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Guias e Dicas
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Romantismo e Ocultismo: Análise de Aradia, o Evangelho das Bruxas de Charles G. Leland, Provas de Religião

Uma análise do romantismo expresso na obra aradia, o evangelho das bruxas, publicada por charles g. Leland em 1899. O texto discute as características românticas presentes na obra, como a rebelião contra o cristianismo e a importância do ocultismo no século xix. Além disso, o documento discute a influência de leland na criação da wicca e outras expressões do neopaganismo.

O que você vai aprender

  • Como as características românticas contribuíram para o surgimento do ocultismo no século XIX?
  • Qual é a importância de Aradia, o evangelho das bruxas na construção da bibliografia neopagã?
  • Quais são as influências de Jules Michelet em Aradia e na criação da Wicca?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Adriana_10 🇧🇷

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GÊNERO E OCULTISMO NO SÉCULO XIX: EXPRESSÕES DO
ROMANTISMO EM
ARADIA
(1899) DE CHARLES G. LELAND
Doi: 10.4025/8cih.pphuem.4160
Mayara Carrobrez, UEM/UNICESUMAR
Silvio Ruiz Paradiso, UNICESUMAR
Palavras Chave:
Ocultimos; Charles
Leland; Século XIX.
Resumo
O objetivo desse trabalho consiste em analisar as características
do romantismo expressas na obra Aradia, o evangelho das bruxas (1899) do
ocultista estadunidense Charles G, Leland. O livro, escrito a partir de um
manuscrito que circulava pela Florença na segunda metade do XIX,
contendo ensinamentos, feitiços, conjurações e demais elementos, nos
apresenta uma narrativa onde as relações de gênero diferem da subordinação
feminina até então imposta pelo Cristianismo. Nela, Diana é a Deusa
suprema e criadora, juntamente com seu consorte e irmão, Lúcifer, que, a
partir do incesto sagrado, concebem Aradia, o messias feminino, que é
enviada a terra para lutar contra as opressões causadas pelo cristianismo
contra mulheres, pobres e pagãos. Posteriormente, Aradia serviu como base
para Gerald Gardner criar uma nova religião: a Wicca. Sendo assim,
apresentaremos as características do romantismo que possibilitaram o
surgimento do ocultismo no século XIX, e como as mesmas estão presentes
em Aradia. Nossa metodologia consiste na pesquisa bibliográfica onde
foram analisados autores como TERZETTI-FILHO (2012);
MATHIESEN (1998); FAIVRE (1994) e MAGLIOCCO (2004). Diante do
exposto, pudemos observar que o contexto histórico e as inquietações dos
sujeitos quanto aos pressupostos religiosos incitam um ambiente onde os
conhecimentos ocultos ganham força.
M Carrobrez; SR Paradiso. VIII CIH. 2047 - 2054
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GÊNERO E OCULTISMO NO SÉCULO XIX: EXPRESSÕES DO

ROMANTISMO EMARADIA (1899) DE CHARLES G. LELAND

Doi: 10.4025/8cih.pphuem.

Mayara Carrobrez, UEM/UNICESUMAR Silvio Ruiz Paradiso, UNICESUMAR

Palavras Chave: Ocultimos; Charles Leland; Século XIX.

Resumo

O objetivo desse trabalho consiste em analisar as características do romantismo expressas na obra Aradia, o evangelho das bruxas (1899) do ocultista estadunidense Charles G, Leland. O livro, escrito a partir de um manuscrito que circulava pela Florença na segunda metade do XIX, contendo ensinamentos, feitiços, conjurações e demais elementos, nos apresenta uma narrativa onde as relações de gênero diferem da subordinação feminina até então imposta pelo Cristianismo. Nela, Diana é a Deusa suprema e criadora, juntamente com seu consorte e irmão, Lúcifer, que, a partir do incesto sagrado, concebem Aradia, o messias feminino, que é enviada a terra para lutar contra as opressões causadas pelo cristianismo contra mulheres, pobres e pagãos. Posteriormente, Aradia serviu como base para Gerald Gardner criar uma nova religião: a Wicca. Sendo assim, apresentaremos as características do romantismo que possibilitaram o surgimento do ocultismo no século XIX, e como as mesmas estão presentes em Aradia. Nossa metodologia consiste na pesquisa bibliográfica onde foram analisados autores como TERZETTI-FILHO (2012); MATHIESEN (1998); FAIVRE (1994) e MAGLIOCCO (2004). Diante do exposto, pudemos observar que o contexto histórico e as inquietações dos sujeitos quanto aos pressupostos religiosos incitam um ambiente onde os conhecimentos ocultos ganham força.

Em 1899 o folclorista norte americano Charles G. Leland publicou Aradia, o evangelho das bruxas em Londres. Aradia não era o primeiro nem último livro do autor, mas tornou-se o mais conhecido dentre os 55 títulos escritos por Leland. Dentre os principais motivos, podemos citar a Wicca, criada por Gerald Gardner, na Inglaterra, no final da década de 1940. Gardner incorporou elementos de Aradia e outras fontes para dar início ao que podemos chamar de bruxaria moderna.

O livro é oriundo de um suposto “evangelho” de origem semierudita que circulava pela Itália, na região da Sicília, contendo lendas e feitiços transmitidos oralmente de geração para geração de streghe^1

Não pretendemos discutir sobre a autenticidade do suposto “evangelho” adquirido por Leland, tampouco dissertar sobre suas controvérsias, problemas metodológicos, etc. Nossa justificativa pauta-se na importância que a obra exerceu para a construção da bibliografia neopagã que serviu de base para a criação da Wicca por Gerald Gardner e seus seguidores, assim como, norteou autores que escreveram sobre a Stregheria como Leo Martello e Raven Grimassi além de suscitar investigações mais aprofundadas sobre um tema pouco difundido como a feitiçaria italiana, podemos citar os estudos da antropóloga Sabina Magliocco (2006) como fundamentais para compreender as estruturas da Stregheria e as questões mais delicadas acerca da obra de Charles Leland.

Nosso objetivo é fazer uma breve apresentação da obra destacando seus elementos sincréticos, suas peculiaridades e suas influências, além, de problematizar o protagonismo feminino presente na obra. Também o percebemos como uma forte influência para a posterior Wicca. Nesse sentido, a obra ocupa lugar de destaque para a retomada da bruxaria

(^1) Significa bruxas em italiano.

juntamente com Jules Michelet em A Feiticeira (1862) e Robert Graves, com A Deusa Branca (1948). Estruturamos nosso texto da seguinte forma: uma síntese sobre o século XIX e o Romantismo, para contextualizar o livro, assim como as influencias recebidas por Leland, seguida de uma breve biografia do autor, demonstrando seu interesse pelo ocultismo desde criança, assim como discorremos um pouco sobre suas outras produções bibliográficas dentro do folclore e ocultismo, também dissertamos a respeito do livro a ser analisado, apresentando as principais características, elementos folclóricos, feitiços, etc; posteriormente apresentamos alguns elementos referentes a Wicca resultado da junção de crenças presentes em Aradia e demais influencias. Por fim, problematizamos o protagonismo feminino presente tanto em Aradia quanto na Wicca e demais expressões do neopaganismo presentes nos séculos XX oriundas de toda essa trajetória já mencionada. O século XIX possibilitou o surgimento do ocultismo enquanto uma série de pesquisas e práticas que envolviam magia, astrologia, alquimia e cabala (FAIVRE, 1994). Isso foi possível graças aos ares do Romantismo que circulavam pela Europa na época, entretanto, entende-lo é uma tarefa que exige uma atenção maior. “O Romantismo é um movimento de oposição violenta ao Classicismo, a época da Ilustração e ao forte racionalismo atrelado ao século XVIII. Tal movimento recusa uma cosmovisão puramente racionalista e a estética neoclássica a ela ligada” (CARDOSO, 2017, p.26). Outro fator notável no Romantismo é a rebeldia: “mas romântico também era visto como desordenado, confuso, oposto ao disciplinado, ao regrado, ao classificado” (SALIBA, 1991, p. 13, apud CARDOSO, 2017, p.26), sendo assim, podemos

por Leland cuidadosamente junto com um grupo de pesquisadores, o que nos forneceu bases para justificar alguns problemas metodológicos. Mathiesen (1998) nos mostra, em primeiro lugar, que Maddalena foi a heroína de Leland, sem ela, Leland não teria acesso a maioria do conteúdo. As referências a Maddalena foram extraídas das cartas que Leland trocou com sua sobrinha, Elizabeth Pennel, que posteriormente escreveu sua primeira biografia. Poém, um dos biógrafos de Leland, Gary Varner (2009) afirma que “he never saw Aradia in and ‘old’ manuscript’ but rather heard it orally from Maddalena and seen portions of it transcribed in ther handwriting (p.144) o que coloca em dúvida sobre a existência do mesmo.

A maioria dos estudiosos congrega a opinião de que Aradia contém as concepções de Leland a respeito da bruxaria, e não realmente o que era ou como as coisas aconteceram. Precisamos lembrar que os ares românticos claramente influenciaram seu discurso, fazendo com que sua noção de bruxaria fosse algo relacionada a uma opressão vivida pelos camponeses e principalmente, pelas mulheres. Nesse ponto, vemos que “so the published Aradia difinitelly reflects something of leland’s views on religion, magic and women” (MATHIESEN, 1998, p. 48). Ou seja, o que temos nas páginas de Aradia é uma representação das concepções de Leland acerca das temáticas registradas no livro. Nesse momento cabe ressaltar que sua visão de bruxaria foi fortemente influenciada por Michelet (1862) que também é duramente criticado a respeito de seus pressupostos e escritos sobre bruxaria.

É interessante ressaltar que o trabalho de Leland não consiste somente em transformar o manuscrito em livro, mas inclui um processo tradutório, visto que as anotações de Maddalena continham uma série de erros ortográficos e estavam em italiano, ou seja, muito se perde nesse processo que, além de tudo, não passou

por uma revisão. Outro fator que chama atenção é que o livro foi publicado em Londres, dois anos após Leland enviar para publicação e insistir para que fosse publicado. O livro é dividido em 15 capítulos que agregam conteúdos lendas, feitiços, receitas de alimentos para rituais, encantamentos para atrair um amor, etc; O prefácio contém alguns comentários de Leland a respeito de alguns folcloristas que escreveram algo sobre as streghe dizendo que há uma diferença entre estas e as strega. Essa diferença se dá porque na maioria das vezes, os ensinamentos dessas são hereditários e por isso vivem no sigilo. Leland faz alguns comentários sobre aquilo que ele acredita ser a origem dessas crenças e práticas

Não restam dúvidas de que, em certos casos, essa ancestralidade remonta a tempos medievais, romanos ou até mesmo etruscos. O resultado disso é, naturalmente, o acumulo de muita tradição entre essas famílias. Mas, no norte da Itália, como atesta sua literatura, apesar de alguns contos de fadas e superstições populares compilados por estudiosos, nunca houve o menor interesse pelo estranho conhecimento das bruxas (LELAND, 2000, p. 24). O primeiro capítulo trata da origem de Aradia, filha de Diana e Lúcifer, intitulado “Como Diana deu à luz” é um convite ao diferente, visto que se trata do “incesto sagrado” da onde originou-se Aradia, também é a principal parte que contrasta a moral judaico-cristã elevando Lúcifer ao cargo de Deus. Nesse momento, nota-se o aspecto “revolucionário” de Leland, visto que ele participou de duas guerras e tem uma postura anticlerical assim como Michelet, o autor demonstra essas características no decorrer do capítulo. Cabe a nós ressaltar que entendemos a obra como uma criação híbrida de Leland, que engloba aquilo que ele encontrou no manuscrito como aquilo que ele mesmo acreditava, como nos

mostra Russel e Alexander

Hoje, estudiosos em geral consideram esse livro uma criação híbrida, na melhor das hipóteses- uma mistura das próprias crenças de Leland, com algumas sobrevivências folclóricas e herméticas genuínas que ele havia conseguido desvendar de uma forma ou de outra (RUSSEL; ALEXANDER, 2008, p.157). A narrativa segue relatando uma possível guerra entre ricos e pobres, cristão e pagãos, esse relato ocupa um ou dois parágrafos que logo abrem espaço para a fala de Diana para Aradia, onde a Deusa explica para a filha porque ela foi gerada e qual é sua missão na terra

É certo que és um espírito, Mas foste gerada para voltar a ser Um mortal; deves descer a terra E ser uma mestra de homens e mulheres Os quais, de bom grado, Devem estudar bruxaria em tua escola [...] Sim, deves fazer com que morram em seus palácios; E deves sujeitar a alma do opressor pela força; E quando encontrar um campônio que seja rico, Deves ensinar a bruxa, sua pupila, como Arruinar suas colheitas com tempestades horríveis [...] E quando um padre causar-te mal Com suas bênçãos, deve imputar a ele Males duas vezes piores, e fazei-o em nome De mim, Diana, a rainha de todas as bruxas! (LELAND, 2000, p. 33).

Vários elementos da obra podem ser destacados enquanto subversivos, como, por exemplo, a tríade Diana, Lúcifer e Aradia ocupando o centro da narrativa; os protagonismos femininos de Diana e Aradia enquanto Deusa e messias contrastam o cristianismo patriarcal e sua dupla Deus e Jesus. Além disso, a missão dada a Aradia por Diana pode ser analisada sob uma ótica política que vai além do resgate do paganismo, Aradia é enviada para proteger os pobres, mulheres e pagãos, grupos marginalizados e mais

atingidos pelo advento do cristianismo.

A obra é repleta de noções de resistência clerical e luta aos opressores, a partir de noções já apontadas em Michelet; Leland referenciou a Igreja como perseguidora de um culto agrário camponês e de pessoas simples, o cristianismo como culpado pelo extermínio de tantas almas participantes de uma religião “primitiva”, que permaneceu resistindo e sobrevivendo em suas margens como uma “anti-religião” (CAMARGO, 2017, p.75). Esse viés político da obra justifica-se pelas próprias influencias de Leland, que congregava com as ideias do historiador Jules Michelet, como por exemplo, a exaltação da mulher, além de estar inserido no século XIX, com seus ares românticos. Ademais, o livro é composto por algumas lendas, como, por exemplo, “Como Diana Criou as Estrelas e as Fadas’’, “A Casa do Vento”, “Como Nasceram as Fadas”, etc; e feitiços como: “Para Encontrar ou Comprar Algo ou Para Atrair Boa Sorte”, “Para Obter Bom Vinho e Boa Sorte”..., todavia, nesse momento, centramo-nos apenas em nosso recorte a respeito do protagonismo feminino presente nos dois primeiros capítulos. A Wicca foi criada por Gerald Gardner na Inglaterra em fins da década de 1940, em um contexto pós-guerra, tendo como principais características o culto a Deusa, e o conceito de retomada de uma religião pré-cristã.

A Wicca, segundo o próprio Gardner, é uma religião. Para se referir a ela, utiliza- se, também, os termos “Velha Religião” e “A Arte”. [...]. É uma religião iniciática, seus adeptos veneram um deus e uma deusa cujos nomes são secretos. Há um sacerdote e uma sacerdotisa que representam, consecutivamente, o deus e a deusa, mas as cerimônias

(GINZBURG, 2012, p.24)

Ginzburg nos mostra que divindades como Diana, Perséfone, Demeter, etc; eram cultuadas em regiões da Itália nos séculos XIV e XV pelos acusados de feitiçaria, nos apresentando outros protagonismos femininos. Outro culto presente na obra de Ginzburg ocorre na Romênia, uma espécie de êxtase durante Pentecostes onde mulheres são rodeadas por homens que dançam e cantam em um rito relacionado aos mortos, onde divindades femininas são reverenciadas.

As múltiplas atividades dos calusari [...] desenvolvem-se sobre a proteção de uma imperatriz mítica, a quem reverenciam. Ela é chamada de Irodeasa ou Arada, Doamna Zînelor, a senhora das fadas. São os nomes com quais os autores dos penitenciais da Alta Idade Media, seguidos por bispos e inquisidores, haviam designado a divindade noturna que no Ocidente conduzia as procissões dos mortos: Herodíade e Diana (GINZBURG, 2012, p.204). Podemos perceber que o culto a Diana enquanto uma deusa noturna ou deusa da morte atravessou os séculos, ainda que de uma forma não intacta pois muitas divindades tiveram seus nomes alterados, seus cultos distorcidos, mas em Aradia Diana segue como deusa da lua, ou seja, uma deusa noturna ao lado de Aradia (que também aparece como Herodíade em algumas partes do livro).

Pudemos perceber, ao longo da pesquisa, que a falta de trabalhos relacionados a temática neopagã no Brasil, é algo que precisa ser problematizado. As pesquisas em torno dos estudos de religião têm ganhado espaço ao longo dos anos, porém, quando pensamos em temáticas pagãs ou neopagãs, raramente encontramos materiais acadêmicos e em português. A maioria dos textos que propagam tal conhecimentos, são provenientes de sites e blogs de

praticantes das religiosidades supracitadas. O que, academicamente, não pode servir de base para uma pesquisa. Outro fator analisado e que merece ser visto, é o fato de que os eventos acadêmicos relacionados aos estudos de religiões raramente possibilitam a apresentação de trabalhos acerca da temática em simpósios temáticos voltados para os estudos pagãos. Além disso, realizar uma pesquisa acerca de tal temática em uma área diferente da ciência da religião, é um desafio constante. Quando pensamos em Aradia (1899) podemos perceber que o maior desafio é a falta de credibilidade que o livro sofre por compor uma bibliografia considerada não acadêmica ou não rígida em sua cientificidade, isso ocorre não só com o livro citado, mas também com qualquer temática relacionada ao ocultismo. Por ser considerada uma obra “oculta” Aradia carece de estudos mais profundos sobre seu conteúdo. Sendo assim, nossa pesquisa foi uma tentativa de unir os materiais disponíveis em uma análise sucinta para realizar uma pesquisa introdutória e que está longe de esgotar-se. O protagonismo feminino pode ser visto como característica das narrativas pagãs e do resgate das religiões da Deusa ou das novas formas de viver e pensar a religiosidade que emergiram no século XIX. Durante a segunda onda feminista, a valorização do feminino cruzou-se com a emergente Wicca e posteriormente, na década de 1970 nomes como Z. Budapest e Starhawk cristalizaram-se como expoentes de um culto centrado na Deusa. Em 1971, Z. Budapest fundou o Susan B. Anthony Coven, que praticava uma espécie de Wicca “Dianica”, uma ramificação da Wicca cuja adoração é voltada quase que exclusivamente para Deusa. A chamada Tradição Dianica foi criada por Morgan McFarland que inicialmente aceitava homens e mulheres nos rituais e grupos, porém, Z. Budapest deu início a um

movimento separatista dentro da tradição aceitando apenas mulheres em seus grupos, dando uma nova face a Wicca Diânica. Paralelamente a ascensão de Budapest como escritora e sacerdotisa, outra feminista merece destaque: Starhawk, que escreveu o best-seller “A Dança Cósmica das Feiticeiras” possibilitando assim, uma bruxaria feminista, além de popularizar o culto a Deusa.

Concluímos assim, nosso recorte, visto que a temática está longe de esgotar-se. Por mais que as pesquisas acerca da Wicca, bruxaria, neopaganismo, etc; tem ganhado espaço no meio acadêmico, ainda há muito o que investigar, muitas vozes precisam ser ouvidas e muitas fontes precisam ser exploradas.

Referências

CARDOSO, Pamella Louise. Romantismo, Paganismo e Bruxaria : a obra La Sorcière de Jules Michelet como precursora da Wicca, a Bruxaria Moderna. 2017. 181 f. Dissertação (Mestrado em História) Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de História, Programa de Mestrado na Linha de Discursos, Representação: Produção de Pentidos

  • UEPG, 2017

FAIVRE, Antoine. O Esoterismo. São Paulo: Papirus, 1994.

FILHO, Celso Luiz T. Um bruxo e seu tempo: as obras de Gerald Gardner como expressões contraculturais. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) PUC – SP, 2012.

GINZBURG, Carlo. Andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e

XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ______. História Noturna: decifrando o sabá. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. GRAVES, Robert_._ A deusa branca: uma gramatica histórica ao mito poético. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2004. GRIMASSI, Raven. The book of holy stregha. Springfield, Massachusetts: Old Ways Press, 2009. LELAND, Charles G. Aradia o evangelho das bruxas. São Paulo: Outras Palavras,

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