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Uma biografia do autor graciliano ramos, com ênfase na obra vidas secas. O texto descreve a infância e a carreira política de ramos, além de analisar a importância da obra na literatura regionalista nordestina. O documento também discute os personagens e temas de vidas secas, como a miséria humana, a exploração e a dificuldade de interação entre indivíduos e grupos sociais.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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“Os limites da linguagem são os limites do mundo.” Martin Heidegger O AUTOR – GRACILIANO RAMOS A vida de um artista interessa na proporção em que ela interfere em sua obra. No caso em questão, importa e muito, pois o autor de Vidas Secas revelou-se um homem devidamente antenado com seu mundo e os dramas que vivenciou. Graciliano Ramos, alagoano, nasceu em Quebrângulo, passou parte da infância em Buíque, PE, voltando a Alagoas, depois de violenta seca, para morar em Palmeira dos Índios, onde o pai dedicou-se ao comércio. Concluiu o ensino médio em Maceió, foi para o Rio de Janeiro, exercendo o jornalismo por algum tempo. Voltou a Alagoas, a pedido do pai após uma epidemia que matou seus três irmãos. Casado duas vezes, oito filhos, elegeu-se prefeito em 1928, tomando decisões inusitadas, como usar os presos na construção de estradas. Investiu em saúde e educação, mas teve o mandato cassado em 1930. De volta a Maceió, foi professor, diretor de instrução pública. Preso em 1936, acusado pelo governo Vargas de subversivo, experiência que valeu o consagrado livro Memórias do Cárcere. Solto por interferência dos amigos, radicou-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Filiou-se em 1945 ao PCB, visitou países da Europa comunista, narrando as impressões no livro Viagem. Faleceu no Rio de janeiro em 1953. Graciliano Ramos publicou três romances em primeira pessoa – Caetés , 1933, São Bernardo , 1934, e Angústia , 1938 – um em terceira pessoa – Vidas Secas , 1938 – dois livros de contos – A Terra dos Meninos Pelados , 1939, e Alexandre e Outros Heróis , 1962, póstumo – dois livros de memórias – Infância, 1945, e Memórias do Cárcere , 1953 – e Viagem , impressões de sua passagem pela Europa, também póstumo em 1954.
Situado na Segunda Fase Modernista, o momento de consolidação do movimento iniciado em 1922, em São Paulo, com a Semana de Arte Moderna, Graciliano Ramos foi o mais expressivo autor do período. Compõe o grupo denominado de Regionalismo Nordestino, que produziu o Romance de 30, que tem como marco inicial A Bagaceira, de José Américo de Almeida, de 1928. Este grupo caracterizou-se pelo retrato realista dos problemas sociais do Nordeste, dando-lhes dimensão universal, encontrando no romance o gênero discursivo adequado a seus objetivos, por sua dimensão mais ampla. Ao lado de obras Fogo Morto , de José Lins do Rego, O Quinze , de Rachel de Queirós, e Capitães da Areia , de Jorge Amado, Vidas Secas representa o ponto alto do grupo, ao fazer do drama do retirante nordestino o drama do indivíduo em um mundo injusto, marcado pela exploração, pela miséria, pela dificuldade de interação tanto com outros indivíduos como com outros grupos sociais, por sua condição de pobreza e isolamento. Problemas que não são exclusivos do nordestino, mas observáveis na periferia dos grandes centros urbanos, no drama dos imigrantes latinos nos Estados Unidos e dos africanos na Europa. A miséria humana não conhece fronteira, e a trajetória da família de Vidas Secas ilustra essa verdade. VIDAS SECAS – ANÁLISE E RESUMO Narrados em terceira pessoa, os treze capítulos que compõem Vidas Secas representam os dramas de uma família de retirantes nordestinos. Entre o fim de uma seca – Capítulo I/Mudança – e o início de outra – Capítulo XIII/Fuga , são representados os dramas cotidianos de uma família de sertanejos, composta pelo vaqueiro Fabiano, sua mulher, Sinhá Vitória, os dois filhos, Menino mais novo e Menino mais velho, e a cachorra Baleia. Entre o primeiro e o último capítulos, o leitor percorre as angústias de personagens aparentemente insignificantes e percebe a grandeza humana de seus conflitos.
ameaçam a criação. Ela faz parte da família, de certa forma mais importante, porque mais útil, que os meninos, o que justifica o fato de ela ser nominada e eles não. No capítulo a que dá título, ela aparece com sintomas de raiva, fato que preocupa Sinhá Vitória e Fabiano, levando este à decisão de matá-la, para evitar que transmita a doença aos meninos. Sua morte, como se fosse um membro da família, pela humanização que o narrador lhe confere, é o momento com maior carga dramática do romance. Nos Capítulos III/Cadeia, Capítulo X/Contas e XI/O soldado amarelo , o narrador coloca Fabiano em confronto com a vida urbana com o poder econômico e com a arbitrariedade da polícia. Em Cadeia , Fabiano bebe, e o Soldado Amarelo o atrai para o baralho. Fabiano perde, sente-se roubado, passa pelo soldado na rua, e este pisa-lhe o pé com o coturno. A reação instintiva de Fabiano vale-lhe uma surra e a prisão. À noite, na cadeia, o sertanejo rumina sua raiva, pensa em matar o soldado, em entrar para o cangaço e vingar-se, mas a lembrança da família o traz de volta à realidade. Humilhado, volta para casa. No Capítulo X/Contas , Fabiano vai à casa do patrão para o acerto de contas. O contrato com o fazendeiro dá a ele porcentagem das crias de vacas e cabras de que cuida. Como ele cultiva o mínimo, por causa das condições do solo, constantemente ele precisa de adiantamento para comprar o necessário à sobrevivência da família. Traz consigo as contas feitas por Sinhá Vitória, que sempre divergem dos cálculos do patrão. O sertanejo sempre deve. De nada vale sua tentativa de demonstrar o contrário. Irrita o patrão com seu questionamento e, de novo, tem de abaixar a cabeça e voltar humilhado para casa, diante da ameaça do patrão de mandá-lo embora. No Capítulo XI, reencontra o Soldado Amarelo, agora na caatinga. Os papéis se invertem. Fabiano está em seu mundo, vê o soldado pequeno, insignificante, com medo. O desejo é mata-lo, mas consegue raciocinar, pensando na inutilidade do ato. O problema é mais amplo, o soldado é só o representante do Estado. Se for morto, outros virão. Pensa também na família, informa o caminho ao soldado e vai cuidar do gado. Os Capítulos VII/Inverno e VIII/Festa trazem dois momentos singulares da narrativa. Em Inverno , termo que designa o período de chuva no interior do Brasil, a família está reunida à noite em torno do fogo da fornalha. Não conversam, mas o calor do fogo
reflete o calor do momento de calor familiar. Ironicamente, Baleia não participa da confraternização. Em Festa , a família vai à cidade comemorar o natal, obrigação cristã, segundo Fabiano. Situação tragicômica, justificada pela dificuldade de Fabiano com as botinas novas, de Sinhá Vitória com o vestido novo e pelo comportamento do grupo na igreja. As crianças não compreendem os hinos, Fabiano sente-se oprimido pelas pessoas que lotam a igreja, parece perder a mulher e os filhos. A angústia diminui ao fim da celebração. A família vai para a praça, há brinquedos e jogos. Os meninos brincam, Fabiano bebe e joga. Não se observa, porém, interação com a cidade, com as outras pessoas. Os meninos ficam perdidos, sentados na calçada, extasiados com as luzes e a multidão. Sinhá Vitória e Baleia juntam-se a eles. Fabiano chega bêbado, dorme. É um quadro patético. O capítulo XII, O mundo coberto de penas , o penúltimo, anuncia a volta da seca. As aves de arribação, a vegetação seca, o gado definha. Fabiano coça a cabeça, ouve Sinhá Vitória. Não há saída. Sem dar satisfação ao patrão, até porque tinha dívidas com ele, Fabiano salga a carne de uma rês, Sinhá Vitória reúne os poucos pertences da família, e vão-se repetindo a sina. O último capítulo retoma a cena do primeiro. O grupo de retirantes cumprindo sua sina. Assim como no primeiro, Sinhá Vitória sentia a falta do papagaio que não resistira à seca, agora sente falta da cachorra Baleia. Fabiano reflete a condição dos meninos, pensa na cidade e em um mundo melhor para eles, com escola e a perspectiva de uma vida digna. Fecha o livro com essa possibilidade em aberto. VIDAS SECAS - CONCLUSÕES Na Segunda Fase Modernista, 1930 a 1945, a principal produção em prosa se encontra nas produções do Regionalismo Nordestino, o Romance de 30. Estas produções se caracterizam pela ambientação regional, confirmada na paisagem, na linguagem, na cultura e nos problemas sociais e econômicos do Nordeste. O caráter regional, porém, serve de pano de fundo para a representação de dramas universais. A paisagem é regional, o tema é universal. Vidas Secas talvez seja o melhor exemplo dessa Literatura. O romance de Graciliano Ramos foca o drama do sertanejo nordestino, face a sua vida de miséria, à seca, mas confere ao problema regional um olhar
Secas sem se referir ao diálogo que o livro mantém com série Os Retirantes do pintor Cândido Portinari. A concisão da linguagem, enxuta, seca, como convém ao tema abordado, reflete a modernidade do romance, reforçada pela crítica tecida nas ironias sutis ao olhar comum, observadas no nome, ou falta dele, dos personagens: Sinhá Vitória, Fabiano/o que planta favas, como também no contraste entre Fabiano, vermelho, e a esposa, mulata, ela mais consciente que ele. Vidas Secas é um dos mais significativos romances de nossa Literatura e merece não apenas ser lido, mas discutido em todas as esferas da sociedade. Livro lúcido, de agudo senso crítico, de forte influência em outros autores e obras, o romance apresenta apenas um pecado: o problema que ele aborda continuar atual. PROFESSOR SINVAL SANTANA – SINVAS Professor do Grupo Olimpo/Goiânia e dos Colégios Medicina e Desafio, Coordenador do site Guia de Linguagens/www.guiadelinguagens.com.br. Graduado em Letras pela PUC-Goiás.