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alteracoes bioquimica na obsesidade
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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56 - SANARE, Sobral - v.17 n.02, p.56 - 65, Jul. /Dez. - 2018
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA OBESIDADE: UM ESTUDO TEÓRICO
MAIN PHYSIOLOGICAL CHANGES DUE TO OBESITY: A THEORETICAL STUDY
PRINCIPALES CAMBIOS FISIOLÓGICOS DERIVADOS DE LA OBESIDAD: UN ESTUDIO TEÓRICO
Ronaldo César Aguiar Lima 1 Luiz Carlos Carnevali Júnior 2 Layana Liss Rodrigues Ferreira 3 Layanny Teles Linhares Bezerra 4 Tayanny Teles Linhares Bezerra 5 Bruna da Conceição Lima 6
Este ar t igo descreve as pr inc ipais alterações f isiológicas decorrentes da obesidade. Trata-se de uma pesquisa desenvolv ida a par t ir da análise de estudos obt idos nas bases on-line Sc iELO, MedLine, Lilac s e PubMed. Constatou-se que as grandes v ilãs da obesidade são as adipoc inas – substânc ias produzidas pelos adipóc itos e capazes de e xercer inúmeras funções no organismo. De modo geral, o aumento do tec ido adiposo leva a “efeitos de massa”, com repercussões na dinâmica vent ilatór ia, por diminuir a complacênc ia pulmonar, o que resulta em pneumopat ias restr it ivas. Além disso, obser vou-se que níveis aumentados de adipoc inas estão diretamente relac ionados à e xpressão de mediadores inf lamatór ios (TNF- α , IL-1 β e IL-6), promovendo um processo inf lamatór io crônico. Nos músculos, as adipoc inas retardam as mioc inas (responsáveis pelo turnover muscular), levando a f ragilidade muscular e óssea, e competem com a osteocalc ina (responsável pelo turnover ósseo), impedindo o remodelamento ósseo. Conclui-se que as adipoc inas promovem diversas adaptações sistêmicas, o que demanda novos estudos para o pleno conhec imento e controle da obesidade no campo das c iênc ias da saúde.
Palavras-chave: Obesidade ; Fisiologia ; Adipoc inas; Ciênc ias da Saúde.
Keywords: Obesit y; Physiolog y; Adipok ines; Health Sc iences.
Palabras clave: Obesidad; Fisiología ; Adipoquinas; Cienc ias de la Salud.
Submet ido : 25/06/
Aprovado : 22/11/
Autor(a) para Cor respondênc ia : Ronaldo César Aguiar Lima Rua Betânia 10, n. 1612 Cidade Nova II Mucambo - CE 62170 - 000 E-mail : ronaldocalima @ gmail.com
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This ar t icle descr ibes the main physiological changes due to obesit y. This is a research developed through analysis of studies obtained in the online bases Sc iELO, MedLine, L IL ACS, and PubMed. It has been found that the great v illains of obesit y are adipok ines – substances produced by adipoc y tes and capable of e xer t ing numerous func t ions in the body. In general, increased adipose t issue leads to ‘mass ef fec t s,’ with repercussions on vent ilator y dynamic s, as lung compliance decreases, result ing in restr ic t ive lung diseases. Al so, increased adipok ine level s have been shown as direc tly related to e xpression of inf lammator y mediators (TNF- α , IL-1 β e IL-6), promot ing a chronic inf lammator y process. In muscles, adipok ines slow down myoc ins (responsible for muscle turnover), leading to muscle and bone weakness, and they compete with osteocalc in (responsible for bone turnover), prevent ing bone remodeling. It is concluded that adipok ines promote several systemic adaptat ions, which require new studies to achieve full knowledge on and control of obesit y in the f ield of health sc iences.
RESUMEN Este ar t ículo descr ibe los pr inc ipales cambios f isiológicos der ivados de la obesidad. Esta es una invest igac ión desarrollada a través del análisis de estudios obtenidos en las bases en línea Sc iELO, MedLine, L IL ACS y PubMed. Se ha encontrado que las grandes v illanas de la obesidad son las adipoquinas – sustanc ias produc idas por los adipoc itos y capaces de ejercer numerosas func iones en el cuer po. En general, el aumento de tejido adiposo conduce a “efec tos de masa”, con repercusiones en la dinámica vent ilator ia, a medida que disminuye el cumplimiento pulmonar, lo que resulta en enfermedades pulmonares restr ic t ivas. Además, se ha demostrado que el aumento de los niveles de adipoquinas está direc tamente relac ionado con la e xpresión de mediadores inf lamator ios (TNF- α , IL-1 β e IL-6), lo que promueve un proceso inf lamator io crónico. En los músculos, las adipoquinas retrasan las mioc inas (responsables del turnover muscular), lo que lleva a la debilidad muscular y ósea, y compiten con la osteocalc ina (responsable del turnover óseo), ev itando la remodelac ión ósea. Se concluye que las adipoquinas promueven var ias adaptac iones sistémicas, lo que requiere nuevos estudios para lograr conoc imiento completo y control de la obesidad en el campo de las c ienc ias de la salud.
INTRODUÇÃO
A obesidade é def inida pelo acúmulo de tec ido adiposo no organismo, result ante da quebra do bal anço energét ico, t ambém podendo ser causada por doenças genét icas e/ou endócr ino-met abólicas 1. A Organiz ação Mundial da Saúde (OMS) conceitua a obesidade como doença crônica, de dif íc il et iologia e de controle comple xo, considerando-a como um transtor no aliment ar da moder nidade. A Soc iedade Brasileira de Endocr inologia e Met abologia (SBEM) aler t a que a obesidade vai muito além do acúmulo e xcessivo de gordura, pois est á assoc iada a diversas desordens na f isiologia endócr ino-met abólica, propic iando um est ado que predispõe a endocr inomet abolopat ias 2. Já o Ministér io da Saúde af ir ma que a obesidade, mesmo sendo de dif íc il def inição, const itui um problema de saúde pública, pois já acomete cerca de 10 % da popul ação brasileira, sendo que outros 40 % já apresent am sobrepeso – ou seja, quase met ade dos brasileiros r umam para a obesidade 3. A ssim, pel a comple x idade, o aumento do peso cor poral só poderá ser compreendido em sua mult if ator ialidade, pois envolve desde f atores
biológicos até aspec tos histór icos, inter pol ando-os com carac ter íst icas ecológicas, econômicas, soc iais, culturais e polít icas 2-^. Desse modo, percebe -se que a obesidade é um fenômeno comple xo que envolve muito mais do que o aumento do peso. É o acúmulo de tec ido adiposo, que desempenha diversas f unções ainda não plenamente compreendidas no organismo 4. Tal acúmulo de gordura acar ret a t anto o aumento do volume cor poral como uma e xacerbação das f unções do tec ido em quest ão, o que conf igura o pr inc ipal f ator responsável pel as desordens f isiológicas decor rentes da obesidade 2,^. No tocante as desordens f isiológicas desencadeadas pel a obesidade, aquel as que acometem o sistema endócr ino-met abólico (obesidade mórbida, diabetes mellitus t ipo 2) , bem como as que agr idem o sistema cardiovascul ar (ac idente vascul ar encef álico
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10 Obesidade : controle neural e hor monal do compor t amento aliment ar 5 Rev Ciênc Méd Biol 2011
11 Obesidade e estresse entre trabalhadores de diversos setores de produção : uma rev isão integrat iva 30 Ac t a Paul Enfer m 2011
12 Adiponec t ina e baixo r isco cardiomet abólico em obesas 23 Arq Bras Endocr inol Met ab
Aterosclerose subclínica e marcadores inf l amatór ios em cr ianças e adolescentes obesos e não obesos 25 Rev Bras Epidemiol 2012
Rel ação entre aterosclerose subclínica, pressão ar ter ial e per f il lipídico em cr ianças e adolescentes obesos : uma rev isão sistemát ica 26
Arq Bras Endocr inol Met ab
Perox idação lipídica e obesidade : Métodos para afer ição do estresse ox idat ivo em obesos 15 GE, J Por t Gastrenterol 2013
16 The inf luence of lept in on Th1/ Th2 bal ance in obese children w ith asthma 18 J Bras Pneumol 2013
Resistênc ia à insulina assoc iada à obesidade : efeitos ant i- inf l amatór ios do e xerc íc io f ísico 20 Rev Bras Ciênc Mov 2014
18 Mobile health e e xcesso de peso : uma rev isão sistemát ica 8 Rev Panam Salud Pública
A s mult if acet as do e xcesso de peso na cr iança : uma rev isão sistemát ica 12
Rev ist a de Atenção à Saúde
A obesidade é um deter minante da resistênc ia à insulina mais impor t ante do que os níveis c ircul antes de c itoc inas pró-inf l amatór ias em pac ientes com ar tr ite reumatoide 21
Rev Bras Reumatol 2017
21 Obesidade e infer t ilidade : uma rev isão sistemát ica da literatura 9 Rev ist a Interdisc iplinar da UNINOVAFAPI
Fonte : El aborado pelos autores.
N T ítulo Per iódico Ano
A literatura c ient íf ica é categór ica ao t a xar a obesidade como uma comple xa pandemia (com mais de 2,1 bilhões de obesos no mundo) , result ante da interação de genes, ambiente, est ilos de v ida e f atores emoc ionais 1,8^. Desse modo, de 95 a 99 % dos casos não se est abelecem a causa e xat a da obesidade (obesidade pr imár ia) e apenas de 1 a 5% dos casos atr ibuem uma causa (obesidade secundár ia) a endocr inopat ias, met abolopat ias, drogas etc. 8. Os mais recentes estudos c ient íf icos aler t am que a obesidade – t ambém conhec ida como nediez ou pimelose – , embora simplif icadamente def inida como e xcesso de gordura cor poral , deve ser entendida como uma condição patológica acompanhada por acúmulo de alterações adapt at ivas desencadeadoras de comorbidades potenc ialmente f at ais 3,^. Embora ainda pouco escl arec idos, os estudos revel am que os efeitos das subst ânc ias rel ac ionadas ao tec ido adiposo (as adipoc inas) são mediadores de “reações” que promovem adapt ações deletér ias desde a concepção, pois rel ac ionam-se à infer t ilidade do casal e desencadeiam alterações genét icas com maior r isco de malfor mações em f ilhos de obesos 8 -^.
Na inf ânc ia, o e xcesso de adipoc inas age ret ardando progressivamente o desenvolv imento neuropsicomotor (DNPM) e cognit ivo da cr iança, pois a mult iplicação dos adipóc itos é mais intensa nos pr imeiros anos de v ida 10 -11^ , levando a atraso global do desenvolv imento neurológico com repercussões no sistema imunológico, o que deixa a cr iança obesa mais suscet ível a doenças ment ais e infec tocont agiosas 1,9,11^ e aument am as chances de obesidade f utura. A obesidade f utura, refer ida por alguns autores, baseia-se na const at ação de que, o tec ido adiposo “ar mazenado” na inf ânc ia é capaz de mult iplicar-se t ambém na v ida adult a a par t ir de novas célul as, os pré -adipóc itos, tor nando a obesidade inf ant il um for te desencadeador de obesidade entre os adultos 1,^. Na adolescênc ia, níveis elevados de adipoc inas inter ferem diret amente no iníc io e na estr uturação da puberdade, pois competem com mediadores da síntese de hor mônios esteroidais e inter ferem na e xpressão e/ou transpor te de outros hor mônios secundár ios e na consequente def inição dos carac teres se xuais secundár ios 11-^.
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Na v ida adult a, o e xcesso de gordura que inf iltra os tec idos e órgãos promove lent a subst ituição lipof ílica, com efeitos compressivos, que sabidamente se rel ac ionam à diminuição da qualidade de v ida, pois inter ferem em aspec tos psicológicos, aument ado os r iscos de transtor nos depressivos e mult iplicando as chances de desenvolv imento precoce de outros transtor nos emoc ionais bast ante comuns entre os obesos 13. Já na terceira idade, dev ido à diminuição do turnover f isiológico, a const ituição mor fológica é lent amente subst ituída por tec ido adiposo, tor nando a “adipoliz ação” um fenômeno inerente ao idoso – ou seja, a lent a e progressiva subst ituição de estr uturas diversas por adipóc itos f az par te do envelhec imento 14. A ssim, os danos promov idos pelo e xcesso de
gordura no organismo idoso consistem na somatór ia de comorbidades manifest adas na terceira idade 14 , pois o desgaste natural é apenas intensif icado pel as adipoc inas – cl assif icadas como potenc ializ adoras de comorbidades 6,13-^. Todas essas modif icações obser vadas na obesidade são atr ibuídas às adipoc inas, pept ídeos que atuam de for ma diret a na gênese do acúmulo de tec ido adiposo, aler t ando que o tec ido adiposo, antes considerado um tec ido iner te, demonstra ser um tec ido dinâmico 5,^. A s adipoc inas (lept ina, resist ina, adiponec t ina, apelina, vaspina, oment ina, proteína est imul adora de ac il ação etc.) são enf at iz adas pelos estudos como as verdadeiras “v il ãs” da obesidade 15 , capazes de desenvolver diversos mecanismos e est imul ar outras t ant as v ias met abólicas (Quadro 2).
Quadro 2 – Descr ição das pr inc ipais adipoc inas, locais de síntese e pr inc ipal f unção. Adipoc ina Local de s íntese Função
Adiponec t ina Adipóc itos
Efeitos contrár ios às demais adipoc inas, rel ac iona-se à melhora da sensibilidade à ação da insulina (efeito ant agônico em rel ação ao hor mônio resist ina) , aumento da at iv idade da proteína c inase (AMPK) e aumento da ox idação de ác idos gra xos. Apelina Adipóc itos Proliferação das célul as endoteliais, seja no est ado f isiológico ou patológico.
Grelina E stômago Regul ador, de cur to prazo, da sac iedade : aument a a ingest a e reduz o cat abolismo de gorduras e o gasto energét ico.
Lept ina Adipóc itos
Regul ador, de longo prazo, da sac iedade : Diminui a síntese hipot al âmica de ore x ígenos, aument a a at iv idade simpát ica, o met abolismo, o gasto energét ico e a produção de hor mônio liberador da AC TH. Diminui produção de insulina. Oment ina Adipóc itos Melhora a sensibilidade insulínica. Proteína G Adipóc itos Diminui a concentração de ác idos gra xos liv res no lúmen do capil ar, aument ando a síntese de tr iac ilglicerol pelo tec ido adiposo.
Resist ina Adipóc itos A ssoc iada à resistênc ia insulínica (Hiper insulinemia) , proporc iona maior síntese de marcadores inf l amatór ios, como TNF- α , IL-1 e IL-6.
Vaspina Adipóc itos Melhora a sensibilidade à insulina e promove redução da e xpressão e dos níveis pl asmát icos da insulina.
Visf at ina Adipóc itos
Atua como f ator de est imul ação de colônias de célul as pré - β (PBEF ) , tem ação insulinomimét ica e capac idade de minimiz ar a resistênc ia insulínica. Fonte : El aborado pelos autores.
Como se obser va no Quadro 2, as subst ânc ias sintet iz adas pelos adipóc itos são bast ante diversif icadas, atuando em alças met abólicas comple xas e desenvolvendo ações f isiológicas necessár ias ao bal anço energét ico 16. Entret anto, em e xcesso, essas subst ânc ias promovem desar monia da homeost ase, desencadeando um processo de inf l amação cont ínuo e control ado 15 , apont ado como pr inc ipal f ator danoso da obesidade, pois o processo inf l amatór io per manente, carac ter íst ico da obesidade, que tem como f ator causal os elevados níveis de adipoc inas, inter fere em todos os aparelhos do organismo 4.
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as v ias que os mediadores da obesidade ut iliz am para prejudicar a dinâmica respiratór ia, mas alguns estudos af ir mam que a inf iltração das estr uturas vent il atór ias por tec ido adiposo diminui a compl acênc ia torác ica, ref let indo em pneumopat ias restr it ivas e pneumopat ias inf l amatór ias 27. Reforçando as possíveis alterações na dinâmica vent il atór ia, há estudos em andamento que apont am uma possível hipere xc it ação do epitélio respiratór io pel a resist ina 6,27^. Tal hipere xc it ação desencadear ia um epitélio hiper-responsivo t ípico da doença asmátca 27 , prejudicando as trocas gasosas, levando a f alhas na hematose e, consequentemente, f ragiliz ando todos os tec idos que necessit am de ox idação energét ica, como os componentes do sistema musculoesquelét ico. Sobre o musculoesquelét ico, os estudos descrevem alterações osteomuscul ares decor rentes da obesidade se devem pr inc ipalmente às cont ínuas e alt as pressões e xerc idas nas ar t icul ações, desgast ando os ossos até tor ná-los f rágeis e quebradiços e levando a um quadro de defor midades e f raturas ósseas 28. No ent anto, t ambém já se conhecem algumas adipoc inas, como a adiponec t ina e a própr ia lept ina, que podem e xercer f unções no remodel amento ósseo 18,28^. Com estudos recentes dest acando que os mesmos genes que comandam a síntese de lept ina competem com os genes que sintet iz am osteocalc ina, uma molécul a sintet iz ada pelos osteobl astos e considerada o hor mônio da remodel ação óssea 29 , levando à conclusão de que o aumento da lept ina, t ípica de obesos, envolve diminuição da osteocalc ina, com consequente perda do remodel amento ósseo. Já nos músculos se obser va algo semelhante, pois as adipoc inas ant agoniz am as mioc inas (subst ânc ias produz idas em respost a à contração muscul ar que medeiam alguns dos benef íc ios da at iv idade f ísica) 19 , levando a progressiva diminuição dos receptores GLUT I V, os pr inc ipais receptores insulínicos dos músculos, o que gera diminuição da at iv idade muscul ar e intensif ica o t ípico est ado de hiper insulinemia dos obesos 18,^. Sistemicamente, as repercussões da obesidade t ambém se dest acam, pois a pr inc ipal carac ter íst ica da obesidade (est ado de inf l amação crônica) se deve a hiperest imul ação de mediadores inf l amatór ios, como Il-6, e e xpressão de f ator de necrose tumoral alf a (TNF- α) , com e xacerbação dos est ímulos pró- inf l amatór ios, mas sem efet ivamente e xercer uma inf l amação carac ter íst ica 20,^. Os estudos são unânimes em af ir mar que o
per manente est ado de inf l amação da obesidade é ocasionado por adipoc inas que hiperest imul am proteínas c inase sensíveis a inf l amação, como a c inase c- Jun N-teminal (JNK) e a c inase do inibidor do NF-κB (IKK) , com at ivação cont ínua da proteína IKK, que fosfor il a a IκB, proteína que sequestra o NF- κB (f ator nuclear-κB que transloca ao núcleo e leva à transcr ição de genes inf l amatór ios) no c itopl asma, per petuando uma leve inf l amação crônica 15,^. Como a lept ina é a adipoc ina mais estudada, sabe - se que el a induz maior produção de IL-6 e proteína C reat iva (PCR) , sem desencadear toda a cascat a de inf l amação, gerando um est ado inf l amatór io crônico considerado de baixo grau, mas que contr ibui para o aumento do r isco de diabetes mellitus , doenças cardiovascul ares dentre outras; embora a magnitude de t al inf l amação seja baixa, a cronic idade desse baixo grau inf l amatór io pode ser dec isiva para a progressão da obesidade e de suas comorbidades 15. Ainda sobre o per manente est ado inf l amatór io dos obesos, t ambém se conhece que a resist ina est á rel ac ionada à síntese de marcadores inf l amatór ios, como TNF- α , IL-1 e IL-6, lipoproteína e fosfolipase A2, que, por sua vez, atuam na regul ação da síntese de resist ina e const ituem poderosos inibidores da secreção e e xpressão de adiponec t ina 15,18,^. Por t anto, são múlt ipl as as ações pró- inf l amatór ias das adipoc inas. A s ev idênc ias apont am que o e xcesso dessas subst ânc ias é t ipicamente pró- inf l amatór io, sendo as inter leuc inas IL-1, IL-6 e IL-8, o TNF α e aquel as produz idas por célul as Th1 (IL-2 e inter feron- γ ) as mais rel ac ionadas à obesidade 15,19,^. E t ant as alterações nos mecanismos f isiológicos represent am impor t antes f atores de r isco para a homeost asia e a har monia dos sistemas orgânicos. Dest a for ma, são t ant as as modif icações f isiológicas promov idas pel a obesidade, que através de conhec imentos mais prof undos sobre a dinâmicas adipoc inas, vem-se progressivamente entendendo melhor os efeitos danosos da obesidade e a par t ir
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desses conhec imentos, poder-se -á el aborar medidas ef icazes para controle desses efeitos deletér ios e potenc ialmente prejudic iais a v ida humana.
A obesidade const itui um problema de saúde pública global e os estudos mais recentes apont am signif icat ivos percentuais da popul ação v ivendo com sobrepeso e/ou obesidade. Diferente dos conceitos de outrora, que rel ac ionavam obesidade a saúde ou a melhores condições de v ida, hoje, o e xcesso de tec ido adiposo é analisado de modo mais prof undo, pois se vêm desvendando lent amente os reais r iscos do acúmulo de tec ido adiposo. O crescente interesse no tema obesidade tem est imul ado a el aboração de um número cada vez maior de estudos no campo da f isiologia humana, escl arecendo os mecanismos bioquímicos nos quais o tec ido adiposo inter fere. Desse modo, a obesidade passou a ser muito mais do que o simples acúmulo de gordura cor poral , pois a comunidade c ient íf ica já sabe que a obesidade represent a o acúmulo de um tec ido v ivo (tec ido adiposo) , dinâmico e capaz de secret ar subst ânc ias químicas (adipoc inas) que podem atuar em diversos sít ios e inter fer ir em toda a f isiologia do organismo. Inter fer indo em órgãos e sistemas, os produtos do tec ido adiposo at ivam processos inf l amatór ios silenc iosos, mas com result ados devast adores para a homeost asia do organismo. Nesse conte x to, os recentes estudos sobre a f isiologia da obesidade surgem como promissores, uma vez que, com o conhec imento sobre como o tec ido adiposo se compor t a, bem acerca de como seus produtos de secreção agem nos sistemas humanos, pode -se manejar melhor esse problema de saúde que vem trazendo t antos agravos à humanidade. A par t ir do conhec imento det alhado da f isiologia da obesidade, pode -se adot ar melhores métodos prevent ivos, diminuindo a inc idênc ia de obesidade ; ademais, novas abordagens terapêut icas podem
ser inst ituídas, tor nando as atuais terapias menos comple xas. Por t anto, o conhec imento da f isiologia da obesidade se mostra impor t ante não só para os prof issionais da saúde, mas para toda a popul ação. O pleno conhec imento e controle da obesidade demanda novos estudos no campo das c iênc ias da saúde, com v ist as a combater esse problema de saúde pública que acomete t antos indiv íduos no mundo atual.
Ronaldo César Aguiar Lima e Luiz Carlos Car nevali Júnior contr ibuíram com a realiz ação da pesquisa, o delineamento do estudo e a redação e rev isão cr ít ica do manuscr ito. L ayana Liss Rodr igues Fer reira contr ibuiu com a realiz ação da pesquisa e a redação e rev isão cr ít ica do manuscr ito. L ayanny Teles Linhares Bezer ra , Tayanny Teles Linhares Bezer ra e Bruna da Conceição Lima contr ibuíram com a realiz ação da pesquisa e a redação do manuscr ito.
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