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Habilidades para uma carreira de sucesso na engenharia, Notas de estudo de Introdução à Engenharia de Software

Habilidades para uma carreira de sucesso na engenharia

Tipologia: Notas de estudo

2023

Compartilhado em 27/11/2023

kairo-sousa-2
kairo-sousa-2 🇧🇷

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A375h Alexander, Charles K. Habilidades para uma carreira de sucesso na engenharia [recurso eletrônico] / Charles K. Alexander, James A. Watson ; [tradução : João Ricardo Reginatto Beck, Silvio Ricardo Cordeiro]. – Porto Alegre : AMGH, 2015.

Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8055-440-

  1. Engenharia - Habilidades. 2. Engenharia – Capacitação profissional. I. Watson, James A. II. Título. CDU 62:37.091.322.

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/

Cap. 8 A habilidade de aplicar a abordagem sistêmica à engenharia 151

Uma vez que você estiver na mesa, o que deve fazer? Você provavelmente tem um delineamento do problema que cai em uma das duas categorias:

  1. O delineamento é razoavelmente bem definido e você pode prosseguir para desenvolvê-lo mais completamente. Comentaremos esse processo mais adiante.
  2. Você ainda não tem um delineamento claro. Logo, ainda precisa saber mais antes de prosseguir.

Para começar, vamos analisar o segundo caso. Você deveria vê-lo como uma ver- dadeira oportunidade de demonstrar o quão bom você é! Eu sugiro que você escreva exatamente o que você entende a respeito do delineamento atual do problema. Depois, escreva o que você acredita que precisa saber antes de prosseguir. Você também pode realizar uma pausa neste momento e enviar o que você já tem a seu supervisor, mas eu não recomendo; minha experiência demonstrou que você realmente precisa desenvol- ver suas ideias primeiro e, só então, enviar o delineamento reescrito a ele. Você pode ficar surpreso quando o supervisor aceitar suas ideias como uma reflexão das ideias dele, dizendo que era isso o que ele estava esperando, ou quando ele parabenizá-lo por ter tomado iniciativa. Neste caso, o supervisor ou lhe dará permissão para continuar, ou lhe dará um novo delineamento de problema, desta vez muito mais específico que o original. Em ambos os casos, você sairá ganhando.

EXEMPLO 8.2. Expanda o delineamento de problema do Exemplo 8.2.1.

Em todos os casos, não pare por aqui. Primeiramente, continue a trabalhar no problema em consonância com o seu atual delineamento e, então, reúna seus conheci- mentos e expanda o delineamento do problema para que se torne um plano de traba- lho. Uma vez feito isso, apresente-o a seu supervisor para garantir que vocês tenham o mesmo entendimento do que precisa ser feito.

Delineamento original, “Venha me buscar na estação de trem”. Primeira iteração (perguntas que precisam ser respondidas) Segunda iteração (seu novo delineamento do problema original) Delineamento completamente desenvolvido (inclui todas as respostas direcionadas ao novo delineamento do problema)

Outra consideração importante desta parte do processo é que se houver uma interface entre essa tarefa ou subsistema e outras tarefas ou subsistemas, temos de ser extremamente claros sobre a interface e tudo o que interage com ela. Em outras pala- vras, devemos especificar as interfaces de módulos (como os módulos decompostos se conectam uns aos outros e “quais são os valores a serem recebidos e transferidos”) e garantir que suas especificações sejam seguidas.

152 Habilidades para uma carreira de sucesso na engenharia

8.3 Decomposição do problema ou da tarefa

Uma vez que o problema esteja claramente definido, você precisa decompô-lo em módulos simples e bem definidos. Nesse momento, já teremos o problema deline- ado. O processo pode ser executado usando-se a abordagem sistêmica e, no caso dos problemas mais complicados, a abordagem que estamos definindo deve ser seguida.

8.4 Definição dos elementos do processo de resolução

Agora que o problema está decomposto em blocos (ou módulos) de problemas mais manejáveis, podemos prosseguir no desenvolvimento de soluções para esses blocos. O processo que seguimos agora é a definição dos elementos do processo de resolução de problemas. Os elementos do processo de resolução são cobertos nas Seções 8.5 a 8.9.

8.5 Metas

A compreensão do que é uma meta é razoavelmente simples: é o que queremos fazer ou o que queremos alcançar. Contudo, ao usar a abordagem sistêmica, uma meta torna-se muito mais do que isso. Temos metas relativas ao sistema em geral e, quando dividimos um problema complicado em unidades menores, tais unidades também têm suas metas, que são diferentes das metas do nível superior. Esse conceito se tornará claro ao progredirmos neste capítulo e no decorrer do resto do livro. Adotaremos as seguintes definições:

Uma meta é algo que você deseja realizar ou alcançar.

Um bom exemplo de meta é resolver um problema em particular. Outro exemplo pode ser escrever um livro. Isso levanta a pergunta “como determinar uma meta”? Também nos leva à abor- dagem sistêmica. Retornemos ao exemplo de resolução de um problema em particular. À primeira vista, essa parece ser uma meta simples o bastante. Entretanto, de onde ela veio? Claramente, como estudantes, temos a meta de nos formarmos. E, para nos for- marmos, temos de passar nas disciplinas. Para passar nas disciplinas, precisamos estudar o livro e os problemas propostos. É possível perceber que o objetivo de resolver um pro- blema vem, na realidade, de uma meta muito maior que é receber um diploma. Essa é a abordagem sistêmica: você parte de um problema muito maior e o divide em unidades cada vez menores até que tenha uma unidade suficientemente simples que possa ser re- solvida prontamente em um espaço de tempo razoável e com uma quantidade razoável de esforço. Claramente, você consegue ver como isso lhe permitirá obter seu diploma. Metas também podem ser o resultado do uso da abordagem sistêmica em um nível mais alto. Outro exemplo seria “realizar uma viagem de Filadélfia a Washing- ton”. Essa é uma meta, mas o meio de transporte não está determinado. Pode-se fazer esse trajeto facilmente de carro, avião ou trem. Cada meio tem seus próprios méritos e, dependendo das suas restrições e preferências pessoais, pode ser o meio que você

154 Habilidades para uma carreira de sucesso na engenharia

Quais são as restrições mais óbvias do Exemplo 8.5.1? A mais óbvia seria que estamos restritos a considerar apenas carro, avião ou trem. Isso elimina outros meios, como viajar a pé, a cavalo ou de ônibus. Outra restrição pode ser econômica, ainda que em alguns casos isso não seja uma consideração. A duração da viagem também pode ser uma restrição, ou a hora de chegada ao destino – por exemplo, se você precisar estar em São Paulo até o meio-dia de uma data específica. Essas seriam as restrições mais óbvias.

8.7 Alternativas

Como se pode ter concluído na seção anterior, as alternativas são os diversos métodos de alcançar suas metas. Metas indicam que um problema deve ser resolvido e levam a um projeto de execução em particular. Alternativas são a forma como você resolve os problemas (que técnicas deve usar) e como realizar um projeto específico (novamente, que técnicas e/ou processos deve usar). Quais são as alternativas para a resolução de um problema? Algumas alternati- vas óbvias que podemos ter para todos os problemas seria utilizando técnicas manuais (essa é, a propósito, a forma ainda usada em muitas disciplinas), técnicas com calcula- doras ou usando um pacote de software específico. Alternativas adicionais seriam espe- cíficas ao problema, como no caso dos circuitos, por exemplo. Aqui você poderia usar uma combinação de técnicas manuais e MATLAB ou um pacote específico de análise de circuitos como PSpice.

EXEMPLO 8.7. Quais são as alternativas para o Exemplo 8.5.1?

No nosso exemplo, quais são as alternativas? As mais óbvias já foram apresen- tadas: carro, avião e trem. Você pode pensar que já tem suas alternativas. Entretanto, mais alternativas surgem quando cada uma das alternativas originais é dividida e trans- formada em metas, que terão então suas próprias alternativas. Vamos analisar breve- mente o uso do carro como uma alternativa. Se nossa meta for viajar de Filadélfia a Washington de carro, as alternativas podem ser ir com o seu próprio carro, com o carro de um amigo ou vizinho, ou alugar um.

8.8 Avaliação e prós e contras

Na maioria das vezes, não desejamos executar cada alternativa (ainda que, quando razoável fazê-lo, poderíamos fazer isso). Aqui nós precisamos avaliar cada alternativa e escolher aquela que usaremos para alcançar nossa meta. É aqui que começam os conflitos de escolhas. Por que dizemos que há prós e contras quando estamos avaliando que alterna- tiva usar? Isso vem do fato de que não existe uma alternativa perfeita. Geralmente, cada alternativa tem suas características positivas e negativas. Uma vez que acaba- remos por escolher uma alternativa, sabemos que as outras terão propriedades dese-

Cap. 8 A habilidade de aplicar a abordagem sistêmica à engenharia 155

jáveis que a selecionada não tem, ou que tem em um nível mais fraco. Por exemplo, podemos escolher um processo de resolução mais rápido que não seja tão exato quanto um mais demorado. Vejamos os nossos exemplos. Dado o problema do Exemplo 8.5.1, quais são os prós e contras óbvios? No cál- culo da solução de um sistema complicado de equação manualmente versus usando um computador, podemos tentar identificar os prós e contras. Antigamente, as soluções de computador tendiam a não ser tão precisas ou tão precisamente realizadas quanto os cálculos manuais. Atualmente, entretanto, cálculos no computador podem ser muito mais precisos que os cálculos manuais mais cuidadosos, além de mais precisos que os resultados gerados pelas calculadoras mais precisas. Então, os prós e contras óbvios en- tre cálculo manual e cálculo em computadores consistem em cálculos manuais menos precisos e extremamente mais lentos de executar. Na verdade, a partir de uma certa complexidade, os cálculos manuais começam a nunca produzir resultados corretos. Consequentemente, se você estiver disposto a arcar com perda de precisão e velocidade de cálculo, você pode decidir resolver o problema manualmente. Nem todos os problemas têm prós e contras simples. Às vezes, isso pode confundir mais que escla- recer. Quando isso acontece, você deve procurar outras pessoas que possam ajudá-lo com o processo de avaliação. Obviamente, no processo de decisão informada com base em prós e contras, precisamos conhecer todas as questões relevantes para cada uma das alternativas. Isso significa que precisamos avaliar todos os pontos fortes e todas as limitações de cada alternativa. A melhor forma de fazer isso é aderindo às restrições relevantes.

EXEMPLO 8.8. Avalie cada alternativa para o Exemplo 8.5.1 e, então, escolha um conjunto apropriado de prós e contras.

Para o exemplo 8.5.1, avalie cada alternativa na Figura 8.2 e escolha um conjun- to apropriado de prós e contras. Se sua meta ou restrição é viajar para outra cidade em uma quantidade mínima de tempo, a viagem por trem pode ser a melhor opção se você morar perto da estação de trem. Se não for esse o caso, você deve considerar o tempo de ida até a estação e de retorno para casa. Isso pode aumentar o tempo da viagem em 3 horas ou mais em relação aos outros modos de viagem. Se sua meta é redução de custos, a viagem de carro pode ser a mais vantajosa. Deve ser considerado o desgaste do carro e o cuidado extra de dirigir em estradas. Alugar um carro exige mais esforço do que o uso do seu próprio carro, sem mencionar a dificuldade de encontrar um estacionamento na cidade de destino.

8.9 Resultados e feedback

Você alcançou os resultados desejados? Se não, precisa se perguntar se é necessá- rio modificar alternativas, prós e contras, restrições, etc. Uma vez que você tenha feito essas modificações, determine se elas levam ao resultado desejado.

Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para

esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual

da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

D997i Dym, Clive L. Introdução à engenharia : uma abordagem baseada em projeto / Clive L. Dym, Patrick Little, com Elizabeth J. Orwin e R. Erik Spjut ; tradução João Tortello. – 3. ed. – Porto Alegre : Bookman, 2010. 346 p. : il. ; 25 cm.

ISBN 978-85-7780-648-

  1. Engenharia. 2. Engenharia – Design. I. Little, Patrick. II. Orwin, Elizabeth J. III. Spjut, R. Erik. IV. Título.

CDU 62:658.512.

Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/

Projeto de Engenharia

O ser humano projeta coisas desde que nos podemos “lembrar” ou descobrir pela arqueologia. Nossos primeiros ancestrais projetaram facas de pedra e outras ferramentas primitivas para ajudar a atender suas necessidades básicas. Suas pinturas na parede contavam histórias e tornavam suas cavernas visualmente mais atraentes. Dada a longa história de pessoas projetando coisas, é interessante perguntar o que um engenheiro que projeta a estrutura de um prédio faz diferente de um decorador que projeta sua decoração. Usaremos este capítulo para definir alguns conceitos do projeto de engenharia e para começar a desenvolver um vocabulário e um entendimento co- mum do que queremos dizer com projeto de engenharia.

1.1 Onde e quando os engenheiros projetam?

Existem muitas indagações que poderíamos fazer sobre engenheiros que projetam e provavel- mente existem mais respostas do que perguntas. O que significa para um engenheiro projetar algo? Quando os engenheiros projetam coisas? Onde? Por quê? Para quem? Um engenheiro poderia trabalhar em uma grande empresa que processa e distribui vários produtos alimentícios, onde poderia ser solicitado a projetar um recipiente para um novo suco de frutas. Ele poderia trabalhar em uma construtora, projetando parte da ponte de uma estrada incorporada em um grande projeto viário. Um engenheiro poderia trabalhar em uma empresa automobilística que quisesse desenvolver um novo conceito para o grupo de instrumentos de seus carros, talvez para permitir que os motoristas verificassem diversos parâmetros sem tirar os olhos da estrada. Ou então, um engenheiro poderia trabalhar em uma escola que quisesse projetar instalações especializadas para melhor atender os alunos com incapacidades ortopédicas. Essa lista poderia ser facilmente ampliada; portanto, é interessante perguntar: existem elementos comuns nas situações dos engenheiros ou nas maneiras como fazem seus projetos? Na verdade, existem características comuns tanto em suas situações como em seu trabalho de projeto e essas características tornam possível descrever um processo de projeto e o contexto no qual ele ocorre. Podemos começar identificando três “papéis” desempenhados quando o projeto de um produto ocorre. Obviamente, existe o projetista. Em seguida, existe um cliente , a pessoa, grupo ou empresa que deseja a concepção de um projeto, e existe o usuário , a pessoa (ou o

Projeto de Engenharia

O que significa projetar algo? Como o projeto de engenharia

difere de outros tipos de projeto?

Projeto de Engenharia 27

gios do trabalho nesses diversos lugares para realizar o projeto, os projetistas provavelmente verão diferenças no tamanho de um projeto, no número de colegas na equipe de projeto e no acesso às informações relevantes sobre o que os usuários querem. Em projetos grandes, muitos dos projetistas trabalharão em segmentos tão detalhados e confinados que grande parte do que descrevemos neste livro talvez não pareça imediatamente útil. Assim, os projetistas da pilastra de uma ponte, do tanque de combustível de um avião ou dos componentes da placa-mãe de um computador provavelmente não estarão preocupados com o quadro mais geral do que os clientes e usuários desejam, pois o contexto do projeto em nível de sistema já foi estabelecido quando esse grau do projeto é atingido. Na realidade, conforme explicaremos no Capítulo 2, esses tipos de problemas de projeto são a parte do processo chamada de projeto detalhado , na qual as escolhas e os procedimentos são bem entendidos, pois as questões mais gerais do projeto já foram resolvidas. Contudo, mesmo para projetos grandes, a resposta à exposição de projeto de um cliente começa com o projeto conceitual. Algum raciocínio sobre o tamanho e a missão do avião terá de ser feito para identificar as restrições envolvidas no projeto do tanque de combustível, enquanto os parâmetros de desempenho que a placa-mãe do computador deve exibir serão determinados por meio de alguma avaliação do mercado e do preço do computa- dor em questão. Frequentemente, os projetos grandes e complexos levam a interpretações muito dife- rentes das exposições do projeto do cliente e das necessidades do usuário. Basta contemplar os muitos tipos diferentes de arranha-céus de nossas principais cidades para ver como os arquitetos e engenheiros estruturais concebem diferentes maneiras de alojar pessoas em escritórios e apartamentos. Diferenças visíveis também surgem no projeto de aviões (Figura 1.2) e no projeto de cadeiras de rodas (Figura 1.3). Cada um desses equipamentos pode re- sultar a partir de uma exposição de projeto simples e comum: os aviões são “equipamentos que transportam pessoas e bens pelo ar” e as cadeiras de rodas são “equipamentos pessoais móveis para transportar pessoas incapazes de usar as pernas”. Contudo, os diferentes pro- dutos que têm surgido representam diferentes conceitos do que os clientes e os usuários queriam (e do que os projetistas entenderam que eles queriam!) desses equipamentos. Os projetistas precisam esclarecer o que um cliente deseja e transformar esses desejos em um produto de engenharia. O triângulo projetista-cliente-usuário também nos induz (a) a reconhecer que os interes- ses dos três participantes podem divergir e (b) a considerar que as consequências dessa diver- gência podem significar mais do que problemas financeiros resultantes do fracasso em aten- der as necessidades dos usuários. É por isso que a interação de vários interesses gera uma interação de várias obrigações, e essas obrigações podem estar em conflito. Por exemplo, o projetista de um recipiente de suco de frutas poderia conside- rar latas de metal, mas latas “esmagadas” facilmente podem ser um perigo se surgirem bordas afiadas durante o esmagamento. Poderia haver compromis- sos entre as variáveis de projeto, incluindo o material do qual um recipiente é feito e a espessura do recipiente. As escolhas feitas no projeto final poderiam refletir facilmente diferentes avaliações dos possíveis perigos à segurança, os quais, por sua vez, poderiam estabelecer a base de problemas éticos em potencial. Os problemas éticos, que discutiremos no Capítulo 12, ocorrem porque os projetistas têm obrigações não somente com os clientes e usuários, mas também com sua profissão e, conforme detalhado nos códigos de ética das sociedades de engenharia, com o público em geral. Assim, os problemas éticos sem- pre fazem parte do processo de projeto. Outro aspecto da prática de projeto de engenharia, cada vez mais comum em projetos e empresas de todos os tamanhos, é o uso de equipes para fazer o projeto. Muitos problemas de engenharia são inerentemente multidisciplinares (por exemplo, o projeto de instrumentação médica); portanto, há necessidade de entender os requisitos dos clientes, dos usuários e das

Os projetistas têm obrigações com a profissão e com o público.

28 Introdução à Engenharia

tecnologias em muitos ambientes diferentes. Isso, por sua vez, exige que sejam montadas equipes para tratar desses diferentes conjuntos de necessidades ambientais. Claramente, o uso difundido de equipes afeta o gerenciamento dos projetos estruturais, outro tema recorrente deste livro. O projeto de engenharia é um assunto multifacetado, e de modo algum pensamos que o leitor compreenderá realmente essa atividade maravilhosamente complexa lendo este curto livro (ou realizando um único projeto estrutural). Entretanto, achamos que podemos fornecer alguns esquemas dentro dos quais o leitor pode pensar produtivamente sobre algumas das questões conceituais e das escolhas resultantes feitas muito cedo no projeto de muitos tipos diferentes de produtos de engenharia.

1.2 Um vocabulário elementar para projeto de engenharia

Já está claro que a palavra projeto é usada como substantivo ( s ) e como verbo ( vb ). O Webster’s New Collegiate Dictionary define as duas utilizações como:

  • projeto s : um plano ou esquema mental no qual são esboçados meios para atingir um fim; a organização de elementos que entram nas produções humanas (como de arte ou maquinário).
  • projetar vb : conceber e planejar na mente; criar para uma determinada função ou fim. Os pontos por trás dessas duas definições são claros: projetar está relacionado a pessoas planejando e criando maneiras de produzir coisas que atinjam alguns objetivos conhecidos. Existem muitas definições diferentes para projeto de engenharia na literatura e uma variação considerável nas maneiras pelas quais as ações e os atributos de projeto são descritos

Figura 1.2 Alguns “equipamentos que transportam pessoas e bens com segurança pelo ar”; isto é, aviões. Nenhuma surpresa aqui, certo? Já vimos muitos aviões (pelo menos em fotos ou filmes), e mes- mo estes, embora de épocas e origens diferentes, mostram que foram projetados para cumprir missões muitos distintas.

30 Introdução à Engenharia

É importante reconhecer que, quando estamos projetando equipamentos, sistemas e pro- cessos, estamos projetando artefatos: objetos artificiais feitos pelo ser humano, as “coisas” ou os dispositivos que devem ser projetados. Na maioria das vezes, são objetos fí- sicos, como aviões, cadeiras de rodas, escadas, telefones celulares e carburado- res. Entretanto, nesse sentido, produtos “de papel”, como desenhos, plantas, software de computador, artigos e livros, também são artefatos, assim como os arquivos eletrônicos “temporários” que se tornam “reais” quando exibidos na tela de um computador. Neste texto, usaremos as palavras equipamento ou sis- tema indistintamente, como objetos de nosso projeto. Recorrendo ao nosso dicionário, notamos (e, em seguida, comentamos) as seguintes definições:

  • forma s : a feição e estrutura de algo, conforme distinguido de seu material Portanto, o que queremos dizer com forma é muito simples e seu significado no contex- to da engenharia é coerente com seu uso mais comum.
  • função s : a ação para a qual uma pessoa ou coisa é especialmente adequada ou usada, ou para a qual uma coisa existe; uma de um grupo de ações relacionadas, colaborando para uma ação maior Falando de modo simples, as funções são as coisas que um equipamento ou sistema projetado deve fazer. Conforme descrevemos nas Seções 2.3 e 4.1, as funções de enge- nharia envolvem a transferência ou o fluxo de energia, informações e materiais. Obser- ve também que concebemos a transferência de energia muito amplamente: isso inclui forças de apoio e transmissão, o fluxo de corrente, o fluxo de carga, etc.
  • meio s : uma entidade, instrumento ou método usado para atingir um fim Embora não seja reconhecido explicitamente em nossa definição de projeto de enge- nharia, o meio é importante, pois neste contexto se refere a uma maneira de fazer uma função acontecer.
  • objetivo s : algo para o qual o esforço é dirigido; um propósito ou fim da ação Em nosso contexto, objetivo está de acordo com sua utilização comum.
  • restrição s : o estado de ser verificado, restrito ou forçado a evitar ou executar alguma ação Esta definição também é o que esperaríamos do uso padrão. É interessante salientar que as restrições são extremamente importantes no projeto de engenharia, pois elas impõem limites absolutos que, se violados, significam que um projeto proposto é simplesmente inaceitável. Antecipando outro ponto que enfatizaremos novamente (no Capítulo 3), note que os objetivos de um projeto são totalmente independentes das restrições impostas ao projeto. Os objetivos podem ser completamente atingidos, podem ser atingidos até certo ponto ou podem não ser atingidos. Por outro lado, as restrições são binárias: ou são satisfeitas ou não são sa- tisfeitas; são preto ou branco e não existem estados intermediários. Assim, se estivéssemos projetando um debulhador de milho para fazendeiros nicaraguenses, para ser construído de forma não dispendiosa a partir de materiais nativos (locais), um objetivo poderia ser que ele fosse o mais barato possível, enquanto uma restrição poderia ser que não custasse mais de US$20.00. Fazer o debulhador a partir de materiais nativos poderia ser um objetivo, se essa fosse uma característica desejada , ou uma restrição, se fosse absolutamente obrigatória. Nossa definição de projeto de engenharia diz que os projetos emergem a partir de um processo inteligente e sistemático. Isso não é para negar que o projeto é um processo criativo. Contudo, ao mesmo tempo, existem técnicas e ferramentas que podemos usar para apoiar nossa criatividade, para nos ajudar a pensar mais claramente e para tomar me- lhores decisões pelo caminho. Essas ferramentas e técnicas, que compõem grande parte do

Projeto de engenharia é um processo pensado para gerar estruturas, sistemas ou processos que atinjam os objetivos determinados, enquanto respeitam as restrições especificadas.

Projeto de Engenharia 31

assunto deste livro, não são fórmulas ou algoritmos. Em vez disso, são maneiras de fazer perguntas e de apresentar e examinar as respostas à medida que o processo de projeto se desenrola. Também apresentaremos algumas ferramentas e técnicas para o gerenciamento de um projeto estrutural. Assim, ao demonstrarmos maneiras de pensar sobre um projeto à medida que ele se desenvolve em nossa mente, também falaremos sobre maneiras de aplicar os recursos necessários para concluir um projeto estrutural em tempo e dentro do orçamento.

1.2.2 As suposições por trás de nossa definição de projeto de engenharia

Existem algumas suposições implícitas por trás de nossa definição de projeto de engenharia e dos termos nos quais ela é expressa. É interessante torná-las explícitas. Primeiramente, o projeto é um processo pensado que pode ser entendido. Sem querer arruinar a mágica da criatividade ou desmerecer a importância da inovação no projeto, as pessoas pensam enquanto projetam. Portanto, é importante ter ferramentas para apoiar esse pensamento, para apoiar a decisão de projeto tomada e o gerenciamento do projeto estrutural. (Uma evidência que apoia essa hipótese óbvia é que foram escritos programas de computador para simular processos de projeto. Não poderíamos escrever tais programas se não pudéssemos enunciar e descrever o que se passa em nossa mente quando projetamos as coisas.) A noção de que existem métodos formais para serem usados ao se gerar alternativas de projeto está fortemente relacionada com nossa inclinação ao pensar sobre projeto. Isso poderia parecer bastante óbvio, pois não tem muito sentido considerar novas maneiras de ver problemas de projeto ou de falar sobre elas – a não ser que possamos explorá-las para projetar de forma mais eficiente. Forma e função são duas entidades relacionadas, apesar de independentes. Isso é impor- tante. Frequentemente, refletimos sobre o processo de projeto no início, quando nos sentamos para desenhar ou esboçar algo, o que sugere que a forma é um ponto de partida típico. Contu- do, devemos lembrar que a função é um aspecto completamente diferente de um projeto, que pode não ter uma relação óbvia com a feição ou a forma. Em particular, embora frequente- mente possamos deduzir o propósito de um objeto ou equipamento a partir de sua forma ou estrutura, não podemos fazer o inverso; isto é, não podemos in- ferir automaticamente a forma que um equipamento deve ter somente a partir da função. Por exemplo, podemos ver um par de placas conectadas e deduzir que os dispositivos que as conectam (por exemplo, pinos, porcas e parafusos, rebites, grampos, etc.) estão fixando equipamentos cuja função é ligar os membros indivi- duais de cada par. Entretanto, se fôssemos começar com uma exposição do propósito de que desejamos fixar uma placa na outra, não existiria um vínculo ou inferência que pudéssemos usar para criar uma forma ou feição de um dispositivo de fixação. Ou seja, saber que quere- mos obter a função de fixar duas placas não nos leva a (nem mesmo sugere) uma das formas de emendas, grampos, rebites ou cola. A relação entre forma e função é importante na compreensão dos aspectos criativos do projeto. Se pudermos enunciar sistematicamente todas as funções que um equipamento deve executar, então poderemos ser criativos no desenvolvimento das formas dentro das quais es- sas funções podem ser executadas. Nesse sentido, o uso de processos pensados e organizados complementa o lado criativo do projeto. Existem comparativos disponíveis para avaliar como esperamos que um projeto se com- porte e para medir implicitamente o progresso feito em direção a um projeto bem-sucedido. Esses comparativos derivam de um processo de questionamento (consulte o Capítulo 2) que começa com o projetista:

Projeto é um processo pensado que pode ser entendido.

A forma não pode ser inferida a partir da função.