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Impacto da Revolução Russa na Formação de Ideias Pedagógicas de Antonio Gramsci, Notas de estudo de Cultura

Este estudo discute o impacto da revolução russa na elaboração das ideias pedagógicas de antonio gramsci. Gramsci refletia sobre os desdobramentos da revolução russa, destacando a importância da atividade educativo-cultural na formação da consciência de classe dos trabalhadores. Através da análise de textos de gramsci, este documento mostra como a revolução russa influenciou a formação política de gramsci e, consequentemente, sua visão sobre a educação e a formação de trabalhadores.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Tiago22
Tiago22 🇧🇷

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Revista Práxis e Hegemonia Popular, nº 3, dez-2018 - ISSN 2526-1843
GRAMSCI E A FORMAÇÃO POLÍTICA DA CLASSE
TRABALHADORA: A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA
REVOLUÇÃO RUSSA1
Thiago Chagas Oliveira2
Universidade Rural do Cariri URCA/CE
O estudo aqui apresentado tem como objetivo discutir o impacto da Revolução Russa
na elaboração das ideias pedagógicas de Antonio Gramsci. Defendemos a tese de que a
Revolução de 1917 é fundamental à compreensão de seu pensamento político-pedagógico,
mormente no que diz respeito às relações entre hegemonia e educação3. As reflexões de
Gramsci acerca dos desdobramentos da Revolução Russa evidenciam a importância da
atividade educativo-cultural como elemento indispensável na elaboração da consciência de
classe dos trabalhadores proposição esta que não invalida a ideia mais ampla de que a
formação dos trabalhadores como classe para si realiza-se cotidianamente na luta contra a
lógica de produção e reprodução do capital.
1 A EMERSÃO DAS IDEIAS DE GRAMSCI SOBRE FORMAÇÃO POLÍTICA
A emersão das ideias de Gramsci sobre formação política pode ser compreendida a partir
da inter-relação de fatores históricos e pessoais. No plano pessoal, a intensa atividade militante
de Gramsci junto ao movimento operário italiano foi fundamental. Sua inserção como militante
comunista no movimento operário turinense leva-o ao reconhecimento de que os partidos,
sindicatos, institutos de cultura e associações proletárias, ao se colocarem como agentes
responsáveis pelo desvelamento dos mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista,
desempenhariam um papel importante na formação política das massas, particularmente no que
diz respeito à formação de uma subjetividade rica, atuante e classista.
Breve incursão na biografia de Gramsci revela que o início de sua militância remonta a
1911, isto é, quando ele tinha vinte anos. Data dessa época seu artigo escolar Oprimidos e
1 Palestra proferida no Seminário “GRAMSCI, A REVOLUÇÃO E OS DESAFIOS DO SÉCULO XXI 80 anos
de Antonio Gramsci e 100 anos da Revolução Russa”, no dia 01 de Setembro de 2017 na FACED, da Universidade
Estadual do Ceará Fortaleza-Ce.
2 Professor de Fundamentos Econômicos da Educação da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutor em
Educação Brasileira (UFC). thiagochagas@yahoo.com.br
3 As reflexões de Gramsci sobre a Revolução Russa são indispensáveis à compreensão da célebre passagem dos
Quaderni que trata da relação entre hegemonia e educação: “(...) a relação pedagógica não pode ser limitada às
relações especificamente "escolares" (...). Esta relação existe em toda a sociedade no seu conjunto e em todo
indivíduo com relação aos outros indivíduos, entre camadas intelectuais e não intelectuais, entre governantes e
governados, entre elites e seguidores, entre dirigentes e dirigidos, entre vanguardas e corpos de exército”.
(GRAMSCI, 1975, p.1331).
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https://doi.org/10.36311/2526-1843.2018.v3n3.p33-42
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GRAMSCI E A FORMAÇÃO POLÍTICA DA CLASSE

TRABALHADORA: A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA

REVOLUÇÃO RUSSA^1

Thiago Chagas Oliveira 2 Universidade Rural do Cariri URCA/CE O estudo aqui apresentado tem como objetivo discutir o impacto da Revolução Russa na elaboração das ideias pedagógicas de Antonio Gramsci. Defendemos a tese de que a Revolução de 1917 é fundamental à compreensão de seu pensamento político-pedagógico, mormente no que diz respeito às relações entre hegemonia e educação^3. As reflexões de Gramsci acerca dos desdobramentos da Revolução Russa evidenciam a importância da atividade educativo-cultural como elemento indispensável na elaboração da consciência de classe dos trabalhadores – proposição esta que não invalida a ideia mais ampla de que a formação dos trabalhadores como classe para si realiza-se cotidianamente na luta contra a lógica de produção e reprodução do capital. 1 A EMERSÃO DAS IDEIAS DE GRAMSCI SOBRE FORMAÇÃO POLÍTICA A emersão das ideias de Gramsci sobre formação política pode ser compreendida a partir da inter-relação de fatores históricos e pessoais. No plano pessoal, a intensa atividade militante de Gramsci junto ao movimento operário italiano foi fundamental. Sua inserção como militante comunista no movimento operário turinense leva-o ao reconhecimento de que os partidos, sindicatos, institutos de cultura e associações proletárias, ao se colocarem como agentes responsáveis pelo desvelamento dos mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista, desempenhariam um papel importante na formação política das massas, particularmente no que diz respeito à formação de uma subjetividade rica, atuante e classista. Breve incursão na biografia de Gramsci revela que o início de sua militância remonta a 1911, isto é, quando ele tinha vinte anos. Data dessa época seu artigo escolar Oprimidos e (^1) Palestra proferida no Seminário “GRAMSCI, A REVOLUÇÃO E OS DESAFIOS DO SÉCULO XXI 80 anos de Antonio Gramsci e 100 anos da Revolução Russa”, no dia 01 de Setembro de 2017 na FACED, da Universidade Estadual do Ceará – Fortaleza-Ce. (^2) Professor de Fundamentos Econômicos da Educação da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutor em Educação Brasileira (UFC). thiagochagas@yahoo.com.br (^3) As reflexões de Gramsci sobre a Revolução Russa são indispensáveis à compreensão da célebre passagem dos Quaderni que trata da relação entre hegemonia e educação: “(...) a relação pedagógica não pode ser limitada às relações especificamente "escolares" (...). Esta relação existe em toda a sociedade no seu conjunto e em todo indivíduo com relação aos outros indivíduos, entre camadas intelectuais e não intelectuais, entre governantes e governados, entre elites e seguidores, entre dirigentes e dirigidos, entre vanguardas e corpos de exército”. (GRAMSCI, 1975, p.1331). https://doi.org/10.36311/2526-1843.2018.v3n3.p33-42 33

Opressores , redigido, provavelmente, em novembro de 1910. Numa redação sobre colonialismo, Gramsci faz inflamada crítica aos interesses capitalistas dos países europeus em face dos povos menos desenvolvidos. Três anos após a elaboração desse texto, Gramsci estabelece os primeiros contatos com o movimento operário turinense. Nessa época, ele começa a fazer parte dos grupos de operários e estudantes que formavam a fração da esquerda revolucionária da cidade de Turim. Em 1916, já no PSI, começa a trabalhar diretamente com formação política, proferindo conferências nos círculos operários turinenses sobre Romain Rolland, Comuna de Paris, Revolução Francesa, Marx, Andrea Costa etc. Ainda nesse ano, conduz em Il Grido del Popolo uma campanha a favor da renovação cultural e ideológica do movimento socialista e, paralelamente, com a ajuda de um companheiro do partido, publica comentários, notícias e documentários sobre o desenvolvimento da revolução na Rússia. A inter-relação de economia com a política e a cultura constitui-se marca central do pensamento gramsciano no biênio 1917/1918. Nesses anos, emerge com força a ideia de que a organização, a cultura e o saber são elementos indispensáveis à formação política dos trabalhadores. Num texto dessa época, Gramsci diz: “Os burgueses podem até ser ignorantes. Mas não os proletários. Os proletários têm o dever de não ser ignorantes” (2004a, p.117). No final de 1918, Gramsci propõe a criação de um instituto de cultura proletária e sustenta a noção de integrar a ação política e econômica com um organismo de atividade cultural. Como a proposta não foi acolhida no PSI, ele, juntamente com alguns jovens – Attilio Carena, Andrea Viglongo e Carlo Boccardo – funda um “Clube de vida moral”, voltado à educação política de jovens socialistas. Em 1919, Gramsci desenvolve entre os soldados sardos da brigada Sassari, residentes temporariamente em Turim, uma eficaz propaganda socialista. Em abril de 1919, juntamente com os companheiros de partido Tasca, Terracni e Togliatti, Gramsci reparte o plano de um jornal de cultura socialista ( L’Ordine Nuovo ). A ideia inicial diz respeito à necessidade de o proletariado formular uma cultura própria, base essencial para o desenvolvimento de uma consciência revolucionária. Esta, por sua vez, deveria ser fortalecida pela aquisição de instrumentos amplos e gerais. Para Gramsci (2004a, p. 391), todos os assuntos que interessassem à luta revolucionária do movimento operário (a organização revolucionária das massas, a transferência da luta sindical do terreno estreitamente corporativista e reformista para a seara da luta revolucionária, o controle sobre a produção, a ditadura do proletariado e a questão

Em abril, sai dois fascículos da escola de partido. Em 1926, já no cárcere, Gramsci organiza uma escola para prisioneiros, ficando responsável pelos estudos histórico-literários. No terreno histórico, os eventos que marcaram a Itália e o mundo no período que vai do final do século XIX ao início do século XX foram decisivas para a emersão de Gramsci na problemática de formação política da classe trabalhadora conforme se pode constatar nos textos que abrem o período que vai de 1916 a 1920. A Itália, que entrou na guerra em 19154 , saiu dela politicamente arrasada. Fora a anexação de Trieste, Trentino e Ístria pelo tratado de Saint- Germain 5 , não conseguiu mais nada. Do ponto de vista econômico, contudo, a guerra realizou uma verdadeira revolução industrial no País, pois: (i) possibilitou, pela exacerbação do protecionismo – uma das características centrais do risorgimento , a acumulação de capitais em condições monopólicas; (ii) ampliou a extração de mais-valia; (iii) forneceu condições propicias para os industriais ampliarem a estrutura básica da desigualdade e da exploração (DIAS, 2000, p.66). Em Turim, a falta gêneros de primeira necessidade, juntamente com o aumento do número de mendigos, órfãos e soldados mutilados, não tardou para originar uma situação social explosiva^6 , com agitação das massas, sobretudo pela ideia amplamente difundida no seio da classe operária de “fazer como na Rússia” (DIAS, 2000, p.252). O proletariado europeu vislumbrou na Revolução de 1917 um modelo historicamente realizado de uma sociedade capaz de liquidar a opressão e a miséria. Este, seguramente, transformou a psicologia da classe trabalhadora, injetou novo ânimo em seus partidos e sindicatos, abalou a burguesia mundial, bem como contribuiu de forma decisiva para o fim da I Guerra Mundial. Seus efeitos, portanto, são fundamentais para a elaboração do corpus teórico gramsciano. Ademais, e isso é de fundamental importância, a atuação dos bolcheviques contribuiu enormemente para corroborar a crítica gramsciana à interpretação mecanicista e positivista do pensamento de Marx. (^4) Inicialmente, a Itália entrou na Guerra ao lado da Áustria e Alemanha (Tríplice Aliança). Em 1915, todavia, ela se alia à Tríplice Entente, formada inicialmente pela Grã Bretanha, Rússia e França. Pouco tempo depois, os seguintes países passam a fazer parte da Entente: Sérvia, Bélgica, Japão (1914), Romênia (1916), Grécia e Estados Unidos (1917). (^5) O tratado de Saint-Germain faz parte dos tratados complementares ao Tratado de Versalhes (tratado que regulamentava as questões territoriais, militares e financeiras referentes aos países derrotados na I Guerra Mundial). (^6) Os dados mostram que, de julho de 1914 a fevereiro de 1917, o custo de vida na cidade subiu 58,69%. Em 1914, bastavam 20,84 liras para uma família comer; em 1917, esse valor passa para 39,50. Para maiores informações, não deixar de ver Dias (2000, p.251 – 255).

1.1 A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA REVOLUÇÃO RUSSA

Textos como Notas sobre a Revolução Russa , Os maximalistas russos , O Relojoeiro , A Rússia é socialista , A situação política na Rússia^7 revelam a atenção de Gramsci sobre os primeiros acontecimentos revolucionários na Rússia. A análise desses escritos revela que, desde o início, Gramsci concebe a Revolução de 1917 como socialista, pois sua concretização histórica, pelo menos em sua primeira fase, foi baseada em um programa universal “capaz de mobilizar todas as consciências, e não na dominação da sociedade por uma minoria, dotada de programas particularistas.” (DIAS, 2000, p.81). Ressalte-se, todavia, que o vislumbre inicial de Gramsci não o impediu de manter uma posição crítica com relação ao seu desenvolvimento posterior, mormente no que diz respeito à fase stalinista^8. Nos escritos de 1917, a análise mais original de Gramsci acerca da revolução bolchevique aparece no artigo a Revolução contra O Capital. O polêmico título decorre do fato de que, na Rússia, paradoxalmente, O Capital, de Marx, era muito mais o livro dos burgueses do que dos proletários, pois sua utilização era invocada para demonstrar que a Revolução propugnada pelos bolcheviques não era possível. Para os reformistas russos (mencheviques), os problemas advindos da queda do czarismo deveriam ser resolvidos pela burguesia, pois esta criaria as condições de desenvolvimento das forças produtivas, de modo a tornar possível, no futuro, a sociedade socialista. Nessa perspectiva, a revolução deveria ser adiada em nome de uma evolução histórica prevista pelas “leis científicas” que apontavam inexoravelmente para o socialismo (DIAS, 2000, p.83). Na crítica à interpretação dogmática e sectária do pensamento de Marx, Gramsci diz: Marx previu o previsível. Não podia prever a guerra europeia, ou, melhor, não podia prever que essa guerra teria a duração e os efeitos que teve. Não podia prever que essa guerra, em três anos de indizíveis sofrimentos, de indizíveis misérias, criaria na Rússia a vontade coletiva popular que criou. (GRAMSCI, 2004c, p.157). E, enfatizando o caráter de classe da Revolução Russa, destaca como os antagonismos entre os interesses do proletariado e da burguesia se constituem o motor da história, (^7) Todos esses textos foram publicados em “Il Grido del Popolo” de abril a novembro de 1917. In: Gramsci (2004a, p.100 – 117). (^8) Para uma análise dos posicionamentos de Gramsci com relação ao stalinismo, não deixar de ver: Schlesener (2005, p.71 – 159).

momento em que se esforçaram para criar as condições subjetivas necessárias a desenvolvimento da práxis revolucionária. A pregação socialista criou a vontade social do povo russo. Por que deveria ele esperar que a história da Inglaterra se repetisse na Rússia, que na Rússia se formasse uma burguesia, que a luta de classes fosse criada para que nascesse a consciência de classe e, finalmente, a catástrofe do mundo capitalista? (GRAMSCI, 2004c, p.158). Para além do economicismo da II Internacional, que estabelecia uma relação mecânica entre estrutura e superestrutura, Gramsci assinala que não são os [...] fatos econômicos, brutos, mas o homem, a sociedade dos homens, dos homens que se aproximam uns dos outros, entendem-se entre si, desenvolvem através destes contatos (civilização) uma vontade social, coletiva, e compreendem os fatos econômicos, e os julgam, e os adequam à sua vontade, até que essa vontade se torne o motor da economia, a plasmadora da realidade objetiva, a qual vive, e se move, e adquire o caráter de matéria telúrica em ebulição, que pode ser dirigida para onde a vontade quiser, do modo como a vontade quiser. (GRAMSCI, 2004c, p.156) A ênfase de Gramsci na importância de criação de uma vontade racional não arbitrária, como elemento fundamental à ação revolucionária, não significa, todavia, anulação da relação dialética entre estrutura (forças produtivas) e superestrutura (a política, a cultura etc.), mas demonstração de que o trabalho tenaz e cotidiano de formação política das massas assume papel importante naquilo que ele chamou, em L’Ordine Nuovo, de “preparação espiritual da revolução socialista”. Na análise gramsciana, o cuidado dos revolucionários no sentido de impedir a cristalização de uma concepção e de uma ação que se reduzisse à resolução dos problemas mais imediatos (fase econômico-corporativo) levou à formação de grupos de intelectuais que trabalhavam com as massas no sentido de formá-las politicamente. Nos textos sobre a Revolução Russa, Gramsci caracteriza-os como motores do processo revolucionário. Mediante suas atividades, “a revolução não para, não fecha o seu ciclo.” (2004a, p.104-105). Para Gramsci, dar importância às ações pedagógicas junto às massas não enfraquece a noção de que a formação política proletária se realiza, fundamentalmente, na luta contra o capital. De fato, o desenvolvimento e a concretização dos eventos revolucionários de 1917 é que contribuíram para elevar a consciência política das massas. Ao transferir para a classe trabalhadora a direção do mecanismo governamental, a Revolução Russa deu às massas a consciência de sua força histórica. A originalidade da reflexão gramsciana reside em mostrar

que, ao fazer com que todas as dimensões da vida se tornassem revolucionária (substituição de pensamentos, hábitos, valores e atitudes), ela não foi apenas um evento econômico-político, mas, também, cultural. Eis por que, para Gramsci, a revolução socialista deve ser compreendida em duas dimensões dialeticamente relacionadas: tanto como um movimento de força para instituir uma nova ordem social, quanto como um movimento radical de mudanças dos costumes, valores, hábitos e atitudes (SCHLESENER, 2005, p.35). Os eventos ocorridos na Rússia demonstram praticamente a importância da formação política proletária como dimensão constitutiva indispensável na preparação e desenvolvimento da revolução socialista. Os desdobramentos iniciais da Revolução Russa fornecem um exemplo histórico fundamental para a ideia de que os trabalhadores se formam politicamente quando participam ativamente da luta em prol do socialismo e que tal fim pode e deve ser potencializado com ações formativas complementares. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os escritos gramscianos que vão de 1916 a 1920 são profundamente marcados pela conjuntura mundial do primeiro quartel do século XX. Eles, de certa forma, sintetizam os problemas, as dúvidas, os anseios e as esperanças do movimento operário no período revolucionário desencadeado com a I Guerra Mundial. Nos textos deste período, Gramsci assinala que, embora o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas tenha contribuído para criar um estado comum de miséria, penúria e exploração, o trabalho educativo-cultural de elevação da consciência política das massas é absolutamente fundamental ao desenvolvimento e à sedimentação da consciência de classe dos trabalhadores; conceito que nesta época é definido como o reconhecimento, por parte deles, de seu devir histórico e dos objetivos a serem alcançados com a luta revolucionária. Delineiam-se nesses escritos duas teses fundamentais que marcam todo o corpus teórico gramsciano. A primeira diz respeito à recusa acerca da noção de que a agudeza das contradições do capitalismo leva inexoravelmente ao socialismo. A crítica de Gramsci à interpretação de Marx que era feita pela II Internacional e pelos socialistas positivistas o conduz a refutar a ideia de que o socialismo é um produto mecânico do desenvolvimento histórico. Tal atitude em face do pensamento marxiano foi fundamental para o recobro da subjetividade na elaboração histórica e, portanto, para a valorização do papel que uma 39 consciência crítica, combativa e

GERRATANA, Valentino. Cronologia della vita di Antonio Gramsci. In: GRAMSCI, Antonio. Quaderni del carcere. Torino: Nuova Universale Einaudi, 1975 (Edizione critica dell’Istituto Gramsci di Valentino Gerratana) GRAMSCI, Antonio. Quaderni del carcere. Torino: Nuova Universale Einaudi, 1975 (Edizione critica dell’Istituto Gramsci di Valentino Gerratana) ________________. Cronache Torinesi (1913 – 1917). Torino: Einaudi, 1980. (A cura di Sergio Caprioglio). ________________. Escritos Políticos (1910 – 1920). Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004a. ________________. Escritos Políticos (1921 – 1926). Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004b. ________________. La Nostra Città Futura. Scritti Torinensi (1911 – 1922). Roma: Carocci, 2004c (A cura di Angelo d’Orsi.). MARX, Karl. Miséria da Filosofia: resposta à filosofia da miséria do senhor Proudhon. Tradução de Paulo Ferreira Leite. São Paulo: Centauro, 2001. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich_. Manifesto Comunista._ Tradução Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 1998b. NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. REIS FILHO, Daniel A. A Revolução Russa (1917 – 1921). São Paulo: Brasiliense, 1999. SCHLESENER, Anita Helena. Antonio Gramsci e a política italiana: pensamento, polêmicas, interpretação. Curitiba: UTP, 2005. SPRIANO, Paolo. Introdução. In: GRAMSCI, Antonio. Escritos políticos (vol.1). Tradução de Manuel Simões. Lisboa: Seara Nova, 1976. Recebido em 1 1 de setembro de 2018 Aprovado em 29 de setembro de 2018 Editado em 22 de dezembro de 2018