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Análise da Paixão de João de Bach: uma obra de teologia e música - Prof. Schmit, Trabalhos de Teologia

Uma análise detalhada da obra 'johannes-passion, bwv 245' de johann sebastian bach, uma das primeiras grandes obras da compositor. A análise aborda a relação entre a música e a teologia, explorando os diversos significados por trás de cada movimento da obra e sua relação direta com a bíblia. O autor também discute a estrutura da obra, as diferentes interpretações simbólicas presentes na música e as contribuições da doutrina dos afetos em bach para a prática musical sacra de hoje.

Tipologia: Trabalhos

2024

Compartilhado em 18/04/2024

joao-daronco
joao-daronco 🇧🇷

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FICHA DE LEITURA DE: BWV 245 – JOHANNES-PASSION
Segundo Duffeck1, em sua tese, no período barroco era pensado mais na
coletividade, do que na individualidade ao se compor música sacra. Desta forma,
Duffeck elabora em sua dissertação uma análise da a de J.S.Bach intitulada Johannes-
Passion, BWV 245. Buscando apresentar os diversos significados por de traz de cada
movimento da obra e sua relação direta com a teologia, visto que é uma obra que utiliza
como referência bíblica o Evangelho de João, capítulos 18 e 19.
A obra, é uma das primeiras grandes obras de Bach, repleta de personagens
como: os Evangelista, Jesus, Pedro, Pilatos, servos e servas e coros Turbae, que fazem o
papel do relato bíblico. As Arias e corais que servem de respostas contemplativas às
palavras bíblicas. Duffeck cita que, por mais que as composições sacras de Bach
emergiram num período que havia intenso poder da religião frente a vida espiritual das
pessoas, a música de Bach não estava presa isso, ele almejava com sua música, poder
proporcionar experiência e vivência emocional às pessoas.
O autor cita que, a junção da Sagrada Escritura e a Poesia Espiritual presentes
nas Paixões de Bach foram as que melhor funcionaram.
um equilíbrio entre o texto e interpretação; a palavra e a resposta; a
insistência dramática que impulsiona para fora e a meditação que aponta e
impulsiona para dentro (para o interior de si) e chama-nos a observar e a
refletir na Paixão relatada, neste caso, sob ótica do evangelho de João.2
Duffeck cita ainda o gênero musical que a obra de Bach pertence, que segundo o
autor, seria o gênero tragédia. Com base em Aristóteles, a tragédia, pertence ao gênero
poético, sendo considerada a arte da imitação. É uma forma de arte que imita a vida
através da representação de ações realizadas por personagens. Essas ações são
frequentemente dramáticas e provocam sentimentos intensos de terror e piedade no
espectador. Aristóteles acreditava que esses sentimentos precisavam ser purificados, e a
tragédia proporcionava essa purificação por meio de um processo chamado de catarse. A
catarse é essencialmente uma purificação ou limpeza das emoções da alma que ocorre
quando alguém experiência intensamente uma obra trágica. Esse conceito pode ser
1 DUFFECK, Odilon. A palavra e a música: contribuições da doutrina dos afetos em Bach para a
prática musical sacra de hoje. São Leopoldo, RS, 2020. 156 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdades
EST, Programa de Pós-Graduação, São Leopoldo, 2020.
2 WALTER, Meinrad. Johann Sebastian Bach – Johannespassion: Eine musikalisch-theologische
Einführung. Stuttgart: Carus, 2011. p. 24.
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FICHA DE LEITURA DE: BWV 245 – JOHANNES-PASSION

Segundo Duffeck^1 , em sua tese, no período barroco era pensado mais na coletividade, do que na individualidade ao se compor música sacra. Desta forma, Duffeck elabora em sua dissertação uma análise da a de J.S.Bach intitulada Johannes- Passion, BWV 245. Buscando apresentar os diversos significados por de traz de cada movimento da obra e sua relação direta com a teologia, visto que é uma obra que utiliza como referência bíblica o Evangelho de João, capítulos 18 e 19. A obra, é uma das primeiras grandes obras de Bach, repleta de personagens como: os Evangelista, Jesus, Pedro, Pilatos, servos e servas e coros Turbae, que fazem o papel do relato bíblico. As Arias e corais que servem de respostas contemplativas às palavras bíblicas. Duffeck cita que, por mais que as composições sacras de Bach emergiram num período que havia intenso poder da religião frente a vida espiritual das pessoas, a música de Bach não estava presa isso, ele almejava com sua música, poder proporcionar experiência e vivência emocional às pessoas. O autor cita que, a junção da Sagrada Escritura e a Poesia Espiritual presentes nas Paixões de Bach foram as que melhor funcionaram. Há um equilíbrio entre o texto e interpretação; a palavra e a resposta; a insistência dramática que impulsiona para fora e a meditação que aponta e impulsiona para dentro (para o interior de si) e chama-nos a observar e a refletir na Paixão relatada, neste caso, sob ótica do evangelho de João.^2 Duffeck cita ainda o gênero musical que a obra de Bach pertence, que segundo o autor, seria o gênero tragédia. Com base em Aristóteles, a tragédia, pertence ao gênero poético, sendo considerada a arte da imitação. É uma forma de arte que imita a vida através da representação de ações realizadas por personagens. Essas ações são frequentemente dramáticas e provocam sentimentos intensos de terror e piedade no espectador. Aristóteles acreditava que esses sentimentos precisavam ser purificados, e a tragédia proporcionava essa purificação por meio de um processo chamado de catarse. A catarse é essencialmente uma purificação ou limpeza das emoções da alma que ocorre quando alguém experiência intensamente uma obra trágica. Esse conceito pode ser (^1) DUFFECK, Odilon. A palavra e a música: contribuições da doutrina dos afetos em Bach para a prática musical sacra de hoje. São Leopoldo, RS, 2020. 156 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdades EST, Programa de Pós-Graduação, São Leopoldo, 2020. (^2) WALTER, Meinrad. Johann Sebastian Bach – Johannespassion: Eine musikalisch-theologische Einführung. Stuttgart: Carus, 2011. p. 24.

comparado à medicina homeopática, que utiliza pequenas doses de substâncias para tratar doenças semelhantes às que ela poderia causar em doses maiores. Aristóteles tinha a intenção de que a tragédia provocasse reflexão e julgamento sobre a vida humana, incentivando as pessoas a pensarem sobre questões morais e a discernirem entre o bem e o mal. Para alcançar esse efeito desejado, alguns aspectos eram considerados essenciais: os heróis ou heroínas; o modo de elaboração da tragédia; a tragédia deveria ser escrita para o público em geral. Duffeck ressalta que a tragédia, não depende necessariamente de movimentos ou gestos para sua encenação. Suas qualidades intrínsecas podem ser reveladas apenas através da leitura, o que implica que a força da narrativa e o desenvolvimento dos personagens são essenciais para transmitir sua mensagem. O objetivo da tragédia é evocar temor e compaixão por meio do sofrimento do herói trágico. No entanto, esse herói não precisa ser perfeito. Pelo contrário, é mais comum que ele seja um personagem com o qual o público possa se identificar e sentir simpatia. Deste modo, a tragédia passou a desempenhar um papel significativo como ferramenta educacional tanto nas tradições religiosas quanto nas culturas pagãs. O autor também comenta sobre a estrutura da obra de Bach, esta que, pode ser divida em cinco partes: A) Hortus ; B) Pontifices ; C) Pilatus ; D) Cruxque e E) Sepulcrum , isto é, A) Jardim, B) Sumo Sacerdote, C) Pilatus, D) Cruz e E) Sepulcro. Duffeck cita que a obra utiliza o texto bíblico na íntegra, complementado por interpretações de outros textos. A música traduz a história da Paixão desde o jardim de Getsêmani até Gólgota, explorando temas como a paixão por Deus que impulsionou a vida de Jesus. Os capítulos 18 e 19 do Evangelho de João são os principais, mas também há interpolações dos Evangelhos de Mateus e Marcos, bem como textos poéticos de outros autores. A tradição das Paixões musicadas, com o canto gregoriano, já apresentava uma divisão clara de papéis entre diferentes personagens. Percebe-se duas linhas vocais que permaneceram constantes: a Vox Christi, destinada à voz mais grave masculina, o baixo, e a voz do Evangelista, destinada à voz mais aguda masculina, o tenor. Além desses papéis principais, Bach introduziu os coros Turbae em suas Paixões. Esses coros representam a multidão de pessoas, podendo simbolizar tanto os discípulos de Jesus quanto seus oponentes. Na Johannes-Passion, os coros Turbae representam

acordo com a interpretação de Dürr, Bach pode ter visto nessas palavras uma oportunidade de louvar a Deus em sua humilhação. Essa escolha de louvar a Deus em meio à humilhação justificaria o uso do tom de G menor, que é um tom frequentemente associado a emoções de melancolia e introspecção na música.

- Relação musical e teológica: No movimento n° 2, um Recitativo, onde uma cadência regular conclui o quarto compasso antes de Judas ser citado. No entanto, quando Judas é mencionado, um intervalo diminuto é introduzido sobre a palavra "Judas": Db – Bb – G. Este intervalo, conhecido tradicionalmente como " Diabolus in musica ", estabelece uma conexão direta com João 6.70c, onde Jesus reconhece Judas como o Diabo. Além disso, este momento é sustentado por um acorde de E°7 (mi diminuto com sétima diminuta), que adiciona uma camada adicional de tensão e drama à passagem musical. Este acorde dissonante contribui para a atmosfera de conflito e traição que permeia a história da Paixão. - O drama na expressão musical: No andamento Adágio m momento de destaque é o choro de Pedro, especialmente no segundo "chorou" (weinete). Neste momento, Bach emprega uma progressão de melismas conectadas a síncopes, proporcionando uma expressão musical intensa e emotiva. Além disso, no baixo cifrado, observa-se uma sequência descendente e cromática, caracterizando a figura musical conhecida como Passus Duriusculus, figura esta, usada para criar tensão, drama e emoção intensa na música, especialmente em momentos de grande tragédia ou angústia na composição. Essa passagem que ocorro no andamento Adágio, é então, reconhecida como uma das mais dramáticas da obra, pois Bach consegue traduzir não apenas o choro de Pedro, mas também o motivo subjacente desse choro, por meio da música. - Chicoteamentos por meio da música: No movimento n° 18c, um Recitativo, destaca-se uma nota extremamente aguda, um A (Lá Maior), que representa um desafio significativo para o tenor executar. Além disso, este movimento apresenta um alargamento excepcional de nota, conhecido como melisma, sobre a palavra "açoitou" (geißelte), com um total impressionante de 51 notas. Essa extensão melódica enfatiza a intensidade do momento narrado, criando um efeito de prolongamento e ênfase que ressoa com a brutalidade do chicoteamento de Cristo, conforme narrado pelo Evangelista.

- Ações e emoções através do som: No movimento n° 34, um Arioso, os sons tremulantes das cordas são empregados para imitar corações completamente assustados. Desde o primeiro compasso, os grupos de trêmulos em uníssono cercam as palavras "meu coração", transmitindo em sons as partes mais descritivas das palavras como um evento cósmico para uma visão contemplativa do coração (Herz). O movimento também ecoa partes do movimento anterior (n° 33), evocando o terremoto, o rasgar do véu, o romper das rochas e o abrir das sepulturas por meio de uma variedade de figuras musicais. Por exemplo, os trêmulos em movimento descendente representam o rasgar do véu de cima a baixo, enquanto um ritmo constante entre fusas e semicolcheias ilustra o terremoto e a pulverização das rochas. Além disso, uma sucessão de fusas em movimento ascendente, sugere a abertura dos túmulos. O movimento conclui com uma mudança para um Adagio e uma pergunta: "E qual será o teu proceder?". Essa abertura harmoniosa do movimento seguinte intensifica o gesto de questionamento, enquanto os instrumentos de sopros e cordas realçam leves suspiros (Suspiratio), contribuindo para a expressão emocional e dramática do momento na narrativa. - A figura da Cruz na partitura: A técnica conhecida como Augenmusik, ou "música visual", foi empregada por Bach e outros compositores para intensificar a expressão das palavras na música através de elementos visuais presentes na partitura. Originária dos madrigais italianos dos séculos XVI e XVII, essa prática atingiu seu ápice com Luca Marenzio, um renomado madrigalista da Renascença. Marenzio buscava representar visual e musicalmente objetos, ideias, estados de espírito ou paisagens por meio da pintura literal das palavras na música. Na prática, a Augenmusik era destinada aos músicos que executavam a peça, pois eles tinham acesso às partituras. Esses músicos poderiam entender e visualizar as representações melódicas de palavras específicas, fornecendo-lhes mais informações sobre o humor e a intenção do trecho a ser executado. A seguir, apresento trechos da peça em que a Augenmusik é utilizada: No movimento n°18a, um Recitativo, Pilatos questiona Jesus sobre sua realeza, conforme registrado em João 18.37. O musicólogo Widmann sugere que há uma