em um processo permanente de migração (VILCHES, 2003) – texto literário, imagens fílmicas, imagens digitalizadas – e de atualização das formas como elementos historicamente constituídos (WILLIAMS,1997).

Migração cultural em que a série Harry PotterHarry PotterHarry Potter vira fi lme, jogo eletrônico, RPG, entre outrasvira fi lme, jogo eletrônico, RPG, entre outras adequações possíveis: as palavras escritas, a multiplicidade de vozes, transformam-se em imagens – prioritariamente digitalizadas – pelos diversos mecanismos de apropriação e convergência, de interfaces e interatividades, de acordo com os novos padrões tecnológicos de produção e relação com os usuários.

Há também, no segundo capítulo, uma estratégia intencional prevista pelo protocolo metodológico: o texto analítico aparece entrecortado, de forma permanente, por trechos selecionados da narrativa contida nos seis livros da série, como fonte e mediação para a realização de uma refl exão sobre os temas aqui envolvidos; a fala dos personagens e a trama a eles referida servem como instrumento para a efetivação da análise.

Num esforço de síntese, seria possível afi rmar que o trabalho se propõe a recortar o objeto

1. CAMPO LITERÁRIO E MERCADO DE BENS SIMBÓLICOS

[...] os românticos não tiveram dúvida, entregaram a literatura ao comando do transcendental. Daí por diante, a literatura entra em guerra consigo mesma e com a mecânica social dos objetivos e motivações conscientes. A matéria da visão literária será, com efeito, coletiva e mítica, enquanto as formas de expressão e comunicação literárias serão individualistas, segmentárias e mecânicas. A visão será tribal e coletiva; a expressão, particular e vendável. (MCLUHAN, 1977:358)

O objetivo deste capítulo é analisar as possíveis relações entre campo literário e mercado de bens simbólicos (BOURDIEU, 1996) a partir da localização da série Harry PotterHarry PotterHarry Potter nosnos interstícios desse sistema mais amplo. As constatações e indagações que orientaram o horizonte de buscas desta etapa da pesquisa podem ser assim formuladas: a série Harry PotterPotterPotter é, incontestavelmente, um produto do mercado de bens simbólicos; entretanto, éé, incontestavelmente, um produto do mercado de bens simbólicos; entretanto, é factível considerar sua inserção no campo literário ou mesmo buscar as eventuais interfaces entre campo e mercado?

Em um primeiro momento, a proposta se estrutura a partir do acompanhamento da série e de seu desempenho como um produto destinado ao mercado: produção, divulgação, consumo e a constituição de um best-seller.

Posteriormente, destaca-se o mapeamento da reação dos críticos e da crítica, alguns deles assumindo-se como agentes do campo literário, em defesa de seus princípios, regras e hierarquias, e outros adotando uma posição menos excludente e manifestando-se a favor de possíveis conexões entre campo e mercado, cultura e mercado.

Antecipando potencialidades analíticas e já dialogando com os pressupostos bourdianos, seria possível afi rmar que a posição dos agentes literários, na defesa das regras do campo, confirma a existência de uma “estrutura dualista” e da “cisão entre arte e mercado” (BOURDIEU, 1996:141 e 163) ; entretanto, o embate entre diferentes posturas críticas

abre a possibilidade de uma avaliação mais voltada para a elucidação dos possíveis diálogos entre cultura e mercado, numa vertente analítica menos dualista e excludente, ainda que não vazia de confl itos e contradições.

1.1. BEST-SELLER E E STRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO E CONSUMO

A série Harry PotterHarry PotterHarry Potter chegou ao Brasil em 2000, três anoschegou ao Brasil em 2000, três anos depois que os primeiros livros – Harry Potter and philosopher’s stone, Harry Potter and the chamber of secretsstone, Harry Potter and the chamber of secretsstone, Harry Potter and the chamber of secrets ee Harry Potter and the prisioner of Azkabanand the prisioner of Azkabanand the prisioner of Azkaban – foram lançados na Inglaterra– foram lançados na Inglaterra (Bloomsbury Publishing Plc) e nos Estados Unidos (Scholastic Press), tiveram sua tradução para variadas línguas, além da inglesa, e conquistaram um espaço considerável no mercado editorial internacional.

Para recuperar o “tempo perdido” a editora Rocco, detentora dos direitos autorais no Brasil, publicou os mesmos três volumes – Harry Potter e a pedra fi losofal , Harry Potter e a câmara secretacâmara secretacâmara secreta ee Harry Potter e o prisioneiro de AzkabanHarry Potter e o prisioneiro de AzkabanHarry Potter e o prisioneiro de Azkaban –,–, em uma maratona editorial, nos meses de março, agosto e novembro de 2000, respectivamente.

Desde então, a trajetória da série no Brasil acompanhou o ritmo acelerado dos novos lançamentos no mercado internacional e alcançou patamares bem-sucedidos no ranking dos “mais vendidos”; como em todo o mundo,

www.rocco.com.br

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