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Este trabalho analisa a fugacidade do tempo na poesia de cecília meireles, abordando temas como a solidão, a morte, o amor, o eterno e o efêmero. A autora vincula o ser ao tempo e a cada fato acontecido, em poemas como 'retrato' e 'transição'. O estudo está estruturado em tópicos que abordam a origem da palavra tempo, sua relação com a literatura e a poética de cecília meireles.
Tipologia: Slides
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Graduação em Licenciatura Plena em Letras da Universidade Estadual da Paraíba como requisito total para a obtenção do título de Graduada em Licenciatura Plena em Letras.
Orientadora: Profª. M.Sc. Marta Lúcia Nunes
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Programa de Graduação em Licenciatura Plena em Letras da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduada em Licenciatura Plena em Letras.
Aprovado em: 27/11/2014.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Ma. Marta Lúcia Nunes (Orientadora) Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Profª. Ma. Maria Fernandes de Andrade Praxedes Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Profª. Dra. Vaneide Lima Silva Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
A minha amada família, pelo amor, dedicação e união, em especial a minha mãe Maria José de Sousa Carneiro e a meu pai Raimundo Carneiro Cassiano, pelo grande incentivo à educação, os quais, apesar de não terem tido a mesma oportunidade a mim concedida, sempre foram os meus maiores educadores. Ao meu esposo, pelo companheirismo e apoio, DEDICO.
―Hoje o tempo voa, amor Escorre pelas mãos Mesmo sem se sentir Não há tempo que volte, amor Vamos viver tudo que há pra viver Vamos nos permitir.‖ Lulu Santos.
Genilma de Sousa Carneiro^1
O presente trabalho tem como objetivo analisar a fugacidade do tempo na poesia de Cecília Meireles, através da análise dos poemas: ―Retrato‖, ―Transição‖ e ―Epigrama N. 2‖. Esta análise tem como metodologia a pesquisa bibliográfica, onde foram abordados autores como Huidobro (1991), Bosi (1977), Heidegger (2009), Agostinho (1997) dentre outros. A leitura dos poemas de Cecília Meireles propõe ao leitor uma reflexão sobre o tempo e a vida do homem. Consagrando-se como escritora numa época marcada por mudanças literárias como ocorreu com a Semana de Arte Moderna, Cecília Meireles lança ao mundo seus poemas marcados de características peculiares á autora, poetisa que sente e entende a contemplação da vida e os instantes que a compõe. Este estudo não buscou apenas os elementos estilísticos dos poemas como a métrica, rima e ritmo, mas, uma análise da ação do tempo na vida do indivíduo, fazendo uma reflexão de como esse agir transforma exteriormente e intimamente o ser, que muitas vezes não percebe a velocidade dos acontecimentos.
Palavras-Chave : Fugacidade. Poesia. Tempo.
1 INTRODUÇÃO
A poesia é transformação da realidade, é a expressão da beleza de tudo aquilo que pode ser entendido num verso, é uma contemplação emocional. Através da poesia, podemos despertar nossa sensibilidade e emoções, pois ela é dotada de múltiplas significações. Porém nada é tido como verdade absoluta, tudo é subjetivo e depende do estado emocional de cada leitor, visto que ela explora diversos significados, é uma fonte de saber e magia, manifestando a beleza dos sentimentos e sensações do autor. Para Huidobro (1991 p. 213), ―a poesia tem duas significações: significação gramatical da linguagem que dá nome a tudo sem mudar o seu sentido real diante do mundo; e a significação mágica, a qual é da maior importância na poesia, pois ela ultrapassa as normas da gramática‖. Essa linguagem mágica é fonte dos poemas de uma das maiores poetisas brasileiras, Cecília Meireles, que é referência em nossa literatura. Cecília exerceu muito bem
(^1) Aluna de Graduação em Licenciatura Plena em Letras na Universidade Estadual da Paraíba – Campus IV. Email: genilma-sousa@hotmail.com
A palavra tempo, oriunda do latim Tempus , significa momento, hora, instante, ano e estação (FARIA, 1962, p. 988).O conceito de tempo também definido pelos gregos que atribuíram três signicações à palavra tempo: Cronos (tempo cronológico, que pode ser medido), Kairós (momento indeterminado, o tempo da oportunidade) e Aeon (tempo sagrado e eterno). O tempo está ligado ao ser humano e a cada fato que lhe acontece. Essa temática torna-se bastante complicada se tentarmos usar um discurso que aborde uma relação direta com ela, pois é um tema de cunho subjetivo e relativo, que não é dado ao ser humano o poder de manipulá-lo, assim esse é um estudo que vem sendo analisado por diversos pensadores desde épocas medievais, como é o caso do filósofo Santo Agostinho. Santo Agostinho foi um dos filósofos que mais contribuíram para análise desse tema, a temática do tempo se encontra presente no Livro XI da obra Confissões (1977), redigida entre os anos de 397 e 398. Nela, o filósofo afirma : ―O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não o sei‖. Nesse sentido, é evidente a questão abstrata do tempo, pois não o conseguimos enxergar, mas o sentimos transcorrer a cada dia. Seus sinais estão impressos nas coisas diante dos nossos olhos, que percebem a todo instante que elas e os fatos mudam. O cerne da reflexão do filósofo Agostinho compreende que o indivíduo é um ser temporal, ou seja, ―que passa com tempo, que é passageiro‖ (HOUAISS, 2004, p. 713). Assim sendo, não podemos falar do tempo como um objeto exterior, uma vez que ele é composto do abstrato e acontece internamente no indivíduo, embora seus traços sejam percebidos externamente. A partir desse pressuposto, pode-se inferir que o tempo é um assunto que está intimamente ligado à existência, podendo ser experienciado em diferentes formas, tomando um papel de grande magnitude em nossas vidas. Agostinho (1977) vem trazer o questionamento de como podemos medir o tempo em passado, presente e futuro, já que, para ele, o passado é algo que já não existe e o futuro também não. Segundo o filósofo, ambos – passado e futuro – somente existem no presente, ―mas como o futuro, que ainda não existe, pode diminuir ou esgotar-se? Como o passado que não existe mais‖. Ainda nesse sentido o referido autor afirma que: ―No entanto, digo com
segurança que sei que, se nada passasse, não existiria o tempo passado, e, se nada adviesse, não existiria o tempo futuro, e, se nada existisse, não existiria o tempo presente‖ 2. A temporalidade presente nas reflexões agostinianas mostra que o tempo é algo imensurável, que está intrinsecamente ligado ao ser. Já o filósofo Heidegger (2009, p. 17), sobre a temporalidade afirma:
Diante da temporalidade originária o ser permanece sempre projetado para o futuro. Dizemos agora e pensamos no tempo. Mas em parte alguma do relógio que nos indica o tempo, encontramos o tempo, nem no mostrador nem no mecanismo.
Dessa forma, a questão da temporalidade, conforme Agostinho é confirmada por Heidegger, quando este mostra que o tempo não pode ser medido e que parte alguma do relógio indica como ele é medido. A prática de medir o tempo é algo muito remoto em nossa história, sendo criada para que os indivíduos se organizem, a partir do dia, da noite e das fases da lua, criando-se um tempo para cada coisa. Sendo assim, percebemos o mutualismo existente entre o tempo e as coisas, uma vez que cada uma delas está intimamente ligada à natureza do tempo e à forma como ele as compõe.
2.2 O TEMPO E SUA TRANSITORIEDADE
A transitoriedade com os fatos acontecem e acarretam mudanças no indivíduo, algumas delas trazem consigo o desejo de insegurança e incompreensão desse fato. O ritmo dessas transformações, inquietações é uma constante presente na literatura. A busca pelo anseio de entender como o tempo passa e os efeitos que ele traz para a vida acaba influenciando de forma direta e indireta a vida e a consciência do homem moderno, que carrega consigo um leque de indagações sobre a velocidade com que as transformações acontecem na vida. Para Bosi (1977, p. 114), ―o tempo histórico é sempre plural: são várias as temporalidades em que vive a consciência do poeta e que, por certo, atuam eficazmente na rede de conotações do seu discurso‖. De forma relativa, o tempo está ligado à consciência e ao íntimo do indivíduo, que busca aproveitá-lo de maneira intensa, pois as relações e os acontecimentos são vistos de
(^2) AGOSTINHO. Confissões. XI, 14,17.
poesia de Cecília Meireles vive ―engolfada na torrente do tempo‖ 4. Desse modo é inquestionável o quanto essa temática do tempo está presente no universo poético de Cecília, apresentando nele os mais diversos questionamentos e inquietações acerca da transitoriedade da vida, da fugacidade com que ela decorre. Segundo Huidobro (1991p. 213), ―o poeta faz mudar de vida as coisas da natureza, recolhe com sua rede tudo aquilo que se move no caos do inominado, estende fios elétricos entre as palavras e ilumina subitamente rincões desconhecidos, e todo esse mundo estoura em fantasmas inesperados‖. O autor explica que na poesia as palavras perdem o seu real sentido, dando lugar a um sentido novo, subjetivo, onde muitas vezes esse sentido chega a denotar a irrealidade das coisas, levando o leitor a alcançar uma fase de encantamento.
A poetisa Cecília Meireles apresenta em suas obras uma linguagem e divergente das tendências que marcavam as transformações sociais e literárias da época em que viveu, a exemplo da Semana de Arte Moderna em 1922, que exigia um novo padrão literário, diferente da estética parnasiana. Desde o início, Cecília foi marcada por uma profunda sensação de distanciamento e orfandade, sentimento que influenciou os seus poemas, o que talvez possa ser explicado pelos acontecimentos que marcaram a vida e a formação da poetisa, pois seu pai falecera meses antes de ela nascer. Órfã de pai, Cecília também conviveu com o signo da perda de sua mãe, que morreu quando ela tinha apenas três anos de idade; sem os pais, a poetisa passou a viver sob os cuidados da avó materna. Marcada pelo símbolo da morte, a autora conta que enquanto para muitos essa perda representa um sentimento doloroso, para ela trouxe uma aprendizagem que moldou sua personalidade: Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno que, para outros, constituem aprendizagem dolorosa e, por vezes, cheia de violência [...]. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é fundamento mesmo de minha personalidade (SANCHES, 2001, p. 23). De natureza introspectiva, Cecília foi atraída pelas tendências espiritualistas, ao descobrir no grupo da revista Festa características que vão além de um programa estético. É
(^4) Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/literatura/poesiamoderna/2003/06/30/002.htm. Acesso em 27/09/2014.
através dele, que ela confirma seu deslocamento com os laços materiais, entregando-se assim à contemplação do seu eu, em que ela fortalece sua conexão com os princípios atemporais, aqueles que não podem ser apagados. A poética de Cecília Meireles denota uma preocupação de natureza existencial, uma busca do homem que anseia viver em harmonia consigo mesmo e com o mundo. Seus versos, dotados de uma profunda lírica, representam a angústia íntima do ser diante do fluxo de tempo. A passagem do tempo acontece de forma irreversível e o seu fluxo envolve todos os seres e coisas de uma forma que cada ser, através da vivência de suas experiências, absorve ensinamentos e características peculiares que os tornam diferentes entre si, e são traduzidos nos poemas cecilianos por meio de uma linguagem dotada de lirismo.
2.5 ANALISANDO OS POEMAS
Cecília Meireles apresenta em seus poemas uma linguagem serena, musical, abordando sempre temas como a fugacidade do tempo, a solidão do ser, a vida como sonho, a distância, a perda (elemento que se destaca pelas perdas familiares sofridas pela autora). Algumas de suas poesias apresentam um tom melancólico e sereno, porém jamais transfigura o desespero, pois a poeta atribui múltiplos sentidos aos seus versos. Assim depende do estado de espírito do leitor imputar suas significações, pois, como diz Bosi (1977, p. 132), ―o poeta é o doador de sentido‖. Sua poesia anseia atingir um mundo atemporal e imaterial, onde os laços materiais parecem sempre levar o indivíduo a ficar mais distante do lado espiritual, distanciando-se cada vez mais da plenitude da alma. Alguns desses temas como a solidão, a fugacidade do instante, o desencontro encontramos no poema ―Retrato‖, que faz parte do livro A viagem (1937), no qual o eu lírico faz um retrato de si mesmo, mostrando como ele se encontra antes e depois do passar do tempo. O poema revela fugacidade do tempo e da vida, em que ele descreve como sendo uma mudança ―tão simples, tão certa, tão fácil...‖. O poema apresenta uma estrutura de três estrofes em que cada uma delas é composta de quatro versos, como veremos a seguir:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro,
Na última estrofe, “ Eu não dei por esta mudança/tão simples, tão certa, tão fácil‖ , vem descrever que o eu lírico não havia dado pela mudança, percebendo suas modificações tanto interior quanto fisicamente, e as descrevendo como ―simples, certa e fácil‖; encerra o poema o sentimento de indagação ―em que espelho ficou perdida a minha face?‖. Aqui o espelho não toma a figura de um objeto, ele é uma metáfora e retrata o momento ou lugar em que o eu lírico perde sua vitalidade, sua jovialidade, e quando percebe, é tarde demais. As metáforas, dentre outros recursos, enriquecem os textos, mas podem tornar seu entendimento de difícil compreensão, e através de seus múltiplos significados podem também esclarecer uma ideia, nesse sentido Ricoeur, (1983, p. 41) diz que a metáfora ―é uma transposição de uma palavra ou de uma frase, da sua significação própria para uma outra significação para produzir certo efeito‖. Nesse poema, a poetisa nos mostra em cada estrofe, cada verso, a transição da vida, a fugacidade dos momentos, enfatizando o quanto não paramos para observá-la, e, quando percebemos, ela já passou, a partir daí não vemos mais o mesmo rosto, as mesmas mãos, o mesmo coração, pois tudo passa por um processo de metamorfose, no qual estamos tão ocupados com o lado material que nos rodeia que ―não damos por essa mudança‖, que vem de forma ―certa, simples fácil‖ para todos os indivíduos, sem distinção, deixando no final apenas essa enorme lacuna ―Em que espelho ficou perdida a minha face?‖ A perceptividade do instante nos poemas cecilianos é clara. Assim, o leitor, ao debruçar-se sobre a leitura dos seus poemas, consegue sentir o instante passar, ao mesmo tempo que reflete o quanto ele é fugaz. De certa forma, essa transitoriedade da vida pode ser comparada como a água que corre nos rios, ninguém nunca se banhará na mesma água, uma vez que ela está a todo momento se movimentando. Essa transição que acontece na vida está bastante nítida no poema abaixo:
O amanhecer e o anoitecer parece deixarem-me intacta. Mas os meus olhos estão vendo o que há de mim, de mesma e exata.
Uma tristeza e uma alegria o meu pensamento entrelaça: na que estou sendo cada instante, outra imagem se despedaça.
Este mistério me pertence: que ninguém de fora repara nos turvos rostos sucedidos no tanque da memória clara.
Ninguém distingue a leve sombra que o autêntico desenho mata. E para os outros vou ficando a mesma, continuada e exata.
(Chorai, olhos de mil figuras, pelas mil figuras passadas, e pelas mil que vão chegando, noite e dia... - não consentidas, mas recebidas e esperadas!)
O poema ―Transição‖, publicado no livro Mar Absoluto , escrito em 1972, ressalta muito bem como o momento pode ser fugaz, pois o próprio título ―Transição‖ remete à passagem do tempo. Aqui o eu lírico vem expressar as marcas que essa transitoriedade acontece com ele mesmo, na poesia segundo Conde (2009-2010, p. 112-128) o eu lírico ―está em permanente constituição, em uma gênese constantemente renovada pelo poema, fora do qual ele não existe. O sujeito lírico se cria no e pelo poema, que tem valor performativo‖. No poema em foco, podemos perceber que a voz do eu lírico reporta-se a uma mulher, fato que comprovamos com o uso do artigo feminino ―a‖, expresso ao final de algumas estrofes ―intacta, mesma, exata, continuada‖. A rapidez com que transitam as coisas está ressaltada de início quando o eu lírico mostra ―o amanhecer e o anoitecer‖, que de forma expressa no poema nos sugere que existe uma sucessão de muitos dias e noites, porém essa rapidez com que os fatos acontecem parece não modificar o eu lírico, ou pelo menos a nostalgia em que ele se encontra não o permite perceber essas mudanças, ―parece deixarem-me intacta‖. É como se o eu lírico estivesse em
―recebidas e esperadas‖, como alguém que não admite a velhice e a morte, mas espera por elas, ainda que não sejam certas e exatas, cabendo apenas aguardá-las e aceitá-las. O instante que sucede segundo a segundo na vida do ser o leva a vivenciar diferentes acontecimentos e sentimentos, como o amor, a tristeza e a felicidade. Mas, se a vida é tão breve e passageira, esses sentimentos são tão fugazes como os instantes que se passam? Ou se eternizam em nossas ações a ponto de permanecerem em nosso ―tanque da memória‖? Na poesia de Cecília, esses sentimentos, apesar de transitórios, ficam na memória do ser e acontecem de forma tão fugaz que muitas vezes traz ao eu lírico um sentimento de desencontro e solidão. Esses sentimentos estão presentes no Epigrama N. 2 , que pertence a coleção de escritos poéticos de A Viagem (1972).
EPIGRAMA N. 2 És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa. Fizeste para sempre a vida ficar triste: Porque um dia se vê que as horas todas passam, e um tempo, despovoado e profundo, persiste. Na palavra Felicidade , escrita com letra maiúscula, temos na literatura o que chamamos de maiúsculas alegorizantes, uma característica do Simbolismo que serve para ressaltar a palavra em meio ao poema. Sendo assim, Cecília ressalta a felicidade aqui como algo efêmero, ―precário‖ e ―veloz‖. Para o eu lírico, a felicidade é algo difícil de acontecer, que ―custa a vir e, quando vens, não se demora‖. A velocidade com que os momentos de felicidade acontecem está relacionada com o tempo e sua transitoriedade, uma vez que tudo no universo gira em torno do tempo e da ação dele sobre os seres. A felicidade aqui pode ser vista como a própria razão de ser do tempo, a qual por sua natureza ser tão ―precária e veloz‖ ensinou os homens a medir o tempo e a necessidade de inventar as horas, para que esses momentos fossem medidos e valorizados. Na segunda estrofe, o eu lírico refere-se à felicidade utilizando a palavra ―coisa‖, indicando assim o quanto é difícil compreender natureza desse sentimento (felicidade), fato este que é frisado logo após, quando o eu poético emprega a palavra ―estranha‖ sugerindo assim que a felicidade é uma ―coisa estranha‖, dessa forma, a felicidade é vista como algo que
não se pode explicar (estranha), apenas sentir, e senti-la embora seja um sentimento bom, pode muitas vezes se tornar ―doloroso‖, pois tristes são as horas que se procedem quando comparadas aos momentos nos quais ela se deu. A felicidade, assim como o tempo, é algo transitório, passageiro, e por ser assim deixa a vida do homem mais triste, uma vez que com a passagem dos momentos felizes sobra ao homem uma realidade da vida que lhe é rotineira de maneira que os homens ―inventaram as horas‖, porque desse modo, saberão dar valor ao tempo que estão felizes. Na segunda estrofe no último verso, o eu poético melancolicamente ressalta a transitoriedade da vida e dos seus momentos ―porque um dia se vê que as horas todas passam‖ e, como tudo é passageiro, a felicidade também passa, razão pela qual o eu lírico fala tristemente no final do verso que ―um tempo, despovoado e profundo, persiste‖. No poema em questão, não vemos, como no poema anterior, a voz poética expressar- se em primeira pessoa. A tristeza a qual ela ressalta após a passagem da felicidade não é uma tristeza individual, muito pelo contrário, esse sentimento é expresso em nome dos homens que sofrem ao perderem ou passarem por momentos de felicidade, fato que vem ensiná-los o valor do tempo e de sua existência e como o significado da felicidade é importante, pois o eu lírico mostra-se como alguém que já provou da felicidade e assim conhece o quanto é importante e o que se esperar dela.
3 CONCLUSÃO
O leitor ao debruçar-se na leitura destes poemas de Cecília Meireles, depara-se com uma linguagem carregada de sentimentos e emoções que propõe uma reflexão sobre a vida do indivíduo e o tempo que transcorre em seu destino. O objetivo proposto neste trabalho visou analisar a fugacidade do instante presente nos poemas ―Retrato‖, ―Transição‖ e ―Epigrama Nº 2‖, desse modo às análises dos poemas aqui propostas cumpriram seu papel no que contempla o objetivo a respeito da fugacidade do tempo, da transitoriedade do instante, que a partir das interpretações feitas constatou-se que o passar das horas e os dias na vida do ser, acarretam mudanças das quais muitas vezes não são percebidas pelo próprio ser. A transitoriedade da vida e as mudanças que dela decorrem causam no indivíduo reflexões sobre o fluxo temporal que vivemos, em muitos casos é através desses momentos refletimos todo o tempo que tivemos, ou aproveitando-o ou desperdiçando-o, porém um fato é certo, sabemos que ele não volta,