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Este documento discute as contribuições do fonoaudiólogo na escola para o desenvolvimento da linguagem oral de crianças, enfatizando a importância dos professores e famílias neste processo. Os autores apontam a importância de brincar e conversar nos primeiros anos de vida para o desenvolvimento infantil e a necessidade de sensibilizar professores e famílias sobre a importância de situações dialógicas na aquisição da linguagem. O documento também apresenta um projeto de pesquisa intitulado ‘fonoaudiologia, educação infantil e família: novos caminhos para a promoção do desenvolvimento da linguagem oral de crianças’.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
Luciana Tavares SEBASTIÃO^2 Gabriela dos Santos BUCCINI^3
INTRODUÇÃO
Berberian (1995) e Giroto (1998) demonstraram em seus estudos que as bases das práticas fonoaudiológicas podem ser observadas nos trabalhos desenvolvidos principalmente nas décadas de vinte a quarenta, em ações visando a normatização da língua falada por imigrantes estrangeiros e nacionais que vieram para as regiões de maior potencial e desenvolvimento industrial do país.
Segundo Berberian (1995, p.130) ... a Fonoaudiologia originou-se, enquanto forma de intervenção social, com o objetivo de superar diferenças de determinados grupos sociais, em nome da unidade e do progresso nacional.
De acordo com esta autora, neste contexto histórico, a fase escolar foi então considerada o melhor momento para a realização de triagens e de tratamento dos “desvios da língua”. Profissionais da Educação, neste contexto, “alteraram paulatinamente seu papel de educadores para especialistas dos erros das palavras” (p.112).
Entretanto, o discurso fonoaudiológico hegemônico aponta o início da história da Fonoaudiologia na década de 60, quando foram criados os primeiros cursos, instituindo assim a formação do novo profissional encarregado da detecção e do tratamento de crianças e adultos com alterações na comunicação oral e escrita, voz e audição.
Neste contexto de surgimento da profissão, as primeiras propostas de atuação fonoaudiológica desenvolvidas em escolas, nas décadas de 60 a 80, estavam geralmente voltadas para a detecção e tratamento de alterações fonoaudiológicas e pouca ênfase era dada à prevenção de tais alterações e, principalmente, à promoção da saúde do escolar. Algumas propostas de atuação fonoaudiológica em escolas foram apresentadas no pioneiro livro da área da Fonoaudiologia Escolar, intitulado “O fonoaudiólogo e a escola” (FERREIRA, 1991).
O trabalho desenvolvido pelo fonoaudiólogo com o professor geralmente restringia-se à realização de “orientações” sobre distúrbios da linguagem oral e escrita, bem como ações visando a prevenção destas alterações em atividades grupais. Algumas propostas de atuação incluíam a realização de atendimentos em “grupos de reforço”.
(^12) Artigo apresentado como relatório final ao Núcleo de Ensino.
UNESP – Campus de Marília.Coordenadora do projeto. Fonoaudióloga. Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências – (^3) Bolsista do Núcleo de Ensino de Marília – PROGRAD – UNESP. Discente do Curso de Fonoaudiologia da FFC – UNESP – Campus de Marília.
Alguns trabalhos relatavam atividades de prevenção de distúrbios vocais nos próprios professores, mas nenhum destaque era dado ao trabalho visando à promoção da saúde e do desenvolvimento infantil. Ao professor era atribuído, no contexto destas propostas, o papel de colaborador na detecção de problemas de comunicação, o que contribuiu fortemente para a patologização dos alunos e para a visão da atuação fonoaudiológica na escola com ênfase predominantemente curativa.
No final da década de 80, a Declaração de Alma-Ata contribuiu para a adoção de uma nova visão da saúde como direito do cidadão e dever do Estado, visão assumida na Constituição de 1988. Ocorreram, então, mudanças nas políticas públicas de saúde, culminando com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), modelo de atenção à saúde que dá grande ênfase ao desenvolvimento de ações coletivas voltadas para a promoção da saúde e para a prevenção dos agravos à saúde.
A implementação do Sistema Único de Saúde, em 1990, contribuiu para um redirecionamento das práticas de saúde, com destaque para as ações de prevenção e promoção da saúde. Os ideais e as propostas de Promoção da Saúde foram disseminados pelo Brasil por meio de cartas e declarações elaboradas em reuniões e conferências (BRASIL, 2002).
Neste novo contexto histórico de saúde, surgiram várias propostas de promoção da Saúde em nível local, dentre elas as Escolas Saudáveis ou Escolas Promotoras da Saúde , iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), difundida nos países latino-americanos durante a década de 90. Sob uma visão ampla e integral de saúde e educação que considera peculiaridades culturais, a família e a história de cada um, tal proposta enfoca fatores que influenciam a auto-estima, habilidades comunicativas e a qualidade de vida e saúde dos estudantes, professores, funcionários, familiares e comunidade (Penteado, 2002).
Nessa perspectiva, a escola passa a ser um espaço onde se é possível vivenciar diariamente as relações de ensino-aprendizagem, de convivência e desenvolvimento; espaço privilegiado para a Promoção da Saúde, pois representa um ambiente em que as pessoas passam parte do tempo de sua vida e onde se formam valores fundamentais (PENTEADO, 2002; AERTS et al ., 2004).
Se considerarmos a escola como um grande espaço de reflexões e relações interpessoais mediadas pela linguagem, o ambiente social, a interação, a linguagem e a comunicação passam a representar elementos essenciais para o desenvolvimento da proposta de Escolas Promotoras de Saúde. Nesta perspectiva, a escola constitui-se como um local privilegiado para o trabalho, pesquisa e reflexão do fonoaudiólogo (PENTEADO, 2002; SERVILHA et al ., 1999).
Para Penteado et al. (1996), os primeiros interlocutores da criança são os membros de sua família, não somente o núcleo formado por pai, mãe e filhos, mas compreendida enquanto dinâmica das relações existentes entre a criança e o adulto, que acompanha a trajetória da vida da criança. Para estes autores, a redução e/ou inexistência da prática do brincar e conversar durante os primeiros anos de vida da criança podem acarretar um déficit no desenvolvimento infantil e, conseqüentemente, levar a um quadro de atraso no desenvolvimento da linguagem, requerendo freqüentemente a intervenção de fonoaudiólogos que irão fazer, provavelmente, o que a família poderia e deveria ter feito.
O desenvolvimento da linguagem oral da criança, após sua entrada na escola, conta com a participação do professor, funcionários e dos demais alunos com quem ela tiver contato. Quanto mais a criança estiver inserida em práticas de linguagem favoráveis, melhor será o desenvolvimento de sua linguagem.
Segundo Roncato e Lacerda (2005, p. 222) Considerando que essas crianças passam a maior parte de seu tempo ativo na escola e que os modelos adultos principais de que dispõem são fundamentalmente os professores, é urgente pensar na força e na responsabilidade desses agentes como propulsores do desenvolvimento de linguagem dessas crianças. Sua capacidade de argumentar, de discordar, de narrar poderá ser ampliada ou não na medida em que espaços sociais se constituam para isso.
Muitas vezes, o desenvolvimento lingüístico da criança não atinge os níveis que poderia atingir em decorrência da pouca valorização por parte de seus pais e professores em relação à importância da participação do adulto no processo de aquisição da linguagem infantil, resultando em raros momentos de interação e de diálogo entre eles em seu dia-a-dia. Para que a participação dos pais e professores seja efetiva neste processo, é necessário que eles tenham conhecimentos sobre o desenvolvimento normal da linguagem, incluindo atitudes e atividades que contribuam com este processo, bem como que estejam sensibilizados para a importância das situações dialógicas estabelecidas com o adulto.
Sendo a linguagem objeto de estudo do fonoaudiólogo, este profissional possui um papel importante na viabilização de propostas junto a escolas que visem contribuir para o desenvolvimento lingüístico dos alunos. Professor e fonoaudiólogo devem atuar como parceiros em ações que visem otimizar o desenvolvimento do educando.
Além da importância deste trabalho em parceria voltado para o desenvolvimento infantil, ações desta natureza contribuirão para modificar a visão hegemônica da atuação fonoaudiológica em escolas de que este profissional atua primordialmente na detecção e tratamento de problemas.
Giroto et al (1999), realizaram uma pesquisa com 36 professores de Educação Infantil com o objetivo de analisar a visão destes profissionais em relação à atuação fonoaudiológica em escolas. Dentre os 29 professores que referiram ter tido algum contato com o trabalho desenvolvido por estagiários de Fonoaudiologia nas escolas em que atuavam, 20 (69%) deles indicaram a realização de triagens e 12 (41,40%), de encaminhamentos. Com base nos resultados do estudo, os autores concluíram que, em sua atuação em instituições educacionais, o fonoaudiólogo deve dispensar mais atenção às atividades de prevenção e promoção visando desenvolver plenamente seu papel e contribuir para modificar a percepção do professor de que realiza, prioritariamente, triagens e encaminhamentos.
Esta pesquisa evidencia a visão do trabalho fonoaudiológico em instituições educacionais voltada para a identificação e tratamento da doença fonoaudiológica e não para a promoção da saúde, para a atuação na direção do desenvolvimento infantil e da qualidade de vida dos educandos.
Neste sentido, concordamos com Roncato e Lacerda (2005) em que ... o papel do fonoaudiólogo pode ser muito mais amplo e importante do que tem sido comumente assumido, se for considerada a parceria que esse profissional pode fazer com professores responsáveis pela educação infantil para um amplo aproveitamento das situações discursivas presentes neste espaço, fundamentais para um desenvolvimento pleno da linguagem. (p.223)
É com base nos pressupostos acima expostos que o projeto “Fonoaudiologia, Educação Infantil e Família: novos caminhos para a promoção do desenvolvimento da linguagem oral de crianças”, foi proposto ao Núcleo de Ensino da Unesp que, por meio da Pró- Reitoria de Graduação (PROGRAD) concede auxílio financeiro a projetos que visem à pesquisa em escolas do ensino de educação infantil, fundamental e médio do sistema de ensino público, bem como promover intervenções na realidade das escolas.
Dessa forma, o referido projeto visou investigar as concepções de pais sobre o desenvolvimento de linguagem oral de crianças, bem como desenvolver atividades educativas com estes visando à construção de conhecimentos sobre estratégias que contribuam para o desenvolvimento da linguagem oral, bem como contribuir para sensibilizá-los a respeito da importância de tais interlocutores no processo de desenvolvimento infantil. Visou, também, planejar, desenvolver e avaliar, em parceria com professores, atividades lúdicas didático- pedagógicas com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da linguagem oral dos alunos.
fonoaudiológicas que cada atividade selecionada poderia trazer no tocante ao desenvolvimento da linguagem oral.
Após a realização das atividades, a díade bolsista-professora fazia a avaliação da ação desenvolvida e traçava modificações na mesma atividade ou elaborava novas estratégias para alcançar o objetivo principal do trabalho, ou seja, contribuir para o desenvolvimento lingüístico dos alunos.
Algumas idéias de atividades foram trazidas pela bolsista, entretanto, vale ressaltar o grande empenho das professoras que, além de trazer novas idéias, buscavam sempre enriquecer as atividades inicialmente sugeridas pela bolsista. Ressaltamos também o interesse e a disponibilidade das professoras em dar seguimento ao trabalho voltado para o desenvolvimento lingüístico dos alunos mesmo nos dias em que a bolsista não estava presente na escola. Os objetivos e resultados das atividades relacionadas ao projeto e desenvolvidas pelas professoras na ausência da bolsista eram relatados pelas educadoras nos momentos destinados à discussão do andamento do projeto.
É importante ressaltar que todos os alunos das duas classes selecionadas participaram das atividades didático-pedagógicas elaboradas e desenvolvidas em parceria com as professoras, independentemente da participação de seus familiares nos demais procedimentos do estudo. Cada classe era composta de 25 alunos, totalizando 50 crianças participantes de tais atividades.
A partir das leituras e reflexões dos materiais bibliográficos utilizados no decorrer do projeto, era realizada a discussão individualmente, com cada professora, sendo sempre solicitado que elas pensassem na esfera pedagógica da atividade, ou seja, nos objetivos que iríamos trabalhar, além do objetivo central do projeto que era a promoção do desenvolvimento da linguagem infantil. Embora as atividades elaboradas e desenvolvidas visassem contribuir para desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, outros objetivos eram identificados pelas professoras, como: diversão, memória, gosto por estórias, criatividade, coordenação motora, noção temporal, linguagem gestual, raciocínio, imaginação, sendo estes alguns dos objetivos do trabalho da Educação Infantil.
A troca de informações que ocorria entre as participantes do projeto nesses momentos de reflexão sobre as atividades realizadas com os alunos trouxe grande contribuição à formação profissional dos envolvidos, tanto para a formação inicial da bolsista (graduação) quanto para a formação das professoras em contexto de trabalho.
A tabela apresentada a seguir ilustra as atividades realizadas, bem como quantas vezes cada uma delas foi utilizada durante o desenvolvimento do projeto:
Atividades / Sala Maternal Integral Maternal Parcial Contagem de estórias clássicas (CD, leitura de livros infantis, fitas de videocassete)
♠ ♠ ♠ ♠ ♣♣♣♣ Contagem de estórias “novas” (^) ♠♠♠ ♣♣ Desenho sobre estórias/ tema ♠ Recitar poesia (^) ♠♠♠ ♣ Cantar músicas (^) ♠ ♣♣♣♣ Brincando com os animais (nomeação, imitação e músicas)
♠♠♠♠♠ ♣♣♣♣♣ Desenho a partir de um tema discutido em sala. (^) ♠ Narrativas de estórias com apoio de dedoches ou fantoches
♠♠ ♣♣♣ Roda da conversa ♠♠♠ ♣♣♣ Contagem de história em quadrinhos (^) ♠ ♣ Adivinhação de desenhos (^) ♣ Nomeação dos alunos e das letras de seus nomes (^) ♣ Dançar e cantar músicas infantis ♠ ♣
Ao final do projeto foi solicitado que as professoras realizassem uma avaliação escrita em relação ao trabalho desenvolvido em parceria com a bolsista, bem como sobre suas respectivas percepções acerca do desenvolvimento da linguagem dos alunos no decorrer do projeto. Foi solicitado também que as professoras dessem sugestões para uma possível continuidade do trabalho, bem como para atividades que poderiam ser desenvolvidas com as mães dos alunos.
Nesta avaliação, as duas professoras expressaram suas opiniões em relação à importância do trabalho do educador em parceria com o fonoaudiólogo. Para as participantes, o projeto representou uma oportunidade de aprender e pensar em novas estratégias que pudessem motivar os alunos, razão pela qual as duas professoras buscavam dar continuidade às atividades propostas mesmo na ausência da bolsista.
Quanto à percepção das professoras em relação ao desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, no decorrer do projeto, as duas educadoras relataram ter percebido mudanças significativas e que estas mudanças haviam sido também percebidas pelos pais, o que pode ser verificado por meio de alguns comentários que eles faziam.
Segundo as professoras, o trabalho com os pais é muito importante para que eles entendam que precisam ajudar seus filhos na aprendizagem. Na percepção das profissionais que participaram do projeto, quando os pais percebem as mudanças nas crianças eles se prontificam a participar e contribuir com o desenvolvimento das atividades.
familiares, bem como atitudes que poderiam ser adotadas na interação com a criança com o intuito de contribuir com seu desenvolvimento lingüístico.
Além desses temas, foram abordados outros assuntos da área da Fonoaudiologia como, por exemplo, a disfluência infantil, uma vez que tal discussão havia sido solicitada pelos participantes no primeiro encontro. Também foram discutidas dúvidas relacionadas a outros aspectos fonoaudiológicos que foram expostas pelos pais ou responsáveis durante este segundo e último encontro.
A seguir apresentaremos os dados obtidos nos questionários realizados com os pais. As categorias de análise foram elaboradas a partir da literatura relacionada ao estudo, bem como dos dados obtidos no questionário e considerados relevantes para discussão do tema em pauta. A unidade de registro adotada foi o enunciado ou parte do enunciado que tem sentido próprio em relação aos temas da investigação (Moreira, 2001).
Considerando que os enunciados são, freqüentemente, muito extensos, para melhor compreensão dos dados obtidos foram retiradas “partes que não deixavam de constituir unidades autônomas de sentido” (Moreira, 2001, p.114).
Inicialmente serão apresentadas as informações referentes aos conhecimentos dos pais em relação ao processo de desenvolvimento da linguagem oral. A questão referente a este tópico continha em seu enunciado a seguinte pergunta: “O que você sabe sobre o desenvolvimento da fala de uma criança?”
O quadro abaixo ilustra as respostas obtidas frente a este questionamento e que caracterizam os conhecimentos prévios dos pais e/ou outros familiares levantados a partir do preenchimento do questionário.
Quadro 1 – Categorias de análise e indicadores – conhecimentos sobre o desenvolvimento da linguagem oral Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados Não sei / Não sei quase nada
F4 – quase nada...a criança ouve as pessoas e aos poucos vai associando os nomes, as palavras... F17 – Eu não sei nada, eu só sei que é importante na vida de todos, tanto crianças como adultos...
Desenvolvimento como um processo
F13 – ... tempo a tempo se desenvolve... F19 - ...algumas crianças falam mais rápido outras falam mais demorada...mas alguns tipos de exercícios facilitam... Desenvolvimento normal
F2 – Bom!...pela idade dele... F3 – Não vejo nada de errado acho que ele fala normal... F21- compreensível, de fácil compreensão... Problemas no desenvolvimento
F5 - ...quando a criança fala de forma incorreta ela precisa de acompanhamento... F12 - ...desenvolvimento da fala está um pouco lento... Ajuda/ Participação dos pais
F6 -...observo e ajudo a falar corretamente... F9 – ... falar palavras corretas...
Conhecimentos sobre o desenvolvimento da fala de uma criança
Importância da entrada na escola
F18 - ...quando começou a vir no parque, desenvolveu bem a fala...
Os dados apresentados acima sugerem que os familiares têm poucos conhecimentos a respeito do processo evolutivo da linguagem oral. Entretanto, algumas respostas demonstram que eles percebem a relevância da escola no desenvolvimento infantil, bem como parecem estar cientes do importante papel que os pais desempenham neste processo, muito embora as respostas referentes a este aspecto evidenciem a preocupação com o “falar corretamente”, ou seja, com o aspecto fonológico da linguagem oral.
Os pais também foram questionados sobre os comportamentos que observavam em seus filhos referentes ao desenvolvimento da linguagem oral. O quadro 2 apresentará os dados obtidos no tocante a este tópico.
Quadro 2 – Categorias de análise e indicadores – comportamentos observados referentes ao desenvolvimento da linguagem oral Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados Sem dificuldades / desenvolvimento normal
F3 - ...conversa bastante, conta o que aconteceu na escolinha. F4 - ... me parece normal. F5 – Nada de errado por enquanto... F13 – Normal...mas se desenvolve bem. Dificuldades observadas em relação ao desenvolvimento da linguagem oral
F12 - Ele nem comenta nada... F19 -...quando ele quer falar as palavras se atropelam, como se o pensamento fosse mais rápido do que a fala... pergunto o que ele fez na escolinha e ele finge que nem esta ouvindo.
Desenvolvimento como um processo
F1 - ...cada dia que passa ela vai melhorando...vai aprendendo a falar as palavras direito. F6 – cada dia melhor. F9 - ...ele está falando mais Dados relacionados à aquisição fonológica
F12 -...ele não consegue falar as palavras certas F20 - ...fala tudo certo, sem erros.
Observações em relação ao desenvolvimento da fala do(a) filho(a)
Uso / apoio de linguagem gestual
F4 - ...ela aponta o que vê e pergunta o que é. F6 – Aponta o que ele quer. F19 - ...nas histórias ele usa as mãos. F20 - ...com as mãos.
Os dados apresentados acima demonstram que, embora os familiares não tenham feito menção a aspectos teóricos relacionados ao processo evolutivo da linguagem oral e observados em seus filhos, as respostas dadas aos questionamentos sobre tal processo (quadros 1 e 2) mostram que eles estão atentos em relação ao desenvolvimento de seus filhos. É bem possível que se eles tivessem mais informações sobre este tema, poderiam melhor acompanhar o desenvolvimento de seus filhos munidos de mais informações advindas do conhecimento científico estruturado e, assim, contribuir com este processo.
Considerando que o projeto enfocou, em relação ao desenvolvimento da linguagem oral, o desenvolvimento das narrativas, os pais foram questionados sobre como seus filhos contavam histórias, fatos e relatavam casos. O quadro 2 apresenta os dados obtidos frente a tais questionamentos.
Quadro 4 – Categorias de análise e indicadores – concepções dos pais ou responsáveis sobre o papel da família no desenvolvimento da linguagem oral da criança Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados Você acha que os pais podem auxiliar no desenvolvimento da fala da criança? Como?
Sim F1 - ...ensinando... falar certo. F5 - ...falando corretamente e corrigindo-as quando falarem errado.
Cantando, dançando F6 – Cantar musica infantil. F13 – Dançamos e cantamos. Quando a música...fazemos certo. F21 - ...danço e canto músicas... Conversando F4 – em casa, todo mundo conversa bastante, brinca... F9 – Conversando com ela devagar... F5 – Converso com ele... Repetindo palavras F9 - ...soletrando as palavras e repetindo quando erram até que diga certo F4 – incentiva a falar corretamente as palavras... Várias atividades lúdicas envolvendo noções de números, cores, nome de bichos, frutas, etc.
F2 – Alfabeto, número, cores... F18 – brinco com eles...passeio de bicicleta.... F21 – ...brinco de carrinhos, de bonecas... Contando estórias F1 – eu leio historinhas de livros e peço para ele repetir o que eu falo... F4 - ....conta estórias F17 – Conto bastante estórias e depois peço para ele contar outras para mim... F19 – Eu leio histórias e conto com ele.... F21 – Leio estórias....
Que tipo de atividade você faz com seu filho que possa ajudar o desenvolvimento da fala dele?
Nenhuma F12 – nenhuma. F20 – nenhuma ele fala de tudo. Todos os dias F4 – Praticamente todos os dias de forma natural. F5 – todos os dias. F21 – Sempre...todos os dias. Algumas vezes na semana F2 – algumas vezes na semana (4X) F6 - ..algumas vezes na semana. F19 – Algumas vezes na semana para que ele não se canse e desista... Algumas vezes por mês F13 – final de semana...
Com que freqüência você realiza estas atividades?
Não realiza F12 - ...Não realiza.
Os dados acima apresentados demonstram que os respondentes realizam atividades com seus filhos que podem resultar em importantes situações dialógicas com suas crianças no dia-a-dia da vida em família e, dessa forma, trazer grandes contribuições ao desenvolvimento lingüístico. É curioso observar que, ao serem questionados quanto à freqüência com que realizavam as atividades que teriam potencial para contribuir com o desenvolvimento infantil, alguns respondentes indicaram as respostas (dadas no enunciado como exemplo) “algumas vezes por semana” e “algumas vezes por mês”.
Além do questionamento sobre a importância da participação da família no processo de desenvolvimento da linguagem oral, os pais foram questionados sobre o papel do professor no desenvolvimento da linguagem oral de seus alunos, bem como sobre quais atividades desenvolvidas no contexto escolar poderiam contribuir para este processo. Os dados obtidos podem ser observados no quadro 5.
Quadro 5 – Categorias de análise e indicadores – concepções dos pais ou responsáveis sobre o papel dos professores no desenvolvimento da linguagem oral de seus alunos. Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados Você acha que os professores podem auxiliar no desenvolvimento da fala da criança? Como
Sim F4- ...mostrando como falar corretamente as palavras, associando desenhos aos nomes... F5- ...cantando, brincando, contando estórias e corrigindo. F12 – podem sim...mas não sei como F19 - ...contando bastante estórias, pedindo para eles contarem... F21 - ...do jeito que elas acharem melhor, cantando, contando estórias, assistindo filmes Contar estórias
F5 – ...contar estórias... F18 – histórias, filmes... F19 – leitura de estórinhas... Cantar músicas
F4 – Ensinando musicas infantis... F19 – ...as musicas, a dança... Conversar F3 – procurando conversar...com eles e explicar as duvidas. Ensinar a reconhecer letras
F1 - ....as letras do nome. F2 - ...ler...tudo é imporante. Atividades em sala
F4 – ...mostrando figuras e pedindo para a criança falar o nome... F17 – todas atividades que as professoras passam contribuem... Brincadeiras e conversas com os demais alunos
F2 – tudo é bom...desde de brincar... F9 - ...na hora do recereio que brincam e conversam com seus coleguinhas. F19 - ...e as brincadeiras pedagógicas.
Que tipo de atividade é feita na escola que, na sua opinião, contribui para o desenvolvimento da fala do seu filho?
Nenhuma atividade
F12 - ...porque ele só brinca na escola.
As respostas obtidas nestas duas perguntas que compuseram o questionário demonstram que os familiares estão conscientes e sensibilizados para importância da participação do professor neste processo, assim como relatam atividades realizadas na escola que podem realmente resultar em importantes situações dialógicas entre suas crianças e os educadores, assim como com os próprios colegas de classe, no contexto das atividades escolares.
Na análise dos dados obtidos em diferentes questões do instrumento de coleta de dados utilizado pudemos perceber uma constante (e excessiva, considerando a faixa etária dos alunos envolvidos!) preocupação dos responsáveis com o modo correto de falar (sem trocas de sons), ou seja, com o nível fonológico da linguagem. Em diferentes momentos os pais referiram-se a esta questão apontando inclusive suas atitudes visando o enfrentamento deste “problema”, como, por exemplo, “corrigir”, “repetir” e “soletrar as palavras” no momento em que a criança falava uma palavra de forma “incorreta”. Vale ressaltar que os alunos das salas selecionadas encontravam-se na faixa etária entre três a quatro anos, ou seja, estavam ainda em fase de aquisição fonológica.
Este dado evidencia a importância de ações educativas visando à construção de conhecimentos sobre os diferentes aspectos relacionados ao processo de desenvolvimento da linguagem oral, dentre eles a aquisição fonológica.
(pergunta-resposta) somente com a bolsista. Acreditamos que a atividade em duplas, neste momento, contribuiu para que os alunos se sentissem mais à vontade e aceitassem o convite para se dirigir com a bolsista até a sala em que as filmagens eram realizadas.
Quanto à filmagem final, esta foi realizada em período próximo ao encerramento das atividades do projeto na escola e após o desenvolvimento das atividades com os pais e professores. Participaram desta segunda filmagem 12 alunos, uma vez que quatro dentre as 18 crianças que haviam participado da primeira filmagem faltaram nos dias do registro da atividade dialógica e outras duas mudaram de escola.
Assim como na filmagem anterior, foi previamente acordado com as professoras que a bolsista chamaria os alunos em duplas. Entretanto, procuramos manter a mesma dupla da filmagem inicial, o que nem sempre foi possível devido às faltas dos alunos nos dias de gravação. Foi feita a seguinte pergunta aos alunos: “Você sabe alguma historinha? Conta para mim?” ou então, “Me conta historinha?” Quando o aluno dizia não saber nenhuma história, foi retomada a pergunta feita na primeira filmagem: “O que você estava fazendo?”
A solicitação para que os alunos, nesta segunda filmagem, contassem uma história justifica-se pelo fato da contagem e recontagem de histórias ter sido uma atividade bastante freqüente no decorrer do trabalho em parceria com as professoras e pelo fato dos dados de literatura apontarem que crianças na faixa etária entre 3 e 4 anos já são capazes de realizar narrativas. Além disso, tal gênero do discurso possibilita um bom material de análise do discurso narrativo.
A análise comparativa das duas situações dialógicas registradas por meio das filmagens realizadas ao início e ao final do projeto mostra que ocorreram avanços no desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, especialmente no que se refere ao aumento de vocabulário e ao encadeamento narrativo. Acreditamos que o trabalho desenvolvido em parceria entre a bolsista e a professora tenha contribuído para este desenvolvimento, assim como as demais situações dialógicas estabelecidas entre as crianças e seus familiares e amigos em seu cotidiano.
Acreditamos que o trabalho desenvolvido trouxe muitas contribuições a todos que dele participaram: familiares, alunos, professoras e bolsista.
O trabalho com os familiares certamente contribuiu para sensibilizá-los quanto à importância de sua participação no desenvolvimento da linguagem oral da criança. Além disso, acreditamos que as discussões ocorridas nos dois encontros com os familiares contribuíram para a construção de conhecimentos sobre o processo evolutivo da linguagem oral e sobre atividades e atitudes que podem colaborar com este processo.
Em relação aos encontros realizados com os familiares e/ou adulto significante (responsável pelo cuidado à criança), encontramos dificuldade no comparecimento destes na escola, fato bastante comum quando realizamos atividades educativas com pais no contexto dos estágios curriculares do Curso de Fonoaudiologia. Entretanto, vale ressaltar o grande interesse e a participação ativa dos familiares que compareceram aos encontros realizados no decorrer do projeto. Vale ressaltar também que estes familiares que compareceram e participaram do trabalho educativo realizado serão agentes multiplicadores das informações discutidas.
A realização das atividades lúdico-pedagógicas visando contribuir com o desenvolvimento lingüístico dos alunos, trabalho feito em parceria entre bolsista e professoras, foi muito gratificante pois além de termos observado e acompanhado as mudanças positivas em relação ao desenvolvimento lingüístico das crianças, tais ações fortaleceram a visão da importância do trabalho multidisciplinar no contexto escolar e tornou possível a troca de conhecimentos e experiências entre profissionais das áreas da Educação e da Fonoaudiologia.
As mudanças referentes aos aspectos lingüísticos verificadas na fala dos alunos investigados foram também observadas pelos familiares, segundo relatos feitos nas reuniões realizadas com a bolsista. Sabemos que tais mudanças não se devem somente ao desenvolvimento do projeto, entretanto, acreditamos na contribuição das atividades desenvolvidas. Um aspecto que nos leva a acreditar na contribuição das atividades lúdico- pedagógicas realizadas para o desenvolvimento lingüístico dos alunos diz respeito a comentários feitos por alguns pais e por uma das professoras, que evidenciaram a adoção de um olhar mais atento à linguagem oral da criança e ao reconhecimento de sua interação com a criança mais focada e consciente no sentido de contribuir com este processo.
A partir dos resultados obtidos no decorrer do projeto com os diferentes segmentos participantes, concluímos que a parceria professor-fonoaudiólogo é uma estratégia fundamental e imprescindível à atuação fonoaudiológica em escolas. Ao conhecimento pedagógico do professor uniu-se o conhecimento sobre aquisição de linguagem do fonoaudiólogo e ambos puderam contribuir para a promoção do desenvolvimento lingüístico dos alunos e para a construção de conhecimentos sobre o tema trabalhado pelos familiares que participaram do trabalho educativo.
Além disso, estamos certas de que o trabalho desenvolvido permitiu a construção de conhecimentos importantes para a formação profissional (acadêmica) da bolsista e para a formação das professoras em contexto de trabalho, sendo esta mais uma das contribuições advindas do desenvolvimento do projeto.
Os resultados positivos alcançados a partir do desenvolvimento deste projeto são, na verdade, efeitos da tripla parceria entre professor, fonoaudiólogo e família que caminhando lado a lado podem contribuir para otimizar o desenvolvimento infantil.
RONCATO, C. C.; LACERDA, C. B. F. Possibilidades de desenvolvimento de linguagem no espaço da educação Infantil. Distúrbios da Comunicação , São Paulo, 17(2): 215-223, agosto,
SERVILHA, E. A. M.; SANTOS, I. A.; LAZÁRO, J. A. M. A fonoaudiologia preventiva: uma experiência junto ao ensino público. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA Atualização em voz linguagem, audição e motricidade oral. São Paulo: Frôntis Editorial, 1999. ( Coleção Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia ).