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Functional Oral Intake Scale (FOIS), Notas de estudo de Linguística

Apresentam-se, também, algumas escalas de avaliação da deglutição e da disfagia, no sentido de identificar os recursos disponíveis para detetar a.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Roseli
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ESCOLA SUPERIOR
DE SAÚDE DO ALCOITÃO
SANTA CASA da Misericórdia de Lisboa
Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias
Functional Oral Intake Scale (FOIS):contributo
para a validação cultural e linguística
para o português Europeu
Projeto elaborado com vista à obtenção
do grau de Mestre em Terapia da Fala, na
Área de Motricidade Orofacial e Deglutição
Orientador: Professora Doutora Dália Maria dos Santos Nogueira
Co-orientador: Mestre Inês Isabel Sousa Lopes
Fevereiro, 2015
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ESCOLA SUPERIOR

DE SAÚDE DO ALCOITÃO

SANTA CASA da Misericórdia de Lisboa

Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias

Functional Oral Intake Scale (FOIS):contributo

para a validação cultural e linguística

para o português Europeu

Projeto elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia da Fala, na Área de Motricidade Orofacial e Deglutição

Orientador: Professora Doutora Dália Maria dos Santos Nogueira Co-orientador: Mestre Inês Isabel Sousa Lopes

Fevereiro, 2015

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ESCOLA SUPERIOR

DE SAÚDE DO ALCOITÃO

SANTA CASA da Misericórdia de Lisboa

Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias

Functional Oral Intake Scale (FOIS): contributo para a validação

cultural e linguística para o português europeu

Projeto elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia da Fala, na Área de Motricidade Orofacial e Deglutição

Orientador: Professora Doutora Dália Maria dos Santos Nogueira Co-orientador: Mestre Inês Isabel Sousa Lopes

Júri: Presidente: Professora Doutora Isabel Cristina Ramos Peixoto Guimarães Professora Coordenadora da Escola Superior de Saúde do Alcoitão Vogais: Professora Doutora Dália Maria dos Santos Nogueira Professora Coordenadora Equiparada da Escola Superior de Saúde do Alcoitão Professor Doutor Pedro Lopes Ferreira Professor Associado com Agregação da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Fevereiro, 2015

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A todos os professores e colegas do Mestrado, pela partilha de vivências e amizade, os quais levo no meu coração.

A todos os que contribuíram para a minha formação profissional e pessoal ao longo destes anos, incluindo professores, formadores, colegas, auxiliares, pacientes e amigos a minha gratidão.

À Doutora Sofia Maul, à Professora Helena Liberato e ao Doutor António Conde, o meu agradecimento pela disponibilidade na realização das traduções e adaptações da escala.

A todas as colegas Terapeutas da Fala que também contribuíram de alguma forma na fase da tradução e adaptação deste estudo, o meu obrigada.

Do ponto de vista pessoal, a lista é longa. Uma dissertação é fruto de uma dedicação que excede os limites daquilo que se costuma chamar “trabalho profissional”. Mais do que cumprir funções, dão-se largas às emoções. Trata-se de uma fase em que as emoções parecem uma “montanha russa”, estamos constantemente a lidar com bons e maus momentos. Neste cenário, as relações pessoais são uma componente extremamente importante, para a sua conclusão com sucesso.

Começo por dedicar este trabalho à minha filha Bárbara, que me acompanhou durante as aulas (ainda na minha barriga), e já depois do seu nascimento, esteve sempre ao meu lado enquanto trabalhava na dissertação. E atualmente, por ter tolerado todas as minhas grandes ausências.

Agradeço ao meu amor João, por ter sido um porto seguro em todas as minhas aventuras e que assumiu com dedicação, muitas das minhas responsabilidades familiares, propiciando a minha dedicação à dissertação. Agradeço-lhe todas as manifestações de companheirismo, compreensão, encorajamento e apoio sem limites.

Um agradecimento especial à minha mãe, que também assumiu muitas das minhas responsabilidades familiares, para eu ter disponibilidade para realizar a dissertação.

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Ao meu mano, que embora viva na Alemanha, um agradecimento especial pela prontidão, disponibilidade e paciência com que sempre me ajudou ao nível da informática e tratamento estatístico.

Gostaria, ainda, de referir, as pessoas que já partiram deste mundo, mas que espiritualmente habitam todos os dias no meu coração. Em especial, ao meu pai, por me guiar e orientar em todos os caminhos da minha vida e a quem devo muito daquilo que sou hoje.

Por último, gostaria de mencionar que a lista de agradecimentos não se ficaria certamente por aqui, mas seria impossível referir todas as pessoas que tiveram influência positiva neste trabalho. Para todas elas poderia escrever longas e merecidas páginas de agradecimentos, pelo que desde já apresento as minhas desculpas a todos que, imerecidamente, não foram mencionados.

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ABSTRACT

The present study aims to contribute to the cultural validation of the Functional Linguistic and Oral Intake Scale (FOIS) for European Portuguese. In this context, the study comprises two phases: (1) a qualitative one, dedicated to the translation and adaptation of the scale to European Portuguese; (2) and the quantitative phase that aims to examine the psychometric characteristics of the scale, namely: sensitiveness, reliability and validity. The sample consists of 65 subjects spread over two distinct groups: one group of 35 subjects diagnosed with dysphagia after stroke, aged between 55 and 90; and the control group which includes 30 subjects, aged between 40 and 87 and no history of dysphagia and/or stroke. We used the following instruments to collect data: DOSS, P-EAT-10, EQ-5D, MDADI and FOIS (Portuguese version). The results show that Portuguese version of FOIS has good psychometric characteristics and the European Portuguese version, can be applied, without restriction, to patients with dysphagia post-stroke.

Key-words: Assessment tool, Translation and cultural adaptation, FOIS, Dysphagia, Stroke.

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ÍNDICE

Lista de figuras …………..……………………………………………………...………... Lista de gráficos …………….……...……………...……………………………………... Lista de quadros …………………..………………..……………………………………. Lista de abreviaturas ……………………………………………………………………...

INTRODUÇÃO ………………...………………………….…………………………….

CAPÍTULO 1. REVISÃO DE LITERATURA ……….…………...…….…………….

  1. Deglutição …………………………….………………………………………………..
  2. Disfagia .………………………………………………………………………………..
  3. Acidente Vascular Cerebral ……………………………………………………………
  4. Disfagia e Acidente Vascular Cerebral ……...………...………………………………
  5. Avaliação da deglutição ……………………….………………………..…………….. 5.1. Escalas de avaliação da disfagia ……………….……………………......………...

CAPÍTULO 2. METODOLOGIA .…………..…………………………………...…….

  1. Objetivos do estudo …………………………………………………………………….
  2. Participantes …………………………………………………………..………………..
  3. Procedimentos ……………………………………………………...………………….. 3.1. Tradução e adaptação da escala ………………………………………………….. 3.1.1. Fase 1 - Tradução inicial ………………..………………..………………... 3.1.2. Fase 2 - Versão de consenso (reconciliação) ………...……..……………... 3.1.3. Fase 3 - Retroversão ……………………………………..…...……………. 3.1.4. Fase 4 - Relatório clínico de revisão do instrumento …………....………... 3.1.5. Fase 5 - Cognitive briefing ………………………….……………..………. 3.1.6. Fase 6 - Pré-teste ………………...….…………………..….……...………. 3.1.7. Fase 7 - Versão final ……………………………………..………..……….. 3.2. Recolha dos dados ………………………….……………………………………..
  4. Instrumentos ………………………………………………..………………………….. 4.1. Dysphagia Outcome Severity Scale (DOSS) …………………………………….. 4.2. Eating Assessment Tool (P-EAT- 10 ) ……………………….……………………. 4.3. M. D. Anderson Dysphagia Inventory (MDADI) ………….……………………..

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Apêndice 4. Consentimento informado .……………………………....………….. Apêndice 5. FOIS (versão portuguesa) …………………………….....………….. Apêndice 6. Outputs SPSS ……………….………………….……………………

ANEXOS ………………………………………………………………………………… Lista de anexos ………………………………………………………...……………… Anexo 1. DOSS …………………………………………………...…………….... Anexo 2. P-EAT- 10 .……………………………………….…..…………………. Anexo 3. MDADI ………………………………….………….………………….. Anexo 4. EQ-5D …………………………………..…………...…………………. Anexo 5. Questionário sociodemográfico ………………………………………...

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Histograma ………………………….………………...……………… 41

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1.

Quadro 2.

Quadro 3.

Quadro 4.

Quadro 5.

Quadro 6.

Quadro 7.

Quadro 8.

Distribuição dos inquiridos em função do estado civil (valores absolutos) ………..…………………………..…………………..……. Resultados médios das escalas aplicadas ……………………………... Teste de normalidade ………………………...……………………….. Intervalos de referência de Skewness e Kurtosis …………....…….…... Estatísticas descritivas e frequência de resposta da escala …………..... Correlação entre a FOIS e a EQ- 5 D ……………………….…….……. Correlação entre a FOIS e a P-EAT-10 ……….……...……..………… Correlação entre a FOIS e a MDADI ……………..…………………...

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LISTA DE ABREVIATURAS

ASDS AVC CDS CEISUC DHI DHI DOSS P-EAT- 10 ESSA FOIS GUSS INE ISCTE-IUL

M2M MASA MASA-C MDADI MMASA

NOMS OMS PAS SDQ SSQ SWAL-CARE SWAL-QOL TOR-BSST WHO

Acute Stroke Dysphagia Screen Acidente Vascular Cerebral The Clinical Dysphagia Scale Centro de Estudos da Universidade de Coimbra Deglution Handicap Index The Dysphagia Handicap Index Dysphagia Outcome Severity Scale Eating Assessment Tool Escola Superior de Saúde de Alcoitão Functional Oral Intake Scale The Gugging Swallowing Screen Instituto Nacional de Estatística Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa Measure to Manage The Mann Assessment of Swallowing Ability Cancer-Specific Swallowing Assessment Tool M. D. Anderson Dysphagia Inventory The Modified Mann Assessment of Swallowing Ability National Outcome Measurement System Organização Mundial de Saúde Penetration Aspiration Scale Swallowing Disturbance Questionnaire Sydney Swallow Questionnaire Dysphagia-Specific Quality of Care Dysphagia-Specific Quality of Life The Toronto Bedside Swallowing Screening Test World Health Organization

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Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias

instrumentos de trabalho que auxiliem os profissionais que trabalham nesta área a realizar avaliações e intervenções terapêuticas rigorosas e céleres (Hathaway et al , 2014). Todavia, apesar de existirem várias escalas a nível mundial que podem ajudar os profissionais no seu trabalho diário, as mesmas não se encontram traduzidas e adaptadas para o português europeu. O objetivo deste estudo é contribuir para a adaptação e validação cultural e linguística da Functional Oral Intake Scale (FOIS) para o português europeu. Segundo Sallum, Duarte e Cecconello (2012) a FOIS é uma das escalas mais recomendadas para o acompanhamento e avaliação do estado nutricional dos pacientes com disfagia orofaríngea, pós-AVC. Neste âmbito, a sua tradução e adaptação para o português europeu pode ser uma mais-valia para a avaliação e posterior intervenção nesta área. É um instrumento muito útil para o terapeuta da fala que trabalha em contexto hospitalar pois auxilia-o na identificação e interpretação de alterações na dinâmica da alimentação. Assim, este trabalho encontra-se estruturado em quatro capítulos, um dos quais se centra na revisão da literatura. Os três restantes apresentam os dados empíricos decorrentes da investigação e respetiva discussão. No primeiro capítulo procurou-se fazer um enquadramento teórico, acerca dos conceitos de deglutição, disfagia, AVC e a relação existente entre os dois últimos, bem como a avaliação da deglutição. Apresentam-se, também, algumas escalas de avaliação da deglutição e da disfagia, no sentido de identificar os recursos disponíveis para detetar a presença da disfunção, caracterizar a sua gravidade, determinar as causas, planear a reabilitação e aferir os resultados do tratamento. O segundo capítulo é dedicado à metodologia, debruçando-se sobre o esclarecimento dos objetivos, participantes, procedimentos, material e métodos que motivaram esta investigação. Numa primeira etapa – Tradução e adaptação da escala – será aplicada a metodologia qualitativa onde serão descritas as várias fases deste processo. O capítulo três ocupar-se-á do estudo das características psicométricas da escala, nomeadamente: a sensibilidade, a fiabilidade e a validade (fase quantitativa). No capítulo quatro, serão discutidos os resultados, referenciando a literatura mais relevante nesta área. Finalmente, na conclusão, refletimos de forma crítica, sobre o trabalho desenvolvido ao longo dos vários capítulos, apontando alguns dos seus limites e perspetivando outras questões de investigação.

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Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias

CAPÍTULO 1

REVISÃO DE LITERATURA

1. Deglutição

A deglutição é uma das funções fisiológicas mais importantes no ser humano e envolve uma série complexa de eventos motores e sensoriais orofaríngeos que nos permite garantir o transporte dos alimentos desde a sua ingestão até ao esófago, iniciando o processo da digestão e a eliminação de saliva da cavidade oral, evitando a sua passagem para as vias respiratórias. Assim, a passagem suave e segura dos alimentos e saliva da cavidade oral até à orofaringe acontece através de uma sequência coordenada de contrações musculares. Esta atividade programada pode ser iniciada voluntariamente ou despertada por movimentos reflexos desencadeados por impulsos sensoriais da faringe posterior (Barrit & Smithard, 2009; Ropper & Brown, 2005). Trata-se de um processo complexo que envolve, também, várias regiões do córtex cerebral e os seus nervos cranianos (Longemann, 2007). Toda esta dinâmica pode ser dividida em várias fases, uma vez que traduz várias etapas sucessivas e interrelacionados. Porém, na literatura, há variações quanto ao número de fases envolvidas. Para Flis e Edgley (2014) a deglutição pode ser descrita em três fases: oral, faríngea e esofágica. No entanto para Spiro et al. (1994, citado por Steele & Van Lieshout, 2009), o ato de deglutir divide-se em quatro fases, sendo duas voluntárias (preparatória oral e oral) e duas involuntárias (faríngea e esofágica). Durante as primeiras fases, vários músculos são ativados, no sentido de preparar o bolo para ser deglutido. Na fase faríngea, ocorre um dos eventos mais importantes da deglutição: a proteção das vias aéreas superiores. Essa proteção é feita através de três mecanismos diferentes: fechamento da glote por meio da adução das pregas vocais; fechamento da entrada da laringe por meio da eversão da epiglote; e elevação e anteriorizarão da laringe. No momento em que a laringe se eleva, o esfíncter esofágico superior relaxa e, em seguida, ocorre a abertura da transição faringe esofágica, para que o alimento passe para o esófago, iniciando a fase esofágica da deglutição. Nesta fase, o alimento é levado até ao estômago por meio de ondas peristálticas (Daniels & Huckabee, 2011). Leopold e Kagel (1997, citados por Hori et al., 2013) propuseram mudanças no paradigma da deglutição, sugerindo uma quinta fase, a chamada fase pré-oral ou antecipatória, em que as qualidades visuais e olfativas dos alimentos podem promover a

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Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias

referem que todas as alterações na deglutição podem ter impacto na saúde do individuo, tendo como consequência a pneumonia aspirativa, a desnutrição e a desidratação. Além disso, surgem prejuízos emocionais associados à privação social. Segundo Gasiorowska e Fass (2009), existem dois tipos de disfagia, a disfagia orofaríngea e a esofágica. A disfagia orofaríngea é a incapacidade que o individuo tem em iniciar uma deglutição, o que desencadeia uma falha de transferência do bolo alimentar da boca para o esófago. Esta condição pode resultar de uma variedade de patologias neurológicas e musculares, entre as quais: o AVC, a esclerose lateral amiotrófica, a doença de Huntington, a doença de Parkinson, a Miastenia Grave e a Distrofia Miotónica. Para os pacientes que sofrem destas patologias, as alterações na deglutição podem colocá-los em risco de aspiração. A disfagia esofágica é caracterizada pelas dificuldades no transporte do material ingerido para o esófago. Entre as principais causas encontra-se o cancro do esófago e o aumento dos gânglios linfáticos. Dependendo da etiologia, e segundo Corbin-Lewis, Liss e Sciortino (2009), a disfagia orofaríngea pode ser classificada em dois grandes grupos: as disfagias mecânicas, decorrentes de alterações estruturais, como nos tumores da cabeça e pescoço; e as neurogénicas que estão relacionadas com alterações no sistema nervoso central ou periférico, tal como acontece no AVC, doença de Parkinson, traumatismo crânio-encefálico, paralisia cerebral e doenças degenerativas. A disfagia está associada às infeções pulmonares, tempo de hospitalização prolongado, e aumento da mortalidade nos indivíduos pós-AVC na fase aguda. Uma avaliação cuidadosa da deglutição é essencial para decidir a respeito da estratégia de alimentação para o adequado tratamento da mesma (Warnecke et al. , 2009).

3. Acidente Vascular Cerebral

Em Portugal, o AVC é a primeira causa de mortalidade e morbilidade, sendo responsável por cerca de 2500 internamentos por ano. Estima-se uma progressão na sua incidência devido ao aumento da esperança média de vida e ao crescimento da população idosa (DGS, 2003). Estatísticas divulgadas pela American Heart Association , em 2011, revelam que nos Estados Unidos, em média, a cada 40 segundos uma pessoa sofre de AVC e a cada quatro minutos alguém morre como consequência da doença.

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Cláudia José Salgueiro Barata dos Santos Dias

Segundo Truelsen, Begg e Matter (2000), a Organização Mundial de Saúde (OMS) descreve o AVC como o desenvolvimento rápido de sinais clínicos de distúrbios focais (ou globais) da função cerebral, com sintomas que perduram por um período superior a 24 horas ou conduzem à morte, sem outra causa aparente que a de origem vascular. Existem dois tipos de AVC: (1) o isquémico, causado pela diminuição brusca do suprimento sanguíneo a uma região cerebral e que corresponde a cerca de 80% dos casos; (2) e o hemorrágico, responsável pelos 20% restantes e causado pela rutura espontânea de um vaso (sem traumatismo) com extravasamento de sangue para o interior do cérebro (hemorragia intracerebral) para o sistema ventricular (hemorragia intraventricular) e/ou espaço subaracnoídeo (hemorragia subaracnoídea). A hemorragia intracerebral é o subtipo de AVC de pior prognóstico, chegando a ter 65% de mortes por ano (Flaherty et al ., 2006). De acordo com a World Health Organization (WHO, 2014), em geral, as manifestações clínicas do AVC, têm início súbito e incluem vários sintomas, entre os quais: fraqueza muscular e alteração de sensibilidade de um lado do corpo, incoordenação motora, dificuldade para falar ou compreender, deficit visual e cefaleia intensa. Os pacientes com AVC têm um risco mais elevado de mortalidade por doenças como infeção urinária, desnutrição e pneumonia aspirativa, causada principalmente por alterações no mecanismo da deglutição. A mortalidade nos primeiros meses varia entre 15 a 20% em pacientes com AVC isquémico e entre 30 a 50% entre pacientes com AVC hemorrágico (Feigin et al ., 2009). Cerca de 50% dos pacientes que sobrevivem à fase aguda podem ficar com sequelas que levam a uma significativa incapacidade funcional e dependência com prejuízo da qualidade de vida (WHO, 2014). As projeções sugerem que sem uma adequada intervenção, o número de mortes por AVC aumentará para 6.3 milhões em 2015 e 7.8 milhões em 2030 (Bonita & Beaglehole, 2007). Neste âmbito, Silva, Laus, Canini e Hayashida (2011) e Summers et al. (2009) defendem que o conhecimento dos fatores de risco para aspiração respiratória em pacientes com AVC é fundamental, pois o elemento-chave no tratamento destes pacientes na fase aguda e subaguda baseia-se na prevenção de complicações, redução do tempo de internamento, mortalidade e custos hospitalares.