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Guias e Dicas
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Lima Barreto e o Estilo Descontraído no Pré-Modernismo: Análise de 'Triste Fim de Policarp, Notas de estudo de Língua Portuguesa

Uma introdução à obra 'triste fim de policarpo quaresma' de lima barreto, destacando sua linguagem descontraída e o tom prosaico de sua narrativa. Além disso, são apresentados alguns termos utilizados no texto e a importância de relacionar a linguagem ao contexto histórico e literário. O documento conclui com uma reflexão sobre a universalidade dos temas abordados na obra.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Carioca85
Carioca85 🇧🇷

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FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA PORTUGUESA
ROTEIROS DE ATIVIDADES – Versão do Professor
1º ciclo do 4º bimestre da 2ª série
Eixo bimestral: CRÔNICA E ROMANCE NO PRÉ-MODERNISMO / SEMINÁRIO E
DEBATE REGRADO
Gerência de Produção
Luiz Barboza
Coordenação Acadêmica
Gerson Rodrigues
Coordenação de Equipe
Leandro Nascimento
Conteudistas
Andreza Nora
Simone Lopes
Vanessa Britto
Edição On-Line Revista e Atualizada
Rio de Janeiro
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Baixe Lima Barreto e o Estilo Descontraído no Pré-Modernismo: Análise de 'Triste Fim de Policarp e outras Notas de estudo em PDF para Língua Portuguesa, somente na Docsity!

FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA PORTUGUESA

ROTEIROS DE ATIVIDADES – Versão do Professor

1º ciclo do 4º bimestre da 2ª série Eixo bimestral: CRÔNICA E ROMANCE NO PRÉ-MODERNISMO / SEMINÁRIO E DEBATE REGRADO

Gerência de Produção Luiz Barboza Coordenação Acadêmica Gerson Rodrigues Coordenação de Equipe Leandro Nascimento Conteudistas Andreza Nora Simone Lopes Vanessa Britto

Edição On-Line Revista e Atualizada Rio de Janeiro

TEXTO GERADOR 1

O romance no Pré-Modernismo pode ser refletido por meio de um dos maiores escritores do período: Lima Barreto, jornalista, cronista, contista e romancista. Sua forma de escrever era simples e comunicativa, expondo o retrato da sociedade carioca. Um exemplo disso é a obra “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, publicado em folhetim em 1911 e em livro em 1915. “A Lição de Violão” é o primeiro capítulo da narrativa e apresenta o idealismo patriótico de seu protagonista.

A Lição de Violão Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa. Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito. A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: “Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou.” E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado. Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera fora a do Doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: “Se não era formado, para quê? Pedantismo!” O subsecretário não mostrava os livros a ninguém, mas acontecia que, quando se abriam as janelas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a baixo. Eram esses os seus hábitos; ultimamente, porém, mudara um pouco; e isso provocava comentários no bairro. Além do compadre e da filha, as únicas pessoas que o visitavam até então, nos últimos dias, era visto entrar em sua casa, três vezes por semana e em dias certos, um senhor baixo, magro, pálido, com um violão agasalhado numa bolsa de camurça. Logo pela primeira vez o caso intrigou a vizinhança. Um violão em casa tão respeitável! Que seria? (...) Quaresma era um homem pequeno, magro, que usava pince-nez, olhava sempre baixo, mas, quando fixava alguém ou alguma cousa, os seus olhos tomavam, por detrás das lentes, um forte brilho de penetração, e era como se ele quisesse ir à alma da pessoa ou da cousa que fixava.

Pince-nez - Óculos leves que se mantêm no nariz pela pressão de uma mola Capadócio - que é pouco inteligente; que é impostor, trapaceiro Palrador - falador, tagarela Inçada - coberta


ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 1

O estilo de Lima Barreto, fluente, descontraído, distante dos padrões de linguagem do final do século XIX, é um ponto de contato com muitos autores que conquistaram fama após a Semana de Arte Moderna, em 1922. Uma importante característica de “Triste Fim de Policarpo Quaresma” é a linguagem descontraída que integra frases espontâneas e naturais, comuns à linguagem oral. Em diferentes passagens da obra em estudo, podemos perceber o tom prosaico, de conversa, com que o narrador relata o cotidiano de Policarpo Quaresma. A opção em que esse traço fica evidente é:

a) “Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo”. b) “Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria”.

c) “Defendia com azedume e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo.”

d) “Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este” rival do “seu” rio que ele mais implicava. Ai de quem o citasse na sua frente!

Habilidade trabalhada : Relacionar os modos de organização da linguagem às escolhas do autor, à tradição literária e ao contexto

Resposta comentada

Para iniciar a discussão sobre a questão, convém destacar que o Pré-modernismo não se configura como uma escola literária com características bem definidas, conforme os alunos têm se

habituado a conhecer, ou seja, não é um período em que há diferentes autores afinados em torno de um ideal estético. É importante esclarecer que o Pré-modernismo é um termo que busca aglutinar a produção literária de certos autores que, ainda não sendo tidos como modernos, já demonstravam rupturas com o passado e pontos de contato com a estética que estaria por vir, o Modernismo.

Essa introdução é necessária para que os alunos façam uma reflexão sobre os usos da linguagem em “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, foco dessa questão. O fato de Lima Barreto fazer uso de uma linguagem mais descontraída e menos academicista afasta-o de autores que cultivam a escrita pomposa, como parnasianos e simbolistas, por exemplo. Ao mesmo tempo em que o afasta de escolas anteriores ou até mesmo contemporâneas, aproxima-o de autores modernos que muito bem cultivaram a escrita simples, pouco pomposa e até mesmo informal.

Especificamente sobre as alternativas, é necessário que o aluno aponte aquela que possui um tom prosaico, de conversa informal. Por eliminação, pretende-se que o aluno perceba ser correta a alternativa d , que contém uma expressão tipicamente informal, própria da fala – Ai de quem – mas incomum na escrita, sobretudo na escrita literária. Daí a novidade, em termos de estilo, trazida por Lima Barreto.

Para eliminar as opções a, b e c basta salientar que todas apresentam frases que, embora possam aparecer na fala cotidiana, não destoam da linguagem escrita formal: sem gíria, sem entonação comum à fala, diferente da opção d , em que até mesmo a postura exclamativa a aproxima do tom de conversa informal.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 2

Leia atentamente o trecho abaixo e, na sequência, leia o fragmento de “Triste Fim de Policarpo Quaresma” destacado em itálico:

Resposta comentada

Como é provável que os alunos não tenham lido “Triste Fim de Policarpo Quaresma” em sua totalidade, não se darão conta de muitos dos temas que figuram na obra. Por essa razão, antes de comentar as alternativas, convém fazer um breve apanhado sobre o livro, salientando, se possível, diferentes temáticas importantes que Lima Barreto põe em cena, como o nacionalismo ufanista do personagem Policarpo, o exagerado militarismo da política brasileira da época, a burocracia etc.

Para esclarecer a questão da universalidade, é possível dar exemplos de questões particulares do nosso país à época de Lima Barreto, como a recém Proclamação da República, a Revolta de Canudos (tematizada na obra “Os sertões”, de Euclides da Cunha), a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata etc. Isso irá contribuir para a diferenciação necessária entre o que é uma questão universal (como, por exemplo, a fome, a corrupção etc.) e o que é uma questão particular de uma sociedade.

Depois dessa introdução e de o aluno ler atentamente o fragmento, será levado a perceber que, embora todos os temas que figuram nas alternativas possam ser considerados universais (não particulares do nosso país), três deles não se fazem presentes no fragmento apresentado na questão.

O único tema de caráter universal presente no trecho em análise é o preconceito social. Outro trecho que pode ser apontado para demarcar o preconceito social é:

“Além do compadre e da filha, as únicas pessoas que o visitavam até então, nos últimos dias, era visto entrar em sua casa, três vezes por semana e em dias certos, um senhor baixo, magro, pálido, com um violão agasalhado numa bolsa de camurça. Logo pela primeira vez o caso intrigou a vizinhança. Um violão em casa tão respeitável! Que seria?”

No trecho selecionado para o enunciado e no transcrito acima, fica clara a forma preconceituosa com a qual tanto a vizinhança como a irmã de Policarpo encaravam o fato de o mesmo receber em sua casa um professor de violão. Este, considerado um “capadócio”, não era visto como uma boa companhia para um homem de “posição” como o Major Quaresma.

Após declarar a alternativa d como correta, cabe uma breve discussão sobre diferentes formas pelas quais o preconceito pode se fazer presente nas diferentes sociedades: em função de raça, gênero, etnia, profissão, idade, classe social etc. Também é importante ressaltar que, ao contrário do que os alunos podem imaginar, diferentes formas de preconceito existem não somente em nosso país, configurando-se, infelizmente, em um problema universal a ser combatido.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 3

Leia o trecho a seguir:

“De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos.”

O período acima destacado pode demandar certo esforço de compreensão por parte de alguns leitores, devido ao uso de expressões e/ou elementos não tão usuais nos textos escritos atualmente. Uma maneira de diminuir esse esforço de compreensão por parte do leitor seria a substituição dessas expressões e/ou elementos por outros mais frequentes na linguagem formal contemporânea, o que torna o período mais claro e objetivo. Tendo em vista esse comentário, assinale a única alternativa em que a reescrita, em prol de maior clareza e objetividade, altera o conteúdo semântico original.

a) Faz muito tempo que a engenharia do nosso município deveria ter se apoderado do dever de evitar esses acidentes urbanos. b) A engenharia do nosso município deveria, há muito tempo, ter se apoderado do dever de evitar tais acidentes urbanos. c) Há muito tempo que a engenharia municipal deveria ter se apoderado do dever de evitar tais acidentes urbanos.

e “tais acidentes” por “esses acidentes”. As construções foram alteradas, manteve-se o registro formal e também o sentido original.

A opção b coloca em evidência o sujeito “A engenharia do nosso município”; intercala o comentário do narrador - “há muito tempo”- (no lugar de “De há muito”) e troca “ter compenetrado” por “ter apoderado”. Aqui, a nova construção não fere a linguagem formal nem o conteúdo semântico original.

A opção c se limita a substituir duas expressões pouco usuais na linguagem formal contemporânea por duas mais atuais (De há muito”/“Faz muito tempo”; “se devia ter compenetrado”/“deveria ter se apoderado”), tornando mais clara a leitura e mantendo o sentido do trecho original.

A opção d é a única que, embora também escrita em uma linguagem formal e de leitura fácil e clara, deturpa o conteúdo semântico original do período. A alteração da semântica ocorre devido à inclusão de uma oração condicional (“Se a engenharia...”) que não se observa no período original. Apesar de o narrador demonstrar insatisfação com o trabalho da engenharia municipal (no período original), não é possível depreender que os acidentes seriam evitados, caso a mesma houvesse se ocupado de sua tarefa. Na verdade, o narrador afirma apenas que ela deveria se ocupar do dever de evitar, mas não garante que o trabalho de fato eliminaria o problema das enchentes.

TEXTO GERADOR 2

Em “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, Lima Barreto expressa com muita propriedade a preocupação social tão marcante no Pré-Modernismo. Em “Espinhos e flores”, segundo capítulo da segunda parte da obra, estrutura e administração pública do Rio de Janeiro são criticadas. Além disso, são reveladas as desigualdades no cenário do subúrbio carioca.

Espinhos e flores Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação da cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções. Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado. Às vezes se sucedem na mesma direção com uma frequência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva. Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas. Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha- se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada e quer ocultar-se diante daquela onda de edifícios disparatados e novos. Não há nos nossos subúrbios coisa alguma que nos lembre os famosos das grandes cidades europeias, com as suas vilas de ar repousado e satisfeito, as suas estradas e ruas macadamizadas e cuidadas, nem mesmo se encontram aqueles jardins, cuidadinhos, aparadinhos, penteados, porque os nossos, se os há, são em geral pobres, feios e desleixados. Os cuidados municipais também são variáveis e caprichosos. Às vezes, nas ruas, há passeios, em certas partes e outras não; algumas vias de comunicação são calçadas e outras da mesma importância estão ainda em estado de natureza. Encontra-se aqui um pontilhão bem cuidado sobre o rio seco e passos além temos que atravessar um ribeirão sobre uma pinguela de trilhos mal juntos. Há pelas ruas damas elegantes, com sedas e brocados, evitando a custo que a lama ou o pó lhes empanem o brilho do vestido; há operários de tamancos; há peralvilhos à última moda; há mulheres de chita; e assim pela tarde, quando essa gente volta do trabalho ou do passeio, a mescla se faz numa mesma rua, num quarteirão, e quase sempre o mais bem posto não é o que entra na melhor casa. (Lima Barreto)

VERBETE :

Boulevards : Palavra francesa que significa “ruas largas ladeadas de árvores”, avenida. Vielas : ruas estreitas, becos. Circuitos : Contornos. Brocados : tecidos de seda com desenhos em relevo realçados por fios de ouro ou prata.

No que concerne à alternativa B, o docente pode esclarecer a mescla de que trata o autor no último parágrafo. De um lado a elegância das moças com tecidos de seda, do outro, as moças com tecidos de algodão (“de chita”) e o operário que anda de tamancos. É interessante explicar que a existência de seda e brocados são recursos da moda, que podem mostrar as tendências de senhoras que vivem de aparências, imitando o vestir europeu. Finalmente, vale frisar que as diferenças sociais se constituem num tema crucial para a produção pré-modernista. Sem dúvida, trata-se de um tema fortemente ligado à história brasileira e ao contexto carioca, no entanto, não é algo exclusivamente nacional. Na verdade, o capítulo permite revelar que o preconceito social, fundamentado na distinção entre classes, é algo universal e que ocorre em todos os níveis, incluindo o próprio subúrbio.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 5

Os marcadores discursivos são elementos linguísticos que fazem referência a partes do texto, podendo englobar o foco no conteúdo da oração ou na intenção de quem fala. Podem ser representados por expressões de modalidade, constituídas por advérbios, conjunções, verbos modais, modos do verbo, marcadores de foco, etc. No cotidiano, podem ser representados por adjuntos adverbiais como “Certamente, estudarei Pré-Modernismo hoje”, em que “certamente” está revelando um programa definido para estudar.

No capítulo “Espinhos e flores”, de Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto apresenta a estrutura do subúrbio em “A topografia do local, caprichosamente montuosa, influi decerto, mais influíram, porém, os azares das construções”, usando os termos “caprichosamente” e “porém”, que podem ser substituídos sem prejuízo de sentido por:

(A) principalmente, também (B) geralmente, portanto (C) naturalmente, contudo (D) calmamente, entretanto

Habilidade trabalhada : Empregar marcadores discursivos (geralmente, muitas vezes...).

Resposta comentada

Ao tratar do assunto, é recomendável distinguir os sentidos entre as opções apresentadas: Na letra A, o adjunto adverbial “principalmente” mostra algo fundamental, considerado em primeira posição: a geografia montuosa. O autor não destaca a topografia, mas sim o modo como foram construídas as casas, fator determinante para os desnivelamentos na urbanização. O advérbio “também” não está em consonância com a conjunção “porém”, pois enquanto o primeiro acrescenta uma ideia, o segundo opõe ideias.

Na letra B, o adjunto adverbial “geralmente” mostra algo feito regularmente, habitual, de costume. A noção principal da oração em análise não é mostrar algo que está sendo feito em geral, mas de algo que já existe normalmente no cenário do subúrbio. Outra observação é a conjunção “portanto” que dá ideia de conclusão, indo de encontro ao real significado de “porém”: oposição.

Na letra D, o adjunto adverbial “calmamente” pressupõe um estado emocional, que não é posto em relevo na questão. A ideia de tranquilidade, paz, mansidão e outros termos parecidos não são o assunto, nem o foco da questão. Em relação à conjunção “entretanto”, há um consenso de sentido integrado ao significado de “porém”, tendo o mesmo sentido de contraposição.

A resposta certa é a letra C, a expressão “A topografia do local, caprichosamente montuosa, influi decerto, mais influíram, porém, os azares das construções” tem o mesmo sentido de “A topografia do local, naturalmente montuosa, influi decerto, mais influíram, contudo, os azares das construções”, tendo em vista que “naturalmente” expressa o modo como a formação do relevo de montanhas foi feita. Já a conjunção “contudo” expressa contraste assim como “porém”.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 6

Nessa crônica, o leitor pode perceber fatos, ou seja, informações incontestáveis relativas a acontecimentos da época, e opiniões, isto é, expressões do ponto de vista do autor. Em qual opção abaixo podemos encontrar um exemplo que contenha apenas a menção a fato, sem explicitação de opinião?

(A) “Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia” (4º parágrafo) (B) “Que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas” (8º parágrafo) (C) “Essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis” (2º parágrafo) (D) “O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares , dos freios elétricos” (5º parágrafo)

Habilidade trabalhada : Distinguir um fato de opinião relativa a esse fato.

Resposta comentada

A princípio, é importante o professor relembrar a concepção de crônica no que concerne à sua crítica social, à posição defendida pelo autor diante dos fatos sociais ocorridos. Nesse caso, as enchentes são apresentadas como um problema público que a cidade enfrenta há muito tempo e que poderia ser resolvido pelas autoridades, por meio de obras de manutenção das ruas. Essa é a opinião do cronista, que afirma que “De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos.” Demonstrando ainda o que pensa a respeito do problema das enchentes que o Rio de Janeiro enfrenta, acusa as autoridades de não darem a devida atenção ao assunto, como se pode perceber na afirmação de que “O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio”. A fim de destacar a dimensão do problema enfrentado pela cidade, o autor destaca fatos ocorridos em decorrência das enchentes, como “suspensão total do tráfego”, “interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade”, “desastres pessoais”, “perdas de haveres”, “destruição de imóveis”. Ao mencionar tais fatos, o cronista deixa transparecer sua opinião a respeito deles, como em “ prejudicial interrupção das comunicações” e “desastres

pessoais lamentáveis ”, em que ressalta, através dos adjetivos destacados, sua visão acerca do ocorrido.

Seria interessante, pois, destacar a importância dos adjetivos e advérbios na expressão da opinião sobre o conteúdo proposicional. É importante explicar que o modo como o enunciador se manifesta imprime ao discurso sua intencionalidade. Dessa maneira, ao comentar as alternativas, é interessante solicitar ao aluno que identifique esses termos gramaticais que marcam o ponto de vista. Segue um quadro para orientar essa preparação para a efetiva resposta da questão.

Expressão Exemplos de palavras de opinião “Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia”

Tão, ousada, perfeita.

“que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas” (8º parágrafo)

Violentamente, grandes.

“Essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis” (2º parágrafo)

Lamentáveis.

O aluno perceberá, através da identificação dos adjetivos e advérbios, a presença de opinião nas três primeiras opções, embora as opções B e C façam também referência a fatos, como as “precipitações atmosféricas” e as “inundações”. Entretanto, é importante frisar para o aluno que a questão solicita a identificação da opção que faça referência apenas a fato, o que deixa a letra D como única opção possível.

O professor pode explicar o motivo por que a expressão “O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares , dos freios elétricos” (5º parágrafo) consiste em um fato. Nesse caso, é interessante ressaltar que se trata de algo incontestável no ano de 1915, considerando as características de urbanização: avenida, squares , freios elétricos, entre outros índices do progresso da época.

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VERBETE

Canalha : pessoa traiçoeira, má. Sarjeta : lugar, situação ruim. Chocarrice : gracejo atrevido e grosseiro. Corrosiva : aquilo que corrói, destrói. Esbravejar : berrar, gritar. Deplorar : lamentar, lastimar. Calão : linguagem especial, peculiar.


ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 7

O texto literário reflete o contexto sociocultural de sua época. No caso do Pré-modernismo, a valorização do popular foi uma prática inédita até então e tem em João do Rio seu grande representante. Sendo assim, suas crônicas possuem um caráter mais jornalístico, ou seja, em “O dito da rua”, o narrador não está contando uma história, com início, meio e fim; ele está fazendo comentários sobre um fato. Baseando-se nesse texto, responda às questões abaixo.

a) Identifique os seguintes elementos:  Fato:  Quando o fato ocorre:  Onde o fato ocorre:  Quem está envolvido no fato: b) Como o narrador se posiciona diante deste fato: de forma positiva ou negativa? Justifique sua resposta transcrevendo uma passagem do texto.

Habilidade trabalhada : Relacionar os modos de organização da linguagem às escolhas do autor, à tradição literária e ao contexto sociocultural de cada época.

Resposta comentada

a) O fato é o surgimento de uma nova expressão popular, especificamente da malandragem carioca, o “-E eu, nada?”. O cronista, localizado na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, vai às ruas conhecer as classes mais populares da cidade, representadas nesse caso, pela figura do malandro carioca. b) O narrador posiciona-se de uma forma até então inovadora, pois seu intuito, ao se dedicar a essa camada da população, não é o de formar um retrato caricatural ou sugerir correções morais. Ele apenas quer conhecê-la e exaltá-la em sua singularidade, apresentando, então, uma avaliação positiva sobre o fato narrado. Um trecho significativo seria: “E eu amo o calão. Propriamente, cada classe social tem o seu calão como as profissões o têm, original e exclusivista. Um idioma é uma floresta extensa com uma infinita variedade de espécies botânicas. (...)”.

A fim de explorar ainda mais a crônica, o professor também pode ressaltar para os alunos os seguintes aspectos:

Personagem e Conteúdo: As crônicas não apresentam personagens de psicologia complexa, que necessitem de um desenvolvimento típico de um conto ou romance, por exemplo. Sendo assim, o cronista busca retratar em seus textos as pessoas comuns, em situações corriqueiras. No caso da crônica de João do Rio, em função de seu contexto de produção, um dos objetivos era conhecer o Brasil e, por isso, o cronista vai às ruas para observar o comportamento desse novo grupo social, o malandro. Para tratar desse grupo, ele escolhe um dos aspectos – a linguagem – e tece as suas considerações a respeito do modo de falar desse segmento da sociedade.

Linguagem e narrador: Narrado em 1º pessoa, “O dito da rua” centra-se na análise da linguagem do malandro carioca. De forma bastante objetiva e clara, o narrador tece comentários a respeito dos variados usos para a frase “E eu, nada?”. Além disso, percebe-se nitidamente que o tom do texto é de conversa, sem formalidades. O narrador de João do Rio, em 1º pessoa, cumpre o papel de um repórter que vai às ruas conhecer a realidade.