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gestalt e semiótica visual: procedimentos distintos ..., Exercícios de Semiótica

Ainda com base na Figura 4, vemos que o plano de expressão referente aos procedimentos relacionais dos elementos constitutivos podem ser classificados como: ...

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Cunha10
Cunha10 🇧🇷

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GESTALT E SEMIÓTICA VISUAL: PROCEDIMENTOS DISTINTOS OU
SEMELHANTES PARA LEITURA DE IMAGENS?
RESUMO
O presente artigo visa encontrar características semelhantes e divergentes entre duas
propostas para leitura de imagem, a saber: (1) leitura visual através das leis da Gestalt
e (2) Semiótica Visual. Para tal, apresentaremos uma definição possível para
Semiótica com base nos textos de Santaella (2005) e os princípios da Gestalt para
“leitura visual” a partir do livro de Gomes Filho (2000). No que se refere à semiótica
visual, nos deteremos apenas no artigo “Imagem também se lê
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” escrito por Ramalho
e Oliveira (2006) no qual a autora apresenta “um roteiro flexível para leitura de
imagens” através do plano de expressão e do plano de conteúdo. Posteriormente,
faremos breves comparações entre as duas possibilidades de leitura visual. E, por fim
analisaremos uma mesma imagem de ilusão de ótica com base nas duas propostas.
Palavras-chave: Semiótica Visual. Gestalt. Leitura de imagem. Ilusão de ótica.
INTRODUÇÃO
Uma imagem de ilusão de ótica, preferencialmente analisada,
pesquisada e/ou explorada pela Gestalt e intimamente relacionada à
percepção visual, é passível de ser analisada pela semiótica visual
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? Mas
precisamente pelo “roteiro flexível para leitura de imagens proposto pela
Ramalho e Oliveira? Em caso afirmativo, como a leitura visual com base nas
leis da Gestalt se diferencia dessa última? Para responder tais questões
dividimos o artigo em quatro tópicos, a saber: (1) Semiótica Visual para leitura
de imagem; (2) Gestalt e percepção visual; (3) Gestalt e Semiótica Visual:
semelhanças e diferenças nos modos de ler imagem e (4) Dois possíveis
modos de ler uma imagem de ilusão de ótica.
No primeiro tópico veremos alguns aspectos da Semiótica, assim como
o “roteiro flexível para leitura de imagem” com base no livro “O que é
Semiótica?” escrito por Santaella (2005) e no artigo “Imagem também se lê”
escrito por Ramalho e Oliveira (2006). Posteriormente, no segundo tópico,
apresentaremos, de forma sucinta, os princípios da Gestalt tendo como
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Também há um livro com esse mesmo nome escrito por esta autora, o qual foi escrito em 2009.
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Adotamos essa nomenclatura para comentarmos especialmente sobre o processo de análise proposto
por Ramalho e Oliveira (2006) sobre leitura de imagem. Para saber mais sobre semiótica visual veja o
livro escrito por Antônio Vicente Pietroforte, em 2004, intitulado Semiótica Visual: os percursos do olhar.
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GESTALT E SEMIÓTICA VISUAL: PROCEDIMENTOS DISTINTOS OU

SEMELHANTES PARA LEITURA DE IMAGENS?

RESUMO

O presente artigo visa encontrar características semelhantes e divergentes entre duas propostas para leitura de imagem, a saber: (1) leitura visual através das leis da Gestalt e (2) Semiótica Visual. Para tal, apresentaremos uma definição possível para Semiótica com base nos textos de Santaella (2005) e os princípios da Gestalt para “leitura visual” a partir do livro de Gomes Filho (2000). No que se refere à semiótica visual, nos deteremos apenas no artigo “Imagem também se lê^1 ” escrito por Ramalho e Oliveira (2006) no qual a autora apresenta “um roteiro flexível para leitura de imagens” através do plano de expressão e do plano de conteúdo. Posteriormente, faremos breves comparações entre as duas possibilidades de leitura visual. E, por fim analisaremos uma mesma imagem de ilusão de ótica com base nas duas propostas.

Palavras-chave: Semiótica Visual. Gestalt. Leitura de imagem. Ilusão de ótica.

INTRODUÇÃO

Uma imagem de ilusão de ótica, preferencialmente analisada, pesquisada e/ou “explorada” pela Gestalt e intimamente relacionada à percepção visual, é passível de ser analisada pela semiótica visual^2? Mas precisamente pelo “roteiro flexível para leitura de imagens” proposto pela Ramalho e Oliveira? Em caso afirmativo, como a leitura visual com base nas leis da Gestalt se diferencia dessa última? Para responder tais questões dividimos o artigo em quatro tópicos, a saber: (1) Semiótica Visual para leitura de imagem; (2) Gestalt e percepção visual; (3) Gestalt e Semiótica Visual: semelhanças e diferenças nos modos de ler imagem e (4) Dois possíveis modos de ler uma imagem de ilusão de ótica.

No primeiro tópico veremos alguns aspectos da Semiótica, assim como o “roteiro flexível para leitura de imagem” com base no livro “O que é Semiótica?” escrito por Santaella (2005) e no artigo “Imagem também se lê” escrito por Ramalho e Oliveira (2006). Posteriormente, no segundo tópico, apresentaremos, de forma sucinta, os princípios da Gestalt tendo como

(^12) Também há um livro com esse mesmo nome escrito por esta autora, o qual foi escrito em 2009. Adotamos essa nomenclatura para comentarmos especialmente sobre o processo de análise proposto por Ramalho e Oliveira (2006) sobre leitura de imagem. Para saber mais sobre semiótica visual veja olivro escrito por Antônio Vicente Pietroforte, em 2004, intitulado “Semiótica Visual: os percursos do olhar”.

referência o livro “Gestalt do objeto: sistema de Leitura Visual da Forma” escrito por João Gomes Filho (2000). No terceiro tópico, buscaremos semelhanças e diferenças entre os princípios de leitura visual com base nas leis da Gestalt proposta por Gomes Filho e da Semiótica Visual a partir do “roteiro flexível para leitura de imagens” proposto por Ramalho e Oliveira. Por fim, analisaremos uma imagem de ilusão de ótica com base nas duas propostas.

SEMIÓTICA VISUAL PARA LEITURA DE IMAGEM

O que é semiótica? Segundo Santaella (2005) definir semiótica é algo complicado, pois sua área de abrangência é ampla, mas não indefinida, pois o que a semiótica busca analisar/compreender nos fenômenos é a sua constituição enquanto linguagem (p.14). No decorrer do livro esta autora aponta uma definição possível, a saber:

A semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido. (SANTAELLA, 2005, p. 13). Se uma das definições possíveis para semiótica é “a ciência que investiga todas as linguagens”, o que Santaella entende por linguagem? Segundo essa autora linguagem refere-se a uma infinidade “de formas sociais de comunicação e de significação que inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também (...) todos os sistemas de produção de sentido (...).” (SANTAELLA, 2005, pp. 11-12). Ou seja, a linguagem verbal, oral e/ou escrita, é apenas uma delas. Existem muitas outras, pois:

Considerando-se que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de linguagem e sentido. (SANTAELLA, 2005, p. 12).

Nessa mesma perspectiva, Ramalho e Oliveira (2006) complementa que “uma das características principais de uma linguagem é a sua capacidade de falar de si mesma.” (p. 210). E isso independentemente do seu modo de manifestação, tal como Santaella aponta.

relação entre os elementos constitutivos e dos procedimentos relacionais, assim como também pode contemplar dados de identificação da obra.

Ramalho e Oliveira (2006) propõe a seguinte estrutura para analisarmos as imagens: (1) Escaneamento visual, buscando a estrutura básica da composição; (2) Desconstrução com destaque às linhas, elaborando esquemas visuais; (3) Redefinição dos elementos básicos constitutivos; (4) Busca dos procedimentos relacionais entre os elementos constitutivos; (5) Trânsito incansável entre elementos, procedimentos, bloco de elementos, todo e partes, esquema visual e imagem; (6) Re-construção dos efeitos de sentido, com base nos procedimentos e em todas as possíveis relações; (7) Dados de identificação da imagem. No último tópico analisaremos uma imagem com base nessa estrutura e apresentaremos mais elementos sobre a mesma.

Isto posto, apresentaremos alguns princípios da Gestalt e da percepção visual, assim como as leis da Gestalt para leitura visual, para depois compararmos esta proposta com a estrutura de leitura de imagens de Ramalho e Oliveira.

GESTALT E PERCEPÇÃO VISUAL^4

O que é Gestalt? Segundo Wertheimer (1977), Gestalt é uma palavra alemã de difícil tradução, porém algumas traduções possíveis são: forma, configuração, padrão ou estrutura. Nesse sentido, a Gestalt pode ser definida como “psicologia perceptual da forma”. Considerando essa definição, perguntamo-nos: que é forma? “A forma pode ser definida como a figura ou a imagem visível do conteúdo. A forma nos informa sobre a natureza da aparência externa do objeto. Tudo que se vê possui forma.” (GOMES FILHO, 2000, p. 41). E para que possamos percebê-la “é necessário que se exista variações, ou seja, diferenças no campo visual.” (Idem, Ibidem, p. 41). Tendo por base essa afirmação, “forma” parece algo simples, mas será que é isso mesmo? As formas podem ser abordadas tanto pelas suas partes

(^4) “A percepção visual é um fenômeno difícil de explicar, pois é o ponto de contato, ou melhor, a interface entre o mundo físico e o mundo mental, sensível e inteligível e a Gestalt pode nos auxiliar nessa percepção através de uma leitura visual que podemos fazer dos objetos e/ou signos. 14) ” (SANTOS, 2009, p.

quanto pelo seu todo^5. A teoria da Gestalt surgiu nas primeiras décadas do século XX e seus fundadores:^6

Acentuavam o princípio da determinação relacional – isso é, que a propriedade das partes dependem da relação entre as partes e o todo; as qualidades das partes dependem do lugar, papel e função que tem no todo. Todos afirmaram também que, na maior parte das configurações, o todo não é igual a soma de suas partes. (WERTHEIMER, 1977, p. 164). Nesse sentido, a Gestalt afirma que o todo é maior que a soma das suas partes. Gomes Filho (2000) complementa afirmando que:

A Gestalt, após sistemáticas pesquisas apresenta uma teoria nova sobre o fenômeno da percepção^7. Segundo essa teoria, o que acontece no cérebro não é idêntico ao que acontece na retina. A excitação cerebral não se dá em pontos isolados, mas por extensão. Não existe na percepção da forma, um processo posterior de associação de várias sensações. A primeira sensação já é de forma, já é global e unificada. (p.19). Tendo por base essas afirmações, Gomes Filho (2000) estrutura um sistema de leitura visual com base nos princípios/leis da Gestalt^8. De acordo com esse autor a arte se “funda no princípio da pregnância da forma. Ou seja, na formação de imagens, os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual constituem para o ser humano uma necessidade e, por isso, considerados indispensáveis (...)”. (p. 17). Tais fatores estão presentes não só numa obra de arte, mas em todo e qualquer tipo de manifestação visual em graus distintos.

Segundo Gomes Filho (2000) as leis^9 da Gestalt para leitura visual do objeto são: unidades (elementos que configuram a forma); segregação (ato de

(^5) “(...) A forma possui propriedades que a consubstanciam, de per si ou por inteira. Ou seja, a forma pode se constituir num único ponto (singular) ou numa linha (sucessão de pontos) ou num plano (sucessão de linhas) ou, ainda, num volume (uma forma completa, contemplando todas as propriedades citadas) (GOMES FILHO, 2000, p. 39). .” (^6) “Os fundadores da Escola da Gestalt foram Marx Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. (...) Um quarto p1977, p. 164).sicólogo gestaltista importante, mais novo que os outros três, foi Kurt Lewin.” (WERTHEIMER , (^7) Em 1910, Wertheimer percebeu a importante significância sistemática do fato que o estímulo visual descontínuo pode produzir a percepção de movimento contínuocorresponde ponto a ponto ao estímulo físico, mas organiza-se como um todo – a percepção, segundo parece, não – todo esse que não é o somatório dos elementos que o compõe. (WERTHEIMER, 1977, p. 165). 8 Segundo Wertheimer (1977) Rudolf Arnheim desenvolveu as implicações da teoria Gestalt para a estética. Arnheim (1980) escreveu o livro “Arte e percepção Visual: uma psicologia da visão criadora” e afirmou que o objetivo do mesmo era discutir algumas das qualidades da visão e através disso ajudar arevigora-las e dirigi-las. Já Gomes Filho escreve um livro onde ele exemplifica e indica formas de ler as objetos/imagens a partir das leis da Gestalt. 9 Essas leis da Gestalt tem embasamento científico e “a partir dessas leis, foi criado o suporte sensível e racional, espécie de abc da leitura visual, que vai permitir e favorecer toda e qualquer articulação analíticae interpretativa da forma do objeto (...). (GOMES FILHO, 2000, p. 27).

deles, mas sim estudar o todo para ver quais são suas partes naturais. As partes de um todo não são neutras e inertes, porém estruturalmente relacionadas, de maneira íntima umas com as outras. (WERTHEIMER, 1977, p. 165).

Considerando apenas essas duas citações, compreendemos que as duas propostas para analisar imagens são completamente distintas. No entanto, Ramalho e Oliveira (2006) propõe uma leitura de imagem tendo como primeiro elemento de análise^10 o “Escaneamento visual, buscando a estrutura básica da composição”, o qual vai “sustentar a composição visual no seu todo, sendo fundamental no jogo de decodificação dos significados.” (p. 212). Vemos, portanto, que aqui há um ponto em comum que pode ser pensado entre as duas propostas de leitura de imagens. Pois, Ramalho e Oliveira parte de uma estrutura base que mantém o todo, para depois fragmentar as partes. Nessa mesma perspectiva, a proposta de leitura visual do objeto/imagem através das leis da Gestalt, proposta por Gomes Filho (2000), apresenta como primeiro e segundo passos de análise: “examinar o objeto e segregá-lo em suas partes ou unidades principais” e “decompor estas unidades principais segregadas, em suas outras unidades compositivas, e assim sucessivamente, até um nível considerado satisfatório.” (p.104). Vemos, portanto, que os passos iniciais propostos por este autor, com base nas leis da Gestalt, é separar as partes que compõe a imagem até onde for possível e não ficar analisando o “todo em si” Nesse caso, podemos afirmar que a proposta de Gomes Filho se assemelha com as etapas três e quatro de análise de leitura de imagem proposta por Ramalho e Oliveira, as quais segundo ela, é o verdadeiro início da análise, a saber: “Redefinição dos elementos básicos constitutivos”; e “Busca dos procedimentos relacionais entre os elementos constitutivos”. Outro ponto semelhante que encontramos nas duas propostas, é que ambas não partem do contexto para analisar a imagem e sim da própria imagem. Sendo assim, compreendemos que tanto o “roteiro flexível para leitura de imagens” quanto à “leitura visual com base nas leis da Gestalt” permitem a exploração de elementos constitutivos (partes) e procedimentos relacionais (relação entre as partes) presentes num texto visual, o que se altera é o enfoque, assim como os passos propostos para análise. Resumindo, os

(^10) Essa autora não considera tal etapa como análise propriamente dita, mas sim uma preparação.

autores que estudam a Gestalt afirmam que devemos analisar a imagem do todo para a parte e o “roteiro flexível para leitura de imagem” propõe o oposto, ou seja, precisamos ir da parte (elementos constitutivos) para o todo. Mas em alguns momentos (etapas de análise) parece que esses princípios se mesclam.

Enfim, tudo depende de como se olha para as coisas mesmas. Nesse sentido, consideramos que as nossas indagações iniciais foram respondidas e, portanto podemos analisar a imagem escolhida.

DOIS POSSÍVEIS MODOS DE LER UMA IMAGEM DE ILUSÃO DE ÓTICA

Faremos duas leituras de uma mesma imagem de ilusão de ótica. Uma utilizando a “leitura visual com base nas leis da Gestalt” e outra a partir do “roteiro flexível para leitura de imagens”. Iniciaremos com a leitura da imagem com base nos princípios da Gestalt.

Gomes Filho (2000) propõe duas etapas para leitura visual a partir dos princípios da Gestalt: a primeira é “Leitura visual do objeto pelas Leis da Gestalt”, estas últimas já foram descritas acima, no tópico “Gestalt e percepção visual”, portanto anotaremos aqui apenas os passos sugeridos pelo autor:

  1. Examinar o objeto e segregá-lo em suas partes ou unidades principais.
    1. Decompor estas unidades principais segregadas em suas outras unidades compositivas, e assim sucessivamente, até um nível considerado satisfatório.
  2. Identificar, analisar e interpretar cada uma das leis da Gestalt em cada unidade, originadas por segregação de natureza variada no objeto, e descrevê-las caracterizando-as, por exemplo, como segregações físicas por meio de suas massas ou volumes e também por outros tipos de segregações como um ou mais de um dos seguintes elementos: pontos, linhas, planos, cores, etc. e, ainda, por características de acabamento como, brilho, texturas, relevos positivos ou negativos, e assim por diante.
  3. Concluir a leitura visual, interpretando a organização formal do objeto como um todo, atribuindo um índice de qualidade para sua pregnância formal como, por exemplo, baixo, médio ou alto ou, se quiser ser mais preciso, atribuir um índice de avaliação de 1 a 10. (p.

Enquanto que a segunda etapa de análise, apresentada pelo mesmo autor, consiste na “Leitura Visual do objeto pelas categorias conceituais”, sendo necessário: “1. Analisar a estrutura perceptiva do objeto em função do seu nível

imagem ambígua e exige maior tempo para a interpretação visual. Finalizamos aqui a primeira leitura da imagem.

Realizaremos a segunda leitura da mesma imagem, utilizando a estrutura de análise proposta pela Ramalho e Oliveira (2006). Como vimos no primeiro tópico desse artigo, essa autora propõe um “roteiro flexível de leitura de imagens” composto por sete (7) momentos, os quais já foram apresentados acima. Tendo por base essa estrutura, apresentaremos brevemente cada um dos “passos” em conjunto com a análise da imagem da Figura 1.

Antes de iniciar a análise da imagem propriamente dita, mas ainda dentro dos sete momentos, Ramalho e Oliveira (2006) afirma que precisamos analisar dois pontos importantes, a saber: (1) “Escaneamento visual, buscando a estrutura básica da composição”, tal procedimento é uma espécie de análise do conjunto da imagem – o seu todo – sendo uma das possibilidades o destaque dos tipos de linhas e/ou figuras geométricas predominantes. Ex: Figura 2; e (2) “Desconstrução com destaque às linhas, elaborando esquemas visuais”, esse segundo momento consiste em elaborar contornos tendo por objetivo destacar as formas em detrimento das cores. Ex: Figura 3.

Figura 2. Estrutura base Figura 3. Destaque às linhas Fonte: a autora Fonte: a autora

Segundo Ramalho e Oliveira (2006), a partir do terceiro momento de análise adentramos no plano de expressão, o qual se divide em elementos constitutivos e procedimentos relacionais. Esse terceiro momento intitula-se (3) “Redefinição dos elementos básicos constitutivos e significantes”, nessa etapa, precisamos procurar na imagem, os elementos constitutivos (pontos, linhas,

planos, formas, cores, texturas, dimensões, materiais) e os elementos significantes (moldura, recorte, suporte). Ex: análise da Figura 4.

Figura 4. Base para procedimentos relacionais Fonte: a autora Na Figura 4, percebemos que há duas linhas curvas verticais e duas grandes retas horizontais; é uma imagem bidimensional; possui cores neutras (preto e branco); essas cores são chapadas (sem tonalidades); as linhas curvas são paralelas e se alternam entre longa e curta; a imagem toda pode ser percebida como uma linha contínua.

O quarto momento de leitura da imagem consiste na (4) “Busca dos procedimentos relacionais entre os elementos constitutivos”. Esse procedimento envolve um olhar atento sobre a relação entre os elementos que compõe a imagem e quais efeitos eles geram (repetição – contraste, equilíbrio

  • desequilíbrio, clareza – ambiguidade, etc). Ex: Continuação da análise da Figura 4.

Ainda com base na Figura 4, vemos que o plano de expressão referente aos procedimentos relacionais dos elementos constitutivos podem ser classificados como: simetria bilateral, mesmo formato de linhas (espelhamento); linhas curvas longas e linhas curvas próximas (ritmos diferentes); contraste (através das cores); ambiguidade (devido as formas); equilíbrio por causa da estrutura e concentração no eixo vertical; simplicidade pois tem poucos detalhes; e a imagem também nos passa a ideia de imagem “sangrada” (vai além da moldura – continua no espaço) porque não há linhas

alteram a ideia geral da ilusão/ambiguidade da mesma. Tal como podemos ver na Figura 7.

Figura 7. Variações da imagem Fonte: google imagens – internet Por fim, o último momento sugerido por Ramalho e Oliveira consiste em colocar os (7) “Dados de identificação da imagem”, os quais podem ser título da obra, autor, contexto, etc. Esse último momento está ligado ao Plano de conteúdo. Ou seja, os momentos anteriores buscavam entender como a imagem fez para “dizer o que queria dizer” e agora veremos o que a imagem “diz” através da “revisão” não apenas o plano de expressão, mas também através dos elementos dos dados de identificação da imagem.

Os dados da imagem analisada são: (i) título: reprodução do “Vaso de Rubin”; (ii) autor da imagem específica: anônimo; (iii) autor da primeira imagem: Psicólogo Edgar Rubin (1886 – 1951); (iv) é uma imagem de ilusão de ótica. Além dos dados de identificação, nesse último momento as formas, linhas, cores e procedimentos relacionais que antes eram vistos “apenas como elementos constitutivos e relações entre eles” agora podem se transformar em “figuras e representar algo”. A partir disso, consideramos que a imagem apresenta formas simplificadas que constituem figuras (taça e dois rostos de perfil) e faremos breves considerações sobre as mesmas.

Nesse último momento de análise e tendo por base as etapas anteriores, constatamos que a imagem permite que vejamos três figuras (um vaso e dois rostos); ou seja, um objeto (inanimado) x rostos de pessoas (animado). Compreendemos que a ambiguidade é algo predominante na imagem (pode ser vaso e pode ser dois rostos); “A ambiguidade é um fator que concorre para a indefinição geométrica ou orgânica da forma, podendo induzir a interpretações diferentes daquilo que é visto.” (GOMES FILHO, 2000, p. 90). Essa ambiguidade gera instabilidade, pois num momento é uma coisa noutro momento é outra; Uma forma necessita da outra para existir, embora não possam ser vistas ao mesmo tempo. Enfim, no exemplo da ilusão de ótica, “a excitação cerebral se processa em função da figura total pela relação recíproca das suas várias partes dentro do todo. (...) Não vemos partes isoladas, mas relações.” (idem, ibidem, p.19).

Com base nas duas leituras de imagens, compreendemos que segundo a teoria da Gestalt, não se pode ter conhecimento do "todo" por meio de suas partes, pois o todo é maior que a soma de suas partes, tal como vimos acima. No entanto, a dissecação da imagem nos permitiu descobrir que além da cor, a qual ajuda a produzir ambiguidade através do contraste, a própria linha (sem cor) já produz a ilusão de ótica. E sendo assim, as cores utilizadas, preto e branco, podem ser alteradas por quaisquer outras, desde que sejam contrastantes. Talvez pudéssemos chegar à mesma conclusão se explorássemos mais a proposta de leitura visual com base nas leis da Gestalt, mas foi através a separação dos elementos constitutivos, proposto pelo “roteiro flexível para ler imagens” que descobrimos tal coisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto é possível afirmar que podemos analisar uma imagem de ilusão de ótica através da semiótica visual, mesmo a primeira sendo objeto de estudo “preferencial” da Gestalt, pois, afinal, é uma imagem constituída de ponto, linha, cor, forma, etc. Outro ponto importante que precisamos ressaltar é que a Gestalt não analisa apenas imagens de ilusão de ótica. Todas as “formas” existentes são passíveis de serem analisadas pela leitura visual com base nos princípios da Gestalt.