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Fundo de Olho na Hipertensão Arterial e Arteriosclerose: Interpretação Clínica e Patogenia, Notas de aula de Medicina

Este documento revisa o assunto do exame do fundo de olho na hipertensão arterial e arteriosclerose, incluindo suas relações com a patogenia, substrato anatómo-patológico e interpretação clínica. A hipertensão arterial e arteriosclerose apresentam alterações na retina facilmente estudadas pelo exame do fundo de olho, oferecendo informações importantes sobre o grau de envolvimento dos outros órgãos do organismo.

O que você vai aprender

  • Quais são as principais diferenças entre a hipertensão arterial e a arteriosclerose?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Rev.
Med.,
o
Paulo
59.63-68,
1975
FUNDO DE OLHO NA HIPERTENSÃO
ARTERIAL E ARTERIOSCLEROSE
RVMEB-46
Dr.
Mário Luiz
de
Camargo *
RESUMO
É feita
uma
revisão
do
assunto
e uma
descrição
do
quadro oftalmoscópio
na
hiper-
tensão arterial
e
arteriosclerose
com
suas
relações
com a
patogenia, substrato anáto-
mo-patológico
e
interpretação clínica.
A hipertensão arterial
e a
arterioscle-
rose manifestam-se
na
retina produzindo
alterações
que
podem
ser
facilmente
es-
tudadas pelo exame
do
fundo
de
olho
através
do
oftalmoscópio.
A retina
é o
único local
do
corpo
hu-
mano onde
os
vasos
sangüíneos
podem
ser estudados
por
observação direta
através
de
métodos incruentos
que po-
dem
ser
repetidos quantas vezes
se de-
sejar
e
inclusive
se
registrar através
de
fotografias. Assim sendo,
a
oftalmosco-
pia
é de
inegável valor
no
estudo
da hi-
pertensão arterial
e da
arteriosclerose,
pois
a
correta interpretação
das
lesões
fundoscópicas
nos dá uma
idéia
do
grau
de envolvimento
dos
outros órgãos
do
organismo.
A hipertensão arterial
e a
esclerose
ar-
teriolar
o
dois processos patológicos
distintos
e,
muito embora estejam
fre-
qüentemente associados
e
relacionados,
devem
ser
interpretados
e
classificados
independentemente para
uma
perfeita
compreensão
de
cada processo
e
suas
inter relações.
A arteriosclerose
é uma
afecção gene-
ralizada caracterizada
por uma
progres-
siva esclerose
da
parede vascular
e in-
clui
os
seguintes tipos:
1. Arteriosclerose involutiva
ou
senil
2.
Esclerose reactiva
3. Aterosclerose
A hipertensão arterial
é
caracterizada
essencialmente
por
supertono arteriolar
com conseqüente aumento
da
resistên-
cia
ao
fluxo
sangüíneo
e
elevação
da
pressão arterial.
Com o
evoluir
do
pro-
cesso ocorre superplasia, degeneração
e
fibrose
da
parede vascular.
Há um au-
mento
da
permeabilidade vascular apare-
cendo edema retiniano, hemorragias,
ex-
sudatos
e
mesmo edema
de
papila quan-
do
o
processo
é
muito intenso. Didatica-
mente podemos classificar
a
hipertensão
arterial
em:
1. Hipertensão
o
precedida
de
arte-
riosclerose involutiva
2.
Hipertensão precedida
de
arterios-
clerose involutiva
3. Hipertensão maligna
Arteriosclerose Involutiva ou Senil
É uma afecção desencadeada pela
idade avançada sendo amplamente
ge-
neralizada
e
difusa
por
toda
a
árvore
vascular
do
organismo. Aparece
em
qua-
se todas
as
pessoas idosas, mesmo
sa-
dias,
aproximadamente
a
partir
dos 60
Médico Asistente
da
Clínica
Oftalmo-lógica
do
Hospital
das
Clínicas
da Fa-
culdade
de
Medicina
da
Universidade deSão Paulo.
REVISTA
DE
MEDICINA
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Rev. Med., São Paulo 59.63-68, 1975

FUNDO DE OLHO NA HIPERTENSÃO

ARTERIAL E ARTERIOSCLEROSE

RVMEB- **Dr. Mário Luiz de Camargo ***

R E S U M O

É feita u m a revisão do assunto e u m a descrição do quadro oftalmoscópio na hiper- tensão arterial e arteriosclerose com suas

relações com a patogenia, substrato anáto- mo-patológico e interpretação clínica.

A hipertensão arterial e a arterioscle- rose manifestam-se na retina produzindo alterações que podem ser facilmente es- tudadas pelo exame do fundo de olho através do oftalmoscópio. A retina é o único local do corpo hu- mano onde os vasos sangüíneos podem ser estudados por observação direta através de métodos incruentos que po- dem ser repetidos quantas vezes se de- sejar e inclusive se registrar através de fotografias. Assim sendo, a oftalmosco- pia é de inegável valor no estudo da hi- pertensão arterial e da arteriosclerose, pois a correta interpretação das lesões fundoscópicas nos dá u m a idéia do grau de envolvimento dos outros órgãos do organismo. A hipertensão arterial e a esclerose ar- teriolar são dois processos patológicos distintos e, muito embora estejam fre- qüentemente associados e relacionados, devem ser interpretados e classificados independentemente para u m a perfeita compreensão de cada processo e suas inter relações. A arteriosclerose é u m a afecção gene- ralizada caracterizada por u m a progres- siva esclerose da parede vascular e in- clui os seguintes tipos:

  1. Arteriosclerose involutiva ou senil
  2. Esclerose reactiva
  3. Aterosclerose A hipertensão arterial é caracterizada essencialmente por supertono arteriolar c o m conseqüente aumento da resistên- cia ao fluxo sangüíneo e elevação da pressão arterial. C o m o evoluir do pro- cesso ocorre superplasia, degeneração e fibrose da parede vascular. Há u m au- mento da permeabilidade vascular apare- cendo edema retiniano, hemorragias, ex- sudatos e m e s m o edema de papila quan- do o processo é muito intenso. Didatica- mente podemos classificar a hipertensão arterial em:
  4. Hipertensão não precedida de arte- riosclerose involutiva
  5. Hipertensão precedida de arterios- clerose involutiva
  6. Hipertensão maligna

Arteriosclerose Involutiva ou Senil

É uma afecção desencadeada pela idade avançada sendo amplamente ge- neralizada e difusa por toda a árvore vascular do organismo. Aparece e m qua- se todas as pessoas idosas, m e s m o sa- dias, aproximadamente a partir dos 60

  • Médico Asistente da Clínica Oftalmo-lógica do Hospital das Clínicas da Fa-

culdade de Medicina da Universidade deSão Paulo.

CAMARGO, M L — Fundo de olho na hipertensão — Rev. Med., São Paulo, 59.63-68, 1975.

anos de idade. A alteração vascular se traduz clinicamente por u m discreto au- mento da pressão sistólica pela perda da elasticidade vascular, porém a pres- são diastólica não se altera. Afeta prin- cipalmente a camada média da parede arterial levando à fibrose e conseqüen- temente à redução do fluxo sangüíneo local. Oftalmoscopicamente as artérias apre- sentam-se: estreitadas, pálidas e menos brilhantes, retificadas e ramificando-se e m ângulos mais agudos. A redução do fluxo sangüíneo acar- reta modificações na retina tais como: alterações pigmentares, aparecimento de drusas de coróide e perda do reflexo brilhante de sua superfície.

Arteriosclerose Reactiva

A hipertensão arterial diastólica pro- longada induz ao aparecimento de alte- rações estruturais na parede vascular. Inicialmente a alteração essencial é o supertono arteriolar, fenômeno puramen- te funcional e reversível, não podendo ser evidenciado nas preparações histoló- gicas. Porém se o supertono for pro- longado ele evolui para supertrofia da camada média e posteriormente para su- perplasia, degeneração hialina e fibrose, com aumento dos elementos celulares e elastina. Portanto a seqüência de apa- recimento da esclerose reactiva é: 1. Su- pertono 2. Supertrofia 3. Superplasia 4. degeneração hialina 5. fibrose. Quando ocorre o processo de escle- rose arteriolar. aumenta a densidade óptica da parede vascular o que, oftal- moscopicamente. se traduz por u m au- mento do reflexo axial da arteríola e por características alterações nos cruzamen- tos artério-venosos, onde a parede arte- riolar menos transparente c o m o que es- conde e comprime a vênula. Normalmen- te a parede arteriolar é completamente transparente e o que observamos ao

oftalmoscópio é a coluna sangüínea e não o vaso propriamente dito. Além dis- so as arteríolas e as vênulas têm a ca- mada adventícia e m c o m u m no ponto de seus cruzamentos e qualquer altera- ção da parede arteriolar reflete na pa- rede venular provocando compressão, retração ou entalhe característicos dos cruzamentos artério-venosos patológicos. C o m o evoluir do processo aparecem manifestações oftalmoscópicas mais evi- dentes, até o clássico aspecto de vasos aparentando u m brilho de metal carac- terístico semelhante a fios de cobre ou de prata. O estádio final pode ser a trombose c o m a oblíteração total do vaso. O trajecto arteriolar retiniano torna-se mais retilíneo por retração das sinuosi- dades normais. Este fenômeno pode ser explicado pela tração exercida sobre a árvore arteriolar pelo encurtamento dos vasos mais calibrosos esclerosados. Mais raramente podemos observar aumentos de tortuosidade explicados por u m au- mento de pressão entre dois pontos fi- xos e esclerosados e m vasos s e m al- terações anatômicas consideráveis. Outro elemento que caracteriza a re- tinopatia arteriosclerótica e m fases adiantadas são os exsudatos "duros" Apesar do termo exsudato estar consa- grado pelo uso, no estudo histológico dessas lesões verificamos serem cons- tituídas de material hialino situado na camada plexiforme externa da retina. São pequenas massas brancas brilhantes de forma circular, de limites preciosos e nunca rodeadas de edema, o que dá o aspecto de dureza, sendo facilmente distinguíveis dos exsudatos algodonosos do processo hipertensivo.

Aterosclerose

É uma moléstia caracterizada por de- generação do endotélio, proliferação de células e fibrose subendoteliais e depó- sito de material lipídico na camada ín-

CAMARGO, M L. — Fundo de olho na hipertensão — Rev. Med., São Paulo, 59.63 68, 1975.

As hemorragias ocorrem c o m relativa freqüência da doença hipertensiva pelo fenômeno da diapedese nas arteríolas e só raramente, quando intensas, é que são devidas a rupturas vasculares. Locali- zam-se geralmente no pólo posterior e ao redor da papila e são. de regra, e m forma de "chama de vela" Conforme a localização nas camadas da retina, a forma e o aspecto da hemorragia podem variar. Assim, se localizada na camada de fibras nervosas, a hemorragia tem a forma de chama de vela pois acompanha a disposição das referidas fibras (vide foto III), enquanto que sua forma é mais arredondada quando localizada nas ca- madas mais profundas da retina (vide foto II). C o m o manifestação subjectiva, às vezes os pacientes acusam escoto- mas, conforme sua localização, princi- palmente se localizadas próximas à mácula.

Hipertensão precedida de arteriosclerose involutiva

A hipertensão vai se instalar em um leito vascular já esclerosado e, portanto, além das alterações já existentes devido à esclerose senil. outras (reactivas) vão aparecer quando instalada a doença hi- pertensiva.

Hipertensão maligna

Apesar de ser a expressão evolutiva de u m m e s m o processo a hipertensão maligna caracteriza-se pela necrose fi- brinóide da parede vascular. Clinicamen- te a pressão arterial é b e m elevada; de um m o d o geral c o m a pressão diastólica acima de 13 m m H g. e há envolvimento renal, cardíaco, cerebral e da circulação periférica. Além de todas aquelas lesões já des- critas na hipertensão benigna, na hiper- tensão maligna aparece o característico edema de papila. Muitas vezes o papile- dema é a primeira evidência da passa- gem de u m a fase benigna para maligna

se b e m que e m raras ocasiões pode ocorrer u m discreto e d e m a e m hiperten- sões benignas. Há casos e m que a exsudação é tão intensa que pode ocorrer, inclusive, des- colamento de retina. A patogenia do papiledema é muito discutida, estando as opiniões divididas entre considerá-la c o m o causada pelo aumento da pressão intracraniana e atribuí-la c o m o resultado das alterações exsudativas locais. Atualmente a maioria dos autores considera o aumento da pressão intracraniana c o m o o fator pri- mordial coadjuvado pela exsudação local. Oftalmoscopicamente o aspecto do papiledema é característico (vide foto V): engurgitamento venoso, ausência de pul- so venoso, borramento de suas margens, coloração mais avermelhada devido à super-hemia, desaparecimento da esca- vação fisiológica e, nos estádios mais avançados, aumento evidente do seu re- levo.

Classificação Existem muitas classificações das re- tinopatias hipertensiva e arterioscleró- tica, dentre as quais podemos citar as de: Fishberg, Wagener e Keith, Bchgaard e Porsaa, Leishman, etc. Entretanto foge ao objectivo deste trabalho transcrever aqui todas essas classificações, pois to- das apresentam, u m a s mais outras me- nos, vantagens e desvantagens. Descre- veremos a seguir a classificação de Je- rome Gans por entendermos que seu sistema de notações preenche b e m a fi- nalidade de classificar e orientar quanto ao diagnóstico, prognóstico e terapêu- tica a se adotar, além de ser muito prática. Gans classifica dissociando o processo hipertensivo do processo arterioscleróti- co estabelecendo três graus de intensi- dade, de acordo c o m os sinais oftalmos- cópicos, acrescentando 1.2.3 às letras A e H para cada processo, respectiva- mente.

CAMARGO, M. L. — Fundo de olho na hipertensão — Rev. Med., São Paulo, 59.63-68, 1975

7^Í7A::

- ' 'SI

m

Foto I — Fundo de Olho Normal. Foto II —^ Hemorragias^ Retilinianas.

Foto III — Hemorragias e m forma de « C h a m a de Vela».

Foto IV — Edema de Papila Incipiente.

Foto V — E d e m a de Papila.

Classificação de Gans A — componente arteriosclerótico H — componente hipertensivo

Arteriosclerose: Ao: Fundus normal A1; (esclerose arteriolar discreta)

Pequeno aumento do reflexo axial das arteríolas.

Irregularidades de calibre e retifica- ção do trajecto vascular. Cruzamentos artério-venosos patoló- gicos incipientes. A2: (esclerose arteriolar moderada) Aumento notável do reflexo axial das arteríolas assemelhando-se a fio de cobre. Evidentes cruzamentos artério-veno- sos patológicos. Raros exsudatos duros. A3: (esclerose arteriolar intensa) Acentuação dos sinais anteriores c o m aumento ainda maior do refle- xo axial das arteríolas assemelhan- do-se a fio de prata.